Guaracy Silveira
Sua luta, Seu legado
Odilon Massolar Chaves
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Odilon Massolar Chaves
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184 do Código Penal e Lei 96710 de 19 de fevereiro de 1998.
Livro
baseado nas notas explicativas de João Wesley sobre a Bíblia
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Tradutor: Google
Toda gloria a
Deus!
Odilon Massolar
Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela
Universidade Metodista de São Paulo.
Sua tese tratou
sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição
como paradigma para nossos dias.
Foi editor do
jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.
Declaração
de direitos autorais: Esses arquivos são de domínio público e são
derivados de uma edição eletrônica que está disponível no site da Biblioteca
Etérea dos Clássicos Cristãos.
Rio de Janeiro –
Brasil
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"Metodistas a postos! A Igreja e a Pátria esperam que cada um
cumpra o seu dever".[1]
(Guaracy Silveira)
Índice
·
Introdução
·
Sua infância
·
Sua mudança de
rumo
·
Seus estudos,
família e pastorado
·
Sua luta pela
Autonomia da Igreja
·
Sua luta na
Constituinte
·
Sua luta pela
renovação da Igreja
·
Seu legado
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Introdução
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“Guaracy Silveira, Sua luta, seu legado” é um livro de 32 páginas que relata
a sua trajetória desde a infância.
Relata ainda a sua mudança de rumo na religião, sua família, pastorado e
suas lutas pela Autonomia da Igreja, pela Constituinte, como deputado federal,
e luta por uma Igreja Metodista mais democrática. O seu legado foi grande e
precioso.
Guaracy foi um intelectual e escritor que colocou os seus talentos a
serviço do Reino de Deus e por uma pátria justa e democrática. Foi pioneiro,
desbravador e líder incansável pela Autonomia da Igreja. Foi ainda o primeiro
evangélico eleito deputado federal no Brasil.
Importante ressaltar a importância da tese de pós-graduação de Cilas
Ferraz de Oliveira “Nunca na história desse país...A contribuição de Guaracy
Silveira ao metodismo do Brasil”, pela Faculdade de Ciências Humanas da UNIMEP.
Muito contribuiu para elaboração deste livro.
Guaracy foi um daqueles líderes que apareceu e marcou uma época. Outro
só aparece muito tempo depois.
O Autor
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Sua infância
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Guaracy Silveira nasceu no interior do Estado de São Paulo na fazenda de
seu pai Zeferino Carlos da Silveira, capitão da Guarda Nacional. A fazenda se chamava
Engenho Velho, “antiga Crisálida, mais tarde denominada Sobradinho, município
de Franca, Estado de São Paulo, no dia 27 de setembro de 1893, sendo registrado
em Ribeirão Preto quatro anos depois.”[2]
Guaracy iniciou seus estudos primários na cidade de Jardinópolis, região
de Ribeirão Preto-SP, no ano de 1901, em escola pública. Sua irmã era
professora.[3]
Terminou o curso no Grupo Escolar, nos anos de 1906 e 1907. “Após a conclusão
do curso primário no grupo escolar de Ribeirão Preto, SP, estudou no Colégio
São Joaquim em Lorena, SP.[4]
Guaracy trabalhou na Cia. Telefônica em Vila Bomfim, região de Ribeirão
Preto-SP, onde seu pai estava residindo, e também em uma padaria.
“Em 1908, mudou-se para Ribeirão Preto, onde
trabalhou como ajudante de escritório na empresa Ed. Jonhston Cia., sob a
direção de Luiz Gaston Bussmaier, americano, homem que nas palavras de Guaracy
“despertou em mim a consciência de que eu era gente” (SILVEIRA, 1949: p. 3).[5]
Sobre o seu lar afirmou: ‘Eis a atmosfera do meu lar, honesto, graças a
Deus, porém onde jamais um membro se prostrou em um confessionário, diante de
um padre, com a exceção infeliz de mim mesmo” (SILVEIRA, 1920: p. 4)”.[6]
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Sua mudança de rumo
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Guaracy Silveira foi parar num Seminário católico, mas não teve
influência de sua família que era não frequentava a Igreja e tinha influências
do espiritismo. O que seus pais tinham era vida correta e corações
humanitários, que certamente o influenciou em sua jornada.
“O pai, que estimava os padres humanitários e liberais, tinha vínculos
com a maçonaria e detestava o ultramontanismo. Sobre a mãe, diz que era pessoa
“temente a Deus, de boníssimo coração, pronta para repartir com os outros, mas
de religião só conhecia as cousas muito por cima. Não frequentava igrejas nem
se preocupava com religião” (SILVEIRA, 1949: p. 3). [7]
Em 1909, entrou para o Seminário
dos Salesianos em Lorena para ser padre.
Em texto escrito em maio de 1949, Guaracy esclarece que ao entrar para o
seminário, não tinha fé e não se sentia uma pessoa religiosa. Diz:
“Confessava-me sem fé, maquinalmente, e comungava todos os dias, da mesma
maneira. Não tinha noção de pecado. Ao contrário, recordava-me com prazer dos
muitos que havia cometido no passado, e dormia embalado pelas recordações
deles” (SILVEIRA, 1949: p. 5). Entrar para o Seminário era uma oportunidade
para continuar seus estudos apesar da falta de recursos financeiros.[8]
Ao ler a Bíblia e confrontá-la com a Igreja
Católica, ele deixou o catolicismo.
“Em meados de 1914, estando em férias, ele leu textos de uma Bíblia em
casa de um tio. Voltando ao Seminário, retirou da Biblioteca um exemplar e
leu-a durante dias e ficou impressionado com a Igreja retratada nos Atos dos
Apóstolos, uma comunidade humilde que se reunia nas casas das famílias, e era
muito ativa e impregnada do espírito de Deus bem diferente da Igreja Romana na
sua avaliação”.[9]
Em 1915, entrou para a Igreja Metodista em
Ribeirão Preto, São Paulo.
“No dia 14 de março de 1915, com 21 anos de idade, Guaracy tornou-se
membro da Igreja Metodista em Ribeirão Preto, sendo licenciado pregador local
no dia 09 de junho do mesmo ano e recomendado ao ministério pastoral pelo rev.
E. A Tilly. Diz ele que “entre os direitos de minha licenciatura figurava a
nomeação, como pastor suplente, com plenos poderes de administrar e dirigir a
igreja ou igrejas para as quais fosse designado pelo Bispo” (SILVEIRA-3,
[s.d.]: p.1)”.[10]
Na 30ª sessão da Conferencia Anual Brasileira realizada em Piracicaba,
em 11 de agosto de 1915 há o primeiro registro sobre Guaracy Silveira: “Este
ano dois jovens surgiram no meio dos obreiros do Senhor, a saber: Guaracy
Silveira e João França.”[11]
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Seus estudos, família e pastorado
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Em 1916, foi estudar Teologia no Granbery, em
Juiz de Fora. “Bacharelou-se em Ciências e Letras no Granbery e, logo em
seguida, no Seminário desse mesmo estabelecimento fez o Curso Teológico Vago”.[12]
Começou seu pastorado como ajudante na
Igreja Metodista Central de São Paulo. Em 1921 foi consagrado presbítero. [13]
Em 1916 e 1917 serviu na Igreja de Piracicaba.
Em 1918 serviu em Itaquera.[14]
Na 32ª sessão da Conferencia Anual Brasileira
realizada em 11 de julho de1917, no Catete, há o registro da criação da Igreja
Metodista de Itaquera, SP, por Guaracy Silveira: “Durante este ano conferencial
1917-1918, foram organizadas três igrejas: a de Itaquera, por Guaracy Silveira,
com 22 membros, a de Merity, E.do Rio, por H.C.Tucker com 14 membros e a de
Fagundes por J.E.Tavares com 30 membros”.[15]
Casou-se com Etelvina Crem no dia 11 de
julho de 1918. Etelvina nasceu em 1898 na cidade de São Roque-SP, sua mãe era Maria
Weishaupt e seu pai, José Crem, um pequeno proprietário rural e agricultor.
Eram metodistas.[16]
Tiveram dois filhos (Paulo e Onésimo) e três filhas (Ligia, Noemi e
Elena).
Guaracy Silveira viveu uma vida de harmonia com seus filhos e filhas.
Foi o que disse Elena, uma de suas
filhas: “Ele era uma pessoa muito meiga com a gente. Nunca vi papai gritar.
Tudo era conversado. Ele era muito presente na nossa vida”.[17]
Em 1918, na Conferência Anual Brasileira em Juiz de Fora, ele foi
nomeado como ajudante na paróquia de São Paulo e no circuito de São Paulo.
Em 1920 foi confirmado no ministério ativo. Foi nomeado para Serra Azul
e São Simão. Em 1921 foi ordenado presbítero e enviado para Lins e Bauru. E
1922 foi nomeado para o Brás, que havia organizado em 1918.[18]
Guaracy ainda foi nomeado para Piracicaba onde ficou até 1930. Ao mesmo
tempo, era redator do Expositor Cristão.[19]
Por ter sido eleito deputado à Constituinte, em 1933, teve que se
ausentar dos trabalhos pastorais.
Mas depois de 1935, Guaracy voltou ao pastorado com uma mudança de
mentalidade. Ele disse: “Voltando ao pastorado doei os meus livros, cerca de
oitocentos, à Faculdade de Teologia da Igreja Metodista e a outros
particulares, para daí por diante pensar mais do que ler” (SILVEIRA, 1952: p.
2). [20]
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Sua luta pela Autonomia da
Igreja
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Dentre outras coisas, o Movimento Leigo buscava a Autonomia da Igreja Metodista
no Brasil defendendo o sustento próprio.[21]
O Movimento Leigo foi organizado em 1911, em Petrópolis, RJ. numa
Conferência Distrital. O propósito era: "ganhar o Brasil para Cristo,
cuidando das organizações da Igreja, sustento pastoral, missões domésticas e
estrangeiras, construção de templos e colégios, convites para a assistência aos
cultos, enfim, preparar o terreno em todos os sentidos para que os pastores
possam, com liberdade e alegria, anunciar o Evangelho da paz". [22]
Guaracy Silveira foi o grande líder do movimento de sustento próprio que
visava a Autonomia da Igreja.
“Em 1924, na igreja do Brás em São Paulo, em reunião promovida por seu
pastor Guaracy Silveira, um grupo de pastores pede claramente a Autonomia, cujo
primeiro passo seria o sustento dos pregadores nacionais. A questão começava a
criar emoções novas. Naquele mesmo ano, Guaracy Silveira mostrava sua visão
nacionalista e apela enfaticamente: "Metodistas a postos! A Igreja e a
Pátria esperam que cada um cumpra o seu dever".[23]
As razões para a Autonomia eram diversas, dentre elas: “A expansão
territorial e o crescimento numérico exigiram medidas como: supervisão episcopal
permanente, através de um bispo residente; a adaptação da disciplina (as leis
da Igreja) à situação brasileira e, finalmente, melhor coordenação das três
Conferencias Anuais.”[24]
Uma das grandes necessidades era ter um bispo residente. Isso a
Autonomia poderia resolver. E Guaracy Silveira, em 1926, articulou uma reunião
com pastores e leigos no Rio de Janeiro para uma proposta:
“A delegação brasileira à conferência geral da IMES de 1926 não era
portadora de uma reivindicação aprovada pelas conferências anuais. Guaracy
Silveira, buscando cobrir essa lacuna, articulou a reunião de um grupo de
pastores e leigos no Rio de Janeiro, antes da viagem da delegação. Havia uma
reivindicação que foi consenso e era antiga, pelo menos desde 1910: um bispo
residente no Brasil”.[25]
Guaracy Silveira não era radical e não queria perder o vínculo com a
Igreja Metodista nos EUA. Ele “defendia uma autonomia que não cortasse os vínculos
com a IMES. Autonomia para ele significava: conferência geral própria, eleição
de bispo, o controle financeiro pela conferência nacional, sem, contudo, deixar
de receber os recursos financeiros e humanos da igreja dos EUA”.[26]
Foi assim que um grupo de metodistas brasileiros foi aos EUA, em
1929. Esse grupo levava uma carta com a “intenção
para iniciar as discussões sobre essa autonomia”.[27]
Em Dallas, Texas, no dia 27 de maio de 1930, a Conferência Geral da
Igreja Metodista Episcopal do Sul elegeu uma comissão para estabelecer a Igreja
autônoma no Brasil. As três Conferencias Anuais Brasileira elegeram também suas
comissões. A Conferência Anual Central Brasileira elegeu sua comissão e o
primeiro nome que consta é o de Guaracy Silveira.[28]
No dia 2 de setembro de 1930, na Igreja Metodista Central de São Paulo,
aconteceu o ato da Autonomia. E Guaracy Silveira foi escolhido para receber a
declaração de Autonomia e presidir a primeira sessão do Concílio Geral.
“Naquela noite, no seu templo, o bispo Edwin Dubose Mouzon subiu ao
púlpito, na companhia de César Dacorso Filho e Epaminondas Moura, e leu a
proclamação da Autonomia e a Constituição da Igreja Metodista do Brasil. Logo a
seguir, subiu ao púlpito Guaracy Silveira, escolhido pelos brasileiros membros
da Comissão Constituinte, para recebê-la das mãos do bispo e presidir a
primeira sessão do Concílio Geral”.[29]
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Sua luta na Constituinte
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Guaraci Silveira herdou a vocação política do
seu pai, pois Zeferino foi vereador em São Simão (São Paulo).[30]
“Guaracy viveu desde a infância um ambiente em
que se faziam reuniões para tratar das questões político-partidárias”.[31]
Em 1933, Guaracy foi convidado para ser
candidato à Constituinte por causa do plano católico de incluir o ensino
religioso nas escolas paulistas.
Ele era pastor da Igreja Metodista Central de São Paulo e, na Páscoa de
1933, foi realizar uma série de Conferencias na Igreja Metodista de Santos.
Ele foi procurado pelo pastor metodista local, rev. Hermógenes de
Almeida Prado e também alguns metodistas e membros de outras igrejas
evangélicas, para ele se lançar como candidato à Constituinte.[32]
Faltava pouco tempo para a eleição e havia pouca possibilidade de alguém
sair vitorioso se lançando candidato agora. Mas o seu “nome já era conhecido na
imprensa por combater, em 1931 pelos jornais e rádios, as pretensões católicas
de incluir o ensino religioso nas escolas paulistas e sua participação como
capelão das forças revolucionárias paulistas em 1932. Sinalizaram a possibilidade
de apoio no meio protestante e entre os defensores do ensino laico, e se não
alcançasse o intento, seria uma oportunidade para a divulgação do Evangelho”.[33]
Guaracy Silveira foi eleito deputado federal no dia 3 de maio de 1933 pelo PSB para a Assembleia Constituinte de
1934.
Foi o primeiro evangélico brasileiro eleito deputado federal. Recebeu
4.757 votos no primeiro turno e 40.175
votos no segundo.[34]
“A atuação de Guaracy Silveira foi muito tumultuada no Congresso,
enfrentando duas radicais correntes de pensamento. Os marxistas, dentro da sua
própria legenda que vão expulsá-lo do PSB ainda no início dos trabalhos
constituintes, e partidários da Liga Eleitoral Católica, ferrenhos defensores
das emendas religiosas”.[35]
“Após a promulgação da nova constituição
em 1934, Guaraci teve seu
mandato estendido até 1935. No entanto, ao
final do mesmo, decidiu por deixar sua vida política de lado, e voltar para a
Igreja e imprensa, trabalhando em alguns jornais em São Paulo”.[36]
Após sua eleição em 1933, Guaracy teve que se
afastar do ministério pastoral, porque a Igreja Metodista não misturava
política com religião.[37]
Foi reeleito em 1946.
Guaracy foi atuante no Congresso. “No seu segundo mandato, 1946-1950,
Guaracy protestou contra as subvenções estatais concedidas à Igreja Católica,
porém, considerava imprudência estabelecer acirrada contenda religiosa, pois
julgava que tal postura belicosa obrigaria os próprios católicos liberais, com
quem tinha boas relações, a reagirem corporativamente”.[38]
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Sua luta pela renovação da
Igreja
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Durante a história do metodismo no Brasil, alguns líderes, como Guaracy
Silveira, lutaram para que a Igreja Metodista fosse atuante como nos tempos de
Wesley.
Ele defendia muito a participação ampla de leigos e clérigos, dentro de
sua visão democrática. “Desde sua entrada na Igreja Metodista, em 1915, Guaracy
participou do processo que mais tarde vai redundar na autonomia, em 1930. Ainda
nessa fase, antes de experiência parlamentar, ele já entendia que a igreja
necessitava de leis que garantissem um espaço democrático para a atuação de
todos os seus membros. Por reconhecer que o sistema de governo episcopal
implicava determinadas limitações com tendências centralizadoras, entendia que
a elaboração de leis regulamentando e garantindo o exercício democrático do
episcopado seria a salvaguarda necessária”. [39]
Em 1940, o grande líder Guaracy Silveira da Região Centro foi claro ao
desejar uma renovação da Igreja ao
citar Reforma Protestante e o Movimento
Metodista na Inglaterra.
Ele disse: “(...) sufocados pelas leis e pelos preceitos, pelas
organizações, e múltiplas reuniões, e, porventura, pelo fato de ser dado mais
ênfase ao culto público do que às experiências íntimas (...). A nosso ver
estamos laborando nos mesmos erros em que o romanismo caiu, exigindo o apelo da
Reforma; em que caiu o anglicanismo, exigindo o movimento metodista (...).”[40]
Guaracy disse para voltarmos à singeleza e sinceridade dos cultos
wesleyanos.
As observações de Guaracy Silveira não foram levadas em conta. H.I.
Lehman, da Região Sul, em 1943, criticou a decisão do Concílio Geral de 1942 de
acabar com o ministério do pregador local. Ele disse que o maior inimigo do
metodismo era a clericalização.
No início da década de cinquenta, o Movimento das Cruzadas em algumas denominações era forte,
principalmente, em São Paulo. Diante
desta situação, na abertura do Concílio Regional do Centro, no dia 23 de Janeiro de 1953, Guaracy
Silveira propõe a eleição de uma Comissão Especial para estudar a situação da
Igreja Metodista do Brasil em face do pentecostalismo e avivamento de João
Wesley.[41]
A Comissão ficou constituída de Afonso Romano Filho, Guaracy Silveira,
Francisco Gonçalves Noceti, Joviniano Ferreira e Natanael Bizarro Rosa. A
Comissão Especial fez observações simpáticas ao pentecostalismo:
“Devemos nos alegrar com o trabalho dos pentecostais, e dar graças a
Deus porque, aquilo que há neles, que nos parecem erros de prática cristã, não
tenha sido obstáculo a que eles estejam alcançando milhares de almas (...).”[42]
Para a Comissão, o metodismo tem armas dadas por Deus, através de João Wesley, por isso não precisamos de armas de outras
comunidades para vencer
a nossa luta.
Mas a Comissão foi franca e também disse:
“Devemos, portanto, nós, ministros e leigos, numa vigorosa e honesta
autocrítica, examinar nossas vidas e verificar onde estão nossas falhas, para
que, removidas, tornemos mais eficiente nossa vida no serviço do Mestre.”[43]
Foram dadas ainda várias recomendações, desde a prática do jejum até o
reconhecimento dos dons das pessoas que têm frutos no trabalho, mesmo sendo de
pouco preparo teológico. A Igreja deveria prepará-los.
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Seu legado
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Guaracy Silveira era muito crítico, mas também justo e
reconhecia o valor das pessoas. Foi assim com o episcopado de Tarboux. No Expositor Cristão em fevereiro de 1933,
“ele comentou o trabalho de Tarboux como bispo. “…chamado em sua velhice para o
cargo de tão grande responsabilidade, fez tudo quanto era lícito esperar dele,
e muito acima do que poderíamos esperar, e ninguém duvida que ele foi o homem
que Deus nos deparou para as notáveis realizações do Metodismo nestes três anos
de sua vida autônoma”.[44]
E elogiou a eleição de Cesar Dacorso Filho para o
episcopado: “A eleição do novo bispo veio encher de alegria a todos que o
conhecem. Moço humilde, de grande cultura, enérgico e capaz de resolver com
prudência todas as dificuldades que surjam nos concílios e nos pastorados,
sempre fiel a todas as obrigações dos cargos que tem ocupado, ele será nestes
seis anos um fator de paz e desenvolvimento da Igreja”.[45]
Lutou por uma Igreja Metodista mais
democrática e wesleyana.
Trabalhou como redator do Expositor Cristão, jornal oficial metodista (1930-1934 e
1938-1942).
Guaracy Silveira fez seu pedido de jubilação, aposentadoria, ao Concílio
do Centro, realizado na Igreja do Brás, em 1937.
Ele não estava satisfeito com os rumos que a Igreja Metodista estava
tomando. Também se considerava perseguido pelo bispo César por causa de sua
candidatura natural ao episcopado.
Guaracy afirmou: “Não era possível que eu deixasse de ver em tudo um
receio de que eu fosse um candidato ao episcopado. Por isso eu sugeri ao Sr. a
minha jubilação, e o sr. me pediu que ficasse no trabalho ao menos mais um ano,
isto é, o penúltimo antes do Concílio Geral” (SILVEIRA, 27 dez. 1941: p.10)”. [46]
Após ser jubilado, Guaracy Silveira “foi trabalhar no Estado, no
Departamento do Trabalho, divulgando a recém-criada legislação trabalhista nas
escolas, nas rádios, e mais tarde, dia 23 de janeiro de 1942, foi nomeado
diretor dessa divisão nas cidades de Taubaté, e em 1945, Sorocaba e um mês
depois, Santos, exercendo a função até dezembro de 1945, quando foi novamente
eleito deputado constituinte, desta vez pelo Partido Trabalhista Brasileiro”.[47]
Guaracy não quis perder os vínculos com a Igreja Metodista e no Concílio
Geral de 1938 desejou e foi eleito redator do Expositor Cristão.
Ele aproveitou o fato de ser eleito para redator do Órgão oficial da
Igreja e passou a debater os rumos da igreja. Propôs vigilância na “fiscalização
de todos os atos episcopais contrários às leis, à praxe, à democracia metodista
e ao bom senso “que eu, fiel à minha missão de jornalista eleito pelo Concílio
Geral tinha por obrigação contrariar, procurando combatê-las em tese, visando
criar um novo espírito nas relações entre ministros e crentes” (SILVEIRA, 27
dez. 1941: p. 11).[48]
Por causa de sua saúde debilitada, Guaracy permaneceu como redator do
Expositor Cristão até maio de 1941 quando foi substituído por Afonso Romano
Filho, que em editorial lamentou o afastamento de Guaracy.[49]
Dentre seu legado, Guaracy foi o primeiro
pastor eleito para o parlamento brasileiro.[50]
Foi deputado à Constituinte duas vezes (1933 e 1946).
Foi a figura principal no processo de autonomia da Igreja Metodista do
Brasil, em 1930.
Foi o único deputado paulista reeleito para a Constituinte de
1946.
“Liderou a criação do Partido Republicano Trabalhista (PRT). Em 1950, se torna presidente do PRT, se tornando
um defensor dos trabalhadores, defendendo seus interesses”.[51]
Também Guaracy “teve importante
participação na luta contra o ensino religioso nas escolas públicas de São
Paulo, sendo a favor do ensino de Educação Moral e Cívica”. [52]
Guaracy era atuante. Um Evangelho prático, social. “Atuou como capelão
junto às forças militares de São Paulo na revolução de 1932, sendo o primeiro
capelão militar brasileiro. Também foi membro do Tribunal de Contas de São
Paulo. Era amigo e protetor de Monteiro Lobato (1882-1948), difundindo e
distribuindo as suas obras nas escolas de São Paulo”.[53]
Foi um intelectual da sua geração. Guaracy era
jornalista e escreveu diversas obras e poesias. Ele gostava de música clássica,
romântica, fados, pintura clássica e arquitetura colonial.
“Sua atuação na imprensa inclui a redação da Revista do Ensino Religioso
para Adultos (1926-28), da Confederação das Igrejas Evangélicas do Brasil, e o
trabalho como redator da revista O Expositor Cristão (1930-34 e 1938- 42) e no
Correio da Tarde de Ribeirão Preto”.[54]
Publicou diversos livros, dentre os quais “Evangelho, patrologia e
razão, 1920; Memórias do coronel Simplício, sob o pseudônimo de Hélio Silvado,
1933; Religião oficial; Lutero, Loiola e o totalitarismo, 1943; Do vale da
sombra às montanhas, 1944; Discursos parlamentares, 1947”. [55]
Guaracy era uma pessoa que defendia suas ideias, aquilo que acreditava
ser ético, justo, bom para todos. “São intermináveis as suas polêmicas e
debates, ‘de viseira erguida’, sempre defendendo valores que considerava
justos, verdadeiros e democráticos. Guaracy Silveira foi um grande lutador.
Queria algo e sabia o que queria. Tudo fazia com entusiasmo invulgar. Sua
personalidade forte não admitia contestação às suas ideias sem provas
suficientes”.[56]
Em 1953, faleceu Guaracy Silveira de ataque cardíaco sem completar 60
anos e sem ver muito dos seus sonhos se realizarem na Igreja.
O oficio fúnebre foi realizada na Igreja Metodista Central dirigido pelo
bispo C.B.Dawsey. NO cemitério de Araçá vários oradores exaltaram as qualidades
do caráter de Guaracy Silveira.[57]
Em sua homenagem, a Escola Técnica de 2º Grau, São Bernardo do Campo,
SP, leva o seu nome.
O museu metodista se chama Museu Guaracy Silveira, em São Bernardo do
Campo, SP.
Na cidade de São Paulo há uma rua com o nome de Guaracy Silveira.[58]
Sua filha Noemi Crem Silveira falou ao jornal
Expositor Cristão sobre a bondade de Guaracy: “Ele defendia muito as pessoas.
Saía em defesa dos/as mais fracos/as. Um dia eu falei para ele que no fundo, no
fundo, até o diabo era bom. Aí ele deu risada, mas o papai era muito bom para
todas as pessoas”.[59]
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[1] DORNELLAS, João
Wesley.
http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/75_ANOS_METODISMO_AUTONOMO_BRASIL.pdf
[2]Cilas Ferraz de
Oliveira, A contribuição de Guaracy Silveira ao metodismo do Brasil. UNIMEP,
SP, 2008.
[3] Idem.
[4]
http://wiki.ihgp.org.br/SILVEIRA,_Guaracy
[5] Idem.
[6] OLIVEIRA, Cilas
Ferraz de. Nunca na história desse pais...A contribuição de Guaracy Silveira ao
metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências Humanas. Pós-Graduação em Educação
da Unimep. 2008, p.72.
[7] OLIVEIRA, Cilas Ferraz de. Nunca na história desse pais...A
contribuição de Guaracy Silveira ao metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências
Humanas. Pós-Graduação em Educação da Unimep. 2008, p.72.
[8] Op.Cit., p.73,
[9] Op.Cit.p.75
[10] Op.Cit;.p;76
[11] KENNEDY, J.L.
Cincoenta anos do metodismo no Brasil. 1926, p. 152.
[12] ROCHA, Isnard.
Pioneiros e Bandeirantes do metodismo no Brasil. Imprensa Metodista, 1967, p.
207.
[13]
http://wiki.ihgp.org.br/SILVEIRA,_Guaracy
[14] ROCHA, Isnard.
Pioneiros e Bandeirantes do metodismo no Brasil. Imprensa Metodista, 1967, p.
208.
[15] KENNEDY, J.L.
Cincoenta anos do metodismo no Brasil. 1926, p. 155.
[16] OLIVEIRA, Cilas
Ferraz de. Nunca na história desse pais...A contribuição de Guaracy Silveira ao
metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências Humanas. Pós-Graduação em Educação
da Unimep. 2008, p. 78.
[17]
http://www.expositorcristao.com.br/o-legado-do-reverendo-guaracy-silveira/
[18] ROCHA, Isnard.
Pioneiros e Bandeirantes do metodismo no Brasil. Imprensa Metodista, 1967, p.
209.
[19] Idem.
[20] OLIVEIRA, Cilas
Ferraz de. Nunca na história desse pais...A contribuição de Guaracy Silveira ao
metodismo do Brasil. Faculdade de
Ciências Humanas. Pós-Graduação em Educação da Unimep. 2008, p. 113.
[21]
http://colegiometodista.g12.br/granbery/pastoral-escolar/reflexoes/2-de-setembro-dia-da-autonomia-da-igreja-metodista
[22]
https://www.metodista.org.br/confederacao-metodista-de-homens-nossa-historia
[23] DORNELLAS, João
Wesley.
http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/75_ANOS_METODISMO_AUTONOMO_BRASIL.pdf
[24] REILY, Duncan
Alexander. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo, ASTE,
1984, p.184.
[25] OLIVEIRA, Cilas
Ferraz. Autonomia, independência ou status quo? O caminho do metodismo
brasileiro. Revista Caminhando. Segundo semestre de 2005, p.57.
[26] Idem.
[27]
https://metodistaitaberaba.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Boin-2017-09-03.pdf
[28] REILY, Duncan
Alexander. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo, ASTE,
1984, p.191.
[29] DORNELLAS, João
Wesley.
http://www.metodistavilaisabel.org.br/docs/75_ANOS_METODISMO_AUTONOMO_BRASIL.pdf
[30]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guaraci_Silveira.
[31] OLIVEIRA, Cilas Ferraz de. Nunca na história desse pais...A
contribuição de Guaracy Silveira ao metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências
Humanas. Pós-Graduação em Educação da Unimep. 2008, p.89.
[32] Op.cit, p.86
[33] Idem.
[34] Op.cit, p.97.
[35] Op.cit., p.108.
[36]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guaraci_Silveira
[37]
https://kn.org.br/protestantes/produtos/memorias-ecumenicas/15/um-bispo-na-luta-popular/
[38] OLIVEIRA, Cilas
Ferraz de. Nunca na história desse pais...A contribuição de Guaracy Silveira ao
metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências Humanas. Pós-Graduação em Educação
da Unimep. 2008, p.116.
[39] OLIVEIRA, Cilas
Ferraz de. Nunca na história desse pais...A contribuição de Guaracy Silveira ao
metodismo do Brasil. Faculdade de Ciências Humanas. Pós-Graduação em Educação
da Unimep. 2008, p. 124.
[40] SILVEIRA, Guaracy. "A realidade metodista brasileira" em
Expositor Cristão. 30 de abril de 1940, p. 3 e 4.
[42] Atas e Documentos do
23º Concílio Regional do Centro, 1953 [s.ed], "Suplemento 4", p.18.
[43] Ibidem.
[44]
http://www.expositorcristao.com.br/o-legado-do-reverendo-guaracy-silveira/
[45] Idem.
[46] Cilas Ferraz de
Oliveira, A contribuição de Guaracy Silvira ao metodismo do Brasil. UNIMEP, SP,
2008, p.138
[47] Idem.
[48] Op.cit., p.138
[49] Op.cit.,, p.140.
[50] Pesquisa:
www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/.../Cilas_Ferraz.pdfwww.metodista.br/fateo/.../guaracysilveira_site.../image_view_fullscreenhttp://www.cogeime.org.br/revista/31Artigo4.pdfhttp://versaoindependente.blogspot.com.br/2009/08/guaracy-silveira-liberal-protestante-e.html
https://www.unimep.br/phpg/bibdig/pdfs/2006/WSLACRIPENFI.pdf
[51]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guaraci_Silveira
[52]
http://www.expositorcristao.com.br/o-legado-do-reverendo-guaracy-silveira/
[53] https://www.hinologia.org/guaracy-silveira/ - Pesquisa: Carmen
Lício
[54]
http://wiki.ihgp.org.br/SILVEIRA,_Guaracy
[55] Idem.
[56] Cilas Ferraz de
Oliveira, A contribuição de Guaracy Silveira ao metodismo do Brasil. UNIMEP,
SP, 2008, p.148
[57] ROCHA, Isnard.
Pioneiros e Bandeirantes do metodismo no Brasil. Imprensa Metodista, 1967, p.
211.
[58] Op,.Cit., p. 212.
[59]
http://www.expositorcristao.com.br/o-legado-do-reverendo-guaracy-silveira/
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