O legado de um português no ministério pastoral do metodismo
brasileiro
Antonio Cardoso da Fonseca foi um pastor
metodista que se tornou um profeta em tempo de uma ordem social
injusta e opressora
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Odilon
Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História
pela Universidade Metodista de São Paulo.
Sua
tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua
contribuição como paradigma para nossos dias.
Foi
editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia
“Trabalhador eficiente, ocupava lugares
humildes e também os de elevadas responsabilidades como redator do ‘Expositor
Cristão’ e a gerencia da Casa Publicadora Metodista”
(J.L.Kennedy)
Índice
·
Introdução
·
Sua vida e ministério
·
Seu ministério como Redator do Expositor
Cristão
· Momentos difíceis de seu ministério como clérigo itinerante
· Registro do seu falecimento
Introdução
“O legado do primeiro português no
ministério pastoral do metodismo brasileiro” é um livro para honrar a vida e o
ministério do rev. Antonio Cardoso da Fonseca.
Nasceu em Portugal e veio para o Brasil.
Ele e sua esposa se converteram em 1883 e se tornaram membros da Igreja
metodista do Catete.
Foi extremamente dedicado, apesar de
sofrer dores físicas.
Foi perseguido no ministério pastoral pelos
romanistas e abriu caminhos para o metodismo evangelizando em lugares
Era de uma inteligência rara e um grande
estudioso.
Foi duas vezes redator do Expositor
Cristão e escreveu bastante contra o sofrimento dos pobres e descaso do
governo.
Juntamente com Justiniano R. Carvalho, foi um dos primeiros pastores metodistas no Brasil nascido em Portugal.
Seu exemplo de dedicação e de amor ao
metodismo foi imenso. Deixou um grande legado.
O Autor
Sua vida e ministério
“Ao longo da vida, teve enfermidades e sofreu grandes dores, mas continuou enfrentando tudo em seu ministério pastoral”
Antonio Cardoso da Fonseca (1858-1915), nasceu em Portugal. [1]
Ele veio cedo para o Brasil e se converteu, juntamente com sua esposa, tendo sidos recebidos como membros na Igreja Metodista do Catete pelo rev. J.L.Kennedy, em 1883.
Ele fez o curso de quatro anos da Conferencia
Anual Brasileira.
Em 1890, juntamente com outros, foi eleito e ordenado diácono.[2]
Seu primeiro campo de atividade foi o circuito de Palmeiras, em 1890. [3]
“Era dotado de uma inteligência incomum e, ainda que sua biblioteca fosse pequena, contudo sempre procurava ter bons livros e os estudava com avidez”. [4]
Além do ministério pastoral, foi redator do Expositor Cristão e gerente da Casa Publicadora Metodista.
Era uma pessoa pura, leal e de grande
franqueza. Amava a Igreja metodista. Um dos seus filhos, Dr, Josué Cardoso
d’Afonseca, foi professor no Granbery.
Ao longo da vida, teve enfermidades e sofreu grandes dores, mas continuou enfrentando tudo em seu ministério pastoral.
Na Conferência Anual Brasileira de 1892, realizada em Juiz de Fora e presidida pelo Bispo A.W.Wilson, Antonio Cardoso da Fonseca foi recebido, juntamente com outros, à plena conexão.[5]
Clérigo itinerante
Na Conferência Anual Brasileira realizada em 1893, há uma referência de que Antonio Camargo da Fonseca era um clérigo itinerante: “Estiveram presentes os seguintes clérigos itinerantes: “Tilly, Tarboux, Tavares, F.R. de Carvalho (jubilado), A.C. Fonseca”.[6]
Ele serviu como pastor em Sabará, Ouro Preto, Paraiba, Barra Mansa, Petrópolis, Estrada Nova, Vila Isabel, Jardim Botânico, Campo Belo, etc. [7]
Na Conferência Anual de 1895,
foram ordenados presbíteros J.R. de Carvalho, J.E. Tavares, Herman Gartner,
Antonio Cardoso da Fonseca, F.R. de Carvalho.
Conferências
Participava das conferências
da Igreja regularmente, como em 17 de janeiro de 1895, em Juiz de Fora, na Conferência
Distrital de Minas Gerais, e Conferência Distrital de São Paulo, em 28 de
fevereiro de 1895, em Capivary.
Em 1898, na Conferência
Distrital do Rio de Janeiro, em Petrópolis. Na Conferência Anual Brasileira de
1901, no Catete, A.C. da Fonseca foi eleito um dos secretários.
Na Conferência Anual da Missão
Brasileira de 1902, em Juiz de Fora, ele foi eleito secretário de
estatísticas.
Na Conferência Anual Brasileira de 1906, em
Ribeirão preto, foi eleito secretário.
Foi a ultima referência das
atas da Conferência Anual Brasileira ao ministério e atividades de Antonio
Cardoso da Fonseca.
Ordenado presbítero
Na Conferência Anual Brasileira de 1895, em
São Paulo, foi eleito secretário juntamente com H.C.Tucker.
Ele foi recebido “em plena
conexão com a nossa Conferencia Anual”.
Foi ordenado presbítero juntamente
com J.R. de Carvalho, J.E.Tavares, Hermen Garther e R.C.Dickie. [8]
Organizando a Igreja de Ribeirão Preto
No dia 8 de outubro de 1895, A.C. da Fonseca
inaugurou o salão de cultos.
A Igreja foi organizada recebendo 17 membros
por batismo, 4 por profissão de fé e 4 por carta demissoria.
Esteve na Conferencia Distrital do Rio de
Janeiro, em 1896, em Petrópolis.
Seu ministério pastoral foi até 1915 quando
faleceu.
Seu ministério como Redator do Expositor
Cristão
“É desanimador ver o descuido do governo,
quer do federal, quer do
estadual, ou municipal a respeito da
agricultura (...). É revoltante a notável opressão desalmada, lenta e intensiva
com que muitos proprietários tratam seus agregados”.[9]
(Antonio Cardoso da Fonseca)
Antonio Cardoso da Fonseca foi redator do Expositor Cristão por duas vezes.
Seus artigos refletiam a situação social e política em que o Brasil vivia.
Como um profeta, escreveu contra um tempo de injustiças.
A situação brasileira era caótica no final do século XIX. Na seca no Nordeste (1877-1879) morreram cerca de entre 400 e 500 mil pessoas. Outras secas vieram em 1888-1889; 1898, 1900, 1915. Muitos migraram para a Amazônia e Sudeste.[10]
Por causa dessa situação surgiram movimentos místicos e o cangaço com lideranças fortes, que se rebelaram contra uma ordem social injusta e opressora. Antônio Conselheiro (1830-1897)[11] criou uma comunidade, entre 1893-1897, em Canudos, Bahia, com cerca de 25 mil pessoas.
Viviam o sonho de uma vida melhor longe dos coronéis que exploravam o povo. Alguns padres e coronéis viram a popularidade de Antônio Conselheiro e exigiram do Governo uma ação enérgica. Espalharam que ele era uma ameaça à República. Não era uma ameaça real e sim fabricada. Na verdade, ele era um concorrente que deveria ser eliminado.
Havia no Exército militares que se inspiravam na linha dura do ex-presidente Floriano Peixoto. As três primeiras expedições do exército foram derrotadas, entre elas, a do temido coronel Moreira César, que foi derrotado e morto no 1º dia de batalha, em 3 de março de 1897.[12]
Mas na 4ª expedição, o governo mobilizou cerca de 10 mil homens - quase metade do efetivo do exército e policiais militares de Amazonas, Bahia, Pará e São Paulo - comandada pelo General Artur Oscar de Andrade Guimarães.[13]
Mais de 25 mil pessoas morreram, sendo 20 mil sertanejos. Dezenas de jagunços que se entregaram foram degolados pelos soldados. [14]
O arraial de Antônio Conselheiro e o sonho do povo nordestino ver estabelecido o Reino dos céus na terra acabaram no dia 5 de outubro de 1897. O episódio foi relato por Euclides da Cunha em “Os Sertões”.[15]
Em 1908, Antônio Cardoso Fonseca (1858-1915), no Jornal Expositor Cristão, criticou o governo em relação à agricultura:
“É desanimador ver o descuido do governo, quer do federal, quer do estadual, ou municipal a respeito da agricultura (...). É revoltante a notável opressão desalmada, lenta e intensiva com que muitos proprietários tratam seus agregados”.[16]
Quando ele diz que é “revoltante a notável opressão desalmada, lenta e intensiva com que muitos proprietários tratam seus agregados”, Antônio Cardoso Fonseca está falando dos coronéis, dos grandes fazendeiros.
Como o profeta Amós, que surgiu para combater uma ordem social injusta e opressora, assim surgiu Antônio Cardoso Fonseca.
Amós é chamado de profeta da justiça.
“Amós não
é um profeta profissional, elemento do sistema governamental régio. É um profeta
que condena a injustiça social generalizada, denunciando a cobiça desmedida dos
poderosos que aumentam seus privilégios prejudicando os pequenos e traficando
com as necessidades do povo”.[17]
“Não foi o vício que radicou o jogo do bicho nas camadas
pobres, foi também a miséria”
O mesmo Antônio Cardoso da Fonseca escreveu um artigo sobre a pobreza e o abordou de forma profunda: “Não foi o vício que radicou o jogo do bicho nas camadas pobres, foi também a miséria, pois o desespero de obter um emprego cada vez mais difícil e menos remuneração. Para uma grande parte da população carioca o jogo do bicho se tornou uma fonte de esperança”.[18]
Momentos difíceis de seu ministério como clérigo itinerante
“Na primeira visita dos Revs Bruce e Cardoso, o Padre Marcelo promoveu um levante, ‘insuflando a população no combate aos pregadores”
Em Belo Horizonte
Em 1892, “Bello Horizonte foi visitada pela
primeira vez, em Maio desse anno. Nesse tempo era uma simples freguezia chamada
‘Curral del Rey’. Fizeram essa visita J.L. Bruce e A.C. da Fonseca e foram
muito mal recebidos pelos fanaticos romanos”.[19]
Um padre promoveu um levante contra os pastores
metodistas J. L. Bruce e A. Cardoso da Fonseca.
“Na primeira visita dos Revs
Bruce e Cardoso, o Padre Marcelo promoveu um levante, ‘insuflando a população
no combate aos pregadores’. Mesmo assim, o Evangelho
encontrou boa acolhida em Venda Nova, mesmo tendo encontrado ali expressões do
zelo católico também, tendo o tentador utilizado a pessoa de ‘um tal mestre
Quinca que a fina força queria perturbar a pregação (...)’ e a ordem na casa
que conseguiram alugar”.[20]
O carpinteiro Cândido Mendes de Magalhães foi o
primeiro metodista de Venda Nova, “convertido durante o período em que morava
em Belo Horizonte e fruto do trabalho evangelístico realizado por J. L. Bruce e A. Cardoso da Fonseca”.[21]
A Igreja superou as dificuldades e foi organizada.
Na Ata da Conferência Anual de 1896 está registrado: “Aos 21 de Março foi
organizada a Egreja Methodista de Bello Horizonte, sendo baptizados e
professando os primeiros 6 converso”.[22]
Em Ubá
A Igreja não se intimidou e marcou a Conferência
Anual Distrital de Minas em Ubá, em 11 de janeiro de 1994. “A de Minas, na
cidade de Ubá, a 11 de Janeiro de 1894, sob a presidencia do p p. E.A. Tilly.
Foi eleito secretario, J.E. Tavares. Estiveram presentes os seguintes elencos
itinerantes: Tilly, Tarboux, Tavares, F.R. de Carvalho (jubilado), A.C. da
Fonseca; os prégadores em experiência A. J. de Araujo Filho e J. L. Becker e
ainda o prégador local, A. Ribeiro da Silva. Representantes leigos: os Srs. Genuino
Antonio de Oliveira, José Leonel Lopes, Belmiro Teixeira de Siqueira Junior,
Horacio Herculano Valerio, Rodolpho Schomacker e Augusto Hoehne Filho”.[23]
Em Caparaó
“O primeiro pastor a visitar os novos metodistas no Caparaó foi o reverendo Antônio Cardoso da Fonseca, de origem portuguesa, admitido à plena conexão na Igreja Metodista em 14 de agosto de 1892. Pastor do Circuito da Estrada Nova, esse obreiro atendia ao norte do Estado do Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais, indo até o Caparaó, passando por Faria Lemos e Caiana.
Na
primeira visita, em 1905, a convite de Alfredo Fernandes Pereira, ele pregou na
residência do casal Rubim e ali recebeu, por batismo e profissão de fé, 16
pessoas, além de batizar sete crianças. Seguiram-se muitas outras conversões no
primeiro ano de atividades no Caparaó, conforme registros encontrados, entre
outros, nos livros históricos da Igreja Metodista em Cataguases”.[24]
Registro do seu falecimento
Nas Atas da Conferência Anual Brasileira de 1015 foi
registrado:
“O dia 29 de novembro de 1915 assinalou o passamento do insigne servo de Deus, ver. A.Cardoso da Fonseca.
Convertera-se em 1883 sob o pastorado de J.L.Kennedy.
Trabalhador eficiente, ocupava lugares humildes e também os de elevadas responsabilidades como redator do ‘Expositor Cristão’ e a gerencia da Casa Publicadora Metodista.
A sua
morte abriu grande lacuna nas fileiras do Senhor.”[25]
[1] ROCHA,
Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo brasileiro.São Paulo, Imprensa
metodista, 1967, p.71.
[2] KENNEDY,
J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928,
p.60.
[3] ROCHA,
Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo brasileiro.São Paulo, Imprensa
metodista, 1967, p.71.
[4] ROCHA,
Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo brasileiro.São Paulo, Imprensa
metodista, 1967, p.71.
[5] ROCHA,
Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo brasileiro.São Paulo, Imprensa
metodista, 1967, p.71.
[6] KENNEDY,
J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, p.152,
1928, p.75.
[7] ROCHA,
Isnard. Pioneiros e bandeirantes do metodismo brasileiro.São Paulo, Imprensa
metodista, 1967, p.71.
[8] KENNEDY,
J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, p.152,
1928, p.85.
[9] FONSECA, A.Cardoso. “Triste realidade”.
Expositor Cristão. Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1908; v.XXIII. nº 34, p. 2
e 3.
[10] https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Seca
[11]
https://www.todamateria.com.br/antonio-conselheiro
[12]
https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/1327-M,oreira_Cesar_Coronel
[13]
https://tokdehistoria.com.br/tag/general-arthur-oscar
[14] O Globo, em 14 de setembro de 1997, nas
páginas 10 e 12, publicou “Militares hoje reconhecem os equívocos de Canudos” ,
reportagem de Waldomiro Junior, e “A guerra que até o campo de batalha
esqueceu”, reportagem de Chico Otávio.
[15]
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/os-sertoes.htm
[16] FONSECA, A.Cardoso. “Triste realidade”.
Expositor Cristão. Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1908; v.XXIII. nº 34, p. 2
e 3.
[17]https://facasc.emnuvens.com.br/
ret/article/download/1512/1269
[18] FONSECA, A.Cardoso. “Triste realidade”.
Expositor Cristão. Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1908; v.XXIII. nº 42, p. 3.
[20]
http://ometodismonoestadodeminas.blogspot.com/008/11/presena-metodista-no-arraial-de-venda.html
[21] Idem.
[22] KENNEDY,
J.L. Cinqüenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.
[23] KENNEDY,
J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, 1928.
[24]
https://www.expositorcristao.com.br/metodistas-recebem-homenagem-na-assembleia-legislativa-do-es
[25] KENNEDY,
J.L. Cinquenta Anos de Metodismo no Brasil. São Paulo:Imprensa Metodista, p.152,
1928.
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