O Avivamento de Amós Aníbal

 

Odilon Massolar Chaves

 

       

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Toda gloria a Deus!

Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

Declaração de direitos autorais: Esses arquivos são de domínio público e são derivados de uma edição eletrônica que está disponível no site da Biblioteca Etérea dos Clássicos Cristãos.[1]

Rio de Janeiro – Brasil

 

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Amós Anibal respondeu que agiria como Wesley. Jamais deixaria a Igreja Metodista, que muito amava.[2]

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Índice

 

·       Introdução

·       Um leigo culto e dedicado

·       O início do pastorado

·       A necessidade ade avivamento na Igreja

·       Um discípulo de Stanley Jones

·       Experiências espirituais

·       Ministério de tempo integral e capelania

·       O seu falecimento e homenagens

 

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Introdução

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         “O Avivamento de Amós Aníbal” é um livro de 40 páginas que relata a curta trajetória de um homem extremamente culto, talentoso, dedicado e que amava intensamente à Igreja Metodista.

         Foi discípulo de Stanley Jones, pois seguia suas orientações sobre santidade e avivamento. Viveu numa época em que muitos pastores e missionários seguiram de perto o missionário metodista na Índia Stanley Jones.

        Viveu numa época também de mudanças no mundo com a II Guerra Mundial. O mundo ansiava por mudanças. A Igreja ansiava por mudança.

      O pastor metodista Guaracy Silveira escreveu sobre a necessidade de uma nova Reforma na Igreja Metodista.

    Amós Anibal teve diversas experiências espirituais profundas e influenciou diversas pessoas. Ele se reunia com alguns pastores para oração e troca de experiências. Isso não foi bem visto pela liderança da Igreja.

      Era uma época de ditadura no país. Havia ocorrido duas divisões na Igreja Metodista com o surgimento da Igreja Metodista Ortodoxa e Igreja do Avivamento Bíblico. Em sua curta trajetória ministerial deixou marcas profundas.

     Para escrever esse livro, consultei duas pessoas: sua esposa Neuza Anibal e o ex-pastor metodista Waldemar Gomes de Figueiredo.

     As informações pessoais de Neuza enriqueceram muito sobre a vida e o ministério de Amós Anibal. As informações pessoais de Waldemar Gomes de Figueiredo[3] também esclareceram diversos fatos.

O Autor

 

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Um leigo culto e dedicado

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          Amós Anibal (1918-1950). nasceu no dia 6 de agosto de 1918, em Guarani, Minas Gerais. Filho de Alberto Anibal e Jovita Nazaré Anibal.

           Era filho único e dotado de grande vivacidade, com pendores especiais para a música.[4]

           Amós Aníbal era membro da Igreja Metodista de São João, no Instituto Central do povo, e se transferiu para a Igreja Metodista de Vila Isabel.

              Ali se tornou regente do coral e presidente do Departamento de cultivo espiritual e missões. Ele tocava órgão e flauta. Após a Escola Dominical, eles visitavam os enfermos nas residências e hospitais. Às 18 horas havia estudo da revista Cruz de Malta.

             Em 1937, Amós se casou com Neuza de Castro. O Pastor Antônio de Campos Gonçalves foi o ministro que realizou a cerimônia.

             Era extremamente culto. Falava sete idiomas. Estudou no Seminário Teológico Betel do Rio de Janeiro e nos Concílios prestava exames. Em 1940 foi provisionado.

            “Em 1946, foi designado para exercer a função de Chefe da Seção de Divulgação e Documentação do Ministério de Educação e Saúde”.[5]

            Na década de quarenta, surgiu um movimento avivalista na Igreja Metodista liderado por Amós Anibal. Os pastores que se envolveram eram da Região Norte: Amós Aníbal, Francisco Teodoro Batista, Mário Mendes, Nelson Arcanjo  Duarte Rocha, etc.

       Francisco Teodoro Batista fez parte dos líderes que organizaram a Igreja Metodista Wesleyana, em 1967, e se tornou o Superintendente Geral: O “Conselho Geral, que foi composto por Waldemar Gomes de Figueiredo como superintendente geral; nas secretarias gerais ficaram José Moreira da Silva (de educação cristã), Gessé Teixeira de Carvalho (de missões, cumulado ao de diretor do jornal "Voz Wesleyana"), Oriele Soares do Nascimento (de ação social) e Idelmício Cabral dos Santos (de finanças), ficando Francisco Teodoro Batista como presidente da junta patrimonial”. [6]

         Não havia uma perfeita identidade entre eles. Havia somente o desejo de um aperfeiçoamento da vida espiritual e maiores vitórias no ministério pastoral.

         Era algo comum entre os pastores metodistas da época.

      O I Instituto Ministerial Geral de 1947 publicou no Expositor Cristão: “Todos nós sentimos necessidade de renovação espiritual concretizada numa experiência viva, resultante de nosso encontro com Jesus e o Espírito Santo.”[7] E mais: “Todos nós sentimos necessidade de mais aproximação entre os ministros e pastores de nossa Igreja (...).[8]

          Era o que eles faziam.

          Não havia um comprometimento maior. A distância entre eles e a falta de apoio para um real avivamento foram algumas das barreiras da época.

          Amós Anibal amava a Igreja Metodista.

 

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O início do pastorado

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        Juntamente com sua esposa, em 1941, aos 22 anos de idade, saiu da Igreja Metodista de Vila Isabel para o pastorado nas Igrejas metodistas de Irajá e Coelho Neto. Em Irajá havia o culto "Vigia e Ora".

             Eram cultos de oração às terças feiras, à noite. Participava a liderança, os membros e alguns pastores. Havia a manifestação do Espírito, mas isso era reservado, pois era algo não aceito, na época, no meio metodista. Havia muito fervor no culto. Era uma reunião para avivamento[9].

             A liderança e capacidade de Amós Aníbal parece que trouxe preocupação ao Gabinete Episcopal, afinal, era uma época marcada  pela falta de democracia, com golpes e estado de sítio no país e ainda acontecia a  II Guerra Mundial.

            Amós e seus companheiros se reuniam na casa de Francisco Teodoro Batista, em Três Rios. Isso levou o Bispo César, em Janeiro de 1944, a escrever uma carta pastoral ao grupo dizendo que eles não precisavam deixar suas paróquias para se reunirem. Poderiam fazer isso em suas próprias igrejas. Amós havia criado a Sociedade Missionária Metodista.

      Havia o medo de uma nova divisão, como a criação da Irmandade Metodista Ortodoxa, em 1935. Em 1942, havia ocorrido divisões na Igreja Presbiteriana Independente por causa da questão das penas eternas. Surgiriam as igrejas Presbiteriana Conservadora e a Igreja Cristã de São Paulo, com ênfase liberal.

          Outra divisão ocorreu na Igreja Metodista de Vila Mazzei, em São Paulo, em 1946, surgindo a Igreja Evangélica do Avivamento Bíblico”.

         Amós era avivalista e gostava de pregar sobre o Espírito Santo. Diante das dificuldades de ter uma igreja local mais aberta ao Espírito Santo, o pastor Waldemar Figueiredo (que na década de sessenta participaria da divisão wesleyana) deu a sugestão a Amós Aníbal para criar um outro trabalho evangélico. Amós Anibal respondeu que agiria como Wesley. Jamais deixaria a Igreja Metodista, que muito amava.[10]

          De 1945 a 1948, Amós Aníbal pastoreou a Igreja metodista da Penha e de 1947 a 1948 pastoreou as Igrejas metodistas da Penha e Duque de Caxias.

          Amós era funcionário da Secretaria de Educação e Cultura. Em 1946 foi nomeado como chefe da Seção de Divulgação e Documentação do Ministério de Educação e Saúde.

       Em 1947 foi eleito e ordenado diácono, pelo Bispo César Dacorso Filho, e no concilio de 1949, pelo mesmo Bispo, foi ordenado presbítero.[11]

               Em 1949, foi nomeado para Resende.

 

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A necessidade de avivamento na Igreja

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       Na década de trinta, muitos líderes estavam mais preocupados com a elaboração dos Cânones  do que com o avivamento. A Igreja tinha uma grande responsabilidade de acertar, especialmente na área administrativa, pois acabava de se tornar autônoma. Ela precisava mostrar à “Igreja Mãe” que também poderia dirigir bem a Igreja

           No Concílio Geral de 1934, a Comissão sobre o Estado Geral da Igreja recomendou cinco ênfases: o culto doméstico, o apoio a literatura da Igreja,  ceder maior espaço para a participação leiga na Igreja, o cuidado na conservação dos membros na Igreja e a busca do avivamento: "Que haja uma grande campanha revivificadora durante estes anos, e que não fique nenhuma Paróquia sem a intensificação desta campanha de avivamento."[12]

             A liderança da Igreja tinha o  desejo de acertar, mas não havia a mesma visão e experiência com o poder do Espírito como havia acontecido na Inglaterra e EUA. Vemos isto na publicação do livro “Evangelismo e Avivamento” de autoria do dedicado pastor Eduardo Mena Barreto Jaime em 1940, e que teve o prefácio do bispo César Dacorso Filho, que o recomendou para estudo nas igrejas.

             De uma forma bela e profunda é dito que "Evangelismo é apresentar Cristo Jesus, no poder do Espírito."[13] Mas, no capítulo "Evangelismo - Dons e Talentos" não se fala em Espírito Santo e nem em dons do Espírito: "E a nós foram confiados outros talentos de grande valor na  obra do evangelismo: a  inteligência, dom da oratória, o da música, o da arte em geral, em seus encantos e beleza."[14] Logo a seguir são citados os exemplos da cultura de Rui Barbosa, a arte de Miguel Ângelo e a voz de Caruso como dons e privilégios dados por Deus.

          Foi um período em que se valorizou muito a cultura e capacidade intelectual. Na Voz Missionária da década de quarenta é citado diversos estudos de Rui Barbosa. Inclusive, na Voz Missionária de outubro-novembro-dezembro de 1949 é colocada uma grande foto de Rui Barbosa na capa da revista e um grande artigo, entre as páginas 3 e 10,  sobre o "Centenário Natalício de Rui Barbosa" de autoria do pastor Antônio de Campos Gonçalves.

           Neste período, alguns líderes se mostraram insatisfeitos com os rumos  do metodismo brasileiro. O próprio Eduardo Mena Barreto Jayme da Região Sul questionou os métodos de evangelização, em 1938. Disse para voltarmos à maneira usada no avivamento wesleyano.

         Entre os dias 9 a 17 de julho de 1947, a Igreja Metodista realizou seu I Instituto Ministerial Geral, no Colégio Bennett, sob a direção da Junta Geral de Educação Cristã. O Instituto Geral marcou tanto que foi falado no final do encontro que todos estavam com  os    corações transbordantes de entusiasmo cristão.

             Os Bispos e pastores presentes lançaram um desafio a todos “em prol do mais pronto estabelecimento do Reino dos Céus em nossa Pátria, através da sua ação evangelizante, educativa e assistencial.”[15] Os pastores aceitaram o desafio do Colégio dos Bispos de alcançar 6 mil novos membros no exercício eclesiástico. O desafio tinha um preço: “o desafio vos apela a uma consagração irrestrita e incondicional, de todas as energias e capacidades, na gloriosa empresa da conquista do Brasil para Cristo.”[16]

             O  I Instituto Ministerial Geral de 1947 despertou nos pastores necessidades espirituais:

            1.Todos nós sentimos necessidade de renovação espiritual concretizada numa experiência viva, resultante de nosso encontro com Jesus e o Espírito Santo. Do vigor espiritual do Ministério da Igreja resultará uma Igreja vivamente espiritual (...);

           2. Todos nós sentimos necessidade de mais aproximação entre os ministros e pastores de nossa Igreja (...). O IG facilitou esta aproximação e a igreja já está gozando dos resultados dos novos ideais de que estão possuídos os pastores que não se furtaram ao privilégio de tomar parte nos seus trabalhos;

          3. Todos nós sentimos necessidade de dar mais força ao trabalho de Evangelização (...).  A ênfase neste ponto, avivou-nos o espírito o ideal de Cristo e da Igreja Cristã nos seus primórdios, dando a cada um de nós CONSCIÊNCIA do verdadeiro sentido de EVANGELIZAÇÃO (...)”[17].

          Ele encerra a reportagem dizendo: “Cada pastor que participou do Inst. Minist. Geral já está infundindo em sua igreja uma nova consciência do que quer dizer Avivamento Espiritual, Trabalho Pastoral e Evangelização.”[18]

          Amós Anibal estava presente no Instituto Ministerial.

       Não foi o Instituto Ministerial Geral que havia entusiasmado Amós Aníbal. Antes do Instituto Geral (julho de 1947), ele escreveu 6 artigos no Expositor Cristão sobre Avivamento Espiritual (de 17 de abril a 24 de julho de 1947).

        O “I Instituto Ministerial Geral” certamente deu uma segurança maior ao seu ministério e a sua visão espiritual.

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Um discípulo de Stanley Jones

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          Em artigos que escreveu, Amós mostra ser discípulo de Stanley Jones, o qual cita diversas vezes. Cita também Wesley, a quem chega a pedir:

             “Wesley, meu servo, desce a escada do tempo, vem explicar, com singeleza, aquilo que o ‘mestre em Israel’ já devera entender naturalmente”.[19]

             Para Amós Anibal, avivamento é o mesmo que Pentecoste. Ele cita Stanley Jones: “Pentecostes não é meramente um evento no tempo, mas um princípio contínuo em nosso Evangelho, e é operante sempre que suas condições sejam satisfeitas”.[20] Para ele, o Pentecostes resulta em vida abundante. “Ele significa a entronização, no centro da nossa vida, dAquele que é a própria vida, vindo para que a possuamos com abundância”.[21]

          Amós Aníbal ressalta a importância da Bíblia e da oração: “A Bíblia e a oração - a voz de Deus e a voz do crente - são, respectivamente, a porta e a chave da comunhão mediante a qual podemos inebriar-nos de Deus, no gozo da plenitude do Seu amoroso Espírito”.[22]

         Ele cita ainda Stanley Jones para falar da situação atual da Igreja, que certamente era a situação também do metodismo brasileiro: “Para Jones, a Igreja hodierna é medrosa, está escondida atrás da porta fechada, justamente como os discípulos após a ascensão do Senhor e antes do derramamento do Espírito.”[23]

          Citando, por fim,  Stanley Jones, ele diz que a Igreja sofria de “paralisia de análise”. Ela pode dissecar a vida, mas não pode dá-la. Ela tudo sabe, exceto como viver e viver abundantemente.

          Amós Aníbal acreditava ensinava sobre a “segunda benção”, como era comum chamar o Batismo do Espírito, na época. Ele afirma: “Os apóstolos já eram cristãos, quando receberam a ordem: ‘mas vós permanecei na cidade, até que sejais revestidos de poder lá do alto (Luc.24:49)”.[24]

            Por humildade ou por precaução, Amós Aníbal evita falar de si e comenta sobre o derramar do Espírito ocorrido com um pastor metodista na cidade do Rio de Janeiro há pouco tempo atrás.

          Ele percebeu que os crentes de sua igreja se distanciavam da vida de santidade trazendo assim a apostasia como consequência. Decidiu, então, convocar uma semana de oração e avivamento espiritual. Nos três primeiros dias, baseado no Salmo 139, a igreja foi levada a um longo período de orações, exame de consciência e confissões: “Sob profunda convicção de pecado, uma após outra sucediam-se orações regadas com lágrimas de arrependimento (...)”.[25]

            No quarto dia “não poucos já foram os testemunhos de paz e de gozo em que haviam entrado aqueles que sinceramente esvaziaram o coração ao pé da Cruz”[26].46 Neste período foi ensinado sobre a palavra em João 7.37-39: o cristão tem a exuberância da vida espiritual numa atitude ativa e positiva na aceitação da benção. Segundo ele, “ a condição para a comunicação do dom bem como o meio e a finalidade é a glorificação de Cristo. Ah! Quanto isto significa !”.[27]

       Amós Aníbal relata os fatos mostrando ter sido uma testemunha ocular dos fatos. Diz ele que no quinto dia “o templo estava repleto; a Palavra de Deus ocupou o seu distinto lugar, o louvor espontâneo, e os testemunhos se multiplicaram”[28].                O pranto caiu sobre os presentes. Ele diz que o que aconteceu é difícil narrar. O Espírito Santo usou alguns para a intercessão naquele momento.

          Chegou, então, o domingo. Era dia de Ceia. “O templo já não podia comportar a assistência ao culto da manhã. O ambiente estava saturado de graça pela mui sensível presença de Jesus”[29].

         O sermão do pastor Amós Aníbal foi o melhor pregado até então, como Pedro no dia de Pentecostes. Um mar de lágrimas inundou a igreja. Lágrimas de júbilo e exaltação.

          Ele conclui dizendo: “Só o Espírito sabe o que se passou na alma daqueles irmãos em íntima comunhão com Cristo e uns com os outros. Mas aquele domingo foi o marco inicial de uma vida renovada para aquela igreja”.[30]

         Toda essa experiência e comentários sobre Stanley Jones e os fatos em sua igreja local foram publicados por Amós Anibal no Expositor Cristão, órgão oficial da Igreja Metodista. Com toda franqueza e honestidade. Nada a esconder.

 

 

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Experiências espirituais

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          Amós teve experiências espirituais marcantes. Em 1949, ele sonhou que um anjo o acordava e o levava ao escritório para preparar uma mensagem para os juvenis da igreja metodista de Resende.

         Às 5 horas da manhã, como de costume, Amós levantou para ir ao escritório preparar a mensagem daquele domingo. Quando ele chegou ao escritório a mensagem já estava escrita em cima da mesa do escritório. Ele contou esse fato à igreja. Isso levou alguns juvenis, entre eles, Ermil Corrêa, a se decidir por Jesus Cristo e depois para o ministério pastoral.[31]

     “Na cidade de Resende foi onde Ermil viveu toda sua adolescência e onde também teve sua experiência religiosa de conversão. Foi ali que aprendeu com os colegas da escola a gostar de cinema. “Meu pai me disse que eu só poderia gastar com cinema o dinheiro que eu mesmo ganhasse com meu trabalho. Então, sempre que saía da escola ia para o lixão da cidade catar caco de vidro, osso, ferro, cobre, etc... para poder vender e ir então todos os domingos na matinê e todas as quartas-feiras no seriado de bang-bang.” O pai o ensinara a ser fiel em tudo, e imediatamente passou a dar o dízimo o dinheirinho que ganhava, mesmo não sendo membro da Igreja. “Não podia sentir preguiça ou cansaço para ir à Igreja. Meu pai tinha criado outra regra: cansado para ir a igreja, cansado para ir ao cinema.”

        “Certa feita”, disse Ermil Correa,  “o Pr. Amós Aníbal, pastor da Igreja e professor da Classe de Juvenis na Escola Dominical avisou ao grupo de juvenis que tinha recebido de Deus uma mensagem que iria modificar a vida de algumas pessoas, inclusive de alguns juvenis, e que ninguém deveria faltar ao culto após a Escola Dominical. “Eu disse comigo mesmo, não posso ouvi-lo, justamente naquele Domingo ia passar “A volta do Zorro” na matinê. Mas eu me lembrei da regra do meu pai. Sem vontade alguma e também temeroso do que Deus poderia fazer comigo, fiquei em pé perto do para-vento da Igreja ouvindo o pastor pregar. Deus tinha realmente uma mensagem que mudaria minha vida para sempre. Tentei resistir ao máximo, mas naquela manhã acabei por me entregar minha vida ao Senhor. Aprendi ali no altar que há coisas que trazem benefício e bem estar ao próximo e isso deveria ocupar o meu pensamento e o meu querer.” Passou desde então a ajudar o pastor nos cultos ao ar livre, nas visitas aos alunos faltosos...”[32]

         Ermil Correa se tornou posteriormente um dedicado pastor da Igreja Metodista por 38 anos.

 

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Ministério de tempo integral e capelania

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             No ano de 1948, Amós Aníbal tudo deixou para se dedicar exclusivamente ao ministério pastoral. Ele foi nomeado para Resende, em 1949, que havia acabado de se tornar igreja. Ela havia sido congregação de Barra Mansa. Amós se tornaria capelão na Academia das Agulhas Negras. Ele gostava de visitar. Em 1949, ele recebeu 31 novos membros. Em 1950 havia recebido 08 membros. 

              Foi através do seu ministério que foi organizada a Igreja Metodista Central de Resende, hoje Catedral.

              Durante muitos anos, a Igreja foi chamada de “Igreja Amós Anibal”.  Até que um pastor foi nomeado para ela e então ele procurou tirar esse nome, pois segundo ele, a Igreja não podia ter nome de homem.

          “Em 6 de março de 1949, na gestão do Rev. Amós Anibal, a Congregação emancipa-se da Igreja Metodista em Barra Mansa, tornando-se Igreja”.[33]

               Amós Anibal foi o primeiro capelão na Academia Militar das Agulhas Negras. “A Confederação Evangélica do Brasil, para efeito de oficialização de um trabalho, que já existia,  requereu em 12 de setembro de 1949, a criação da Capelania Militar Evangélica dentro da Academia Militar e indicou para o cargo de capelão o pastor Amós Anibal que já vinha desempenhando essas funções desde o início do movimento”.[34]

             No culto do domingo à noite, dia 01 de outubro de 1950, sua esposa Neuza Aníbal, pela primeira vez, viu um clarão muito forte ao redor de Amós Aníbal, quando ele pregava.

          Durante muito tempo ela perguntou qual a razão daquela claridade. O próprio Amós percebeu que ela o fitava muito. Ela entendeu, uma semana depois, que o Senhor o coroava.[35]

 

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O seu falecimento e homenagens

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          No VI Concílio Geral da Igreja Metodista entre 12 e 25 de fevereiro de 1950, em Porto Alegre, Amós Anibal foi um dos voluntários para o trabalho de secretaria do Concílio Geral. Aprova-se o programa “Avante por Cristo”. [36]

           No dia 06 de outubro, cumprindo sua função pastoral, ele foi visitar em sua moto um membro da igreja numa fazenda distante. A moto teve problema e ele teve que empurrá-la.

             Amós Anibal sempre teve boa saúde. No dia seguinte, levou seus filhos para a escola às 7 horas da manhã e foi para o gabinete pastoral onde, disciplinado que era, colocou tudo em ordem. Ali ele teve um derrame cerebral fulminante. Antes das 12 horas do dia 07 de outubro de 1950 ele entrou em coma e por volta das 18 horas os sinos da Igreja matriz da cidade de Resende anunciaram o seu falecimento.

             O Comandante da Academia das Agulhas Negras enviaria um grupo de cadetes para levarem o caixão numa ambulância até a igreja Metodista de Vila Isabel e ali permaneceriam até o final do ofício fúnebre, no domingo da manhã do dia 08, celebrado pelo Rev. Antônio de Campos Gonçalves.

              Em 195l, faleceu também o presbítero Mário Mendes e sua filhinha Valma num choque de trens entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete. Morreu no exercício do seu ministério. Somente ele e sua filha morreram no desastre. O trem estava parado na estação e sua filha estava dormindo no trem. Quando Mário viu que vinha outro trem e haveria uma batia, ele entrou no trem para salvá-la e morreu junto com ela.[37]

               Ele havia sido provisionado em 1941. Faleceu aos quarenta anos de idade. Antônio Bágio assim se expressou sobre ele: "Legou à família um nome honrado, à Igreja dignificaste exemplo de consagração, aos colegas de ministério afeição fraterna e à pátria amor e respeito às leis".[38]

             Este fato levou muita gente a considerar que a morte dos dois foi obra de Deus porque eles “queriam dividir a igreja”. Contudo, toda prática de Amós Aníbal, suas experiências e o testemunho dos membros das igrejas e colegas, que estavam abertos à obra do avivamento, mostram exatamente o contrário. Amós era um que amava a Igreja Metodista.

         No período em que Amós Aníbal foi pastor em Irajá (1941-1944) o guia-leigo era Nelson Arcanjo Duarte Rocha. Eram vizinhos e muito amigos. Nelson era militar e deixaria tudo para ser pastor. Em 1942, Nelson Rocha foi provisionado. Entre as igrejas que pastoreou, estão: Campo grande, Nilópolis, Laranjais, Anta, Sapucaia, Muriaé.

         Nelson gostava muito da Assembleia de Deus, especialmente do Pastor Emílio Conde, mas era muito isolado e agia sozinho. [39]

        Ele organizou em 25 de agosto de 1945 a Missão Evangélica do Brasil.[40]

      Em 1952, Nelson Arcanjo Duarte Rocha foi excluído da Igreja Metodista e criou um trabalho de oração em Mato Grosso. Ele voltou a Igreja e foi readmitido em 1953 para ficar em experiência dois períodos eclesiásticos. Mas logo depois sairia novamente criando um trabalho de oração em Petrópolis.[41]

        Para completar, em 1953, faleceu Guaracy Silveira de ataque cardíaco sem completar 60 anos e sem ver muito dos seus sonhos se realizarem na Igreja.

      Guaracy foi redator do Expositor Cristão duas vezes. Foi deputado à Constituinte duas vezes  (1933 e 1946). Começou seu pastorado como ajudante na Central de São Paulo, em 1918. Em 1921 foi consagrado presbítero.

         Lutou muito pela Igreja. Foi um dos pastores que mais fez pela Igreja. Não pertenceu ao grupo de Amós Aníbal, mas questionou muito o rumo da Igreja na década de quarenta e lutou para que ela voltasse às raízes wesleyanas.

           Não foi ainda naquele momento que se realizaria o sonho de ver o metodismo alcançar o mesmo vigor dos tempos de Wesley. 

         Criou-se muita especulação sobre o movimento, Amós Aníbal e os participantes. Deram diversas interpretações sobre os acontecimentos. A verdade é que ele e seus companheiros amavam a Igreja Metodista e sonharam em vê-la atuante. Alguns saíram, mas Amós Anibal permaneceu.

       Até mesmo costumam dizer que Amós Anibal idealizou a criação da Igreja Metodista Wesleyana. Não há nada que comprove isso! Como muitos na época, lutou para a renovação da Igreja Metodista.

      Isnard Rocha auto do livro Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo no Brasil fez grandes elogios a capacidade intelectual, vida espiritual e caráter de Amós Aníbal. Disse: "Que exemplo feliz para nós e sua querida família! Como pedra preciosa, Amós foi engastado na coroa de Cristo."[42]

         Líderes tradicionais, como Antônio Bágio e Antônio de Campos Gonçalves, escreveram no Expositor Cristão exaltando suas qualidades. Sua última igreja - Resende - durante muito tempo foi conhecida oficialmente como "Igreja Amós Aníbal". Algumas igrejas colocaram o nome de sua classe de “Classe Amós Aníbal”.

        O fato de alguém falecer repentinamente não significa que houve o peso da mão de Deus. A história tem registrado desde o início a morte prematura de muitos líderes no metodismo brasileiro. Além de Amós Aníbal, com 32 anos, Mário Mendes, 40 anos, também há o registro do falecimento de Cynthia Kidder, esposa do missionário Daniel Kidder, que faleceu com 22 anos, que o fez a voltar aos EUA.  Annie Newman, esposa do missionário J.J.Ranson também faleceria com 24 anos.

        Ainda há o registro do falecimento prematuro dos seguintes pastores:  Irineu Mendes Vieira, com 29 anos; Jenuino E. Caetano, com 31 anos. João Gonçalves da Costa, com 35 anos e Lair Gomes de Oliveira, com 37 anos, etc.[43]

        A história nos ensina ainda que o mover do Espírito no nosso meio influenciou muitas pessoas e igrejas.

        Muitos idealizaram uma nova Igreja nos moldes do tempo de Wesley, como Amós Aníbal, Eduardo Mena Barreto Jayme, H. I. Lehman e Guaracy Silveira e tantos outros.

 

 

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[1] https://www.studylight.org/commentaries/eng/wen/ephesians-1.html

[2] Declaração do Pastor Waldemar de Figueiredo, em 23/07/97.

[3] Waldemar Gomes de Figueiredo fez parte dos líderes que organizaram a Igreja Metodista Wesleyana, em 1967. O “Conselho Geral, que foi composto por Waldemar Gomes de Figueiredo como superintendente geral; nas secretarias gerais ficaram José Moreira da Silva (de educação cristã), Gessé Teixeira de Carvalho (de missões, cumulado ao de diretor do jornal "Voz Wesleyana"), Oriele Soares do Nascimento (de ação social) e Idelmíbio Cabral dos Santos (de finanças), ficando Francisco Teodoro Batista como presidente da junta patrimonial”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Metodista_Wesleyana. Posteriormente, Waldemar de Figueiredo organizou a Igreja Metodista Pentecostal.

[4] ROCHA, Isnard. Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo no Brasil. São Paulo, Imprensa Metodista, 1967, p.185

[5] Idem.

[7] ALMEIDA, José Rui de. “Os frutos do Instituto” em Expositor Cristão. 28 de agosto a 4 de setembro de 1947, p. 14-15.

[8] Idem.

[9] Declaração de Neuza Aníbal, esposa de Amós Aníbal, em 21/04/1997, e carta de Neuza Aníbal endereçada a mim e entregue pelo seu filho Carlos Wesley, em 11/01/1998.

[10] Declaração do Pastor Waldemar Gomes de Figueiredo, em 23/07/97, numa visita que lhe fiz em seu apartamento no Catete. Rio de Janeiro.

[11] ROCHA, Isnard. Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo no Brasil. São Paulo, Imprensa Metodista, 1967, p.187.

[12] Comissão sobre o Estado Geral da Igreja. "Concílio Geral" em Expositor Cristão, 07 de fevereiro de 1934, p.5.

[13] JAIME, Eduardo Mena Barreto. Avivamento e Evangelismo. Editora Metrópole, p.11

[14] Idem, p.47.

[15] Reportagem do Expositor Cristão sobre o “Instituto Geral do Ministério da Igreja Metodista do Brasil”. Publicado em 28 de agosto de 1947, p.1.

[16] Idem.

[17] ALMEIDA, José Rui de. “Os frutos do Instituto” em Expositor Cristão. 28 de agosto a 4 de setembro de 1947, p. 14-15.

[18] Idem, p.15

[20] Idem. Publicado em 17 de abril de 1947, p.2.

[21] Idem.

[22] Idem. 24 de abril de 1947, p.3.

[23] Idem. 12 de junho de 1947, p.4.

[24] Idem. 26 de junho de 1947, p.2.

[25] Idem. 24 de julho de 1947, p.2.

[26] Idem.

[27] Idem.

[28] Idem

[29] Idem.

[30] Idem

[31] Informação do Pastor Ermil Corrêa, no dia 10/01/1998.

[32] http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/Ermil_Correa.pdf

[33] http://1001fazendohistoria.blogspot.com/2011/04/igreja-metodista-central.html

[34] Otoniel Pinheiro. Curso de Capelania Acadecape.www.books.google.com.br.

[35] Informação de Neuza Aníbal, em 21/04/1997.

[36] http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/305/1/ValterSantos.pdf

[37] Informação do Pastor Waldemar Gomes de Figueiredo em 23/07/97.

[38]. BÁGIO, Antônio. "Rev. Mário Mendes" em Atas e Documentos do 22º Concílio, Regional do Norte. Belo Horizonte, 12 a 17 de fevereiro de 1952, p.15.

 

[39] Idem.

[40] http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/305/1/ValterSantos.pdf

[41] Idem

[42] ROCHA, Isnard. "Amós Aníbal” em Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo no Brasil. Imprensa Metodista, 1967, p.188.

[43] Idem,p.23-362.

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