Um jovem missionário entre os canibais de Fiji


Através do ministério de John Hunt, líderes canibais se converteram

 

 

Odilon Massolar Chaves

  


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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor

   


Esperamos semear em lágrimas com a mesma confiança que colher em alegria, portanto, provações e privações são palavras raramente usadas por nós e são consideradas muito mais pelos queridos amigos em casa do que por nós mesmos.”[1]

John Hunt



Índice

 

·       Introdução

·       Uma figura importante na evangelização de Fiji

·       O metodismo em Fiji

·       A infância e os estudos de John Hunt

·       Início do seu ministério em Fiji

·       Seu ministério vitorioso em Viwa

·       Seu ministério junto aos reis canibais

·       O legado de John Hunt

 


Introdução

 

“Um jovem missionário entre os canibais de Fiji”. Através do ministério de John Hunt líderes canibais se converteram.

Foi um ministério improvável. Foi uma missão que mudou de rumo e foi parar em Fiji.

Foi um início muito difícil. Foi para uma nova ilha onde teve que enfrentar às ameaças de canibais, o chefe guerreiro Varani e o rei Cakobal.

A morte de seus filhos não os impediu de continuar a árdua missão de conversão de canibais.

Traduziu o novo Testamento que ainda hoje é usado em Fiji. Havia iniciado a tradução do Antigo Testamento.

Seu curto ministério deu início a um avivamento que varreu muitas ilhas de Fiji. Guerreiros, líderes, rainha e um rei se converteram.

Seu trabalho missionário ainda inspira nos dias de hoje sinalizando que é possível sim realizar um ministério impactante.

O Autor


Uma figura importante na evangelização de Fiji

 

Em 1826, os missionários metodistas Hape e Tafetá' saíram do Taiti para evangelizar Fiji e foram detidos em Tonga para ensinar sobre o Deus verdadeiro.

Josua Mateinaniu de Fulaga foi uma figura importante para evangelizar Fiji.

Josua Mateinaniu de Fulaga pertencia a principal família de Vulanga, uma ilha ao sul de Lakemba, Fiji.

Era um chefe em Fiji, um andarilho, um marinheiro. Um dia foi até as ilhas de Tonga para ensinar uma dança e canção Fiji chamada wesi. Nunca cumpriu seu projeto, pois os missionários o ensinaram a cantar as canções de Sião.

Ele se converteu em Vava'u em 1834.

Depois de sua conversão, ele passou a ser um pregador local e acompanhou os missionários Cruz e Cargill para ajudá-los na pregação das boas novas de salvação.

Em 1835, Josua Mateinaniu de Fulaga facilitou a entrada dos primeiros missionários metodistas wesleyanos David Cargill e William Cross em Lakeba, Fiji. 

Em 1835 “os missionários metodistas William Cross e o reverendo David Cargill, junto com suas esposas e uma equipe de professores tonganeses desembarcaram em Lekeba, Lau. A conversão dos chefes foi o maior obstáculo para o sucesso, e assim a missão espalhou sua influência dispersando amplamente missionários ingleses e professores tonganeses e fijianos”.[2]

Josua Mateinaniu de Fulaga ajudou os missionários no idioma para a missão em Fiji. Era educado e de alto status em Fiji. Ele pregou com sucesso entre os tonganeses. Era de poucas palavras e grande humildade. Trabalhador disposto, fiel e zeloso no cumprimento de seu dever.

Foi honrado por Deus como instrumento do bem e agente subordinado da Missão em Fiji.

Ele foi enviado como missionário para os Tongueses e pregou em Bau muito antes dos missionários. Na época da morte de John Hunt, ele estava em Viwa com sua esposa cuidando da alimentação da família de Hunt durante sua doença.

Em setembro de 1836, depois de dez meses, Josua voltou a Lakeba e participou no domingo da pequena capela com uma congregação de 300 ou 400 Tongueses.

Muitos deles abraçaram a fé através de Josua. No ano de 1836, na Missão de Fiji, em Lakemba, os cultos tiveram boa participação, as escolas prosperaram e houve conversão.

Em 20 de março, trinta e dois adultos e vinte e três filhos foram batizados. Hoje, uma das quatro casas na Lelean Memorial School, uma das maiores escolas de Fiji, gerido pela Igreja Metodista, é nomeada em honra de Mateinaniu.[3] 

 


O metodismo em Fiji

 

A República de Fiji é um país insular da Oceania, composto por 332 ilhas no Oceano Pacífico. Um terço são desabitadas. As duas ilhas mais importantes são Viti Levu e Vanua Levu.[4]

Fiji tem uma das economias mais desenvolvidas do Pacífico devido à abundância de recursos florestais, minerais e pesqueiros.[5]

A política das Fiji normalmente ocorre no quadro de uma república democrática parlamentar representativa, em que o primeiro-ministro de Fiji é o chefe de governo e o presidente é o chefe de Estado, onde há um sistema multipartidário.[6]

Em Fiji, 54,3% são fijianos e os indianos são 38,1%. Cerca de 57% da população são cristãos; 34% hinduísta e 7% é islâmica. [7]

O cristianismo foi introduzido em Fiji em 1830 por três professores taitianos da Sociedade Missionária de Londres.

A inciativa missionária foi da Sociedade Missionária Wesleyana sediada na Austrália que começou a trabalhar em Lakeba, nas Ilhas Lau, “em 12 de outubro de 1835 sob David Cargill e William Cross, junto com alguns tonganeses. A conversão de muitos chefes proeminentes, incluindo Seru Epenisa Cakobau, em 1854, levou à conversão de grande parte da população”.[8]

Missionários metodistas, William Cross e David Cargill, chegaram a Lakeba. Eles foram acompanhados por emissários de Taufa'ahau, o alto chefe tonganês, e por Josua Mateinaniu, um fijiano de Vulaga que se converteu em Vava'u em 1834.

Com a conversão, em 1845, de Ratu Ravisa (Varani), chefe de Viwa, influenciado pelo ministério do Rev. John Hunt, as portas se abriram para o cristianismo.

 Varani foi o primeiro missionário Fijiano significativo entre as ilhas e uma forte influência contracultural sobre Ratu Seru Cakobau, proeminente entre os chefes guerreiros de Fiji”.[9]

Hoje, 36% da população de Fiji são metodistas. Um dos primeiros livros sobre a Missão de John Hunt entre os canibais foi escrito em 1859 por George Stringer Rowe.

A Igreja Metodista de Fiji e Rotuma “tem 2.860 congregações servidas por 430 pastores. Administrativamente, a igreja é dividida em 338 circuitos e 56 divisões. Sua contagem de membros mais recente é de 212.860”.[10]

Em 1964, a Igreja alcançou a sua Autonomia. Dede 1976, é membro do Conselho Mundial de Igrejas da Conferência de Igrejas do Pacífico, do Conselho de Igrejas de Fiji e do Conselho Metodista Mundial.

A Igreja condenou veementemente um golpe militar ocorrido em 2006.

“Junto com o sistema de chefia e o governo de Fiji, a Igreja Metodista é uma parte fundamental da estrutura de poder social de Fiji. O Presidente da Igreja, que deve ter sido um Ministro ordenado por pelo menos dez anos, é eleito na conferência anual para um mandato não superior a três anos. Tevita Nawadra Banivanua foi eleito Presidente da Igreja na conferência anual de 2014 e assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2015. Ele sucedeu Tuikilakila Waqairatu”.[11]

Em 2021, o reverendo Ili Vunisuwai foi eleito  o novo presidente da igreja. O reverendo Iliesa Naivalu sucedeu ao reverendo Vunisuwai como secretário geral.[12] 


A infância e os estudos de John Hunt

 

John Hunt (1812-1848) nasceu em Hykeham Moor perto de Lincoln, Lincolnshire, na Inglaterra. Era filho de pais analfabetos e sem religião.

“Hunt nasceu em 13 de junho de 1812 em Hykeham Moor, perto de Lincoln, Inglaterra, como o terceiro filho de um oficial de justiça de uma fazenda e sua esposa, ambos analfabetos” [13]

Era o terceiro de quatro filhos. Hunt passou os primeiros anos em uma fazenda supervisionada por seu pai.

Foi educado numa escola paroquial e foi trabalhador rural.[14]

John Hunt “acreditava que Deus ouvia orações. Ele orou por sua proteção contra as coisas que o deixavam com medo - cães, ciganos e trovões. À medida que envelhecia, ele se afastou da fé. Sua falta de jeito foi ridicularizada. Garotos de fazenda mais práticos o insultavam como um idiota. Ele caiu em companhia de companheiros rudes. Às vezes, ele prometia ao Senhor que mudaria, mas não manteve sua palavra”.[15]

Aos 16 anos, adoeceu parecia que iria morrer. Ele melhorou e passou a frequentar uma capela metodista. Passou a ler a Bíblia e livros religiosos em seu tempo livre e falou a uma congregação local. “Os amigos o encorajaram a pregar, mas ele não tinha certeza. Ele orou fervorosamente para saber o que Deus esperava que ele fizesse, até que sua última dúvida desaparecesse”.[16]

Aos dezessete anos, Hunt se converteu ao Metodismo e foi chamado para pregar no Circuito de Lincoln.[17]

“O avivamento estourou quando ele frequentou uma instituição em Londres. Ele começou a pensar no trabalho missionário. A África do Sul era seu objetivo.”[18]

Hunt também pregava para a congregação rural na igreja, com a qual encontrou muitos favores, apesar de sua "aparência um tanto desajeitada".[19]

Foi pregador em Swinderby e Potter Hanworth. Em 1835 começou a estudar na Wesleyan Theological Institution na esperança de se tornar um missionário na África do Sul.

Estudou à noite e trabalhava durante o dia. No seminário estudou “grego e latim e leu folhetos cristãos, incluindo Notas Explicativas sobre o Novo Testamento de John Wesley e Autoconhecimento de John Mason”.

Uma porta se abriu para John Hunt quando em 1838 chegaram dois missionários metodistas de Fiji e relataram sobre o canibalismo existente no país.

“Durante seu segundo ano de estudo, Hunt foi convidado a se juntar à missão chefiada pelo Rev. David Cargill (falecido em 1843) em Fiji”.[20]

Então, “Hunt foi solicitado pela Wesleyan Mission House para se juntar à missão de Fiji ao lado de outros metodistas como James Calvert. Inicialmente relutante em aceitar a oferta por medo de ter que deixar sua namorada de longa data Hannah Summers para trás, Hunt logo começou a confirmar seus planos de viagem depois que ela concordou em acompanhá-lo”.[21]

Hannah Summers nasceu em 1812.

O que se ouvia dos fijianos é que eram ladrões e mentirosos, que matavam seus enfermos e velhos, tratavam as mulheres como bestas de carga, roubavam túmulos para comer cadáveres e estrangulavam ainda as suas esposas quando seus maridos morriam.[22]

“Fisicamente uma raça excelente, os fijianos estavam mergulhados na ignorância, canibalismo, infanticídio, mentira e quase todos os outros vícios e degradação imagináveis. Um homem se gabou de ter comido novecentos corpos de vítimas humanas cozidas”.[23]

Mas Hannah decidiu assim mesmo ir.

Eles se casaram em Newton-on-Trent no dia 6 de março de 1838. John Hunt recebeu sua ordenação na Capela Wesleyana em Hackney em 27 de março de 1838.[24]

Eles tiveram quaro filhos: John (falecido em 1839); Hannah (1843-1845); filha, nome desconhecido (nascida em 1845); e Hannah (nascida em 1847).[25] 

 


Início do seu ministério em Fiji

 

John Hunt e seus companheiros missionários foram ordenados em 27 de março de 1738 em Londres e partiram pra a Austrália em 29 de abril do mesmo ano. Eles chegaram à Sidney, Australia, em 24 de agosto.

“Os missionários permaneceram na Austrália por cerca de dois meses, partindo no dia 25 de outubro com o missionário londrino John Williams, que se dirigia para Erromango.] O grupo de Fiji chegou a Lakemba em 22 de dezembro de 1838. Hunt e sua esposa foram imediatamente destacados para Rewa; eles chegaram a Rewa em 7 de janeiro de 1939 e receberam uma audiência com o rei de Rewa no mesmo dia”. [26]

John Hunt ministrou em Rewa, Somosomo, Lakemba e depois em Viwa.[27]

Em Somosomo (1839-1842) e Viwa (1842-1848). 

John Hunt procurou estudar a língua de Fiji. Ele pregou pela primeira vez em 18 de fevereiro de 1839. Um mês depois já podia pregar dois ou três sermões por semana.

“Após cerca de cinco meses em Rewa, Hunt começou a traduzir o Novo Testamento do grego para o fijiano.  Em 29 de julho de 1839, a pedido do rei de Rewa, e junto com outro missionário e suas esposas, Hunt estabeleceu uma missão em Somosomo”.[28]

Foi um início promissor, pois o Rei Tuithakau os recebeu muito bem e eles foram autorizados a residir em uma das residências do Rei.

Mas não tiveram sucesso em converter os nativos de Somosomo durante três anos.

“Hunt pregou e ensinou, advertiu e persuadiu, mas em vão. Nenhum efeito visível foi produzido. Ele, que fora tão bem-sucedido em casa quando jovem, parecia ter pouco poder em Fiji. Na verdade, a selvageria parecia aumentar. Onze mortos foram devorados bem em frente à casa da missão. Mais uma vez, dezesseis mulheres foram massacradas a menos de vinte metros da porta da missão. Cerimônias bárbaras eram realizadas continuamente, e os fornos para esse propósito terrível ficavam tão perto da casa dos missionários que o fedor era insuportável, e ainda, se as portas fossem fechadas, os missionários eram ameaçados com a raiva do rei e possivelmente com a morte”.[29]

Tudo isso, contudo, não o desanimou. Sua forte convicção, determinação e dedicação o levaram a dizer: “Esperamos semear em lágrimas com a mesma confiança que colher em alegria, portanto, provações e privações são palavras raramente usadas por nós e são consideradas muito mais pelos queridos amigos em casa do que por nós mesmos.”[30]

 


Seu ministério vitorioso em Viwa

 

John Hunt e sua esposa Hannah foram então para a Ilha de Viwa. Chegaram em 30 de agosto de 1842.

Viwa é uma das pequenas ilhotas de Viti Levu, na grande Fiji.

Na época de John Hunt, tinha grande importância política. Oferecia grandes vantagens como posto de missão. A ilha era comandada por Varani, temível guerreiro canibal.

John Hunt conseguiu converter diversas pessoas, inclusive a Rainha de Viwa.

Mas o trabalho missionário foi árduo e sofrido. John Hunt e sua esposa Hannah tiveram que suportar atrocidades de canibalismo. Três dos seus filhos morreram logo após o nascimento.

Varani, chefe canibal o ameaçou de morte.

Quando Varani queimava os corpos para comer, John Hunt fechava a janela por causa do cheio insuportável. Varani ordenou que abrissem as janelas, caso contrário, os iria comer.

Foram tempos muito difíceis. Mas John Hunt não desistiu.

Um avivamento aconteceu e muitas vidas foram transformadas. Só na primeira semana, cem se converteram. Os tapetes da capela ficavam molhados com suas lágrimas. A rainha de Viwa também se converteu.

Multidões se reuniram para ouvir e aceitar o Evangelho. Gritos de misericórdia vieram do chefe e dos homens da tribo mais mesquinhos. “Nós Te louvamos, ó Deus. Reconhecemos a Ti como o Senhor ”, cantaram os conversos reunidos. Vez após vez foi ouvido o chamado de coração partido “Jesus, Jesus”, e as esteiras foram manchadas com as lágrimas (...). John Hunt escreveu: “Esta é uma maneira de salvar almas que lança o orgulho do homem para o pó. Gostamos de ter almas salvas em conexão com o uso gradual de meios para que possamos filosoficamente rastrear o evento até sua causa. Mas o bendito Deus sai de nosso caminho normal, despeja desprezo em nossa filosofia, e por meios que nunca deveríamos ter pensado em cumprir Seu próprio propósito. Assim seja, bendito Salvador! Saudamos o dia que amanheceu sobre nós; o dia do Seu poder![31]

John Hunt introduziu em Fiji (1838-1848) ideias ocidentais de educação e medicina, juntamente com os princípios éticos e religiosos do cristianismo.

Ele trabalhou na tradução da Bíblia para a língua nativa, completando o Novo Testamento e iniciando a tradução do Antigo Testamento. Sua tradução do Novo Testamento foi publicada em 1847 e  é utilizada em Fiji.

A conversão do guerreiro canibal Varani, em 1845, foi fundamental para a expansão do cristianismo nas ilhas.

“Hunt passou os últimos seis anos de sua vida na Ilha de Viwa; apesar de sua idade relativamente jovem e "força de ferro", os rigores da vida missionária ainda assim afetaram sua saúde. 

Os fijianos oraram por sua recuperação, oferecendo a Deus que levasse dez deles em vez dele. Mas John estava morrendo. Ele orou com fervorosas orações pela salvação das ilhas Fiji.

Ele morreu, com apenas 36 anos. Hunt morreu em 4 de outubro de 1848. “A causa da morte foi disenteria, que era comum em Fiji na época. Enquanto estava deitado em seu leito de morte, na companhia de sua esposa e James Calvert, Hunt exclamou: "Senhor, abençoe Fiji! Salve Fiji!" Ele então disse suas palavras finais: "Quero força para louvá-lo abundantemente! Aleluia.[32]

John Hunt trabalhou com zelo apostólico e morreu orando por Fiji: “Deus, no amor de Cristo, abençoe Fiji, salve Fiji”. Ele morreu de disenteria, e dez fijianos desejaram dar sua vida em troca da vida de Hunt.  


Seu ministério junto aos reis canibais

 

Evidências arqueológicas provam a existência do canibalismo em Fiji há 2300 anos. Em 1800 era comum a prática do canibalismo com rituais. Os fijianos matavam e comiam seus inimigos de guerra.

“Os corpos das vítimas, tanto homens como mulheres, foram arrastados para o bure kalou (casa espiritual do sacerdote) ao som do tambor da morte. Os homens executaram a dança da morte Cibi e as mulheres a obscena dança Dele ou Wate onde os corpos, vivos ou mortos, foram abusados ​​sexualmente. Os cativos vivos costumavam ser severamente torturados antes de serem mortos”.[33]

O líder religioso oferecia os corpos aos deuses da guerra, que eram “cortados e preparados para o forno com uma faca de bambu. Os corpos eram cozidos em fornos de barro e depois comidos dentro do bure kalou pelos homens do clã. Mulheres e crianças comeriam se houvesse excesso de carne”.[34]

Vunivalu, Ratu Seru Cakobau (1815-1883) foi rei de Fiji e um canibal que comia seus inimigos. Era filho do rei Tãnoa, da ilha de Bau, que não hesitou em comer parentes. Ele havia matado o próprio filho. Outro canibal, Ilaijia Varani, era chefe da ilha Viwa, em Fiji, e aliado de Cakobau. Varani era guerreiro, temido e respeitado como líder.

O missionário inglês John Hunt evangelizava em Fiji e sofreu várias ameaças de Varani. Quando Hunt o ensinou a ler, Varani ficou impressionado com a crucificação de Jesus, no Evangelho de Mateus, traduzido por Hunt. Ele disse que ia se tornar cristão.

“Quando Ratu Varani estava prestes a desistir de seus costumes pagãos, ele enviou uma mensagem a Cakobau sobre sua intenção. Cakobau respondeu que se Varani o fizesse, ele o mataria e comeria. Varani respondeu que embora respeitasse Cakobau, ele temia mais a Deus”.[35]

Na Sexta-feira Santa, 21 de março de 1845, “Varani fez sua profissão pública de fé no serviço de oração da manhã e entrou nas águas do batismo e logo depois foi batizado com seus seguidores pelo Espírito Santo quando um fogo caiu do céu e eles falaram em línguas em Kirici.”[36]

Em 1845, um grande avivamento ocorreu em Viwa. Na primeira semana, cerca de cem pessoas se converteram com choros e arrependimento.

 

Varani se casou com sua esposa principal e foi batizado na Igreja Metodista. Tornou-se um fervoroso discípulo de Cristo, com reais mudanças em sua vida.

 

“Sua temida canoa de guerra de casco duplo chamada Lagolevu costumava pendurar bebês mortos no mastro antes de partir para a guerra e agora era usada para transportar missionários para várias partes de Fiji. Essa canoa é agora o símbolo da Igreja Metodista em Fiji porque Ratu Varani e a canoa contribuíram muito para o trabalho dos primeiros missionários metodistas em Fiji”.[37] 

Varani mudou seu nome para Elias e, sob sua proteção, os missionários conseguiram espalhar o cristianismo. Varani pagou com a própria vida ao se esforçar em levar a paz às tribos das ilhas Lovoni e Levuka que guerreavam entre si.

Em 1853, Ratu Elijah (Varani) foi a Ovalau para acabar com a luta entre os Tui Levuka e rebeldes aldeões das montanhas. Sua intervenção desarmada não teve sucesso. Ele foi atacado e assassinado.

Varani se tornou o primeiro cristão mártir em Fiji.

“No início da década de 1850, Cakobau deu um passo adiante e decidiu declarar guerra a todos os cristãos. Seus planos foram frustrados depois que os missionários em Fiji receberam o apoio dos tonganeses já convertidos e a presença de um navio de guerra britânico”.[38]

Cakobau, na ilha vizinha de Bau, havia ficado impressionado com as pregações e ações de John Hunt. Com a conversão de Varani, ele também se converteu, em 1854. Mudou seu nome para Epenisa (Ebenezer).

Foi batizado na Igreja Metodista e conseguiu unificar as tribos em guerra e criar um reino unido em Fiji, em 1871.[39]

Cakobau, após sua conversão, em 1854, disse: “Eu vi que isso tornava a morte não só fácil, mas triunfante, toda a preocupação de John Hunt era sobre minha conversão, sua esposa logo ficaria viúva e seus filhos órfãos em uma terra de selvagens, ele poderia deixá-los na terra de seu Pai celestial, ele orou por Fiji e por mim, o principal dos pecadores, minha salvação foi a resposta às suas orações finais.”[40]  


O legado de John Hunt

 

John Hunt introduziu em Fiji (1838-1848) ideias ocidentais de educação e medicina, juntamente com os princípios éticos e religiosos do cristianismo.

Em Fiji há o templo “Rev. John Hunt Methodist Church”, em sua homenagem.

O Novo Testamento utilizado em Fiji foi traduzido por John Hunt. Ele havia iniciado a tradução do Antigo Testamento.

 

John Hunt escreveu “Specimens of native Fiji Paper, the Fino and Tongo”, 1847.

 

Publicou ainda o livro “A Missionary Between Cannibals”. Ele também escreveu "Cartas em toda a santificação". 

“O sermão é um volume encadernado que consiste em trinta páginas escritas à mão com tinta. Um título alternativo, "MS Sermão por John Hunt (Zech: VI. 9-15) aparece na primeira página. A data da composição é pensada para ser entre 1829-1848, o tempo desde a conversão de Hunt ao Metodismo até sua morte. O texto retoma o assunto do capítulo 6, versículos 9-15 do Livro de Zacarias”.[41]

John Hunt escreveu ainda: “As Coroas de Josué e o Reino de Cristo”, por volta de 1829-1848, Emory Universit.

Dentre os livros sobre John Hunt, estão:

- John Hunt, apóstolo de Fiji

Autor: Andrew Thornley

Traduzido para o fijiano por Tauga Vulaono.

Publicado pelo Institute of Pacific Studies.

- A Vida e Obra de John Hunt de Viwa, Fiji e a Autobiografia de Joeli Bulu, 1913.

- Vida de John Hunt missionário para os canibais em Fiji

Autor: George Stringer Rowe

- Em sua armadura: a vida de John Hunt de Fiji.

1º de janeiro de 1954

Autor: Allen Birtwhistle

- A inimitável vida de John Hunt, missionário aos canibais

Autor: Rev. George Stringer Rowe

Joseph Nettleton escreveu o livro “John Hunt Missionário Pioneiro e Santo”, em 1906, e afirmou que John Hunt “era uma pessoa de profundo sentimento religioso, cuja beleza de caráter e total devoção causaram forte impacto nos fijianos, mesmo quando eles não aceitavam sua fé. Ele respeitou a cultura de Fiji e aprendeu a conhecê-la bem, reconhecendo suas qualidades boas e ruins. Ele trabalhou para desenvolver formas de adoração que utilizassem os estilos culturais de Fiji”.[42]

Durante a comemoração do 200º aniversário de nascimento de John Hunt, em 13 de junho de 2012, o chefe de Bau, Ratu Epenisa Cakobau, disse que o legado do Rev. Hunt viveu muito depois de sua morte:

“Durante sua vida, ele facilitou a conversão do Ratu Ilaitia Varani de Viwa, que então mudou seu nome para Elijah; isso teve um impacto significativo, pois ele era um aliado próximo de Vunivalu, Ratu Seru Cakobau, o que o levou à conversão”.[43]

 


 



[1] https://www.myprimitivemethodists.org.uk/content/subjects-2/overseas_mission/john_hunt [2] https://donnagawell.com/2018/02/08/when-fiji-was-the-cannibal-isles/ [3] http://broom02.revolvy.com/main/index.php?s=Josua%20Mateinaniuhttps://levuka.wordpress.com/2008/02/18/1835-power-of-fijian-chief-converted-in-tonga-josua-mateinaniu-of-fulaga-eased-the-entry-of-david-cargill-and-william-gross-first-wesleyans-to-lakeba/

https://levuka.wordpress.com/2007/09/30/1835-methodist-missionaries-land-at-lakeba/

https://levuka.wordpress.com/category/tonga/

https www.ebooksread.com/.../page-36-a-history-of-wesle...://levuka.wordpress.com/2009/01/15/missionary-david-cargill-biographical-timeline/

https://en.wikipedia.org/wiki/Lelean_Memorial_School

[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Fiji

[5] Idem.

[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Fiji

[7] Idem.

[8] https://en.wikipedia.org/wiki/Methodist_Church_of_Fiji_and_Rotuma

[9] https://en.wikipedia.org/wiki/Timeline_of_Fijian_history

[10] https://en.wikipedia.org/wiki/Methodist_Church_of_Fiji_and_Rotuma

[11] https://wiki2.org/en/Methodist_Church_of_Fiji_and_Rotuma

[12] https://www.fijitimes.com/methodist-church-of-fiji-elects-new-president/

[14] https://levuka.wordpress.com/2008/02/05/1838-wesleyan-missionaries-john-hunt-and-hannah-summers-in-fiji-description-of-records-held-in-mitchell-library-sydney/

[15] https://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1801-1900/john-hunt-arrived-in-fijis-cannibal-land-11630453.html

[16] https://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1801-1900/john-hunt-arrived-in-fijis-cannibal-land-11630453.html

[18] https://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1801-1900/john-hunt-arrived-in-fijis-cannibal-land-11630453.html

[20] http://pitts.emory.edu/archives/text/mss220.html

[22] https://donnagawell.com/2018/02/08/when-fiji-was-the-cannibal-isles/

[23] https://www.myprimitivemethodists.org.uk/content/subjects-2/overseas_mission/john_hunt

[24] http://pitts.emory.edu/archives/text/mss220.html

[25] http://pitts.emory.edu/archives/text/mss220.htm 

[27] http://pitts.emory.edu/archives/text/mss220.html

[29] https://www.myprimitivemethodists.org.uk/content/subjects-2/overseas_mission/john_hunt

[30] https://www.myprimitivemethodists.org.uk/content/subjects-2/overseas_mission/john_hunt 

[31] https://www.myprimitivemethodists.org.uk/content/subjects-2/overseas_mission/john_hunt 

[33] https://donnagawell.com/2018/02/08/when-fiji-was-the-cannibal-isles/

[34] Idem.

[35] https://www.fijitimes.com.fj/chiefly-island-ties-of-bau-and-viwa/

[36] Idem.

[37] Idem.

[40] https://fijisun.com.fj/2012/06/14/methodists-remember-pioneer-missionary/ 

[41] http://pitts.emory.edu/archives/text/mss220.html 

[42] https://missiology.org.uk/blog/john-hunt-pioneer-missionary-fiji/

[43] https://fijisun.com.fj/2012/06/14/methodists-remember-pioneer-missionary/

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