Os dois grandes inimigos dos primeiros missionários no Brasil

 

Os missionários e missionárias metodistas pregaram o Evangelho em um campo minado

 

Odilon Massolar Chaves

 

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Autor das notas: João Wesley

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Toda glória a Deus!

Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

Declaração de direitos autorais: Esses arquivos são de domínio público e são derivados de uma edição eletrônica que está disponível no site da Biblioteca Etérea dos Clássicos Cristãos.[1]

 

 

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“O missionário metodista Huch C.Tucker disse: ‘São espantosas a tirania e a oposição que a Igreja Romana faz ao Evangelho. Para mim é inconcebível como o Brasil civilizado pode suportar tais coisas”.

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Índice

 

Introdução

- A febre amarela, uma inimiga mortal

 

·       Rio de Janeiro, túmulo dos missionários

·       As perdas do missionário Justus Nelson no Pará

·       Falecimento dos pastores Bernardo e Ludgero

·       Um missionário na luta contra a febre amarela

 

- Catolicismo, um inimigo real

 

·       Um padre se levanta contra o início do metodismo no Brasil

·       Perseguição depois da separação Igreja e Estado

·       Perseguição ao missionário J.J.Ransom

·       Perseguição ao pastor Ludgero de Miranda

·       Agressão ao pastor Felippe R. de Carvalho

·       O diabo pintou o sete em Ubá

·       Um levante contra os pregadores metodistas em Belo Horizonte

·       Um padre contra a torre do templo em Piracicaba

·       Gritos infernais e chuva de pedras em Juiz de Fora

·       Perseguição aos colégios metodistas

·       Padre deixa o catolicismo e adere ao metodismo

·       A perseguição em Barra Mansa

·       Perseguição em Rio Novo

·       Missionário metodista no Pará foi preso

·       A luta de Guaracy Silveira na Constituinte

 


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Introdução

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“Os dois grandes inimigos dos primeiros missionários no Brasil” é um livro de 69 páginas que retrata a vida e o ministério dos primeiros missionários e missionárias metodistas no Brasil enfrentado a epidemia da febre amarela e a perseguição católica num período da escravidão e ainda na chamada “República dos Coronéis” (1889-1930) que gerou muita opressão aos agricultores, operários etc.[1]

Fatos tristes que não podemos fingir que não aconteceram, como a morte prematura de tantos missionários e pastores metodistas brasileiros e ainda a insana e incansável perseguição católica.

Apesar da situação hoje no Brasil ser de controle da febre amarela e de um bom relacionamento com a Igreja Católica, é preciso refletir sobre nosso passado.

Em relação aos missionários e missionárias que vieram evangelizar no Brasil, aprendemos com a história e precisamos também valorizar aos que deixaram sua pátria para se dedicarem à pregação do Evangelho e ao metodismo no Brasil.

Uma história que nos leva a repensar sobre o ministério pastoral em nossos dias e a Missão da Igreja.

 

O Autor

 


A febre amarela, uma inimiga mortal

 

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Rio de Janeiro, túmulo dos missionários

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O Rio de Janeiro adquiriu a incômoda fama de “túmulo dos estrangeiros”. Só em 1902, cerca de mil pessoas morreram vitimadas pela febre amarela.

 

Rev. Fountain E. Pitts, chegou ao Brasil, em 1835, já encontrou o país independente desde 1822. Pitts embarcou em Baltimore no dia 28 de junho de 1835, rumo ao Brasil chegando no dia 19 de agosto de 1835, no Rio de Janeiro [2] permanecendo durante alguns meses juntamente com esposa, filhinho e empregada.

Depois viajou para Montevidéu e passado algumas semanas foi para Buenos Aires,[3] que era o objetivo final de sua viagem. [4]

Entusiasmado com as possibilidades de abrir um trabalho metodista em terras brasileiras, Rev. Pitts deu parecer favorável para a implantação de uma missão no Brasil.

“Em novembro de 1837, o rev. Daniel P.Kidder, novo missionário, e Mr. R.M.Murdy e esposa, na qualidade de professores, partiram de Boston para o Rio de Janeiro com o fim de reforçar o trabalho já começado por Mr. Spaulding”.[5]

Daniel Kidder veio a mando da American Bible Society aqui permanecendo 3 anos e deixando suas minuciosas impressões sobre o Brasil. Ele relata o que viu (e ouviu) também nas ruas do velho Rio: "Os carregadores de café andam geralmente em magotes de dez ou vinte negros sob a direção de um que se intitula capitão. São em geral os latagões mais robustos dentre os africanos. Quando em serviço, raramente usam outra peça de roupa além da camisa, para não incomodar. Cada um leva na cabeça uma saca de café pesando cento e duas libras e, quando todos estão prontos, partem num trote cadenciado que logo se transforma em carreira". E prossegue nas suas Reminiscências de viagens e permanência no Brasil". [6]

O trabalho metodista, contudo, foi interrompido. Daniel Kidder voltou aos EUA, em 1840, após a morte de sua esposa Cynthia Kidder, e Spaulding voltou em 1841.

Também Junius Newman perdeu sua esposa em 1877.[7] Três anos depois, ele perderia também sua filha, Annie Newman.

Foi uma grande dor e perda também para o missionário metodista John James Ransom (1853-1934)[8], que sofreu com a morte de sua esposa Miss Annie Newman, 24 anos, em março de 1880, com a qual havia se casado no Natal de 1879.[9]

Em 1886, falece o rev. James Koger vítima da febre amarela. A sua morte abalou em muito a Igreja Metodista. Ele havia organizado as igrejas de São Paulo e Piracicaba e era o superintendente da Missão. Os missionários Ransom e Kennedy conseguiram vencer a febre amarela.[10]

A Igreja Presbiteriana também sofreu. O seu pioneiro no Brasil, Rev. Ashbel Green Simonton, faleceu em 1867, vítima de febre amarela com apenas 34 anos. Sua esposa Helen Murdoch havia falecido em 1864.

O próprio Presidente Rodrigues Alves, eleito em 15 de novembro de 1902, perdeu uma filha vítima da febre amarela.

“No período de 1850  a 1902 haviam sido registrados na antiga capital federal, 58.063 óbitos por febre amarela”.[11]  Em1903, essa doença mortal atacou 200 mil pessoas.[12] “Esse surto epidêmico obrigou o Império a tomar providências que podem ser consideradas de saúde pública. O governo, por meio de um decreto, tentou limpar as cidades purificando o ar. Mas, mesmo assim, a febre amarela continuou a atacar. Não se imaginava que a causa da doença era um mosquito. Depois de 1850, ela se tornou endêmica no Rio de Janeiro. O número de vítimas aumentou assustadoramente. Entre 1880 e 1889 foram registrados 9.376 casos.”[13]

No início havia a compreensão de que a causa da febre amarela estava ligada à contaminação do ar. Só mais tarde foi descoberto que a causa era o mosquito Aedes aegypt. Com o médico Oswaldo Cruz ela foi erradicada do Rio de Janeiro.

O ano de 1889 foi de perdas para o metodismo. A missionária metodista Miss Clara Christman nem conseguiu chegar ao Brasil. Foi vítima de “inundação de águas”, uma expressão do Rev. Kennedy. Nesse mesmo ano, o jovem missionário metodista J.J.Mattson faleceu no dia 10 de maio vítima da febre amarela. Ele estava com a esposa e filhinha há apenas 10 meses no Brasil. “Estavalok, fazendo excelente trabalho no Rio de Janeiro.”[14]

Em 1904, faleceu o rev. Guilherme R. da Costa vítima de varíola. Era pastor nas igrejas do jardim Botânico e Vila Isabel.                                                      Seu caráter foi realçado: “Foi ele um lutador dócil e perseverante”.[15]

O metodista H.C. Tucker teve uma participação importante na campanha contra a febre amarela. Entre 1903 e 1908, a febre amarela assolava o país.

Tucker, sua esposa e seu primeiro filho, também foram atacados. Preocupado, juntamente com sua esposa, com essa verdadeira tragédia e tendo lido sobre o trabalho do dr. Walter Reed no saneamento de Cuba, Tucker pôs o dr. Oswaldo Cruz em contato com Reed e outros nos Estados Unidos servindo de intermediário durante a campanha de saneamento que livrou o Rio de Janeiro desse flagelo.

Mesmo após Oswaldo Cruz ter vencido a grande batalha, a luta da família Tucker contra a febre amarela continuava. Infelizmente, o primeiro e o único filho homem da família não resistiu ao inimigo e morreu. Tudo indica que essa tragédia levou Tucker a se dedicar, de maneira incansável, para melhorar as condições sanitárias do Rio.[16]

Infelizmente, por causa da febre amarela, o Rio de Janeiro adquiriu a incômoda fama de “túmulo dos estrangeiros”.[17] Só em 1902, cerca de mil pessoas morreram vitimadas pela febre amarela.

Com Oswaldo cruz combatendo a febre amarela, no início de 1907, já não se falava mais de epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro.

 

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As perdas do missionário Justus Nelson no Pará

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“Pouco depois, o prédio da escola pegou fogo e dois membros do grupo, John Nelson e Hattie Batchelder) morreram de febre amarela. Fannie adoeceu com febre amarela, mas sobreviveu. Esta dupla tragédia fez com que a escola fosse fechada”.

 

Justus Nelson estudava teologia no Seminário e “soube que o bispo William Taylor estava estabelecendo missões autossustentáveis ​​na África e na América do Sul no final da década de 1870.”[18]

Ele se inscreveu na missão criada pelo bispo William Taylor chamada de “Missão Metodista de Sustento Próprio”.

No dia 19 de junho de 1880, juntamente com sua esposa e o bispo William Taylor, desembarcaram no porto de Belém do Pará.

Ele chegou como um missionário autossustentável. Pelo seu próprio trabalho, Justus Nelson se sustentou não dependendo financeiramente da Igreja.

Para seu sustento; ele logo começou a ministrar aulas de inglês.

“A partir de 27 de junho de 1880, iniciaram cultos em língua inglesa para alguns estrangeiros residentes na cidade, e também abriram o Colégio Americano, uma escola de ensino para as crianças brasileiras, em janeiro de 1881, tendo a Bíblia como livro de leitura”.[19]

Os cultos iniciais foram num armazém subalugado.[20]

O Colégio Americano, porém, fechou em 1882. “Missionários adicionais eram necessários para ajudar em seu ensino. William Taylor enviou os irmãos de Justus, John & Willet, a noiva de Willet - Hattie Batchelder (Nelson) e a Srta. Clare Blunt. Pouco depois, o prédio da escola pegou fogo e dois membros do grupo, John Nelson e Hattie Batchelder) morreram de febre amarela. Fannie adoeceu com febre amarela, mas sobreviveu. Esta dupla tragédia fez com que a escola fosse fechada”.[21]

Essa epidemia de febre amarela matou seu irmão John Nelson, sua cunhada que era casada com seu outro irmão, e a professora Hattie Bacheldar.[22]

Apesar de todas essas lutas e perdas, Justus Nelson via o progresso da obra de Deus. “Ainda no final de 1882, o pastor Justus Nelson foi convidado para pregar o Evangelho em português na casa de Justiniano Rabelo Carvalho, na Rua do Rosário, nº 40. E como o espaço ficou pequeno, o culto semanal passou a ser realizado numa casa situada na Av. 29 de Agosto, nº 68, hoje, Av. Assis de Vasconcelos. Foi nesta casa que o povo chamado metodista da Amazônia fundou a Igreja Metodista Episcopal do Pará, testemunhando os desafios do Evangelho nas calorosas terras paraenses”.[23]

 

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Falecimento dos pastores Bernardo e Ludgero

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“A Conferência Anual, realizada em Piracicaba em 1891, registrou “com pesar a morte do rev. Bernardo de Miranda,” com apenas 28 anos de idade. Faleceu por causa da febre amarela. Alguns dias antes dele, sua esposa Hermynia faleceu e também um filhinho com febre amarela”.

 

Bernardo já havia tido febre amarela e foi cuidado pelo missionário J.L.Kennedy, na chamada Corte, Rio e Janeiro, e ficou bom.

Mas em 1890, foi registrado que em 1890, Bernardo de Miranda por motivo de moléstia,[24] deixou a itinerância[25]  e a Conferência Anual, realizada em Piracicaba em 1891, registrou “com pesar a morte do rev. Bernardo de Miranda,”[26] com apenas 28 anos de idade.

Faleceu por causa da febre amarela. Alguns dias antes dele, sua esposa Hermynia faleceu e também um filhinho com febre amarela.

O redator do Expositor Cristão, missionário J.W.Wolling, disse que Bernardo pregou bons e edificantes sermões. “Era homem dedicado ao trabalho, muito espiritual e profundamente interessado na propagação do Evangelho.”[27]

É considerado o “primeiro trabalhador brasileiro da Igreja Metodista no Brasil”.[28]

Seu irmão, pastor Ludgero de Miranda, faleceu também em 1892 de febre amarela.

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Um missionário na luta contra a febre amarela

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“A luta da família Tucker contra a febre amarela continuava. Infelizmente, o primeiro e o único filho homem da família, não resistiu ao inimigo e morreu”

 

Amigo pessoal de Oswaldo Cruz, o missionário metodista H.C.Tucker teve uma participação importante na campanha contra a febre amarela.

Entre 1903 e 1908, a febre amarela assolava o país. Tucker, sua esposa e seu primeiro filho, também foram atacados.

Preocupado, juntamente com sua esposa, com essa verdadeira tragédia e tendo lido sobre o trabalho do dr. Walter Reed no saneamento de Cuba, Tucker pôs o dr. Oswaldo Cruz em contato com o médico metodista Walter Reed e outros nos Estados Unidos, servindo de intermediário durante a campanha de saneamento que livrou o Rio de Janeiro desse flagelo.

Mesmo após Oswaldo Cruz ter vencido a grande batalha, a luta da família Tucker contra a febre amarela continuava. Infelizmente, o primeiro e o único filho homem da família, não resistiu ao inimigo e morreu.

Tudo indica que essa tragédia levou Tucker a se dedicar, de maneira incansável, para melhorar as condições sanitárias do Rio de Janeiro.

 

Catolicismo, um inimigo real

 


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Um padre se levanta contra o início do metodismo no Brasil

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“Em 1838, o padre Luís Gonçalves dos Santos (1767-1844) publicou um tratado chamado ‘O católico e o metodista: refutação das doutrinas heréticas e falsas que os intitulados missionários do Rio de Janeiro, metodistas de New York, têm vulgarizado nesta Corte do Império do Brasil’.

 

A oposição ao Evangelho por parte da Igreja oficial era vista com perplexidade pelos missionários metodistas. Pela Constituição do Império, de 1824, o catolicismo era a religião oficial.

Quando o metodismo chegou ao Brasil, em 1835, com Fountain E. Pitts, havia escravos e uma situação de miséria para muitos brasileiros. Pitts organizou uma Sociedade, que Justin R. Spaulding, deu prosseguimento.

A partir de 1836, Spaulding organizou uma Escola Dominical e uma escola diária com alunos brasileiros, que incluíam alguns filhos de escravos.

Quando o primeiro missionário metodista, Rev. Fountain E. Pitts, chegou ao Brasil, em 1835, já encontrou o país independente desde 1822. Pitts embarcou em Baltimore no dia 28 de junho de 1835, rumo ao Brasil chegando no dia 19 de agosto de 1835, no Rio de Janeiro [29] permanecendo durante alguns meses juntamente com esposa, filhinho e empregada.

Depois viajou para Montevidéu e passado algumas semanas foi para Buenos Aires,[30] que era o objetivo final de sua viagem. [31]

Pitts viu uma tolerância no Brasil para o Evangelho, mas logo em seguida surgiu uma forte oposição de um padre.

Entusiasmado com as possibilidades de abrir um trabalho metodista em terras brasileiras, Rev. Pitts deu  parecer favorável para a implantação de uma missão no Brasil. No dia 2 de setembro de 1835,  ele escreveu ao secretário correspondente da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal  o seguinte: “Estou nesta cidade (Rio de Janeiro) há duas semanas, e lamento que minha permanência seja necessariamente breve. Creio que uma porta oportuna para a pregação do Evangelho está aberta neste vasto império. Os privilégios religiosos permitidos pelo governo do Brasil são muito mais tolerantes do que eu esperava achar em um país católico (...). Já realizei diversas reuniões e preguei oito vezes em diferentes residências onde fui respeitosamente convidado e bondosamente recebido pelo bom povo...”[32]

A atuação dos metodistas logo provocou oposição. Em 1838, o padre Luís Gonçalves dos Santos (1767-1844) publicou um tratado chamado “O católico e o metodista: refutação das doutrinas heréticas e falsas que os intitulados missionários do Rio de Janeiro, metodistas de New York, têm vulgarizado nesta Corte do Império do Brasil”.[33]

Ele se opôs que os metodistas realizassem cultos, pois a religião oficial era a Católica.

Os metodistas só poderiam realizar cultos dentro de casa e não evangelizar e distribuir Bíblias ao povo.

Ele também se confrontou com o Pe. Diogo Feijó, que anos depois, “ocupou os cargos de Ministro da Justiça (1831-1832) e Regente (1835-1837)”.[34]

Sua cruzada contra os metodistas e a ofensiva protestante no Rio de Janeiro só pararam em 1844 com sua morte.

 

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Perseguição depois da separação Igreja e Estado

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“O missionário metodista Huch C.Tucker disse: ‘São espantosas a tirania e a oposição que a Igreja Romana faz ao Evangelho. Para mim é inconcebível como o Brasil civilizado pode suportar tais coisas”.

 

É histórica a oposição do catolicismo aos protestantes. Especialmente, no passado, os protestantes foram considerados pervertidos, hereges, ateus etc. Isso aconteceu desde o início da chegada do metodismo no Brasil.

Especialmente depois da Proclamação da República, o tom das mensagens dos missionários metodistas passou a ser mais agressivo. Isso agravou a situação.

Segundo o pastor metodista Vasni Almeida, “a partir da Proclamação da República, com a separação entre Igreja Católica e Estado, os metodistas, tal como outras igrejas protestantes, aceleraram suas atividades expansionistas. Com o direito de se constituírem em associações religiosas nacionais, garantido na constituição republicana, redobraram a quantidade de igrejas e estabelecimentos educacionais no país. Estes fatores conjugados deram às práticas wesleyanas tonalidades agressivas, exteriorizadas principalmente no ataque à religiosidade católica e aos hábitos culturais da população. O histórico discurso comportamental não ficou circunscrito aos seus adeptos e sim divulgados em  veículos de comunicação, para ser lido, debatido, sentido. A utilização da imprensa laica, como forma de espraiar sua moralidade, intensificou-se nas cidades que vivenciavam processos de urbanização. Na ótica metodista, era preciso disciplinar comportamentos tanto quanto “salvar almas”, e esse discurso legitimava o ataque às outras práticas religiosas diferentes do puritanismo protestante.”[35]

Por esse e outros motivos, os missionários, igrejas e escolas metodistas foram molestados. Havia questões que os missionários não aceitavam. “Uma das questões que mais despertava a atenção das lideranças metodistas dizia respeito ao não cumprimento do artigo nº 72 da Constituição de 1891, o qual estabelecia no parágrafo 6º a laicidade do ensino a ser ministrado nos estabelecimentos públicos. Na medida em que o ensino público deveria ser laico, os metodistas passaram a denunciar as tentativas de entronização da imagem de Cristo nas escolas do governo”.[36]

Apesar da liberdade religiosa, os protestantes foram muito molestados e perseguidos pela Igreja Romana e pelos mais fanáticos. As hostilidades aconteciam muito em cidades do interior onde os missionários chegavam a ser surrados e esfaqueados como aconteceu com os pregadores Antonio J. de Araújo e J.L. Becker, em Ubá, em 1893: “Lá nas cercanias da culta cidade de Ubá, o diabo estava ´pintando o sete´! Referimo-nos às hostilidades cruéis que romperam contra os nobres e heróicos irmãos, que nessa zona, pregavam o Evangelho”.[37] Apesar das perseguições, o metodismo cresceu em Ubá.

Os missionários consideravam o povo “vítima da ignorância e superstições implantadas em seus costumes nos tempos atrasados e desgraçados por seus próprios pais”. [38]

As dificuldades eram grandes. Havia muita indiferença ao evangelho e também oposição por parte da Igreja Católica.

O missionário metodista Huch C.Tucker disse: “São espantosas a tirania e a oposição que a Igreja Romana faz ao Evangelho. Para mim é inconcebível como o Brasil civilizado pode suportar tais coisas”. [39]

Sobre a indiferença ao Evangelho, o missionário metodista J.L. Kennedy afirmou: “A indiferença ao evangelho de Jesus Cristo é uma das maravilhas do século atual”. [40]

Os primeiros metodistas brasileiros chegaram logo na Igreja Metodista do Catete. O missionário J.L. Kennedy afirma sobre a Igreja Metodista do Catete: “A Escola Dominical durante esse ano matriculou cinqüenta alunos. Pelas informações que pudemos colher, foi a 9 de março de 1879 que o sr. Ransom recebeu os primeiros brasileiros em a nossa Igreja, a saber, o sr. Ex-padre Antonio Teixeira de Albuquerque, e a senhorinha Francisca de Albuquerque, sendo ambos recebidos sob o seu batismo romano.” [41]

A conversão de padres ao protestantismo gerou muita insatisfação ao catolicismo. O alvo dos missionários, em sua maior parte, alcançava os que se diziam católicos e isso gerou muita insatisfação.

Matricular crianças de famílias católicas em colégios protestantes era inconcebível ao catolicismo.

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Perseguição ao missionário J.J.Ransom

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 “No emtanto, os padres da Egreja Romana, muito zelosos do romanismo e muito menos cuidadosos da espiritualidade do seu povo, quaes gaviões, não deixaram o esforço desse jovem ministro passar sem reparo e tenaz resistência. Começaram logo a taxá-lo de incrédulo ou atheu”.

 

O missionário J.J.Ransom chegou ao Brasil em 1876. Durante dez anos esteve liderando a “Missão Ranson” no Brasil. Fez um trabalho maravilhoso, apesar das perseguições.

Em 1886, o Jornal Pharol criticou o surgimento do jornal “Metodista Católico” criado pelo missionário J.J.Ransom, e a expansão do metodismo na sociedade juizforana: “Methodista Catholico. É este o nome de um pasquim que saiu à luz na corte com a data de 12 de janeiro. Infelizmente veio bater palmas na redação do Busca-pé afim de infamemente o injuriar. Estes satãns estão fazendo conferencias contra a religião do Estado e as vivas crenças do bom cristão. Vão esmolando de porta em porta, dirigindo convites diabólicos aos chefes das famílias para abalarem as suas crenças religiosas. [...] Blasfemam com heresias, e seduzem homens de boa fé, casadas e solteiras, para mudarem das suas inabaláveis convicções religiosas, amamentadas pelo berço maternal e paterno. É uma miséria, ignomínia mesmo, que revolta aos povos civilizados. Erguem um salão de baile, onde se toca uma sanfona com meia dúzia de bancos e dizem que é a – igreja metodista – quando deveriam asseverar que é um zungu excomungado. O povo fique alerta, e não deve deixar-se iludir com esses  demônios bêbados que vêm perturbar a tranqüilidade pública. [...] E vejam bem: se continuarem com a sedução infame, caro lhes ha de sair (O Pharol, ano XX, 12 de janeiro de 1886)”.[42]

Ransom foi também atacado na cidade do Rio de Janeiro, na Corte Imperial.

“Nesse tempo, a Côrte Imperial tinha uma população de uns 300 mil habitantes, e, em geral, o povo dava pouca importância á religião, tornando-se, talvez, indifferente á prégação do Rev. Ransom. No emtanto, os padres da Egreja Romana, muito zelosos do romanismo e muito menos cuidadosos da espiritualidade do seu povo, quaes gaviões, não deixaram o esforço desse jovem ministro passar sem reparo e tenaz resistência. Começaram logo a taxá-lo de incrédulo ou atheu”.[43]

A reação de Ransom foi sábia.

“O Rev. Ransom convidou esses padres, redactores do "Apostolo" (órgam official da Egreja Romana), a assistirem aos cultos, para verificarem que os methodistas não eram atheus, nem desprezadores das leis do Brasil como elles pensavam”.[44]

Não consta que os padres foram conhecer o metodismo.

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Perseguição ao pastor Ludgero de Miranda

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Eis senão, quando, no dia 27, dois praças e um cabo, por ordem do delegado, prendem-nos e os escoltam pelas ruas até à estação policial.

 

Ludgero de Miranda foi o primeiro pastor negro no metodismo brasileiro.

Ele disse: “Em princípio de 1886, fui mandado para o Mar de Espanha, para abrir trabalho lá, e em setembro esse mesmo ano, retirei-me dali e fui tomar conta da Missão de Palmeira”.[45]

Não foi fácil o ministério de Ludgero de Miranda em Mar da Espanha[46]. Sofreu perseguições. “Em fevereiro, Ludgero de Miranda acha-se em Mar de Espanha dando começo ao trabalho metodista (...). Sem mais nem menos, o delegado da polícia intimou-o a deixar a cidade no prazo de três dias. Porém, o Rev. Ransom sendo inteirado do fato recorreu por telegrama ao presidente da província e seguiu logo para o local do acontecimento. A culpa conforme se verificou não cabia ao delegado, mas ao vigário local, que incitou o povo contra o pregador metodista, doendo-se muito ‘porque estava sendo atrevido, negando os dogmas da Religião do Estado, etc."[47]

Em Rio Novo,[48] havia começado a obra metodista com Felipe Relave de Carvalho, que fixou residência na cidade, enviado como pastor. Meses depois, em agosto, o metodismo estava crescendo com recepção de membros. “Então Ludgero de Miranda deixou Mar de Espanha e foi dar uma ajuda ao vizinho colega. Eis senão, quando, no dia 27, dois praças e um cabo, por ordem do delegado, prendem-nos e os escoltam pelas ruas até à estação policial. Que mal tinham feito? Respondem-lhes que estavam perturbando as famílias com as novas doutrinas e, por isso, deviam abandonar os termos de Rio Novo em 48 horas”.[49]   Enciumado, o vigário havia estimulado atos de violência contra Felipe Relave.

O fato é que duas horas após a intimação do delegado, o Rev. Kennedy em companhia do Bispo Granbery, recém-chegado ao Brasil, desceram em Rio Novo. “Bastou, contudo, uma entrevista de Rev. Kennedy com a autoridade local para que a absurda medida fosse revogada e a polícia deixasse de molestar aos dois jovens pregadores, o que realmente, sucedeu.”[50]

 

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Agressão ao pastor Felippe R. de Carvalho

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“A turba agitada, composta por cerca de 50 pessoas, entrou no templo gritando – Fora o protestante, fora o protestante! – e então um dos agitadores “deu uma terrível chibatada no irmão Júlio Lopes”.

 

“Em maio de 1884, Felippe R. de Carvalho foi um dos primeiros convertidos pela pregação do rev. Kennedy”,[51] em Juiz de Fora.

Dez anos depois, para alegria do pastor metodista Felippe R. de Carvalho, em 13 de maio de 1894, foi inaugurado o salão de cultos em Cataguases, MG.

Mas não foi sem perseguição.

“No domingo seguinte (20 de maio de 1894), o salão foi invadido por um grupo de fiéis católicos, incitados, conforme as narrativas históricas do Rev. Epaminondas Moura, pelo monsenhor Araújo, vigário paroquial local. A turba agitada, composta por cerca de 50 pessoas, entrou no templo gritando – Fora o protestante, fora o protestante! – e então um dos agitadores “deu uma terrível chibatada no irmão Júlio Lopes”. Já houve quem defendesse que a chibatada foi dada em direção da esposa do Rev. Felippe, a qual estava em vésperas de dar a luz, e que o irmão Júlio Lopes entrou na frente no intuito de protegê-la da agressão”.[52]

Contudo, o pastor Felippe foi expulso da cidade.

“Em seguida arrastaram Felippe R. de Carvalho pela rua à fora, intimidando-o a embarcar à força, expulsando-o da cidade. O humilde pregador continuou o seu trabalho, apesar das dificuldades que enfrentou para estabelecer o novo campo missionário de Cataguases, sendo seu trabalho reconhecido em todo o território nacional e da 4ª Região Eclesiástica.[53]

 

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O diabo pintou o sete em Ubá

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“Este com grande difficuldade conseguiu escapar, depois de ter sido barbaramente espancado e recebido duas facadas, ficando com o corpo em estado lastimável”.

 

O metodismo chegou em Ubá, MG com o missionário John Willian Tarboux como fundador do trabalho.

Em 1892, “teve início o trabalho methodista em Ubá, pregando J.W. Tarboux, e sendo nomeado pastor J.R. de Carvalho”.[54]

E foi com lutas que o metodismo começou sua missão em Ubá.

O missionário James L. Kennedy afirmou: “o diabo estava pintando o sete” por aquelas “cercanias da culta cidade de Ubá”.

Ele registrou nas Atas da Conferência, em 1893: “lá nas cercanias da culta cidade de Ubá, o diabo estava ‘pintando sete’! Referimo-nos ás hostilidades cruéis que romperam contra os nobres e heroicos irmãos, que, nessa zona, prégavam o Evangelho.”[55]

J.L.Kennedy disse que em dezembro 1893, os pregadores Antônio J. de Araújo e J. L. Becker “ao voltarem de uma Escola Dominical na propriedade do sr. Belmiro Siqueira, foram surpreendidos por um grupo de agressores, que os surraram com paus e chicotes, sendo arrastados pelas vias públicas da cidade”. [56]

O pastor Antonio J. de Araújo foi atingido.

“O rev. Araújo cahiu immediatamente por terra, por ter recebido dos agressores muitas pancadas na cabeça. Deixando-o por morto [ou semi-morto], foram esses aggressores ajudar outros a esbordoar o sr. Becker. Este com grande difficuldade conseguiu escapar, depois de ter sido barbaramente espancado e recebido duas facadas, ficando com o corpo em estado lastimável”.[57]

Na opinião de James L. Kennedy, “Antônio J. de Araújo e J. L. Becker foram nessa circunstância protegidos por Deus e poupados para longos anos de serviço honrado e abençoado”.[58]

A Igreja não se intimidou e marcou a Conferência Anual Distrital de Minas em Ubá, em 11 de janeiro de 1994. “A de Minas, na cidade de Ubá, a 11 de Janeiro de 1894, sob a presidencia do p p. E.A. Tilly. Foi eleito secretario, J.E. Tavares. Estiveram presentes os seguintes elencos itinerantes: Tilly, Tarboux, Tavares, F.R. de Carvalho (jubilado), A.C. da Fonseca; os prégadores em experiência A. J. de Araujo Filho e J. L. Becker e ainda o prégador local, A. Ribeiro da Silva. Representantes leigos: os Srs. Genuino Antonio de Oliveira, José Leonel Lopes, Belmiro Teixeira de Siqueira Junior, Horacio Herculano Valerio, Rodolpho Schomacker e Augusto Hoehne Filho”.[59]

E os relatórios foram animadores: “Os relatorios foram muito animadores. Em Ubá, não obstante as perseguições tenazes que soffriam os irmãos, estava a causa progredindo. (Juro Preto, que tinha sido desoccupado por nossos prégadores, foi nesse anno de novo occupado pelo irmão Rev. J.L. Lopes”.[60]

 

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Um levante contra os pregadores metodistas em Belo Horizonte

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“Na primeira visita dos Revs Bruce e Cardoso, o Padre Marcelo promoveu um levante, ‘insuflando a população no combate aos pregadores”.

 

Em 1892, “Bello Horizonte foi visitada pela primeira vez, em Maio desse anno. Nesse tempo era uma simples freguezia chamada ‘Curral del Rey’. Fizeram essa visita J.L. Bruce e A.C. da Fonseca e foram muito mal recebidos pelos fanaticos romanos”.[61]

Um padre promoveu um levante contra os pastores metodistas J. L. Bruce e A. Cardoso da Fonseca.

“Na primeira visita dos Revs Bruce e Cardoso, o Padre Marcelo promoveu um levante, ‘insuflando a população no combate aos pregadores’. Mesmo assim, o Evangelho encontrou boa acolhida em Venda Nova, mesmo tendo encontrado ali expressões do zelo católico também, tendo o tentador utilizado a pessoa de ‘um tal mestre Quinca que a fina força queria perturbar a pregação (...)’ e a ordem na casa que conseguiram alugar”.[62]

O carpinteiro Cândido Mendes de Magalhães foi o primeiro metodista de Venda Nova, “convertido durante o período em que morava em Belo Horizonte e fruto do trabalho evangelístico realizado por J. L. Bruce e A. Cardoso da Fonseca”.[63]

A Igreja superou as dificuldades e foi organizada. Na Ata da Conferência Anual de 1896 está registrado: “Aos 21 de Março foi organizada a Egreja Methodista de Bello Horizonte, sendo baptizados e professando os primeiros 6 converso”.[64]

 

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Um padre contra a torre do templo em Piracicaba

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“O então padre Galvão, m.d. vigário dessa cidade, não queria de forma alguma que fosse construída essa egreja”

 

A Igreja Metodista de Piracicaba foi organizada em 1881. “Sua instalação coincide com a do colégio fundado por Miss Martha Watts.). No dia 22 de setembro de 1881, criava-se a igreja. Ela tinha nove membros e seu pastor era o Rev.James Koger”.[65]

Em 1885, em Piracicaba, a Igreja Metodista pediu a aprovação da planta do templo com uma torre.

“Nesse tempo havia uma lei, por m lei morta de séculos passados, que prohibia que pessoas de religiões dissidentes tivessem egrejas com forma exterior de templo. Comtudo, as autoridades civis dessa cidade, homens com o Prudente de Moraes Barros e Manoel de Moraes  Barros , approvaram o plano da nossa egreja, que trazia uma torre. O então padre Galvão, m.d. vigário dessa cidade, não queria de forma alguma que fosse construída essa egreja; elle appellou para a Câmara da cidade. Esta respondeu: "Nós já approvámos a planta, com torre; como poderemos agora obrigar esses protestantes a desmanchá-la?”

O padre seguiu para a Capital do Estado, mas nada conseguiu do Presidente da então Província. De sorte que as obras foram concluídas com a torre que, apontando para o Ceu, indicava que o povo de Piracicaba era um povo liberal e não havia de se governar por leis mortas e retrogradas”.[66]

E quando foi inaugurado o templo da Igreja Metodista, em 31 de outubro de 1885, também foi encerrado “uma grande discussão promovida pelo Padre Galvão (Francisco Galvão de Paes de Barros). O vigário da Matriz não admitia que o templo metodista tivesse torre, pois esse seria privilégio apenas das igrejas católicas, quando Estado e Igreja estavam unidos. O Padre Galvão apelou para a Câmara Municipal, perdeu, seu protesto chegou até D. Pedro II. Mas não adiantou: os metodistas fizeram seu templo com a torre”.[67]

E a Igreja e a escola prosseguiram. Na Ata da Conferência Anual realizada em 1887, no Catete, está registrado: “O já famoso Collegio Piracicabano ajuntou um novo departamento de "Kindergarten" ao seu curso de ensino”.[68]

Nos dias 17, 18 e 19 de maio de 1888, “celebrou-se a segunda Conferencia Districtal Paulista, na cidade de Piracicaba. Todos os membros achavam-se presentes, excepto J. Newman. Nessa Conferencia tratou-se do estado espiritual da Egreia, estabelecimento de novos campos, escolas domincaes, systema de finanças, contribuições para a Egreja e diversos outros assumptos de importância”.[69]

E mais, nesse mesmo ano, houve progresso espiritual da Igreja em Piracicaba: “Em Piracicaba, houve por 15 dias uma serie de reuniões com numerosos convertidos, incluindo bom numero de moços que manifestavam muito interesse no Evangelho. Nesta campanha, trabalhou o p.p. Sr. Kennedy com o pastor local L. W. Wolling”.[70]

 

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Gritos infernais e chuva de pedras em Juiz de Fora

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"Numa noite em que pregamos, certo padre romano, estando já na chuva, capitaneando pessoalmente uns trinta moleques, fê-los apedrejar a nossa casa, interrompendo o culto publico e espalhando certo terror entre os assistentes”.

 

“Devido a doença na familia, o rev. Ransom, não podendo satisfazer o compromisso de ir a Juiz de Fóra fazer uma serie de conferencias, pediu a J.L. Kennedy que o substituisse, no que foi attendido no mez de Maio de 1884.

Lá chegando com sua familia o rev. Kennedy foi cordialmente recebido pelos irmãos acima referidos e tratou logo de iniciar o seu trabalho. Depois de uns dias de descanso, por falta de casa de pregação, alugou a casa da rua Santo Antonio, nº 10, onde foi morar e abriu trabalho. Casa interessante e notável nos princípios do methodismo em Juiz de Fora foi essa que o Rev. Kennedy alugou á rua Santo Antonio. Foi nella que, como vimos, elle fixou residencia corno evangelista, servindo-se do salão grande de jantar para cultos publicos, fazendo ahi a primeira serie de conferencias. Ahi se converteu o irmão F. R. de Carvalho, de quem se póde dizer que foi as primicias do Evangelho entre os brasileiros de Juiz de Fóra, tornando-se um dos mais devotados pregadores do Evangelho aos seus patricios. Foi ainda ahi que se desenrolaram as primeiras perseguições contra os methodistas em Juiz de Fóra, das quaes escreveu aquelle evangelista:

"Numa noite em que pregamos, certo padre romano, estando já na chuva, capitaneando pessoalmente uns trinta moleques, fê-los apedrejar a nossa casa, interrompendo o culto publico e espalhando certo terror entre os assistentes. A casa estava cheia de ouvintes que prestavam toda a attenção. Immediatamente as familias começaram a retirar-se e logo todos, menos os membros da familia do pastor, desappareceram. “Seguiram-se gritos infernaes e uma chuva de pedras cahiu sobre a casa, entrando mu itas destas pela porta a dentro. Os desordeiros, porém, não ousaram entrar e assim escapamos ás suas unhas".

 "O bom povo de Juiz de Fóra ficou indignado como procedimento do tal padre, que teve de fugir nessa noite de madrugada, e os moleques foram intimados a portarem-se dignamente ou então iriam pousar na cadeia. Dahi em diante não houve mais perturbação e a assistencia foi cada vez maior". Era admiravel o interesse no Evangelho claramente manifestado por parte daquelle povo, durante aquellas tres semanas de campanha evangelizador”.[71]

Essa perseguição continuou, inclusive sendo colocada em jornais de Juiz de Fora.

“Quando  no  início  de  1886  o  pastor  John  James  Ranson  começou  a  divulgar  o  periódico  Methodista  Catholico,  Alberto  Besouchet,  editor  do  periódico  Busca-pé  e  um  dos  grandes  opositores  da  nova  religião,  criticou  no  jornal  O Pharol a expansão do metodismo na sociedade juizforana. Methodista Catholico É  este  o  nome  de  um  pasquim  que  sahiu  á  luz  na  côrte  com  a  data de 12 de janeiro. Infelizmente veio bater palmas na redação do Busca-pé  afim  de  infamemente  o  injuriar.  Estes  satans  estão  fazendo  conferencias  contra  a  religião  do  Estado  e  as  vivas  crenças  do  bom  christão.  Vão  esmolando  de  porta  em  porta,  dirigindo   convites   diabolicos   aos   chefes   das   familias   para   abalarem   as   suas   crenças   religiosas.   [...]   Blasfemam   com   heresias, e seduzem homens de boa fé, casadas e solteiras, para mudarem     das     suas     inabalaveis     convicções     religiosas,     amamentadas  pelo  berço  maternal  e  paterno.  É  uma  miséria,  ignominia  mesmo,  que  revolta  aos  povos  civilizados.  Erguem  um  salão  de  baile,  onde  se  toca  uma  sanfona com  meia  duzia  de  bancos  e  dizem  que  é  a    egreja  methodista    quando  deveriam  asseverar que é um zungu excommungado. O povo fique alerta, e não deve deixar-se illudir com esses demonios bebados que vém perturbar    a    tranquilidade    pública.    [...]    E    vejam    bem:    se    continuarem com a seducção infame, caro lhes ha de sair”.[72]

 

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Perseguição aos colégios metodistas

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Em 1889, Bispo Granbery procurou criar uma escola metodista em Juiz de Fora, que em 1890 recebeu o nome de Colégio Americano Granbery. Posteriormente, Instituto Granbery da Igreja Metodista. 

Inicialmente, o Granbery ofereceu três cursos: primário, ginásio e a repartição teológica.[73]

Bispo Granbery havia levado a ideia ao “Board of Mission” nos Estados Unidos, que foi imediatamente aprovada.

Vieram os “pastores John MaCPhearson Lander e James William Wolling para iniciarem o projeto, que inaugura com apenas dois alunos: Ludgero de Miranda e Felipe R. de Carvalho.”[74] John McPhearson Lander foi o primeiro reitor do Collegio Americano Granbery e diretor do colégio.[75]

Foram criadas as faculdades de Odontologia e Farmácia em 1905 e de Direito em 1912. Com isso, o Granbery ganhou visibilidade em toda região e recebeu estudantes de diversos lugares do país.

O colégio se tornou um seminário teológico. Em 1928, ganhou status de Faculdade de Teologia e em 1939 foi transferido para São Bernardo do Campo - SP, no bairro Rudge Ramos.

Mas nem tudo foi marcado pela tranquilidade nos colégios metodistas em Piracicaba, Petrópolis e em Juiz de Fora. Eles sofreram perseguições do catolicismo.

“Em todos os locais onde a Igreja Metodista Episcopal do Sul fundava um colégio, a Igreja romana abria um estabelecimento de ensino. Considerando-se que o episcopado brasileiro proibia, sob pena de excomunhão, as famílias católicas de matricularem seus filhos em colégios protestantes, a presença de uma instituição de ensino católica criava, evidentemente, muitos obstáculos para a obra educacional metodista”.[76]

“O primeiro movimento de oposição católica ao Colégio Granbery registrado na  imprensa local aconteceu em 1904 e girou em torno da questão da oficialização do ensino. Num protesto veiculado pelo jornal O Pharol, os católicos denunciaram o Granbery por afirmar no seu regulamento que a equiparação ao Ginásio Nacional já havia lhe sido concedida pelo governo federal, o que, segundo os signatários do protesto, era uma informação não verídica. Eis os termos da denúncia: Sr. Redator – Caiu em nossas mãos, por acaso, um folheto contendo o Regulamento do Colégio Americano Granbery, equiparado ao Ginásio Nacional. [...] Viemos, pois, a propósito, dar alguns esclarecimentos à população desta cidade e de todo município, a fim de que fiquem ao par das coisas. Existe nesta cidade um colégio de propaganda metodista, o qual, não só em o novo regulamento, como no almanaque Laemmert, se faz passar por ginásio equiparado. Não nos diz, porém, qual o número do decreto que lhe concedeu essa equiparação. Tal, porém, não poderá fazer porque a apregoada equiparação não existe. O colégio Granbery não é equiparado, nem goza até hoje de nenhuma das regalias dos ginásios reconhecidos pelo governo. Por enquanto, o colégio Granbery pediu a equiparação e o simples pedido não lhe dá certamente o direito de se proclamar equiparado ao Ginásio Nacional. [...] Pode ser que, brevemente, o colégio Granbery consiga a desejada equiparação, mas antes disso, é um abuso, é mesmo uma falsidade declarar-se equiparado, o que pode ser considerado um meio de iludir a boa-fé dos chefes de família. Parece-nos que esses fatos devem merecer a atenção dos poderes competentes e é para esse fim que os levamos ao conhecimento público (O Pharol, ano XXXVIII, 02 de junho de 1904)”.[77]

Em 1908, após a conversão do padre Hipólito ao metodismo, em Juiz de Fora, um católico escreveu no Boletim Eclesiástico da Diocese Mariana alertando às famílias católicas para não deixar seus filhos irem para um colégio protestante para pervertê-los:

“Saí para conhecer a cidade, domingo à tarde, e achava-me na rua do Comércio quando, em sentido oposto ao que eu levava, seguia um préstito bastante numeroso, formado de meninos e rapazes organizados dois a dois por ordem de altura, e sob a severa fiscalização de regentes. Quem são? Perguntei ao amigo que se prestava a servir-me de cicerone. A resposta doeu-me profundamente no coração [...]. São os alunos do “Granbery” que vão à rua da Imperatriz ouvir o sermão do Padre apóstata Hipólito de Oliveira de Campos! Eis o leal procedimento dos diretores daquele estabelecimento de ensino. Não se faz questão de crença, dizem os incautos progenitores de seus alunos, cada estudante seguirá o credo que lhe aprouver. [...] Temos tantos colégios católicos equiparados neste Estado, uns dirigidos por congregações religiosas, outros por leigos; não é lícito confiar seus filhos a um colégio protestante para pervertê-los (Boletim Eclesiástico da Diocese de Mariana, ano VI, n. 4, abril de 1908)”.[78]

Quando houve algumas demissões no Granbery, em 1914, o Boletim Eclesiástico da Diocese de Mariana falou que “não podemos agradecer o bastante a Deus”.[79]

Em 1924, o artigo “Colégios Metodistas – Educação à Americana: coisas que muitos católicos ignoram e que deveriam saber” revela o nível de ataque às Instituições metodistas.

“Em março de 1924, o jornal Lar Catholico, um dos mais importantes veículos de doutrinação da Igreja Católica de Juiz de Fora, lançou uma extensa polêmica em torno do Granbery, sob o título de “Colégios Metodistas – Educação à Americana: coisas que muitos católicos ignoram e que deveriam saber”.[80]

Foram longos anos de ataques ao Granbery.

“As polêmicas em torno da presença do Colégio Granbery em Juiz de Fora continuaram sendo veiculadas na imprensa ultramontana local durante os anos subsequentes. Embora o jornal Lampadario, criado em 1926, também tenha se manifestado contra a presença metodista na cidade, o Lar Catholico foi o grande veículo de oposição ao Granbery e aos metodistas. Desde a sua fundação em 1891, um ano após a instalação do colégio metodista”.[81]

O Granbery era considerado um colégio de propaganda do metodismo norte-americano.

Houve reações dos metodistas em relação às perseguições.  O missionário metodista William B. Lee, em carta aberta dirigida ao padre  Júlio Maria, publicada no periódico juizforano Jornal do Commercio, fez a seguinte afirmação:

“Esta geração brasileira é o produto de 400 anos de domínio da igreja romana. Durante 400 anos, tempo que basta para mostrar o que uma igreja pode fazer, “formou-se um povo”. Durante 400 anos se prepararam todos os elementos desta crise social. Não é injustiça esquecer que durante quatro séculos “o Brasil foi preparado para esta triste situação” debaixo dos ensinos dos papas? Não é deslealdade esquecer que as leis do país reconheciam o romanismo como a única religião digna dos brasileiros, até dando subsídio aos padres, e proibindo a propagação livre do Evangelho pelos protestantes?”.[82]

W.B.Lee prosseguiu: “ Vemos no Brasil hoje o que a igreja romana pode fazer com o povo. Aqueles que querem ainda mais disto, que a defendam. Quanto a mim, sou inimigo franco, porque a julgo a principal culpada da atualidade, e creio que este povo, naturalmente bom e hospitaleiro, merece uma coisa melhor do que a “decadência profunda” em que atualmente se acha (Jornal do Commercio, ano V, 5 de dezembro de 1900).”[83]

W.B. Lee foi reitor assumindo suas funções em 9 de fevereiro de 1911.[84]

 

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Padre deixa o catolicismo e adere ao metodismo

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“Por muito tempo o padre Hipólito considerava os metodistas como  ‘pervertidos’  e  ‘pervertores’,  mas o metodismo acabou  conquistando o padre”.

 

Um dos resultados dessa oposição ao metodismo em Juiz e Fora foi a saída do  padre  Hipólito  Campos do catolicismo e  sua adesão ao metodismo. Ele se tornou um abençoado pastor metodista. Em 1921, escreveu o livro “Porque deixei a Igreja Romana”.

Por muito tempo o padre Hipólito considerava os metodistas como “pervertidos”  e  “pervertores”.  mas o metodismo acabou conquistando o padre Hipólito de Campos.

Tempos depois, ele se comparou a Nicodemos e  escreveu: “[...] tal confiança  me  inspiraram  os  protestantes  de  Juiz  de  Fora,  que  longe  de  fugir  de  sua  pregação,  como  fazia,  procurava  assistir,  sem  querer  ser  visto,  como  Nicodemus,  aos  atos  religiosos  na  sua  casa  de culto”.[85]

Orador eloquente de personalidade cativante, tornou-se evangelista procuradíssimo pelas igrejas. Talvez foi zeloso demais em combater os erros da Igreja reinante; mas a sua sinceridade convencia e atraía, e as campanhas que dirigiu trouxeram milhares ao confronto com o Evangelho - inclusive em Portugal”.[86]

Hipólito pregou na França, Portugal e Ilha da Madeira. Foi pastor em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Petrópolis, Central e São Paulo, Jardim Botânico, Vila Isabel e Catete.[87]

Ele faleceu em 1931.

 

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A perseguição em Barra Mansa

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“Havia intolerância e perseguições por parte dos adeptos da Igreja Católica Romana”.

 

A família Oliveira deu início ao metodismo em Barra Mansa.

“Na Segunda metade do século XIX, muitas famílias de agricultores vieram de Minas Gerais (Caipó, atual Rio Novo), em busca de melhores condições de vida trabalhando nas grandes fazendas desta região do Vale do Paraíba.

Por volta de 1890 entre estes migrantes chegaram alguns metodistas, membros de uma família Oliveira. Fixaram-se no Sertão, um povoado a 14Km de distância sede da comarca de Barra Mansa, servido pela Rede Mineira de Viação que favorecia o escoamento dos produtos agrícolas das fazendas vizinhas: café, cana-de-açúcar e cereais.

Aqueles homens e mulheres lavraram e semearam a terra tirando dela seu sustento, o pão que nutria muitas vidas. Deus dava o crescimento a sua lavoura e abençoava o trabalho que lhes calejava as mãos. E semeavam também a Palavra do Evangelho. O solo era difícil. Havia intolerância e perseguições por parte dos adeptos da Igreja Católica Romana. Mas continuaram a semear... e o senhor da seara abençoava o seu labor. Logo vieram alguns frutos.

Em 1892, FRANK WIDREHEKER, jovem de 27 anos, foi nomeado pregador local para atender ao grupo de irmãos do Sertão. Veio com sua esposa Emília, juntando-se aos Oliveira no trabalho. No dia 1º de Maio de 1893, foi oficialmente organizada a Igreja Metodista do Sertão de Barra Mansa. Foi a Segunda Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro (a primeira foi a do Catete, em 1882).

Na história ficou assim registrado:

“Em Maio, no dia primeiro, foi organizada a Egreja Methodista de Barra Mansa, com 9 membros, sendo recebidos mais 14 naquelles mesmos dias, fazendo um total de 24, sendo 23 por profissão e baptismo e um por carta demissoria.”[88]

 

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Perseguição em Rio Novo

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“Os jovens pregadores, F. R. de Carvalho e Ludgero L. de Miranda nos contaram que, havia duas horas, o delegado de polícia do lugar tinha mandado dois praças e um cabo para os escoltar pelas ruas até a estação policial, como se fossem criminosos”.

 

Em 1886, em Rio Novo, MG, era pastor F. R. de Carvalho.

Havia 3 membros e uns 16 candidatos.

Os metodistas J.K.Kennedy e o bispo Granbery foram pregar na cidade e ficaram surpreendidos com a perseguição a jovens pregadores metodistas.

“Al li chegámos no dia 27 de Agosto. Não ficámos pouco surprehendidos quando, ao desembarcar, os jovens pregadores, F. R. de Carvalho e Ludgero L. de Miranda nos contaram que, havia duas horas, o delegado de polícia do lugar tinha mandado dois praças e um cabo para os escoltar pelas ruas até a estação policial, como se fossem criminosos. E' digno de nota que esses dois moços, muito pacificas, não tinham promovido desordem alguma, nem commettido offensa senão a de prégar pacificamente o Evangelho de Jesus Christo áquellas pessoas que quiseram assistir a sua reunião. Só por isto foram ignominiosamente escoltados pelas ruas, por tres praças, e, o que é peor, ordenados a sahir do termo do Rio Novo no prazo de quarenta e oito horas. É a isto que se chama liberdade religiosa?!!

O Rev. J. L. Kennedy foi logo visitar a mais elevada autoridade policial presente na cidade e, depois de uma pequena conferencia, ella ficou convencida de que a ordem de "sair do termo do Rio Novo no prazo de 48 horas", era inteiramente sem base, sendo portanto revogada, e os jovens obreiros continuaram no seu trabalho sem serem mais molestados pela policia. De noite, porém, quando o Revmo. bispo Granbery estava prégando, um bom numero de moleques ajuntaram-se em frente do salão de cultos, batendo em latas vazias com o fim de fazer barulho e interromper o culto”.[89]

 

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Missionário metodista no Pará foi preso

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“Em uma das primeiras edições, ele imprimiu itens que incitaram as autoridades católicas locais. Esses funcionários tinham controle suficiente sobre o governo local para prendê-lo. Ele foi julgado e condenado a quatro semanas, mas cumpriu quatro meses”

 

Nomeado pelo bispo William Taylor, em 1880, pela Igreja metodista Episcopal do Norte, o missionário metodista no Pará Justus Henry Nelson foi redator, escritor e tradutor de hinos. Escreveu muitos artigos apologéticos. Traduziu muitos sermões de Wesley e escreveu artigos para “O Apologista Christão Brazileiro”.

O seu lema era: "Saibamos e pratiquemos a verdade custe o que custar." [90] A publicação no jornal incluía lições da Escola Dominical, artigos religiosos, etc. Justus lutou contra a idolatria, jogos de azar, álcool, tabaco, etc.

O Apologista Christão Brazileiro” defendeu a democracia, republica e a separação entre Igreja e Estado. Sua ousadia provocou perseguições.[91]

“Em uma das primeiras edições, ele imprimiu itens que incitaram as autoridades católicas locais. Esses funcionários tinham controle suficiente sobre o governo local para prendê-lo. Ele foi julgado e condenado a quatro semanas, mas cumpriu quatro meses. Enquanto ele estava preso, sua esposa Fannie fazia suas refeições com medo de que ele fosse envenenado”.[92]

O jornal era inicialmente semanal. Depois passou a ser quinzenal e, por fim, mensal. “Por suas críticas à Igreja Católica e a seus dogmas, com artigos que foram considerados ofensivos, Nelson foi preso durante quatro meses, em 1893. O jornal foi editado até o ano de partido da família Nelson”, em 1925. [93]

Eles tiveram cinco filhos, em Belém, um deles morreu de malária.

Um hino que Justus Henry Nelson traduziu para o português que revela seu estado de espírito nessa fase de sua vida e ministério é “A certeza do crente”:

Não sei por que de Deus o amor
A mim se revelou,
E para si meu Salvador,
Minha alma resgatou.

Mas eu sei em quem tenho crido,

E sei também que ele é poderoso:

Guardará, pois, o meu tesouro

Até o dia final.


Não sei como é que, enfim, eu sou

Liberto aqui do mal;
E como Cristo me aceitou,
Por graça divinal.

Não sei o que de mal ou bem

É destinado a mim.
Se maus ou áureos dias vêm,
Até da vida o fim!

De quando vem Jesus, não sei,

Se breve ou tarde vem,
Não sei ao certo quando irei
Ao lar celeste, além.[94]

 

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A luta de Guaracy Silveira na Constituinte

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“No seu segundo mandato, 1946-1950, Guaracy protestou contra as subvenções estatais concedidas à Igreja Católica”

 

Guaraci Silveira herdou a vocação política do seu pai, pois Zeferino foi vereador em São Simão (São Paulo).[95]

“Guaracy viveu desde a infância um ambiente em que se faziam reuniões para tratar das questões político-partidárias”.[96]

Em 1933, Guaracy foi convidado para ser candidato à Constituinte por causa do plano católico de incluir o ensino religioso nas escolas paulistas. Ele era pastor da Igreja Metodista Central de São Paulo e, na Páscoa de 1933, foi realizar uma série de Conferências na Igreja Metodista de Santos.

Ele foi procurado pelo pastor metodista local, rev. Hermógenes de Almeida Prado e também alguns metodistas e membros de outras igrejas evangélicas, para ele se lançar como candidato à Constituinte.[97]

Faltava pouco tempo para a eleição e havia pouca possibilidade de alguém sair vitorioso se lançando candidato agora. Mas o seu “nome já era conhecido na imprensa por combater, em 1931 pelos jornais e rádios, as pretensões católicas de incluir o ensino religioso nas escolas paulistas e sua participação como capelão das forças revolucionárias paulistas em 1932. Sinalizaram a possibilidade de apoio no meio protestante e entre os defensores do ensino laico, e se não alcançasse o intento, seria uma oportunidade para a divulgação do Evangelho”.[98]

Guaracy Silveira foi eleito deputado federal no dia 3 de maio de 1933 pelo PSB para a Assembleia Constituinte de 1934.

Foi o primeiro evangélico brasileiro eleito deputado federal. Recebeu 4.757 votos no primeiro turno e 40.175 votos no segundo.[99]

Após sua eleição em 1933, Guaracy teve que se afastar do ministério pastoral, porque a Igreja Metodista não misturava política com religião.[100]

Foi reeleito em 1946. Guaracy foi atuante no Congresso. Mas teve dificuldades “enfrentando duas radicais correntes de pensamento. Os marxistas, dentro da sua própria legenda que vão expulsá-lo do PSB ainda no início dos trabalhos constituintes, e partidários da Liga Eleitoral Católica, ferrenhos defensores das emendas religiosas”.[101]

Mas Guaracy foi um guerreiro. “No seu segundo mandato, 1946-1950, Guaracy protestou contra as subvenções estatais concedidas à Igreja Católica, porém, considerava imprudência estabelecer acirrada contenda religiosa, pois julgava que tal postura belicosa obrigaria os próprios católicos liberais, com quem tinha boas relações, a reagirem corporativamente”.[102]

 

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[1] “A figura do coronel — latifundiário que exercia o poder político, econômico e social, principalmente no interior do país — mantinha-se no poder por meio de alianças políticas com as oligarquias estaduais, e, por meio da coação eleitoral, obrigava seus subordinados a votarem em seus candidatos, mantendo assim o seu domínio local.” https://mundoeducacao.uol.com.br/ historiadobrasil/coronelismo.htm

[2] James L. Kennedy, Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil, São Paulo, Imprensa Metodista, 1928,

p. 13; Eula L. Long, Do Meu Velho Baú Metodista, São Paulo, Imprensa Metodista do Brasil, 1968,

p. 24-25.

[3] H.C. Tucker, “O Centenário Methodista Sul-Americano”, in Expositor Cristão, 03/03/1936, p.1.

[4] Ibidem.

[5] James L. Kennedy. Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil. SP, Imprensa

Metodista, 1928, p. 15

[6] Kidder, Daniel P. Reminiscências de viagens e permanência no Brasil. Rio de Janeiro.

Tradução de Moacyr N. Vasconcelos. São Paulo: São Paulo, Livraria Martins, 1940, p.47.

[7] LONG. Eula K. Do meu velho baú metodista. São Paulo, Imprensa metodista, 1968, p.55.

[8] https://hymnary.org/person/Ransom_JJ

[9] Ibidem., p.84.

[10] Salvador. José Gonçalves. Historia do metodismo no Brasil. Imprensa Metodista,

 SP, 1982, p.177.

[11] http://jmr.medstudents.com.br/febreamarela.htm

[12] http://epoca.globo.com/edic/20020218/brasil1a.htm

[13] http://www.aprendebrasil.com.br/especiais/revoltadavacina/epidemias.asp.

[14] KENNEDY, James Lillbourne, Cinquenta anos de metodismo no Brasil. 1928.,p.58

[15] OP.cit, p.122.                                                      

[16] Silva, Joel Dias. Jornal Avante. Rio de Janeiro.

[17] https://oswaldocruz.fiocruz.br/index.php/biografia/ trajetoria-cientifica/na-diretoria-geral-de-saude-publica/combate-a-febre-amarela

[19] https://pt.wikipedia.org/wiki/Justus_Henry_Nelson

[20] http://www.hinologia.org/justus-henry-nelson/

[21] https://wikimili.com/en/Justus_Henry_Nelson

[22] http://www.metodista.org.br/historico-metodismo-no-brasil

[23] Idem.

[24] KENNEDY, J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928, op.cit., p. 60.

[25] REILY, Duncan A. https://docplayer.com.br/20054564-Os-metodistas-no-brasil-1889-1930.html#show_full_text

[26] KENNEDY, J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1928, p. 62.

[27] ROCHA, Isnard. Pioneiros e Bandeirantes do metodismo no Brasil. São Paulo, Imprensa Metodista. 1967, p.58.

[28] Idem.

[29] James L. Kennedy, Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil, São Paulo, Imprensa Metodista, 1928, p. 13; Eula L. Long, Do Meu Velho Baú Metodista, São Paulo, Imprensa Metodista do Brasil, 1968, p. 24-25.

[30] H.C. Tucker, “O Centenário Methodista Sul-Americano”, in Expositor Cristão, 03/03/1936, p.1.

[31] Ibidem.

[32] Carta in Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil. SP, ASTE., 1984, p. 81-82. Também, José Gonçalves Salvador, História do Metodismo no Brasil. São Paulo, Imprensa Metodista, 1982, v. 1, p. 24s.

[33] https://archive.org/details/o-catolico-e-o-metodista-pe.-luiz-goncalves-dos-santos-1839

[34] https://archive.org/details/o-catolico-e-o-metodista-pe.-luiz-goncalves-dos-santos-1839

[35] Almeida. Vasni. Nada será como antes: variações no discurso de evangélicos

tradicionais. http://members.tripod.com/bmgil/av33.html

[36] “Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república”. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.179.

 

[37] Kennedy, James Lillbourne Cinqüenta anos de metodismo no Brasil. 1928, p.75.

[38] Bruce, J.L – Fonseca, Cardoso. Os pregadores evangélicos ao povo de Sabará.

Expositor Cristão. São Paulo, 28 de maio de 1892, v.V, nº 39, p.2.

[39] Tucker, Huch. Correspondência do Norte. Expositor Cristão. SP, 1º de novembro de 1889, v.VIII, nº 6, p.1.

[40] Kennedy, James L. O Evangelho faz progredir os países. Expositor Cristão. SP, 15 de novembro de 1889. vIII, nº 7, p.1.

[41] Ibidem., p.22.

[42] “Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república”. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.163.

[43] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928,

[44] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928,

[45] Op. Cit., p.62.

[46] Mar da Espanha é um município de Minas Gerais fundado em 1851. Vizinho dos municípios de Senador Cortes, Pequeri e Chiador. Tem cerca de 12 mil habitantes.

[47] SALVADOR, José Gonçalves. História do metodismo no Brasil. Imprensa Metodista, p.117. Centro Editorial Metodista de Vila Isabel. http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/docs/historiadometodismobrasileiro.pdf

[48] É um município de Minas Gerais criado em 1870 com cerca de 9 mil habitantes.

[50] Idem.

[51] https://www.expositorcristao.com.br/ wp-content/uploads/2017/03/O-Metodismo-na-4ª-Região-Eclesiástica.pdf

[52] https://ometodismonoestadodeminas.blogspot.com/2007/09/

[53] Idem. 

[54] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.

[55] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.

[56] https://ometodismonoestadodeminas.blogspot.com/2007/09/

[57] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.

[58] https://ometodismonoestadodeminas.blogspot.com/2007/09/

[59] KENNEDY, J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.

[60] Idem.

[62]  http://ometodismonoestadodeminas.blogspot.com/008/11/presena-metodista-no-arraial-de-venda.html

[63] Idem.

[64] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.

[65] https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/almanaque/igreja-metodista-de-piracicaba-a-terceira-do-brasil-1843/

[66] https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/almanaque/igreja-metodista-de-piracicaba-a-terceira-do-brasil-1843/

[67] Idem.

[68] KENNEDY, J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.

[69] Idem.

[70] Idem.

[71] KENNEDY, J.L. Cincoenta Annos do Methodismo no Brasil, 1928.

[72] “A Missão Metodista em Juiz de Fora: relações com o catolicismo entre 1884 e 1900”, por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. Pós-gradução da UFJF.https://periodicos.ufjf.br/index.php/sacrilegens/article/view/26248/18105

[73] https://www.historia.uff.br/tricto/td/1707.pdf

[74] https://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestradoeducacao/Dissertacao13PriscilaDelmonte.pdfhttp://colegiometodista.g12.br/granbery/institucional/apresentacao/apresentacao

[75] https://ge.globo.com/mg/zona-da-mata-centro-oeste/noticia/2015/07/escola-de-mg-tem-registro-de-futebol-no-brasil-antes-da-chegada-de-miller.html

[76] “Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república”. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.159.

[77]Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república”. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.165.

[78] Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em    Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.167.

[79] Boletim Eclesiástico da Diocese de Mariana, ano XIII, n. 1, janeiro de 1914.

[80]Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.167.

[81] Op.cit, p.168.

[82] Metodismo e educação no brasil: as tensões com o catolicismo na primeira república. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião como requisito parcial à obtenção do título doutora em Ciência da Religião por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. universidade federal de juiz de fora instituto de ciências humanas programa de pós-graduação em ciência da religião, p.168.

[83] Idem.

[84] http://sv2.fabricadofuturo.org.br/memoriaepatrimonio/as_representacoes_do_colegio_cataguases.pdf

[85] A Missão Metodista em Juiz de Fora: relações com o catolicismo entre 1884 e 1900”, por Ana Lúcia Meyer Cordeiro. UFJF.https://periodicos.ufjf.br/index.php/sacrilegens/article/view/26248/18105

[86] https://www.facebook.com/imcdc/posts/1389856324543923

[87] Idem.

[88] KENNEDY James Lillbourne Cinqüenta anos de metodismo no Brasil. 1928.

[90] http://www.hinologia.org/justus-henry-nelson/

[91] http://www.hinologia.org/justus-henry-nelson/

[92] https://wikimili.com/en/Justus_Henry_Nelson

[93] Idem.

[94] https://www.hinarioevangelico.com/2010/04/388-certeza-do-crente.html

[95] https://pt.wikipedia.org/wiki/Guaraci_Silveira.

[97] Op.cit, p.86

[98] Idem.

[99] Op.cit, p.97.

[100] https://kn.org.br/protestantes/produtos/memorias-ecumenicas/15/um-bispo-na-luta-popular/

[101] OLIVEIRA, Cilas Ferraz de. Nunca na história desse pais...A contribuição de Guaracy Silveira ao metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências Humanas. Pós-Graduação em Educação da Unimep. 2008, p.108.

[102] Op.cit., p.116.

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