O pastoreio de pessoas com transtorno emocional

 

O caminho para uma vida normal


Odilon Massolar Chaves






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Art. 184 do Código Penal e Lei 96710 de 19 de fevereiro de 1998. 

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Toda gloria a Deus!

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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia  

 


Índice


Apresentação 

Introdução 

Entendendo os delírios 

Tipos de delírio 

Os cuidados que devemos ter 

O que é uma pessoa emocionalmente saudável 

O caminho para a normalidade humana

 

 

Apresentação 

 

Como curar uma vida cheia de conflitos emocionais e administrarmos nossas emoções sendo que carregamos cicatrizes não curadas dentro de nós. 

As igrejas estão cheias, mas com pessoas doentes na alma. Pessoas entram feridas e saem mais feridas por não terem resolvido suas questões emocionais. 

Hebreus 12.15 está escrito: “Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus, que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos”. 

Às vezes, pessoa no contexto religioso diz: hoje não estou bem, minha espiritualidade está muito mal não vou a igreja, estou com dor de cabeça, não tenho nada a fazer lá, fiquei ao lado daquela pessoa ela nem olhou na minha cara, o pastor não me cumprimentou ... 

A pessoa precisa se respeitar, buscar a ajuda terapêutica, muitas vezes ela pode estar vivenciando algum tipo de transtorno e não sabe, ela precisa se compreender, se perceber, ter um encontro consigo mesmo de dentro para fora, certos pensamentos errôneos podem trazer transtorno mental, transtorno obsessivo compulsivo, depressão, transtorno bipolar e outros. 

Nem todas as dores são curadas com medicamentos, quando a dor começa na alma, podemos tomar o melhor remédio e mais caro que for, isso não vai resolver porque o problema está na alma. São feridas não resolvidas, amarguras guardadas do passado que trouxeram conflitos emocionais e precisam ser colocados para fora. 

O autor da obra que vocês agora passarão a ler tem várias obras de sua autoria, ao qual tem edificado e ajudado muitas vidas. 

Em 1999 tive a honra de conhecer Odilon Massolar Chaves ser ministrada por ele em relação aos meus conflitos emocionais, traumas, baixa autoestima, feridas na minha alma ao qual não sabia entender o porquê, ganhei dele seu livro Cura Interior um caminho para a santidade. 

Voltei a estudar me apaixonei nesta área, fiz cursos, especialização, porque entendi que como um dia eu fui curada das minhas feridas da alma, poderia ser usada por Deus para ajudar outras vidas. 

Conheça toda as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana. Carl Jung. 

Precisamos sermos mais humanos, amar mais, abraçar mais, se importar mais com a dor do outro e perdoar mais. 

O nosso corpo reflete a nossa mente, para nos tornarmos uma igreja com uma saúde mental e emocional sem traumas, delírios e neuroses, precisamos cuidar do nosso espirito corpo e alma. 

O amor e o perdão curam todas as enfermidades da alma. 

Tenha uma boa leitura... e cure a si mesmo! 

Iraci Pereira

Psicanalista, Terapeuta, Psicossomática e Palestrante

São Paulo

 

Introdução



          Uma pessoa com distúrbios mentais foi entrevistado e falou ao repórter da revista “Veja” sobre os sintomas de uma pessoa em delírio e como ela se sente: “Nos delírios paranoicos as pessoas estão me perseguindo. Pode ser um delírio de grandeza, em que me julgo um grande homem, ou delírios religiosos, em que virei um profeta e tenho contato direto com Deus.”[1] 

        Ele ainda explicou  o que era o surto psicótico: “É fase de muita excitação, euforia, pensamento descontrolado em que vão surgir os delírios, as alucinações. Se permito que esses sintomas aflorem, vai se configurar um surto psicótico, que no meu caso dura de 2 semanas a 1 mês.” [2] 

       L. F. Barros declarou ainda: “O grande problema do surto é que a pessoa tende a destruir tudo o que construiu antes: suas relações familiares, afetivas, seu trabalho.” [3] 

Este breve estudo se faz muito necessário no meio evangélico, especialmente para quem faz aconselhamento, realiza cura interior ou está ligado diretamente ao ser humano, pois nem sempre sabemos identificar as características de um doente neurótico ou delirante. 

Fazendo algumas pesquisas, chegamos a algumas conclusões que pelo menos nos dão pistas para resolver situações às quais não fomos preparados, especialmente os casos de psicóticos. 

          Uma pessoa que sofreu delírios me disse que a Igreja não está preparada para resolver casos como o dela. Eu tive que reconhecer que ela estava com a razão. 

          Não podemos ser ingênuos sobre essa questão. Não podemos pensar que uma simples oração ou “repreensão” irão resolver o problema. O doente delirante tem a sua lógica e pode nos ver como inimigos. Além disso, “sem a completa boa vontade e seriedade absoluta do paciente, a cura não se dá.”, diz C. G. Yung no seu livro “Eu e o Inconsciente”. 

           Nosso desejo é que você seja um instrumento do Senhor. Certamente um profissional da área de psicologia poderá nos orientar mais adequadamente. Não entre em uma área que você não está preparado. 

         Hoje há um aumento muito grande de suicídio, inclusive de líderes evangélicos por causa da depressão. Precisamos estar melhor preparados para lidar com essas questões. 

          Este estudo é apenas para alertar sobre algo sério em nossa igreja que precisa ser tratado com seriedade, mas mesmo assim solicitei a três pessoas formadas na área de psicologia e cristãs para me darem um suporte.

          Já tive contato com pessoas que passaram por essa situação e percebi que muitos chegam até mesmo a acreditar no doente. Foi muito constrangedor. Por isso decidimos fazer essa pesquisa para ajudar os líderes. 

          Abrimos algumas pistas. Nosso desejo é que a leitura de outros livros, um profissional e o poder do Espírito do Senhor possam nos dar a direção certa. 

          Agradeço às psicólogas evangélicas Mônica Genn Cruz e Marcella Barbosa Ferreira pelas sugestões na primeira edição do livro. 

          Agradeço também a Iraci Pereira, psicanalista, terapeuta, psicossomática e palestrante pela apresentação da segunda edição do livro. 

  

O Autor

  

Entendendo os delírios  

 

          Como podemos entender que uma pessoa mente, inventa, imagina coisas ou tem uma revelação de Deus? 

         Pode ser um delírio? 

        “O delírio, também conhecido como transtorno delirante, é a alteração do conteúdo do pensamento, surgindo quando a pessoa acredita fortemente em uma ideia que não é a verdade”.[4] 

          Como podemos entender que uma pessoa está delirando e não mentindo, inventando ou tendo uma revelação do Espírito?          

     Esta questão não é fácil. Como conselheiros, líderes, pastores, precisamos ter uma noção básica sobre o delírio, que é “um conjunto de juízos falsos, que se desenvolve em consequência de condições patológicas pré-existentes e que não se corrigem por meios racionais”, afirma Isaías Paim em “Curso de Psicopatologia”.[5] 

O enfermo delirante convence a muitas pessoas de sua verdade, pois “são capazes de discorrer com uma lógica impecável, porém consequente com a falsidade que lhe serve de ponto de partida.” [6] 

A psicóloga Mônica Genn Cruz alerta: “Aqueles que no Ministério de Intercessão lidam diretamente com o povo, muitas vezes, são levados a orar pelas mesmas pessoas com as mesmas queixas que, na verdade, têm delírio de queixa e não razão real para aquele tipo de solicitação”. 

Muitos ministradores são enganados porque “o delírio é irracional, mas após ter-se iniciado prossegue com uma lógica perfeitamente aceitável”, afirma a psicóloga Mônica Genn Cruz. 

          Não é perturbação de juízo: “O transtorno precede à formação dos juízos.” O que confunde muitas pessoas é que “a premissa é falsa, mas o raciocínio que se desenvolve a partir desse princípio falso é perfeitamente coerente.” afirma Isaías Paim.[7] 

          Uma pessoa que delira não é corrigida jamais por argumentos racionais porque a lógica do enfermo é coerente; ao contrário, o enfermo delirante pode ver aquele que tenta convencê-lo de sua doença, do seu erro como uma pessoa inimiga que está tramando contra ela. 

          Na verdade, “a convergência da alteração do juízo de realidade e uma forte carga afetiva contribuem para a deformação catatímica [8] das situações em que o enfermo se encontra, o que impede que ele reconheça o seu erro, não só espontaneamente, como mediante a ação dos argumentos de outras pessoas”.[9] 

          Existe uma “disposição delirante” no enfermo. Ele sofre com isso, então surge “uma sensação de falta de apoio e insegurança que o impele instintivamente a procurar um ponto firme onde possa segurar e agarrar. Surgem então convicções de perseguição, crimes, incriminações ou em direção oposta: convicções da idade de ouro, de elevação divina, de santificação.”[10] 

         É o que se chama de “surto psicótico”. 

          A psicóloga Marcella Barbosa Ferreira diz que existem situações que favorecem o desenvolvimento de transtornos delirantes. Ela cita o “Compêndio de Psiquiatria”: 

·     Expectativa aumentada de receber tratamento sádico;

·     Situações que aumentam a desconfiança e a suspeição;

·     Isolamento social;

·     Situações que aumentam a inveja e o ciúme;

·     Situações que diminuem a autoestima;

·     Situações que fazem com que a pessoa veja seus próprios defeitos nos outros etc. 

          O doente pode declarar que está sendo perseguido por alguém ou seduzido, como também pode declarar que recebeu uma revelação do Espírito de que ele agora tem uma unção especial, recebeu um ministério para liderar a igreja ou até que é o Cristo. 

          O que podemos entender das declarações dos psicólogos e psiquiatras é que quando uma pessoa chega ao delírio é porque já havia algo em seu inconsciente - “disposição delirante” - que somado a um fato relacionado a vida afetiva, a falta de apoio e segurança acabam contribuindo para que a pessoa chegue a esse ponto trágico: ela se vê ameaçada ou com uma missão divina.  

 

 

Tipos de delírio  

 

          Em seu livro “Curso de Psicopatologia”[11], Isaias Paim divide os delírios em delírios de: perseguição, relação, influência, ciúme, grandeza, ambicioso, invenção, reforma e erótico. 

Delírio de perseguição  

          “O portador deste tipo de delírio acredita que está sendo vítima de uma perseguição, e afirma que há inimigos que estão querendo matar, envenenar, difamar ou que querem lhe fazer algum mal, sem que isto seja verdade”.[12] 

          Às vezes, o delírio se desenvolve lenta e progressivamente durante meses e tem como ponto inicial “um estado atormentador de inquietação interna, caracterizado por sensações angustiosas, perplexidade, insegurança e estranheza de si mesmo”,[13] afirma Isaías Paim. 

          A sua conduta nesse período se caracteriza por uma desconfiança excessiva, especialmente em “relação às pessoas com as quais se encontra em contato íntimo”. 

          Um certo doente delirante, observou em seu ambiente de trabalho a atitude de certas pessoas como sendo de hipocrisia e hostilidade. 

          A pessoa se sente tão ameaçada que qualquer atitude por mínima que seja pode parecer ameaça. Por exemplo, uma pessoa pode estar coçando a mão com o dedo e o doente delirante entender que o mexer com o dedo significa mexer no gatilho de um revólver, ou seja, uma ameaça de atirar na pessoa. 

         O doente delirante pode sair dali e ir até a delegacia para fazer uma denúncia e pedir garantia de vida. 

Delírio de relação  

          Este tipo de delírio se caracteriza pelo egocentrismo. Para a pessoa tudo que acontece no mundo está relacionado a ela. Não é interpretação falsa e nem alteração da percepção e sim de “percepção modificada pela vivência delirante”. 

          Uma pessoa com esse delírio pode ver algumas mulheres passarem na rua de cabeça erguida e interpretar esse fato como uma atitude para inferiorizá-la. Outros podem observar em letras de músicas ou cenas de filmes referências à sua pessoa. 

          Uma frase de alguém sobre algo pode ser interpretado pelo doente como uma referência a sua pessoa. 

          Na igreja, o pregador pode pregar sobre um determinado texto ou fato e o doente ver nitidamente uma alusão a sua pessoa; pode ver nas palavras do pregador uma retaliação, crítica e exposição do seu problema em público. 

        O doente pode, por isso, fazer uma denúncia com toda convicção às autoridades e ainda conseguir o apoio de pessoas interessadas na queda daquela pessoa ou em ocupar o seu lugar. 

Delírio de influência 

          Os enfermos se sentem vítimas de influências telepáticas, choques elétricos que lhes são aplicados à distância. 

          Os doentes sentem-se influenciados por “fluidos magnéticos” através dos quais o inimigo  tenta provocar doenças. 

          Em sonhos, os doentes podem ver o inimigo tentando destruí-los. Eles podem começar a ver também certas pessoas influenciadas por demônios. 

          Até os líderes da igreja, como pastores e pastoras, não escapam dessas visões. Certamente para os que correm atrás de visões, isso é um prato cheio. Sem discernimento, vamos caminhar para o abismo. 

Delírio de ciúme 

          Esse delírio manifesta-se em esquizofrênicos paranóides.  Nos casos em que adquire a forma de infidelidade conjugal, “o doente está convencido de ser enganado ou que tentam enganá-lo”. Mantém uma séria vigilância sobre o cônjuge. Tudo serve para alimentar a desconfiança patológica. 

          Esse delírio manifesta-se em esquisofrênico-paranóides, sendo uma doença muito mais grave do que o delírio. 

          Sei de uma jovem senhora que apanhava do marido porque de madrugada ela ia ao banheiro. Seu marido dizia que ela saia para traí-lo. Eles se separaram. 

          Seu delírio o levava a imaginar  cartas secretas, olhares de amantes na rua, sinais reveladores de vizinhos e até dúvidas sobre a legitimidade de seus filhos. 

          O doente passa a ter desconfiança de que querem eliminá-lo. Por isso, chegam a fazer escândalo público. 

          O doente imagina que querem enganá-lo e procura provar que está certo usando todos os argumentos de sua razão deturpada. 

Delírio de grandeza          

        “Delírio de grandeza, ou delírios de grandeza, são fortes crenças de ser mais rico, mais inteligente, mais importante, mais poderoso, famoso, etc. do que é realmente na verdade. Esse delírio varia de acordo com a época, o meio, grau de instrução e com as concepções que o doente tem”.[14]

          Mas em todo mundo que pensa em algo grande está delirando. 

José não tinha delírio de grandeza, apesar dele ter sonhado que “o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante ele” (Gn 37.9). Era pura revelação. 

Sua atitude sempre foi de humildade. Uma revelação de Deus se cumpre e com José se cumpriu (Gn 41.37-44). Contudo, temos que estar atentos às pessoas que não trabalham em grupo como Corpo de Cristo. 

De pessoas que se declaram portadores de revelação especial de Deus, temos que ter cuidado. Toda revelação, toda profecia, por isso, precisa ser julgada: “... tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem” (1Co 14.29). 

Delírio ambicioso 

O aspecto assumido pelo doente é “uma apreciação exagerada da própria personalidade”. Ele se sente superior aos demais. 

Ele pode dizer que ocupa altos postos no exército, administração pública etc., pode fazer referência a uma fortuna fabulosa. 

         Ele se sente superior aos demais em saúde, capacidade intelectual e até em força física. 

        Vemos isto claramente na prática de ministérios na igreja local. Ele se sente uma estrela. Espera sempre ser reconhecido no seu “grande valor. 

Delírio de invenção 

          Esse delírio não é muito frequente. O doente crê que descobriu aparelhos científicos; inventou algo fabuloso. 

          O doente crê que descobriu a fórmula para a cura de todas as enfermidades, a fórmula para mudar as estações do ano, da imortalidade etc. 

Delírio de reforma 

          É uma variedade do delírio de grandeza e se manifesta “sob a forma de delírio de reforma social, política, econômica, religiosa, moral, etc”. 

          Os doentes empregam intensa atividade no sentido de propagar suas ideias. Falam em praça pública, imprimem folhetos e livros, dirigem cartas às autoridades. 

          No final de 1969, ouvi um pregador em uma praça pública de Niterói pregar e falar mal do rei Davi. 

           Disse também que suas ideias eram verdadeiras e, para prová-las, todas as igrejas evangélicas de Niterói - que certamente eram falsas - iriam fechar as portas.

         Enfatizou que isso aconteceria logo no início de 1970.

          Suas ideias são utópicas e absurdas. São pessoas geralmente esquizofrênicas paranoides. 

Delírio erótico 

          É uma variedade do delírio de grandeza. Os mais visados são os artistas, os cantores pelos quais o enfermo fica apaixonado. Pode ser apenas uma atitude platônica ou a tentativa de atos violentos de posse. O pior de tudo é que os enfermos ficam certos de que são correspondidos. Apenas um gesto, um olhar, uma atitude de atenção bastam para confirmar ao doente que ele é correspondido no amor. 

          Em relação a médicos ou pastores que trabalham na área de aconselhamento pode manifestar-se “determinando mal-entendidos e até escândalos pelos jornais”. 

          No seu livro Isaias Paim é categórico: “O desagradável nesses casos é que os leigos e os jornais dão crédito a essas manifestações delirantes”.[15] O pior ainda é que algumas pessoas podem se aproveitar da situação e dar todo o apoio ao doente para derrubar o acusado. 

          Como essas pessoas podem ter uma vida profissional normal, mas ter delírio em relação a vida sentimental, fica difícil perceber a doença.[16]          “Existem ainda outros tipos de delírio, como por exemplo, o erotomaníaco, em que a pessoa acredita que outra pessoa, geralmente famosa, está apaixonada por ela, o somático, em que há crenças sobre sensações corporais alteradas, além de outros, como o místico ou de vingança”.[17] 

  

 

Os cuidados que devemos ter


          Não estamos lidando com uma pessoa normal, por isso, todo cuidado é pouco. Se não tivermos cuidado, vamos nos envolver em um grande problema, com consequências terríveis. 

          Não é tão fácil identificar uma pessoa em delírio, ainda mais no meio do avivamento, onde ocorrem manifestações espirituais, manifestações demoníacas e manifestações psíquicas. Temos a tendência de não querer questionar nada pois temos medo de atrapalhar a obra do Espírito e ser pedra de tropeço. 

          Mas uma pessoa em delírio pode atrapalhar a obra do Espírito e trazer grande dano à igreja. Por isso, devemos ter o máximo de cuidado especialmente, a liderança da igreja. 

          Esse problema aconteceu na Igreja Primitiva e nem os apóstolos puderam ter um discernimento no momento. 

         Após o sepultamento de Jesus, dois varões com vestes resplandecentes apareceram a Maria Madalena, Joana, Maria e outras mulheres, dizendo que Jesus havia ressuscitado. 

        Elas foram dizer aos apóstolos, mas “tais palavras lhes pareciam um como delírio, e não acreditavam nelas” (Lc 24.11). Só Pedro acreditou e foi ao sepulcro (Lc 24.12).

          Por outro lado, se descobrirmos uma pessoa doente assim em nosso meio, nem sempre é fácil tratar desse assunto, pois como explicar o afastamento de alguém do ministério ou até da liderança? Há, geralmente, toda uma burocracia. 

          Também querer aconselhar ou mesmo orar e repreender demônios numa pessoa em delírio é complicado. Ela não reage às orações, ao contrário, pode nos ver como inimigos. 

          Certa vez, fui a uma casa dar atendimento pastoral a um casal que passava por delírios (não sabia que era delírio) e tive muitas dificuldades. O casal estava sentado e vi a janela do apartamento aberta. Por questão de segurança, fui fechá-la. Imediatamente, um deles correu em minha direção e me agarrou com violência. No mínimo deve ter imaginado que eu iria pular da janela. Neste caso, o doente era eu. Com calma, pedi para me largar, o que aconteceu. 

          Temos que ter prudência. 

          Talvez, por isso, Paulo disse a Tito: “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida e vive pecando, e por isso mesmo está condenada” (Tt 3.10-11). Pessoas que não querem saber de ouvir e obedecer. 

          Diferente é orar e aconselhar um neurótico, uma pessoa com insegurança ou abalada emocionalmente. Geralmente, essa pessoa está pronta para receber ministração, pois inclusive precisa de atenção. 

          A mesma coisa acontece com uma pessoa possessa. Ao repreendermos, ao “amarrarmos” o demônio há uma obediência à autoridade exercida, mas o mesmo não ocorre com o doente delirante. 

          Um demônio pode trazer loucura a alguém. Foi o caso do Geraseno que vivia em sepulcros; era violento e tinha uma legião (Mc 5.1-14). Quando ele foi liberto passou a viver em “perfeito juízo” (Mc 5.15); neste caso, era possessão e não apenas um delírio. 

          Devemos ter cuidado em pedir algo ao doente delirante, pois ele pode fazer certas concessões e mais tarde dizer que não o fez. Uma pessoa em delírio permitiu que um jovem retirasse livros e quadros de sua casa, pois eles estariam trazendo influências negativas na casa. 

         Contudo, após a cura da pessoa, ela veio cobrar os livros e os quadros. Disse que não se lembrava de tê-los dado. Ainda cobrou uma outra peça que teria sumido da casa. 

          O melhor é chamar um profissional ou internar a pessoa, pois ela já não está mais no nível racional e, por isso, não poderá decidir ou entender a ministração. Não é questão de deixar tudo nas mãos de especialistas. 

         Devemos interceder ao Senhor e pedir a misericórdia de Deus. Uma pessoa assim precisa sair do seu ambiente e tomar certos medicamentos, principalmente ser for um delírio persistente. 

          Uma pessoa doente assim tem a misericórdia de Deus. Vamos ver o caso do profeta Jonas. Se observarmos atentamente, Deus procurou tratar do profeta que tinha algumas ideias absurdas: “pensar que poderia fugir da presença de Deus” (Jn 1.3); pedir aos marinheiros para jogá-lo ao mar (Jn 1.12); ter desgosto porque o Senhor se arrependeu de destruir Nínive (Jn 4.1-2); pedir ao Senhor para tirar a sua vida (Jn 4.3); ter compaixão de uma planta e não ter dos moradores de Nínive (Jn 4.6-11) etc. 

          Por esses dados acima mencionados, vemos que Jonas não estava com um raciocínio normal de acordo com o padrão bíblico. 

          O Senhor sempre procurou trazê-lo à razão: “É razoável essa tua ira?” (Jn 4.4). 

          Em outra ocasião, o Senhor voltou a lhe dizer: “É razoável essa tua ira por causa da planta?” (Jn 4.9). 

          Jonas não estava bem, pois respondeu ao Senhor: “É razoável a minha ira até a morte” (Jn 4.9). 

          O argumento do Senhor foi lógico: “Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer; que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que há mais de cento e vinte mil pessoas...?” (Jn 4.10-11). Vemos aqui que o diálogo tranquilo é necessário. 

          O Senhor quer nos fazer voltar à razão. Quando o subconsciente ou o inconsciente dominam, então, fica difícil fazer voltar à razão. O psicólogo C. G. Jung, disse: “Se o inconsciente dominar a consciência, desenvolver-se-á um estado psicótico” (O Eu e o Inconsciente, p. 17). 

          A psicóloga Mônica Genn Cruz, fala das providências que devemos tomar em relação a um doente psicótico: 

·     Orar pedindo a misericórdia de Deus;

·     Tratá-lo com respeito e carinho;

· Procurar levá-lo a tomar os medicamentos em casa. A medicação é fundamental. Só ela pode, de início, tirá-lo do delírio;

·     Se ele não aceitar, a internação é a última, mas a necessária saída;

·     Orar com ele para que se acalme e tenha paz;

·     Ocupar seu tempo ocioso com tarefas úteis e na qual se sinta bem em estar ajudando;

·     Na prática de esportes, o processo de cura será ainda mais rápido. 

          A psicóloga afirma: “Aqueles que conseguem fazer atividades, juntamente com medicamentos, saem mais rápido do surto”. 

          Não devemos nunca pressionar um doente delirante com as nossas verdades. Ele partirá sempre do raciocínio que está correto e que nós somos seus inimigos. As reações do doente poderão ser radicais e absurdas. 

          Num estado psicótico, a pessoa passa a viver num mundo irreal, de fantasias, sem condições de responder de uma forma racional. Isso pode acontecer com qualquer um, especialmente quem já tem uma “disposição delirante” dentro de si. Isso é, ela herdou dos seus antepassados e através dos problemas da vida males psicológicos que criaram um terreno fértil para o desenvolvimento de enfermidades emocionais. 

          Como o Senhor teve muito cuidado com o profeta Jonas, devemos fazer o mesmo com as pessoas ao percebermos que têm problemas emocionais. Elas precisam de carinho e amor. O “toque” é fundamental. 

          O livro de Jonas não nos dá uma resposta final. Tudo indica que Jonas não modificou seu pensamento. 

          Nem por isso o Senhor deixou de amá-lo. Ele só não pode ser usado de uma forma plena, pois não estava totalmente são. 

          Jesus veio para trazer vida em abundância. Ele procurou nos deixar a paz (Jo 14.27). Um doente tem perturbação. A paz significa um estado de espírito de tranquilidade, equilíbrio, confiança, saúde. 

          Por isso, a paz é tão importante. Paulo em todas as suas cartas fala e saúda a todos com “graça e paz”. Jesus disse para os apóstolos transmitirem a paz. Quando Jesus ressuscitou, Ele declarou: “Paz seja convosco” (Jo 20.21). 

          Os transtornos psicóticos são classificados como transtornos agudos e transitórios e transtornos persistentes. O início agudo é “definido  como uma mudança de um estado sem sintomas psicóticos para um estado psicótico claramente anormal dentro de um período de duas semanas, ou menos.” [18] 

          Esse transtorno ocorre dentro de duas semanas de um ou mais eventos que poderiam ser considerados estressantes, como: “luto, perda inesperada de parceiros ou emprego, casamento ou o trauma psicológico de combate, terrorismo e tortura.”[19] 

          Num dos casos que precisei cuidar, o membro da Igreja entrou nesse estado psicótico porque havia cometido adultério e precisou fazer um aborto. A culpa, o estresse e o medo a levaram para esse transtorno psicótico. 

          O transtorno psicótico persistente ocorre quando no período de dois a três meses o doente não tem recuperação completa. 

          Um fato importante a observar é que o delírio pode ser induzido. Neste caso, “somente uma pessoa sofre de um transtorno psicótico genuíno; os delírios são induzidos nos outros e usualmente desaparecem quando as pessoas são separadas.”[20] Esse delírio induzido ocorre com pessoas que mantém laços emocionais íntimos.

          Sei da influência que um doente delirante teve em uma igreja; conseguiu conquistar a amizade de várias mulheres que tinham o mesmo problema: eram separadas ou tinham trauma de separação em família. Quando teve um “surto psicótico,” algumas delas foram profundamente afetadas a ponto de falarem a mesma linguagem. Com o passar do tempo, algumas delas voltaram à normalidade, especialmente porque não estiveram mais juntas. 

          De que o diabo está por trás disso, não temos dúvida. Inclusive, no caso citado acima, algumas pessoas da igreja tiveram revelação de Deus de existir uma pessoa na Igreja fazendo o maior transtorno, confusão. 

          O interessante é que também algumas pessoas, pelo menos duas, tiveram antes a revelação de que havia sido feita "macumbaria" contra a Igreja. 

          Como a Igreja é de Deus e houve intensa intercessão das pessoas simples e espirituais, o diabo não conseguiu seu intento. Seu plano era destruir o líder, sua família e dividir a Igreja. 

          Ficou evidenciado nesse fato que as leis da Igreja favorecem o doente delirante. Permitem a acusação e o desmerecimento do líder da Igreja. Em nenhum momento se pensou em levar o doente para ser analisado por um psicólogo, mas se permitiu que o líder fosse humilhado. 

          Só pela graça de Deus e Seu grande poder, o intento de Satanás não foi alcançado. Talvez, por isso, Paulo tenha nos alertado: “mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam corrompidas as vossas mentes” (2Co 11.3). Talvez, por isso, Paulo também tenha nos alertado: “Tolerais quem vos escravize, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto” (2Co 11.20). 

          Foi preciso ir até a cruz para que a vitória viesse. E como é necessário ir até a cruz. Foi ali que Jesus, pelo seu sangue, derrotou os principados (Cl 2.15). 

          Esse é um caso muito mais difícil do que possessão. A luta é nas regiões celestiais (Ef 2.1); pela intercessão e crucificação da carne é que a vitória vem. 

 

 

O que é uma pessoa emocionalmente saudável  

 

          O ditado popular diz que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. Paulo chega a falar da sua “loucura” (2Co 11.1,17) na sua humildade. 

        Biblicamente, sabemos que o pecado distorceu a criação de Deus, inclusive atingiu o ser humano destruindo em parte a imagem de Deus em sua vida. 

        Deus criou o ser humano perfeito: “Criou Deus, pois o homem à sua imagem e semelhança o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.27). 

Isto significa ser criado com raciocínio; capacidade de amar; capacidade moral; capacidade de evoluir, crescer; capacidade de decidir por si próprio - livre arbítrio. 

          Com o pecado, o ser humano tem se tornado anormal: tem odiado; tem usado indevidamente a liberdade; tem regredido em sensibilidade; tem tido imoralidade etc. 

          O propósito do Senhor é restaurar todas as coisas: “(...) até aos tempos da restauração de todas as coisas” (At 2.21). 

         Paulo fala da esperança “de que a própria criação será redimida da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.21).

          O propósito do Senhor é  nos levar a ser  novamente imagem e semelhança de Jesus: “... predestinou para serem conformes à imagem do Seu Filho” (Rm 8.29). 

          As principais marcas do caráter de Jesus que devemos ter são: 

1.  Humildade (Fp 2.5-8);

 

2.  Intimidade com o Pai (Jo 17.1-2);

 

3.  Amar com um amor de doação (Jo 17.26; Ef 5.2);

 

4.  Perdoar aos que nos ofendem (Ef 4.32);

 

5.  Ter autoridade frente as trevas (Jo 17.2; Lc 9.1; Mc 1.27);

 

6.  Ter plena submissão e confiança no poder de Deus (Jo 16.32; 16.25-28). 

          A psicóloga cristã Cristina Sodré Dória fala das características de uma pessoa normal: 

·     Ter maturidade para doação de si e amar com um amor de transformação;

 

·     Ter segurança - capacidade de assumir compromissos e responder por eles;

 

·     Capacidade de lidar com a sua realidade interna sem depreciação e nem super- valorização;

 

·     Capacidade de trabalhar para transformar o mundo. 

          Ela resume assim: “Normal é o processo de ajustamento que permite o homem tornar-se mais HOMEM”.[21] 

          Se olharmos atentamente, vamos verificar em nossa vida e na vida de nossos amigos marcas neuróticas de anormalidade. 

          O caminho para chegar à perfeição nem sempre é fácil. Temos bloqueios, mecanismos de defesa, traumas, doenças às quais nos acostumamos, que nos impedem de crescer e amadurecer. 

          O pior é que confundimos autoritarismo e megalomania com capacidade de administrar; confundimos visões fruto de delírio com revelação do Espírito Santo. Confundimos porque nos falta conhecimento e discernimento. 

          A Igreja tem que ter consciência de que há um propósito na missão. O propósito é evangelizar, libertar, restaurar, por em liberdade os oprimidos (Lc 4.18). 

          O propósito do Senhor é sarar a terra, sarar o ser humano, sarar a Israel (Os 7.1). O pecado é uma doença. O Senhor quer curar as doenças da nossa alma: “... tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava” (Os 11.3). O Senhor tem atraído com laços de amor para restaurar plenamente o ser humano. 

          Ele estabeleceu a Igreja para levar ao aperfeiçoamento os santos (Ef 4.12). O objetivo final é levar “a perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). 

          Mas a igreja nos dias atuais tem precisado ser curada de suas doenças. Certa vez, participei de uma Igreja em que havia uma reunião de Neuróticos Anônimos. Algumas vezes, fui a essa reunião como pastor. Às vezes, eu me perguntava quem eram os neuróticos e quem era a igreja, pois nas reuniões dos neuróticos havia franqueza, sinceridade, desejo de cura, humildade, mas nas reuniões da igreja havia falsidade, fofoca, desunião e soberba. 

          Pela graça de Deus, essa situação mudou nessa igreja, mas certamente existe em muitos lugares ainda Igrejas que devem ser instrumento de cura e vivem cheias de pessoas doentes. A mesma resposta que o Senhor deu a Salomão continua valendo para os nossos dias: “... se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Co 7.14). 

          A oração do profeta Habacuque também continua sendo necessária: “Aviva a Tua obra, ó Senhor...” (Hb 3.2). 

          Tenho percebido que algumas igrejas locais trazem maldição por causa de pecados graves cometidos no passado. Em sua história há algo que não foi resolvido, como injustiças contra seus pastores e membros. Deus abençoa, por causa de Sua fidelidade, os que O buscam de todo coração, mas poderia abençoar muito mais, principalmente, se praticássemos a resposta que o Senhor deu a Salomão em 2 Crônicas 7.14. 

          Por causa das injustiças em Corinto, Paulo disse: “É por isso mesmo que muitos de vocês estão doentes e fracos, e alguns já morreram” (1Co 11.34). 

Você acredita nisso? 

 

 

O caminho para a normalidade humana 

 

 

Paulo é enfático sobre o caminho: “E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente” (1Co 13.1). O amor é o caminho para a normalidade humana. 

Por isso, ele diz: “O amor é paciente, benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses; não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1Co 13.4-6). 

          Vemos aqui marcas do caráter de Cristo, que o cristão deve ter: paciência, benignidade, regozijo com a verdade etc. 

          A pessoa que tem esse amor que é colocado pelo Espírito Santo não tem soberba, ciúme, não tem ressentimento, não é interesseiro etc. 

          Uma criança criada em um lar cheio de amor, equilíbrio, na presença de Deus, com diálogo, respeito, apoio, fortalecimento, exercício de perdão, estímulo, união etc., crescerá de uma forma sadia. 

         Esse é o caminho para a normalidade cristã. Se os seus antepassados agiram da mesma forma, jamais essa criança tenderá para os delírios, as psicoses, pois o terreno em seu interior é fértil em saúde emocional, espiritual, sentimental. 

          Por isso, Paulo também diz: “andai em amor, como também Cristo vos amou” (Ef 5.1). Por isso, devemos também caminhar para “conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef 3.19). 

          O amor é o remédio para a cura das neuroses, insegurança: “... o amor cobre todas as transgressões” (Pv 10.12). 

          O caminho é Jesus, que é amor. Nele somos perdoados, restaurados, fortalecidos, capacitados. 

          Há pessoas, contudo, que não tiveram uma infância sadia. Foram agredidas, feridas, marcadas negativamente. Trazem traumas, marcas profundas em seu interior. São impedidas de crescerem e viverem uma vida normal. 

          Precisam de ministração de cura interior em seus corações; precisam do profundo amor e apoio dos conselheiros da Igreja; precisam de perseverança para que superem suas dificuldades internas. 

          Essas pessoas precisam ser batizadas pelo amor de Deus (Rm 5.5). 

          Quando o doente está num estado psicótico (fora do mundo real) deve haver atendimento também de um profissional da área, pois precisará possivelmente de medicamento e internação. 

         Quando o doente está apenas no estado neurótico (insegurança, carência, fobia etc), então é mais fácil aos líderes espirituais ministrarem a cura, pois ele pode responder e reagir às ministrações. Embora há casos difíceis que também precisam de acompanhamento de um profissional da área. 

          O processo de cura interior, às vezes, é demorado e penoso, mas é necessário. O amor será o principal remédio para a cura das feridas e crescimento para alcançar uma perfeita normalidade. 

          O Senhor tem transportado do império das trevas para o Reino do Filho do Seu amor (Cl 1.13). 

          A história de Zaqueu nos mostra claramente que ele tinha um mecanismo de defesa. Por ser de pequena estatura (Lc 19.3), procurou ter uma profissão na qual pudesse ser o maioral (Lc 19.2). Contudo, o vazio em seu coração continuava e ele só conseguiu arranjar opositores. Era um publicano, que tinha um péssimo conceito naquela época. 

          O sentimento de rejeição era grande em Zaqueu. Provavelmente, ele teve seus delírios. Mas o amor de Jesus o alcançou. O Senhor teve grande consideração por Zaqueu. Chamou-o pelo nome e disse que desejava ir dormir em sua casa (Lc 19.5). Zaqueu se sentiu amado, reconhecido como ser humano. Resolveu restituir o que tinha roubado e dar aos pobres a metade de seus bens (Lc 19.8). 

          O amor a Zaqueu foi o caminho para a restauração de pessoas que são doentes emocionalmente. 

          Para os que estão doentes emocionalmente, o caminho para alcançar a normalidade é este: 

          Tomar consciência de que é enfermo. Isso é algo que muitos não querem admitir. Continuam assim, doentes. O Espírito Santo trabalha para que sejamos convencidos dos nossos pecados e da doença. 

         Foi o que aconteceu com Pedro. Ele tinha preconceitos e tomou consciência deles (At 10.9-28). Por isso Pedro pôde ser usado plenamente por Deus (At 10.44-48). 

          Só tomar consciência não basta. Já é um passo importante, pois trazemos à luz e diante do Senhor as nossas falhas. Precisamos retirar não só as dores e os sintomas. Precisamos tirar, cortar a raiz. 

          Como diz Wesley, avivalista do século XVIII, devemos investigar se não temos pecado interior, que como raiz de amargura, brote e traga trevas ao nosso viver diário. 

          Às vezes, as causas são rejeição, trauma, herança de costumes e males psicológicos, oferendas a espíritos etc. 

          Sabendo a origem é mais fácil eliminar o mal. O Espírito Santo revela a causa e Jesus restaura o interior retirando os dardos. Wesley dizia que uma ferida não pode ser curada enquanto o dardo estiver encravado na carne. 

          Nós temos um depósito dentro de nós. Temos um arquivo com todos os dados, fatos que aconteceram na nossa vida desde o útero materno. 

         Ainda trazemos registros dos nossos antepassados, como diz a psicóloga cristã Renate Jost de Moraes em seu livro “As Chaves do Inconsciente”: “(...) é importante frisar que o inconsciente dos ancestrais faz parte do nosso inconsciente e que está em atividade dentro de nós; não é um arquivo morto.”[22] 

          Por exemplo, uma jovem senhora sofria de uma dor violenta em suas costas, principalmente quando pegava em uma faca. Ela foi a várias igrejas e recebeu ministração de diversas pessoas. 

          Aparentemente era curada, mas logo o problema voltava. Quando veio para eu orar por ela, procurei entender o seu problema e intercedi por ela. Imediatamente, ela começou a sentir uma dor imensa em suas costas e passou a gritar, quase perdendo o fôlego. Pensei que era demônio e repreendi, mas tudo continuava o mesmo, até que ela se acalmou. 

          Entendi que aquilo era algo mais sério. Numa outra ministração, agora de cura interior, o Espírito do Senhor mostrou a causa: seu pai havia apanhado um dia do avô com um facão nas costas. Sua dor foi imensa. Esse registro passou para a filha, que na época nem era nascida. Ela não havia conhecido o avô e, mesmo assim, tinha um ódio muito grande dele. Ela viu toda a cena e o Senhor eliminou o mal. Ela perdoou o avô e nunca mais teve a dor. 

          As heranças negativas foram rompidas e os inimigos da sua alma foram expulsos. 

          Por fim, além de eliminar essas heranças negativas, é necessário ter a “circuncisão do coração”, como Wesley diz. Implica na purificação dos pecados e em ser dotado das virtudes que há em Cristo. 

       Assim, a pessoa é dotada da humildade, mansidão, paciência, pensamentos puros, exatamente como Jesus é.

      Isso é obra do Espírito Santo. Sua alma fica toda cheia de amor, fé poderosa, bem como de forte esperança. 

          Temos que caminhar até a cruz para sermos vitoriosos e alcançarmos a normalidade cristã. 

       Uma vida de amor a Deus, ao próximo e a nós mesmos traz saúde emocional. 

         Uma vida de perdão, inclusive perdoando a si próprio, elimina a culpa e traz saúde emocional. 

         Uma vida em comunhão e serviço a Deus e ao próximo, numa entrega sem fazer barganha, traz saúde emocional. 

         Uma vida simples, curtindo a natureza, as pequenas coisas e deixando para trás o que é negativo, traz saúde emocional. 

          Uma vida de fé na certeza de que Deus nos ama, traz saúde emocional.



[1] L. F. Barros, “Saudável loucura”, Revista Veja, 11/9/96, p. 10.

[2] Idem.

[3] Idem.

[4] https://www.tuasaude.com/o-que-e-delirio/

[5] Isaías Paim em Curso de Psicopatologia.

[6] Idem.

[7] Idem.

[8] Catatimia - Perturbação psíquica, ou mental, capaz de turvar o raciocínio do doente de modo a impossibilitá-lo de fazer bons julgamentos. Pg. 379 - Dicionário Brasileiro da Língua Brasileira - E. B. do Brasil.

[9] Isaías Paim em Curso de Psicopatologia.

[10] Isaías Paim, idem.

[11] PAIM, Isaias. Curso de Psicopatologia. Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 1969. Conferir também https://www.tuasaude.com/o-que-e-delirio/

[12] https://www.tuasaude.com/o-que-e-delirio/

[13] PAIM, Isaias. Curso de Psicopatologia. Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 1969. Conferir também https://www.tuasaude.com/o-que-e-delirio/

[14] https://psicoativo.com/2016/01/delirio-de-grandeza.html

[15] Idem.

[16] Para melhor orientação, veja: https://www.minhavida.com.br/saude/temas/delirio

[17] https://www.tuasaude.com/o-que-e-delirio/

[18] Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, Organização Mundial de Saúde, 1993, p. 98.

[19] Organização Mundial de Saúde.

[20] Organização Mundial de Saúde, p.103.

[21] Psicologia do Ajustamento Neurótico, p. 25. 

[22] MORAES, Renate Jost. As chaves do Inconsciente. Rio de Janeiro, Agir, 7ª edição, 1992, p.57

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