Cura Interior e Santidade

Segundo Wesley

 

Dicas para conselheiros e conselheiras espirituais

 

 

Odilon Massolar Chaves

   

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Copyright © 2025, Odilon Massolar Chaves

É permitido ler, copiar e compartilhar gratuitamente

Art. 184 do Código Penal e Lei 96710 de 19 de fevereiro de 1998. 

Livros publicados na Biblioteca Digital Wesleyana: 621

Livros publicados pelo autor: 692

Fonte da Capa: https://www.youtube.com/watch?v=AVsPviZRrcU

Retrato por Alexander de Oliveira

Tradutor: Google

Toda gloria a Deus!

Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

É casado com RoseMary. Tem duas filhas: Liliana e Luciana.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

Declaração de direitos autorais: Esses arquivos são de domínio público e são derivados de uma edição eletrônica que está disponível no site da Biblioteca Etérea dos Clássicos Cristãos.

Rio de Janeiro – Brasil

 

 

 

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“O objetivo final não é simplesmente aliviar a dor do passado ou algum nível de sanidade mental e emocional, mas o crescimento à semelhança de Cristo e uma obra de amadurecimento na santificação e verdadeira santidade”

 

(David Seamands)

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Índice

 

·        Introdução

·        Todos precisam de cura interior

·        Ajudando pessoas com conflitos emocionais

·        Como receber a Cura Interior

·        A necessidade da cura da alma

·        A necessidade da inteira santificação.

 

 

  

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Introdução

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“Cura Interior e Santidade, segundo Wesley” é um livro de 26 páginas que aborda sobre as doenças da alma e a necessidade de cura. O pecado é a doença mais profunda.

O livro procura dar ainda uma visão teológica da cura da alma.

Na verdade, todos precisam de cura interior.

“Todos” não significa necessariamente que todos têm problemas emocionais, mas é dentro da visão de que o processo de cura interior é um meio de nos aperfeiçoar para adquirir o caráter de Cristo.

O que temos é uma alma doente por causa das consequências do pecado.

“John Wesley acreditava que a salvação é um processo de cura da alma, onde o pecado é visto como a doença mais profunda, e a cura envolve o perdão, a transformação e o amor perfeito. Ele enfatizava que a salvação não é apenas um evento, mas um processo contínuo de santificação, onde a graça de Deus capacita o crente a viver uma vida santa e livre do poder do pecado”. [1]

Efésios 4.13 afirma que Deus colocou na Igreja ministros para aperfeiçoarem os santos com o seguinte propósito: "até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo". 

Precisamos adquirir o caráter de Cristo: amar como Jesus amou; perdoar como Jesus perdoou; ser sensível e solidário como Jesus foi; doar-se como Jesus se doou na cruz, etc.

Se não temos essas práticas, então precisamos ainda nos aperfeiçoar e a cura interior é um meio de nos aperfeiçoar.

Conheci algumas pessoas que tinham algumas marcas do caráter de Cristo, mas não todas. Todos, então, precisam de cura interior.

Por que precisamos de cura interior?

“Independentemente da idade que temos, trazemos em nós a sede de amar e ser amado. Mas temos os nossos     afetos     e     emoções     feridos, trazemos carências que são verdadeiros poços de necessidades. A consequência, muitas vezes, são os extravios em nossa sexualidade. O desejo de Deus é curar nosso coração, por meio da força do Espírito Santo. O que precisamos para suprir o vazio do nosso interior é o Amor Divino”.[2]

O livro não é um manual de psicologia. São dicas para auxiliar os conselheiros e conselheiras espirituais.

É preciso entender que, em muitos casos, é necessário enviar o membro da Igreja para profissionais da área. Em muitos casos, é preciso mais do que a oração. Ela pode aliviar e trazer paz, mas para a cura ser completa pode ser necessário medicamentos que só o profissional poderá orientar.

É preciso entender que os medicamentos vieram por inspiração e direção de Deus.

O livro é resultado de experiências e pesquisas.

Na verdade, seus maiores amigos são os autossabotadores, aqueles que sempre estão dizendo na sua mente que você não pode e nem vai conseguir. ue essas dicas lhe ajudem a realizar melhor seu ministério e também às pessoas que precisam ser aconselhadas ou tratadas.3 

 

O Autor

 

 

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Todos precisam de cura interior

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Não há ninguém que não esteja precisando de cura interior. Uns mais, outros menos. Algumas pessoas têm problemas simples, outras têm enfermidades  graves.

O fato é que só não precisaremos mais de cura interior quando o nosso coração estiver circuncidado: “O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração e o coração da tua descendência a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma” (Dt 30.6).

Circuncisão é o mesmo que santidade, perfeição cristã: “O verdadeiro Deus de paz vos santifique totalmente, e rogo a Deus para que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam preservados irrepreensíveis até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23).

Pela circuncisão, somos purificados de todo o pecado e dotados das virtudes que haviam em Jesus. Passamos a ter a mente de Cristo, a mesma humildade, o mesmo amor, etc.

Somos criados para ter a mesma estatura espiritual de Cristo (Efésios 4.13).

Em Gálatas 4.19, Paulo disse: “(...) meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós.”

Lembre-se de que Jesus disse para sermos perfeitos (Mt 5.48).

A cura interior auxilia no processo de santificação. Pelo poder do Espírito, a pessoa toma consciência de sua enfermidade, procura eliminá-la e adquirir saúde emocional.

A Bíblia cita o exemplo de Zaqueu, que por causa de sua baixa estatura (Lc 19.3), procurava ser o maioral de uma forma ilícita (Lc 19.2).

É aquele ditado: “Quem não é o maior tem que ser o melhor”. As pessoas procuram compensar para se sentirem bem. Zaqueu era um neurótico. Precisava de amor e compreensão. Jesus o valorizou como ser humano e ele foi curado: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa” (Lc 19.5).

Ele não precisou mais roubar para se sentir bem, importante, por isso decidiu dar metade dos seus bens aos pobres (Lc 19.8). Quem só quer receber é um “saco sem fundo”, é um doente. Quem dá é porque tem algo para dar.

Como afirma David Seamands em seu livro “A cura das memórias”: “O objetivo final não é simplesmente aliviar a dor do passado ou algum nível de sanidade mental e emocional, mas o crescimento à semelhança de Cristo e uma obra de amadurecimento na santificação e verdadeira santidade”.[3]  

É isso que Jesus quer fazer com todos.

É preciso aceitar esse fato para começar ou progredir no processo de santificação.


 

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Ajudando pessoas com conflitos  emocionais

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Como conselheiros espirituais, há certas situações que temos que encaminhar aos profissionais da área. Há situações que só os profissionais poderão melhor avaliar e cuidar.

Em diversos outros casos, como conselheiros espirituais, podemos aconselhar, orar e tratar sempre com amor. O amor poderá fazer grande diferença.

Algumas “dicas”:

Pessoas com conflitos emocionais precisam reconhecer e aceitar o fato de que precisam de ajuda

Os conselheiros precisam saber lidar com essa questão sabiamente.

O conselheiro precisa saber com quem está lidando e a pessoa com distúrbios precisa entender que precisa de ajuda.

É difícil reconhecer que precisamos de tratamento. Você conhecendo os problemas da pessoa poderá melhor ajudá-la.

Precisam de um amor contínuo e invariável.

Precisam de aceitação e muito amor até que comecem a acreditar que este amor lhes é realmente dado.

Amor produz amor e ação.

Dar ênfase aos seus valores

Deve-se ignorar seus fracassos ou deve-se diminuí- los. Chamar sempre a atenção para seus pontos positivos através de palavras, mas especialmente através de atitudes. Sugerir que ela é capaz e realizadora.

Elas precisam de um modelo com o qual possam se identificar e do qual possam retirar força

Jesus é o nosso modelo. Ele viveu aqui como um de nós. Foi rejeitado, mas viveu uma vida normal.

Devemos fixar um limite para auxiliar

Não devemos fazer tudo pela pessoa, senão estabeleceremos uma dependência. O neurótico deve sentir que a pessoa que o ajuda é a mais forte possível, como aliada e de cuja ajuda possa depender, mas nunca por covardia.

Devemos ser bondosos e firmes.

Não criticar

Eles chegaram a este ponto por terem sido criticados em demasia na sua infância. Criticar não vai ajudar. Vai só levá-lo para o “buraco”. Se for preciso, deve- se corrigir, mas com prudência e muito carinho.

Fazer algo para aliviar seu senso de culpa

O neurótico sempre se sente culpado de alguma coisa. Tem medo de fazer algo errado. Por isso, devemos ser tolerantes com ele. Devemos encorajá-lo. Conscientizá-lo do amor de Deus, da grande Misericórdia do Senhor. Dizer que Deus perdoa. Que Jesus levou na cruz nossos pecados.

Atacar as ideias irracionais que estão por trás de seus temores

Levá-lo a se tornar familiar com aquilo que teme. Com o contato direto, ele perderá o temor. O “auxiliar” deve inclusive procurar realizar as atividades que o neurótico teme, provando assim que não são tão assustadores assim.

Despertar nele um genuíno interesse por outras pessoas

A neurose é uma doença social, pois surge quando uma pessoa se sente inadequada. O melhor remédio para o desejo de amor e aprovação é amar aos outros. Assim, ela fica com pouco tempo para preocupar-se consigo mesma. Ajudando os outros, se sentirá útil.

Levar a pessoa a uma profunda experiência com Deus

A experiência com Deus-Pai levará o neurótico a receber amor e segurança.

A experiência com Jesus levará o neurótico a encontrar um amigo, alguém que viveu como ele, mas venceu. Terá consciência do que Jesus fez e está fazendo por ele, junto ao Pai.

A experiência com o Espírito Santo levará o neurótico a ter a capacidade e a sabedoria que o mundo não lhe deu. Ele terá força interior e capacidade.

Foi a profunda experiência com Deus que trouxe segurança a Wesley, em 1738.

Levar a pessoa a uma dependência de submissão ao Senhor

Sua ansiedade e angústia são resultado de uma preocupação exagerada, um medo. Isto traz desequilíbrio e problemas físicos. Quando ela aprender a descansar no Senhor, Jesus assumirá o comando. O mais “Ele fará”.

 

 

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Como receber a Cura Interior

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A ministração de Cura Interior é realizada de diversas maneiras; depende muito da pessoa que ministra, do problema da pessoa e da ação do Espírito Santo. O propósito de Deus é que todos estejam abertos a Sua graça. Seu propósito e restaurar a todos. Jesus veio para que todos tenham vida em abundância.

De um modo geral, podemos enumerar as seguintes formas de ministração:

No divã com Jesus Cristo

Isto acontece quando entregamos os nossos problemas nas mãos do Senhor: " Vinde a mim os que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei", disse Jesus. A Bíblia ainda diz: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais Ele fará" (Sl 37.5).

É uma entrega total nas mãos do Senhor. Ele assume o comando e nós descansamos em paz.

Pode ser no momento do louvor, na oração individual, no altar, debaixo de um chuveiro etc. O importante é a entrega total nas mãos do Senhor.

O Salmo 23 nos diz que o Senhor nos conduz para os verdes pastos, para as águas tranquilas. Diz também que Ele enche o nosso cálice.

Verdadeiramente aqui está o que chamamos de deitar no divã de Jesus Cristo. Ele ministra diretamente aos nossos corações, cura as nossas feridas e doenças e restaura as nossas forças.

No divã com Jesus, "deitamos em verdes pastos". Somos guiados mansamente às "águas tranquilas". Temos refrigério para a alma.

A pecadora que ungiu Jesus foi curada quando se colocou no divã de Jesus (Lc 7.36-50). Seu estado era aflitivo. Vencendo todo o medo, ela entrou na casa do seu pior inimigo - um fariseu. Sabia que Jesus, o grande psicólogo, estava ali.

Jesus procurou curá-la, apesar da crítica do fariseu. Ele a elogiou diante de todos. Com toda sabedoria, o nosso Psicólogo disse: "Vês esta mulher?" O Senhor passou a falar de suas belas atitudes mostrando ao fariseu que o passado não mais importava. Ele a estava perdoando naquele momento (Lc 7.47). Por fim, Jesus lhe disse: " ... a tua fé te salvou; vai-te em paz" (Lc 7. 50).

Quando conhecemos a verdade

Há muitas pessoas que são prisioneiras do passado. Vivem aprisionadas e não sabem. Jesus disse que se conhecermos a verdade, a verdade nos libertará (João 8.32).

Ninguém pode desejar a cura, se não tem consciência de que precisa. Nós vivemos num meio onde as pessoas, na grande maioria, acham que não precisam de nada, pois já aceitaram a Jesus e nasceram de novo. Outras pessoas já se acham perfeitas, ou santas o suficiente.

Sempre digo que o padrão é Jesus. Como Ele foi, nós devemos ser. Temos já o mesmo amor, a mesma humildade, a mesma mansidão, a mesma fé, a mesma autoridade, a mesma comunhão com o Pai?

Um dia Pedro aprendeu a lição. Através da graça de Deus, Pedro teve uma visão e descobriu que tinha preconceito em relação aos gentios. Foi preciso uma intervenção de Deus para mostrar que ainda havia doenças em sua alma. Ele disse: "Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo" (At 10.28).

Nas ministrações individuais, peço sempre ao Espírito para mostrar como está o coração da pessoa que nos procurou. Em algumas ocasiões, a pessoa se vê num espelho como verdadeiramente está. Também vê como está o seu coração.

Certa vez ministrei Cura Interior em uma senhora que durante sessenta anos achou que havia sido molestada sexualmente pelo pai. Isso trouxe revolta contra o pai e problemas depois no relacionamento com o marido.

Na ministração ela conheceu a verdade e se libertou do passado. O pai fazia carinho nela, mas a mãe, cheia de tabus, viu na atitude do pai um abuso sexual. A mãe passou essa imagem para a filha.

Na ministrarão, ela teve a oportunidade de rever a cena e ver que havia sido apenas um ato de carinho.

O Espírito Santo lhe mostrou ainda diversas outras vezes em que o pai a havia tratado igualmente com carinho e respeito.

Quando somos sinceros com Jesus no divã, então, Ele pode entrar em nosso coração e sarar as feridas. Não adianta esconder nada, pois Ele sabe tudo.

À Samaritana, Jesus disse: "Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade" (Jo 4.17b,18).

Veja que Jesus não acusou a mulher, mas procurou levá-la ao encontro do verdadeiro Messias.

Quando somos preenchidos em nossas necessidades

Veja que esta afirmação tem limites. Há pessoas que são um "saco sem fundo". Nunca ficarão satisfeitas. Precisam de uma profunda restauração. Acima de tudo, precisam de Jesus. Como disse Paulo: "Tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13). Antes, ele disse: "Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação" (Fp 4.11b).

Mas não vamos ser simplórios. Há muitos e muitos cristãos que têm necessidades não preenchidas. Há pessoas dentro da igreja que são carentes; outras são medrosas e ainda outras têm insegurança etc.

Cristo preencheu algumas necessidades e há ainda outras que não foram preenchidas. Vamos aprender a nos disciplinar, a mudar o rumo das nossas


satisfações. Quando não estivermos mais no centro e sim Jesus, então, nos satisfaremos n’Ele, que preencherá as nossas necessidades.

É preciso também disciplina e sacrificar a carne com os seus desejos. Enquanto ela dominar, nada nos satisfará. O Espírito Santo é quem poderá preencher as nossas necessidades. Ele pode derramar o amor em nossos corações (Rm 5.5).

Zaqueu era uma pessoa com insatisfação. É possível que ele fosse revoltado por ser de pequena estatura (Lc 19.1-3). O fato é que ele pode ter desejado ser o maioral para compensar, mas a sua satisfação nunca foi preenchida.

Ele se sentia complexado, desmerecido pelas pessoas. Jesus o valorizou e preencheu as suas necessidades. Ele precisava que alguém importante e com autoridade o restaurasse. Jesus o chamou pelo nome e disse que iria à sua casa. Ele se sentiu alguém. Ele se sentiu amado e importante. Não precisava mais de dinheiro ilícito.

Zaqueu esteve no divã com Jesus e foi curado em Seu grande amor por nós.

Há pessoas que precisam ouvir apenas uma palavra de perdão para ter alívio em seu sentimento de culpa e encontrar a paz. Há outras pessoas que precisam de aceitação para se sentir amadas.

Segundo os psicólogos, uma criança que não recebe pelo menos quatro abraços por dia não resistirá e morrerá. Ela tem que receber uma média de oito abraços por dia para poder crescer de uma forma normal. Com doze, terá condições de criar coisas e de dar amor.

"Qualquer contato de pele entre as pessoas implica um sentimento de comunicação. A afetividade sentida por uma criança reflete-se no modo pelo qual a mãe a segura." [4]

A pele reflete o estado emocional. A urticária, a coceira, o eczema estão relacionados à insegurança. Não é sem motivo que Jesus tocava as pessoas para curá-las.

Quando a nossa memória é transformada pelo poder de Deus

O Espírito do Senhor pode sondar os corações e descobrir pensamentos e imagens de fatos registrados em nosso inconsciente e que precisam ser tratados. O Senhor pode entrar em nosso interior (Ap 3.20) e mudar os registros negativos. Ele faz isso para curar as nossas feridas. Davi pediu: " Sonda- me, ó Deus, e conhece o meu coração" (Sl 139.23a). Disse mais: "... e conhece os meus pensamentos" (Sl 139.23b).

A Cura Interior é algo espiritual. É um projeto de Deus para restaurar o ser humano para que ele volte a ser novamente imagem e semelhança de Deus.

Mas, não é só isso. Aprendemos que podemos herdar sentimentos, pensamentos, virtudes e defeitos dos nossos antepassados da mesma forma que herdamos traços físicos.

 

 

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A necessidade da cura da alma

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Wesley fala da necessidade da cura da alma, da eliminação do poder da Dalila sobre nós. Ele usa várias expressões: “defeitos internos”, “pecado interior” etc.

Para ele, o pecado é uma doença, por isso a expressão “cura” para falar sobre o pecado.

Para quem pensa que não tem nenhum problema interior, ele faz uma pergunta: “Mas não podem eles encontrar defeitos internos sem número além daquelas omissões exteriores? Defeitos de toda espécie: não têm o amor que é devido ao próximo ...”.[5]

Quem está tão longe de Deus não percebe o estado doentio de sua alma. Por isso, Wesley deixa claro que quanto mais nos aproximarmos do Senhor, mais teremos consciência daquilo que precisamos mudar.

Diz ele: “Quanto mais crescemos na graça, mais sentimos o estado desesperadamente iníquo do nosso coração. Quanto mais avançamos no conhecimento e no amor de Deus através de nosso Senhor Jesus Cristo (...) mais conhecemos o nosso afastamento de Deus, a inimizade que existe em nossa mente carnal e a necessidade de sermos inteiramente renovados em justiça e em verdadeira santidade”.[6]

Assim, a ministração de cura interior é tanto para não crentes, como para pessoas consideradas maduras espiritualmente. O objetivo final da ministração é “curar integralmente e restaurar a personalidade, levando ao exercício pleno das nossas potencialidades, motivando para a busca da autorrealização por meio da comunhão com Deus e o próximo”.[7]

Sim, nós desejamos com a ministração que a pessoa tenha comunhão com Deus e com o próximo num amor de doação; segurança e capacidade de assumir compromissos e responder por eles; aceitação de si próprio sem supervalorização, nem depreciação; capacidade para estar aberto a Deus para ser um instrumento para mudar o mundo.

Wesley ainda fala de “defeito de caráter”.

Ele diz que a alma, enquanto estiver ligada ao corpo, não poderá pensar sem o auxílio dos órgãos corporais. E “sendo estes órgãos imperfeitos, estamos sujeitos a erros especulativos e práticos (...). Sim, e um erro pode fazer com que eu ame  um bom homem menos do que eu devia, o que é um defeito de caráter”.[8]

Ele ainda fala que Satanás não perderá a oportunidade de nos jogar contra Deus, usando toda a sua sabedoria e força, para, numa hora de descuido, nos trazer descontentamento, impaciência e inveja de outros.

Wesley diz que o pecado permanece dentro do coração daqueles que creem.

“Ele não reina, mas permanece”.4Ele cita exemplos: “Pois aquele que imaginou que todos os pecados tinham desaparecido, ainda sente que há orgulho no seu coração. Está convencido de que tem atribuído mais importância a si mesmo do que devia em muitos aspectos, e de que gostou do louvor que recebeu ...”. [9] 

Isso inclui aqueles que foram regenerados, pois o novo nascimento não é ainda santificação, santidade, perfeição cristã. No novo nascimento, é iniciado um processo de santificação. 

Wesley diz que “onde menos suspeitamos, encontramos um pouco de orgulho ou de obstinação, de descrença ou de idolatria ...”. [10]

Quem poderia pensar que Pedro tivesse algum pecado? Afinal, ele havia sido cheio do Espírito e realizado curas e milagres após o Pentecostes. Mas, um belo dia em que jejuava e orava, o Espírito do Senhor revelou que ele tinha em seu coração preconceito e que deveria mudar (Cf. At 10.9-16).

É o Espírito quem nos convence do pecado. Por isso, nas ministrações,  pedimos ao Espírito que revele, que traga à memória aquilo que precisa ser mudado, curado.

Sempre pedimos que Jesus realize a cura. É Ele quem pode fazer isso. O ministrante não pode fazer. Ele é apenas um canal, um instrumento nas mãos do Senhor.

Em algumas ministrações aparecem pessoas dizendo  que vieram só ver como é o trabalho, pois não têm problema nenhum. Não demora muito para essas pessoas confessarem que agora veem que precisam de cura da alma. Basta abrir o coração e o Senhor irá revelar e curar.

É o Seu propósito. Afinal, nós fomos criados para sermos conforme à imagem de Jesus (Rm 8.29).

 

 

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A necessidade da inteira santificação

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Entendemos, então, que precisamos nos livrar da “Dalila” que está dentro de nós. Só assim o Senhor poderá habitar em nossos corações.

Wesley entendia que isso poderia acontecer na nossa existência aqui na terra pela inteira santificação, santificação completa ou perfeição cristã. Sem a inteira santificação é impossível ser salvo de todo pecado.

Wesley cita vários versículos para fundamentar sua palavra: “Ele remirá a Israel de todos os seus pecados” (Sl 130.8); “... de todas as vossas iniquidades e de todos os vossos ídolos vos limparei.” (Ez 36.25); Tendo estas promessas, “purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne,  como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2Co 7.1); “O Senhor teu Deus circundará o teu coração, e o coração da tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas.” (Dt 30.6).

Por fim, ele cita I Tessalonicenses 5.23: “O mesmo Deus da paz vos santifique totalmente, e rogo a Deus para que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam preservados irrepreensíveis até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”.

Aqui há expressões como “toda impureza”, “todos os seus pecados”, “santifique totalmente”. É preciso estar convencido da profunda corrupção do coração para que haja preocupação com a santificação completa, diz Wesley.

Esta santificação completa não exclui erros humanos. Ela não torna o ser humano um Deus infalível: “Creio que não existe perfeição nesta vida que exclua essas transgressões involuntárias, as quais penso serem naturalmente consequência da ignorância e dos erros inseparáveis da mortalidade”.[11]

Não há perfeição absoluta na terra. “Um cristão é perfeito a ponto de não cometer pecado”. O cristão será perfeito como o seu Mestre e o Mestre era isento de todos os sentimentos pecaminosos.

Como afirma David Seamands em seu livro A cura das memórias: “O objetivo final não é simplesmente aliviar a dor do passado ou algum nível de sanidade mental e emocional, mas o crescimento à semelhança de Cristo e uma obra de amadurecimento na santificação e verdadeira santidade”.

Mas quais são as marcas essenciais, então, de uma pessoa que alcançou a inteira santificação? 

Ele responde: “... aquele em quem existe a mente que houve em Cristo e que anda como Cristo andou; que foi lavado de todas as impurezas da carne e do espírito; aquele que não é motivo de tropeço para os outros, e aquele que não comete pecado, (...) aquele a quem Deus santificou totalmente o corpo, a alma e o espírito, aquele que anda na luz como Ele está na luz,   não há nenhuma treva, tendo sido lavado de todo pecado pelo sangue de Jesus Cristo, Seu Filho”. [12]

Wesley ainda diz: “A sua alma é realmente toda amor, cheia de entranhas de misericórdia, bondade, mansidão, magnanimidade e tolerância. A sua vida está de acordo com estas qualidades, cheia de obras de fé, da paciência, de esperança e da obra do amor. Tudo quanto faz, quer em palavras, quer em atos, ele o faz em nome, no amor e no poder do Senhor Jesus”. [13]

Em seu diário, Wesley cita exemplos de pessoas que receberam a bênção, como ele também chama, a inteira santificação. Ele conta a experiência do Sr. Fugill que, numa noite após buscar a Deus, experimentou a bênção. E foi na hora da pregação. Diz esse senhor: “... meu coração se enchia mais e mais, até não mais poder. Queria eu estar a sós, para derramar meu coração perante Deus; e, quando cheguei à casa, não podia fazer outra coisa senão louvar e agradecer a Deus. Desde aquele momento, não tenho sentido mais nada a não ser amor; sem pecado de espécie alguma. E espero nunca mais pecar, nem ofender a Deus”.[14]

Os que foram justificados e nasceram de novo não podem deixar de procurar crescer espiritualmente, não podem deixar de se santificar, pois há ainda no crente a natureza má que luta contra o espírito. Os que ensinam o contrário disso, diz Wesley, trazem as piores consequências: “Ela suprime toda vigilância sobre nossa natureza pecaminosa, sobre a Dalila que nos disseram ter-se ido, embora ela ainda repouse contra nosso peito”.[15]

Por isso ele ainda diz: “Tanto quanto possível, usemos de toda diligência no 'combater o bom combate da fé'. Cada vez mais ativamente, 'vigiemos e oremos' contra o inimigo interior”.[16]

Ele ainda diz para tomarmos toda armadura de Deus para que, quando lutarmos contra a carne e o sangue e também os “principados, poderes e espíritos depravados nos lugares elevados, possamos 'estar firmes no dia mau', e, tendo feito tudo, permanecermos firmes na fé”.[17]

Enfim, devemos ter consciência de que precisamos sempre caminhar para a inteira santificação. Só assim teremos poder sobre a “Dalila” que teima em ficar repousando contra o nosso peito.

Em Hebreus 3.13, há uma orientação neste sentido: “... exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de  que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. Adiante diz: “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito” (Hb 6.1).

 

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[1] Visão geral da IA do Google

[2] https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/cura-

 [3]https://pt.scribd.com/document/372864409/A-Cura-Das-Memorias- David-Seamands

[4] MORAES, Renate Jost de. As Chaves do Inconsciente. Editora Agir, 7ª edição, 1985, p.61.

[5] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. Coletânea da Teologia de João Wesley, São Paulo, Imprensa Metodista, 1960; p. 180

[6] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 180

[7] Folheto de Cura Interior da Igreja Metodista do Jardim Botânico produzido por Odilon Chaves.

[8] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 182.

[9] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 184.

[10] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 186. 

[11] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 213.

[12] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 218.

[13] BURTNER, Robert - CHILES, Robert. op. cit. p. 210.

[14] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, São Paulo, Imprensa Metodista, 1965, p. 127.

[15] WESLEY, João. Sermões de Wesley, São Paulo, Imprensa Metodista, 1953, Vol. I, p. 270.

[16] WESLEY, João, Sermões de Wesley, op.cit, p. 271

[17] Idem.

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