Histórias de mudanças pastorais
Odilon
Massolar Chaves
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Massolar Chaves
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Art. 184 do Código Penal e Lei 96710 de 19 de
fevereiro de 1998.
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Tradutor: Google
Toda gloria a Deus!
Odilon Massolar Chaves é pastor metodista
aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São
Paulo.
É casado com RoseMary. Tem duas filhas: Liliana e
Luciana.
Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na
Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos
dias.
Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador
de Curso de Teologia.
Declaração de direitos autorais: Esses arquivos
são de domínio público e são derivados de uma edição eletrônica que está
disponível no site da Biblioteca Etérea dos Clássicos Cristãos.
Rio de Janeiro – Brasil
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Índice
·
Introdução
·
Mudando
igual pau de arara
· A evolução da mudança com o caminhão fechado
·
Mudando
como um ajudante de caminhão
· A emergência de uma mudança
· Uma “vaquinha” para pagar a mudança
· Sem teto, acolhido por uma família
· Uma mudança traumática
· A necessidade de voltar atrás e ir para a
casa pastoral da Igreja
· Um sonho revela a casa pastoral
· Acolhidos como anjos
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Introdução
“Anjo e Pau de Arara”, histórias de mudanças pastorais, retrata as mudanças realizadas no pastorado do rev. Adherico Ribeiro Chaves, meu pai, e
no meu pastorado.
“Pau de arara é o termo utilizado para denominar o tipo de transporte de passageiros realizado na carroceria adaptada de um caminhão, em que se colocam tábuas, para servir de assento, e se instala uma cobertura de lona encerada para a proteção dos viajantes”.[1]
Retratamos essas mudanças porque nos marcaram
profundamente tanto que passado tanto tempo ainda lembramos de vários detalhes.
Também acreditamos que a história sempre nos ensina.
No passado, para as igrejas locais, os pastores eram vistos como anjos
enviados por Deus. Para o mundo, pela forma como eram realizadas as mudanças em
caminhão aberto, os pastores eram às vezes, confundidos com pau de arara, nordestinos
que procuravam uma melhor sorte no Sudeste, viajando em cima de caminhão
aberto, especialmente na década de cinquenta.
“Pau de arara, na verdade, nasce de uma denominação ao
transporte de aves em carros: elas vão em
cima de um pau”.[2]
Além de ser uma referência à tortura, pau-de-arara também se refere ao “caminhão
em que os nordestinos fugiam das inclemências do sertão em busca de uma vida
melhor no sul do país. Vinham precariamente, quarenta, cinquenta e até setenta
deles equilibrados em carrocerias”.[3]
Esse transporte irregular ainda continua. “Em
regiões de interior do País, o pau de arara ainda é
utilizado para o transporte de pessoas quando o transporte público
não atende à população, especialmente na zona rural.”[4]
E as mudanças pastorais?
As mudanças pastorais são realizadas por causa da itinerância pastoral
na Igreja Metodista. Os bispos e bispas é que nomeiam os pastores e pastoras
para às igrejas locais.
Um detalhe é que as nossas mudanças pastorais foram realizadas em uma
época em que havia poucos recursos para investir nas mudanças e as estradas
eram bem precárias. Tanto que somente após a década de setenta é que meu pai
teve a primeira mudança realizada em um caminhão fechado.
Outro detalhe importante é que sempre houve acolhimento por parte dos
membros da Igreja, especialmente no passado, talvez porque o pastor era
considerado, na época, como um “anjo enviado Deus”.
De um extremo ao outro: de pau de arara a anjo ou de anjo a pau de arara.
Colocamos no livro a distância entre as cidades em que houve mudança
pastoral só para termos uma ideia, sem pensar em precisão de quilometragem.
Vivemos em um tempo em que alguns pastores e pastoras pensam mais em seu
bem-estar e procuram escolher casas pastorais que acabam dificultando às finanças
da Igreja.
Talvez, este livro possa servir para a nova geração de pastores e
pastoras tirarem lições, pois hoje há mais recursos financeiros e mais
facilidades até na escolha da casa pastoral.
Deus possa lhe inspirar na leitura deste livro
O Autor
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Mudando
igual pau de arara
Menos de dois meses depois que nasci, em Lajinha, MG, eu já estava num
caminhão de mudança aberto para Castelo, ES, distante 109 km. Uma mudança em
cima da carroceria, igual a um pau de arara.[5]
Uma viagem atual é de cerca de 1 hora e 50 minutos.
Certamente, naquele tempo a viagem durava muito mais por causa das
péssimas condições das estradas.
Quatro anos depois de pastorear Castelo, meu pai, rev. Adherico Ribeiro
Chaves, foi transferido para Anta, RJ, 326 km de distância pela estrada levando
mais de 6 horas de viagem, pela BR 393, antiga Rio-Bahia.
Duas coisas eu me lembro dessa mudança: Primeiro, uma pessoa que estava
no caminhão colocando os móveis apontou para mim, num canto escondido do
caminhão, e disse para meu irmão Ory, que ajudava na mudança: “Olha ali”.
Eu tinha 4 anos e havia subido de novo no caminhão. O sentimento que
tive é que eu não queria ficar para trás. Queria também ir.
Outra coisa que me lembro é que todos os 11 componentes da família
estavam em cima do caminhão numa mudança longa. Meus pais e os 9 irmãos.
Foi uma viagem cansativa.
Quando chegou na cidade de Além Paraíba, MG, no meio da
ponte sobre o Rio Paraíba, o caminhão encontrou um carro no meio da ponte que
vinha em sentido contrário e houve um impasse. Não dava para passar dois
carros. O carro não quis voltar e o caminhão, com a mudança e todos nós em cima,
teve que voltar de marcha à ré para o carro passar primeiro.
Depois de ter viajado 287 km, por mais de cinco horas,
tivemos que retornar...
Com meus quatro anos, lembro de ter olhado de cima da
carroceria do caminhão para o rio Paraíba do Sul e me deu um grande medo.
As pessoas pensavam que era um caminhão de pau de arara,
nordestinos que estavam vindo para o Sudeste. Isso revela o preconceito contra
os nordestinos...
Era janeiro de 1955.
“Os ‘paus de arara’, na década de 1950,
carregaram esperanças e frustrações, foram evidências do negligenciamento do
poder público frente aos brasileiros que procuravam por uma vida melhor
distante de casa e tornaram-se símbolos dessa história”.[6]
Um livro retratou bem essa triste realidade: “Uma
tragédia brasileira, os paus de arara”: representações
de uma viagem, que foi publicado em 1955.[7]
Mas o caminhão seguiu em frente. A distância entre Além
Paraíba e Anta é de 50 km. Fomos pela antiga Rio-Bahia. Chegamos em Anta à
noite em dia de culto.
Como diz parte da letra da música de Luiz Gonzaga
chamada “Pau de arara”:
“Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei”.[8]
A Igreja Metodista em Anta é uma Igreja centenária e histórica.
Em novembro de 1898, o metodismo chegou e o Evangelho foi pregado em Anta com
os reverendos Tarboux e Lander.[9]
O Rev. Jonh William Tarboux, posteriormente, foi eleito
o primeiro bispo da Igreja Metodista, em 1930.
A casa pastoral era grande e ficava ao lado do templo.
Havia quintal com mangueiras de um lado e outro da casa.
Havia um fogão à lenha.
Anta marcou nossas vidas para sempre. Foi lá que vivi
dos 4 aos 8 anos. Lembro que meu pai ia visitar a cavalo aos membros que
moravam na roça.
Alguns moravam em fazendas. Do outro lado do rio
Paraíba do Sul está Minas Gerais.
A
evolução da mudança com o caminhão fechado
Quatro anos depois, meu pai foi nomeado para Barra do
Pirai e fomos de trem. A mudança foi em um caminhão.
A distância entre as duas cidades é de 113 km.
Quando chegamos, algumas senhoras da Igreja estavam
preparando nosso almoço num fogão elétrico da casa pastoral. Em Anta, o fogão
era à lenha.
A casa pastoral era excelente, bem construída. Fica na
Rua Moreira dos Santos, perto do templo.
Tinha telefone cujo número jamais esqueci: 1089.
Dois anos depois, a mudança foi para Laranjas, RJ, e
novamente fomos de trem. A mudança foi num caminhão.
A distância entre as duas cidades é de cerca de 232 km.
Lembro que chagamos de noite e algumas pessoas da
Igreja nos esperavam na casa pastoral, uma delas, dona Eunice Marinho.
A casa pastoral era imensa lembrando os casarões
antigos. Tinha até um salão social onde os jovens da Igreja realizavam as
chamadas “sociais”.
Estranhei a luz da cidade ser quase igual à luz de lamparina
de tão fraca que era.
A Escola da cidade realizou durante um bom tempo a parte
de Educação Física no terreno da casa. A Escola ficava na rua da frente da casa
pastoral e ao lado do templo.
Dois anos depois, a mudança foi para Itaocara novamente
em cima de um caminhão.
A distância entre Itaocara e Laranjais de
15 Km por estrada.
Devido às dificuldades de escola para os filhos e
filhas e também porque em Itaocara já havia algumas famílias metodistas, meu
pai teve autorização regional para mudar.
Lembro que o proprietário do caminhão, Amilcar, disse
para o papai que havia trazido ele e a família com o caminhão de Barra do Pirai
para Laranjais, mas não seria ele que iria dirigir o caminhão levando a família
embora de Laranjais para Itaocara.
Eu tinha 12 anos e fiquei com vergonha de chegar na
cidade de Itaocara em cima do caminhão. Fomos morar em uma excelente casa, no
centro, ao lado do cinema da cidade.
Em Itaocara, moramos em três casas.
Meu pai organizou e construiu o templo metodista na
cidade.
Quatro anos depois, meu pai foi para Nova Friburgo e
fomos de ônibus.
O pastor Aristotelino Mendes não havia ainda mudado,
mas teve o bom senso de colocar sua mudança no salão social. A mudança do papai
quando chegou pôde ser coloca no prédio.
A casa pastoral era no edifício que está ligado ao
templo. Tinha três quartos e um terraço de onde podíamos ver a beleza das
montanhas. Do terraço víamos também com alguns jovens da Igreja o jogo do time do
Esperança, cujo campo ficava atrás do templo.
Cinco anos depois, a mudança foi para Retiro, em Volta Redonda,
distante 232 km.
Uma boa parte da família foi de jipe. A Odisia havia
ido na frente para ver a matricula em uma escola onde seria professora. O Oto
estava na Marinha e a Osmara estava casada. Os outros foram de jipe.
Pela primeira vez, nossa mudança foi em um caminhão
fechado. Lembro que o pastor João Caixeiro Filho não havia ainda se mudado da
casa pastoral e ficou impressionado da mudança ser em um caminhão fechado.
Mas o pastor ficou ainda cerca de um mês na casa
pastoral. Foi preciso saber colocar em prática a convivência fraternal das duas
famílias. A nossa mudança ficou numa sala da Igreja.
Como fui para a Faculdade de Teologia, em São Bernardo
do Campo, não acompanhei mais meu pai que ainda se mudou para Bangu, RJ, e
depois, aposentado, foi para Nova Friburgo.
Mudando como um ajudante de caminhão
Quando me formei na Faculdade de Teologia, em Rudge
Ramos, São Bernardo do Campo, SP, fui nomeado para Itaguaí e Muriqui, distante
426 km.
Meus colegas de Faculdade, Sonia Ely e David Ortigoza,
também se formaram. Eles foram nomeados para São João de Meriti.
Por questão econômica, a Sede Regional da 1ª Região
decidiu que as mudanças iriam num só caminhão.
Por questão econômica ainda, decidi ir junto com o motorista
e o ajudante na cabine enquanto a família foi de ônibus na frente.
Foi uma viagem muito desgastante. Difícil foi também dormir
na viagem. Uma viagem para não repetir jamais.
Em São João de Meriti tive que esperar sair toda a mudança
dos colegas David e Sônia e ir com o caminhão depois para Itaguaí.
Foi muito desgastante, pois não havia dormido e ainda
tive que esperar a mudança em São João de Meriti e depois a viagem para Itaguai.
Uma distância de 52 km.
Em Itaguaí, o pastor Silas Jansen ainda não havia se
mudado e nossa pequena mudança teve que ficar toda em um quarto.
Essa questão se repetiria em outras mudanças.
O bispo Paulo Ayres me fez um desafio de ir para a
Baixada Fluminense para coordenar um projeto social e espiritual entre os
pastores e as igrejas metodistas. Ele me nomeou também como Superintendente
Distrital e como pastor em Piabetá e Saracuruna.
Era uma viagem de trem de cerca de 32 minutos entre
Piabetá e Saracuruna. Era o que eu fazia toda semana porque não tinha ainda
carro.
Quando chegamos em Piabetá, distante 96 km de Itaguai, o
pastor Cícero Rosa da Conceição ainda não havia se mudado e nossa mudança teve
que ser colocada no salão social. Vi que o guarda-roupa novo começou a quebrar.
Depois, o bispo Paulo Ayres Mattos me deu a “boa
notícia” de que havia um ditado entre os pastores de que na segunda mudança, os
móveis começam a quebrar.
A casa pastoral ficava ao lado do templo e a parte dos
fundos havia sido uma sala do templo que foi incorporada à casa.
Quando chovia havia 13 goteiras no quarto, que era de
telhado enquanto a outra parte da casa tinha um forro de cimento.
Minha filha Luciana nasceu nesse período e começou a
ter problemas de saúde. Lembro que já havia tomado 50 injeções contra alergia e
outras doenças.
Falei com o bispo e o Conselho Regional autorizou a
mudança para Jardim Primavera, Duque de Caxias, distante 17 km de Piabéta. O pastor
Acyr Goulart havia construído algumas casas e aceitamos mudar para ali com a
sede regional pagando o aluguel.
Casa bonita e novinha. Só que tinha um problema. A água
para a casa vinha de um poço que não tinha bomba para puxar a água.
Foi difícil no início sem água.
A partir daí vi que tinha que pensar mais na família.
Eu lecionava no Seminário Cesar Dacorso Filho, no
Bennett, bairro do Flamengo, e chegava tarde da noite em casa. Uma distância de
38 km. Como não tinha carro, vinha de ônibus e ainda andava cerca de 1 km a pé para
chegar em casa.
Quando recebia o pagamento do Seminário, eu escondia o
dinheiro na meia do sapato.
Lembro que uma noite desci do ônibus em Jardim
Primavera e caminhava pela rua para chegar em casa. Um carro preto passou por
mim muito devagar e os ocupantes olharam para mim. Era umas 23 horas. Depois de
uns 100 metros, o carro começou a dar meia volta.
Percebendo o perigo, sai correndo e, para despistar,
entrei em uma rua que dava acesso à rua da casa onde morávamos.
Lembro que os cachorros das casas latiam muito por eu
estar correndo. Corri o risco de ser confundido com um assaltante.
Foi assustador, mas cheguei em casa. Nesse dia, meus
pais nos visitavam.
Quando surgiu uma oportunidade de mudar, não hesitei e
fui nomeado para Copacabana.
Fui de um extremo a outro.
Uma “vaquinha” para pagar a mudança
Fomos muito bem acolhidos em Copacabana. Uma senhora levou um almoço
para nós quando chegamos. O mesmo aconteceu com uma outra família quando nos
mudamos. Fez um almoço para nós.
Sempre que alguém nos visitava levava algo para nós.
Foi uma experiência interessante na Igreja Metodista de Copacabana. Uma
boa parte era de pessoas aposentadas. Havia pessoas capacitadas e amigas.
Eu era o Superintendente Distrital.
Morava no prédio ao lado do prédio de morava o poeta Carlos Drumont de Andrade, no Posto 6,
perto da praia.
Constantemente levava minhas filhas à praia.
O salário era pouco e algumas pessoas nos ajudavam financeiramente. Uma
família pagava a escola para a Liliana.
Depois de seis meses na Igreja, senti que era uma ilusão estar ali num
lugar tão bom. A realidade pastoral da Baixada Fluminense me ensinou que era
preciso se preparar melhor.
Entrei em contato com o reitor da Faculdade de Teologia em Rudge Ramos,
SP, para ver a possibilidade de fazer Comunicação. Ele abriu as portas, pois
precisava de um assessor.
Por umas três vezes, pedi autorização por escrito ao bispo Paulo Ayes Mattos
para ter licença para estudar. Ele dizia que a Igreja não estava precisando, no
momento, de alguém formado em Comunicação. Senti que ele não queria me liberar.
No final, ele me liberou e decidi fazer o mestrado em Ciências da
Religião. O bispo colocou a condição de, depois três anos, após fazer o
mestrado, eu deveria voltar para a Região.
Assim, nada foi autorizado em termos de verbas para a mudança para São
Paulo.
Nosso colega e amigo Ronan Boechat de Amorim, em pleno Concílio
Regional, pediu a palavra e disse que eu estava em uma “situação muito difícil”.
Queria, então, que algumas pessoas ajudassem no pagamento da mudança para São
Paulo. O bispo interviu e disse que iria resolver essa questão.
O fato é que tive que pagar a mudança para São Paulo.
Morei numa das casas dos estudantes de teologia.
Em São Bernardo do Campo, fui muito abençoado. Fui assessor do reitor da
Faculdade de Teologia, fiz o mestrado em dois anos e o Colégio Episcopal me
convidou para ser o editor do Expositor Cristão onde fiquei por dois anos.
Sem teto, acolhido por uma família
Recebi uma ligação em São Paulo e fui convidado pelo pastor local Carlos
Alberto Tavares Alves para ir para a Igreja Metodista do Vale do Paraiso em
Teresópolis. Ele estava de saída e não encontrava um pastor com o perfil para a
igreja.
O pastor Carlos Alberto havia realizado um excelente ministério na
igreja local. Anos depois, ele se tornou bispo da Igreja.
Era uma época em que as igrejas locais podiam convidar um pastor e ele podia
acertar com a Igreja. O bispo confirmava a nomeação.
Pedi um sinal a Deus. Senti que Deus confirmou. Apesar de poder ficar
mais um ano, consegui terminar o mestrado em dois anos e tive autorização do
MEC para isso. Esse foi o sinal.
A igreja local sempre me tocou muito. Apesar de estar muito bem em São
Paulo, senti de Deus que deveria ir para Teresópolis.
E foi o melhor que fiz.
Chegado em Teresópolis fomos bem acolhidos. Lembro que um líder da
Igreja chamado Adão Jorge, que depois se tornaria pastor metodista, com carinho
nos acolheu no templo e nos ajudou. O mesmo ele fez quando saímos.
Só havia um problema: o pastor havia saído de férias e a mudança teve
que ir para o salão social.
Ficamos “sem teto”.
Mas a família do Élcio e Marilda Féo nos ofereceu um quarto em sua casa.
E fomos para lá por cerca de 20 dias ou mais. Foi um pouco constrangedor, mas
eternamente ficamos gratos à família Féo.
E foi em Teresópolis que comecei a ter experiências maravilhosas com o
Espírito Santo e aprendi muito sobre libertação e dons espirituais.
Nesse local, ainda escrevi três livros durante os três anos em que
fiquei como pastor na Igreja.
A Igreja era maravilhosa, mas havia um problema: a casa pastoral ficava
nos fundos e fazia parte do templo, no segundo andar.
A zeladora vinha em dias certos para limpar a Igreja. Em sua ausência,
tínhamos que abrir constantemente o portão para quem chegava.
Depois de três anos, ficou muito desgastante. Então, fiz um pedido em
Concílio Local: a igreja alugar uma casa para o pastor. Dei um ano e meio de
prazo para isso acontecer. Mas um membro influente da Igreja levantou em
plenário e disse que a Igreja não poderia assumir esse compromisso.
Então, resignado, e com dor no coração, aceitei o convite para ir para
Macaé.
Uma mudança traumática
A Igreja de Macaé estava ansiosa por um novo pastor.
Lembro que fomos num carro com os irmãos Ademar e Adecir na frente e nós
quatro da família na parte de trás do carro.
Eles foram nos buscar.
Foi uma viagem apertada, mas feita com amor dos dois irmãos. Ademar,
posteriormente, se tornou pastor metodista. No início, quando foi estudar, ele
morou durante 9 meses em nossa casa no bairro do Flamengo. Trabalhava durante o
dia como bombeiro e de noite estudava no Seminário e dormia em nossa casa.
Mas foi uma experiência traumática quando chegamos de mudança em janeiro
em Macaé.
O pastor havia se desentendido com parte da mocidade e desde outubro não
ia mais à igreja.
A casa pastoral ficava na parte de cima do templo. Uma boa casa.
Um casal amigo da Igreja, Moreira e Deolíce, nos ofereceu uma casa vazia
no centro da cidade e lá colocamos nossa mudança durante cerca de um mês ou
mais.
Estava tudo encaixotado. Foi muito difícil.
Diversas vezes liguei para o bispo Paulo Lockman, mas o pastor tomou a decisão
de só mudar quando a casa pastoral para onde ele iria fosse pintada.
Lembro que um dia choveu muito e entrou água na casa. Contei no banheiro
mais de 50 baratas.
Apesar das dificuldades iniciais, depois fomos ricamente abençoados.
Houve um grande mover do Espírito Santo na igreja que cresceu muito.
Pude colocar em prática tudo que aprendi em Teresópolis sobre libertação
e dons espirituais.
Abrimos trabalho metodista em Carapebus com o apoio do Ministério de
Evangelização.
Tivemos que aumentar uma fileira de bancos na Igreja.
Em dois anos, recebemos 169 membros. Com os pastores posteriores, a
Igreja se tornou um referencial.
Fomos, então, para Jardim Botânico. O apartamento pastoral ficava no
bairro do Flamengo, distante 156 km de Macaé. Ficava exatamente em frente do Instituto Metodista
Bennett onde minhas filhas puderam estudar.
Depois de cinco anos, fomos para a Igreja Metodista Central de Niterói
onde ficamos dois anos.
O apartamento pastoral era no bairro de Icaraí, na Rua Presidente Backer.
Lembro que o evangelista Ronald Campos, um homem bom, cheio do Espírito
Santo e de fé, foi nos ajudar.
Depois, então, fomos para São Paulo fazer o doutorado, após ser
convidado para ser o Editor Nacional da Igreja. Fui editor do No Cenáculo e
Expositor Cristão.
Em São Paulo, moramos em uma casa e depois num apartamento no bairro
Praça da Árvore, no centro da cidade.
Eu trabalhava na Sede da Igreja Metodista, na Avenida Liberdade, e fazia o doutorado em Rudge Ramos, na Universidade Metodista.
A necessidade de voltar atrás e ir para a
casa pastoral a Igreja
Depois de três anos em São Paulo, decidimos voltar ao Rio de Janeiro e o
bispo Lockmann nos nomeou para Cascadura, uma Igreja com cerca de mil membros,
um templo grande e uma área imensa com quadra de esportes, capela, salão
social, etc.
Uma Igreja atuante.
Logo recebemos um carinho grande da Igreja.
Imediatamente, criamos a Semana de Oração às 6: 30h da manhã, com a
presença de cerca de 120 pessoas diariamente. Foi muito abençoado.
Havia uma casa pastoral grande ao lado do templo, mas a recomendação do
colega anterior era de que não era bom morar na casa pastoral ao lado do templo
por causa do acesso de membros da igreja tirando a nossa privacidade.
Entrei em contato com a igreja e a mudança foi para a casa onde o pastor
anterior morava.
Contudo, a casa era pequena e tivemos que doar alguns móveis.
Também para estar na Igreja tinha que constantemente pegar ônibus.
Depois de uns meses, decidimos ir para a casa pastoral que era bem
maior.
Foi uma decisão certa. A Igreja ficou feliz e nós também.
Havia um quarto com banheiro na parte debaixo, que ficou para hóspedes.
Chegamos a acolher o bispo João Carlos Lopes quando foi pregar na igreja.
Foi um período abençoado. Em um ano recebemos 129 membros.
Estava tudo bem. O fim de ano foi
abençoado. As perspectivas eram boas. Eu já havia conversado particularmente
com o novo pastor coadjuvante, Edson Mudesto.
O Concílio Regional se aproximava, que seria realizado no início de
janeiro. Lembro que no dia 2 de janeiro, um dia antes do Concílio regional, fui
para o gabinete pastoral e um sentimento imenso invadiu meu coração de que meu
ministério pastoral ali havia se encerrado.
Minhas filhas estavam insatisfeitas, pois ficavam muito presas em casa.
Era um local perigoso. O Morro do Fubá[10]
fica perto do templo e também da casa pastoral. Lembro que um dia cedo encontrei
no gabinete pastoral a janela de vidro furada e uma bala caída no chão. Um dia
também uma pessoa foi assassinada no portão da Igreja, ao lado de nossa casa.
Foi um livramento, pois nesse fim de semana estava ministrando em Belo
Horizonte junto com minhas filhas.[11]
Quando um policial ligou para que eu fosse à delegacia testemunhar, mostrei um documento
que estava nesse dia em Belo Horizonte. Não precisei testemunhar.[12]
Mas nada disso influenciou no desejo de mudança.
Foi algo espiritual. Lembro que um dia quando passávamos pela praia de Icaraí
de carro senti uma dor muito grande no coração como se eu precisasse estar pastoreando
ali. Foi forte e não entendi, na época
Então, nesse dia 2 de janeiro, em Cascadura, decidi ligar para meu amigo
pastor Jonas Faleiro sobre o que estava sentindo. Ele disse que iria naquele
dia se encontrar com o bispo e afirmou que, se eu quisesse, ele iria falar com
o bispo.
Concordei, mas decidi não correr atrás de nada e pedi ao Senhor um
sinal: se o bispo viesse falar comigo, então eu aceitaria.
No primeiro dia do Concilio Regional, cheguei bem cedo ao Bennett e a
primeira pessoa que vi foi o bispo Lockmann. Ele logo veio em minha direção sorrindo
dizendo que soube que eu estava pensando em me mudar...
E foi assim que nos mudamos para Vital Brazil, Niterói, para surpresa de
todos. Fomos morar em um bom apartamento na rua atrás do templo.
Nesta igreja fui muito abençoado e fiquei por três anos. Recebi cerca de
210 membros.
Depois fui para o Centro Universitário Bennett onde fiquei por três anos
e fui coordenador do Curso de Teologia.
Durante dois anos, morei na Rua Lopes Trovão, em Icaraí. Lembro que,
depois da mudança chegar, fui puxar sozinho um móvel da sala muito pesado e
senti uma dor muito grande no braço. Rompi um tendão do braço e tive que fazer
fisioterapia durante seis meses.[13]
Dois anos depois, fui morar no Condomínio Ubá Floresta, no Engenho do
Mato, Niterói, durante um ano.
Era muito cansativo toda noite ir do Bennett, no Flamengo, para Niterói.
Geralmente, saia de casa às 9h da manhã e voltava às 21h.
Inicialmente, eu ia e voltava para casa de ônibus até o centro do Rio de
Janeiro. Andava um bom pedaço e pegava o metrô. Depois passei a ir e voltar de
Catamarã precisando ainda pegar depois um ônibus até Itaipu/Engenho do Mato. O
gasto foi bem maior, mas foi menos penoso viajar. Meu sonho era voltar à igreja
local.
Um sonho revela a casa pastoral
Meu sonho era voltar à igreja local. Por fim, o bispo cedeu e fomos para
Carmo, RJ, divisa com Além Paraíba, MG.
Foi difícil achar uma casa pastoral.
Fomos recomendados pelo José Luiz, coordenador do MAAD, para não ir para
a casa que o pastor anterior havia morado. Tinha problemas de vazamento e mofo.
Marilza, um membro da Igreja nos acolheu durante cerca de uma semana em
sua casa, antes da mudança chegar e achar uma casa.
Era época de retiro de carnaval. Fomos e participamos do retiro.
As pessoas estavam procurando uma casa para nós.
Então, tive um sonho em pleno retiro...
Sonhei que entrava numa casa toda iluminada. Toda de branco. Parecia o
céu.
Então, na parte da manhã, a Marilza veio dizer havia encontrado uma casa
para alugar. Quando chegamos, lembrei do sonho. Era uma casa muito clara, com
piso de branco.
Logo disse que aquela era a casa pastoral.
Foi um tempo abençoado em Carmo, na Igreja e na casa pastoral.
Eliede pôde colocar seus talentos e dons em prática.
Criamos trabalho de atendimento e libertação.
Era uma igreja onde havia tido dificuldade de relacionamento de membros
com o pastor e de membros com outros membros. Diversos se afastaram.
Procuramos fazer a reconciliação, um ministério de amor.
Mas depois de dois anos tivemos que mudar. Carmo é uma cidade construída
em cima de um morro. Quase só há subida e descida. Você quase não vê alguém
andando de bicicleta na cidade.
Morávamos bem, ao lado de uma linda praça.
Eliede tinha problemas com o joelho. Andar em Carmo a pé era difícil
para ela por causa do joelho. Tanto que precisou operar e colocar uma prótese.
Andou um tempo depois de cadeira de rodas.
Um dia, em Carmo, ela teve muitas dificuldades de sair do carro. Senti
que não poderíamos continuar assim.
Era semana de nomeação pastoral. O bispo teve uma reunião com os
pastores do distrito. No café da manhã, ele sentou à nossa frente. Então, disse
que precisava falar com ele porque a Eliede estava com dificuldades de andar em
Carmo por causa do joelho. Ele logo disse que já havia feito às nomeações. Sua
esposa Gláucia interveio e disse que era preciso ver porque era uma questão de
saúde.
Ele disse que falaria comigo.
Naquela semana aconteceram duas mortes que nos impressionaram. Uma
vizinha morreu, ao lado de nossa casa, e um passarinho, que tinha ninho no
forro da casa pastoral, apareceu enforcado pendurado com uma linha. Uma cena
que nos impressionou.
Parecia um sinal.
No sábado foi lida as nomeações e o bispo nos nomeou para Casimiro de
Abreu, uma cidade plana...
Quando ouvimos no rádio, não acreditamos. A Eliede, em princípio, disse
que não iria.
Confesso que no dia seguinte, no domingo, chorei muito ao falar com a
Igreja.
Acolhidos como anjos
Foi muito difícil encontrar uma casa pastoral em Casimiro de Abreu. As
obras da pista que passava em Casimiro de Abreu trouxeram muitos trabalhadores
para a cidade.
O pastor Marcelo Rangel não morava em Casimiro de Abreu. Era de tempo
parcial e morava em Macaé. Ele estava de saída.
Um dia encontraram uma casa muito pequena, mas ideal para a Eliede, que
estava com cadeiras de rodas porque havia operado o joelho.
Nesse dia da chegada da mudança, a Leila trouxe de sua casa um almoço
para nós. A Claudete nos visitou e ofereceu um pão que trazia consigo. Fomos sempre
bem acolhidos.
Três meses depois, fomos para uma boa casa num bairro nobre.
Nossa casa sempre foi um lugar de acolhimento para reuniões, atendimento
pastoral e outras atividades.
Ficamos nove anos em Casimiro de Abreu. Realizamos um ministério de
amor.
Criamos muitos ministérios e realizamos diversas reuniões na Igreja.
A Semana de Oração mensal proporcionava muita comunhão e oportunidade de
ministração na Palavra para os novos.
A Igreja era dinâmica e acolhedora.
Sob a liderança da Eliede, foi construído um grande salão social. O piso
e o púlpito da Igreja foram mudados. Foram construídas novas salas e um novo
banheiro para as mulheres.
Recebemos muitos membros. Cerca de 50 pessoas ficavam em pé nos cultos
de domingo. Muitos casais vieram para a Igreja.
Mas ainda moramos em duas outras casas pastorais. O proprietário pediu a
casa onde morávamos e mudamos para outra casa onde só ficamos um ano porque o
proprietário precisou também da casa.
Fomos para uma casa antiga. Havia uma casa nos fundos onde montamos um
local de acolhimento e reuniões.
Ali acolhemos o bispo Mano e sua esposa. Acolhemos a pastora Marisol, a pastora
Marisa e outros casais que vieram ministrar.
Acolhemos o Wilson Santos.
Nosso ministério foi de acolhimento.
Mas tive que me aposentar para cuidar da Eliede que estava muito doente.
Fomos para a casa de Itaipu, ao lado de uma reserva florestal.
Mas nossa casa aqui é terrena e passageira e temos nossas lutas. Seja
casa pastoral ou não. Hoje a Eliede está numa maravilhosa casa no Paraiso.
Mas não perdi o hábito e continuei mudando. Fomos para uma casa num condomínio em Campo Grande e depois de uns meses, fomos para a casa da Rose Mary, em Santa Cruz.
Ela foi ampliada e se tornou bem mais agradável.
Jesus disse que foi preparar uma casa para os discípulos e discípulas. Um
dia, estaremos numa casa na eternidade com o Senhor e com nossos queridos e
queridas.
Não mudaremos mais...
“Agência senado”. [1]https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/08/02/pau-de-arara-em-romarias-se-torna-manifestacao-cultural
[2] https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/02/04/chamar-nordestino-de-pau-de-arara-remete-a-preconceito-dizem-professores.htm
[3] https://vejasp.abril.com.br/cidades/veja-sao-paulo-25-anos-nordestinos-pau-de-arara/
[4] https://www.uol.com.br/carros/noticias/redacao/2022/02/05/pau-de-arara-como-e-o-transporte-ilegal-que-ajudou-a-construir-o-brasil.htm
[5] Nordestinos que viajavam de forma
irregular em cima de caminhão aberto, do Nordeste ao Sudeste.
[6] https://museudaimigracao.org.br › ...
› brasileiros-na-hospedaria-o-pau-de-arara.
[7] Mário de Moraes e Ubiratan de Lemos
registram a viagem que realizaram junto aos migrantes nordestinos em busca do
Sul do país. https://periodicos.uff.br/midiaecotidiano/article/view/9767
[8]
https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/26121
[9] KENNEDY, J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928.
[10]
Fubá é uma favela localizada no Morro da Bica, também chamado anteriormente de
Morro das Pedras , localizado na área conhecida como Fazenda da Bica, que
divide os bairros de Cascadura, Quintino Bocaiuva…https:/ wikipédia
[11]
O pastor que me substituiu morreu de enfarte no gabinete pastoral alguns anos
depois.
[12]
Os jornais do dia 1º de janeiro de 2022 anunciaram: “Traficantes invadem Morro
do Fubá e clima é de guerra na região; PM chamou reforço”. https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2022/01/6321890-traficantes.
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