Motivações e consequências do coração aquecido de Wesley
Odilon Massolar Chaves
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Odilon Massolar
Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela
Universidade Metodista de São Paulo.
Sua tese tratou
sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição
como paradigma para nossos dias.
Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de
Teologia
“O sucesso desses esforços finalmente levou Wesley a concluir que o chamado da mulher era um fator-chave na determinação desse ministério”.
Índice
·
Introdução
·
As motivações de
Wesley
· Consequências da
experiência do coração aquecido
· Dispensação Extraordinária da Providência de Deus
Introdução
“Motivações e consequências do coração aquecido de Wesley” é um livro que trata sobre o que motivou Wesley a buscar e ter a experiência do coração aquecido, bem como as consequências que essa experiência trouxe para sua vida e ministério.
Ter sido convencido pelos moravianos, quando foi à América como missionário, de que não tinha a fé bíblica, foi a principal motivação de Wesley. Ele queria ter a certeza da salvação.
Após 24 de maio de 1738, ele sentiu que passou da condição de servo para a condição de filho de Deus. Foi capacitado e motivado para realizar missões e pregar a Palavra de Deus e essencialmente espalhar a santidade bíblica por toda a terra.
Um livro que trata objetivamente sobre a motivação e da consequência.
O Autor
As motivações de Wesley
Em 1735, João e Carlos Wesley foram para América como missionários. Foi decepcionante para eles. Wesley saiu de Savannah, dia 27 de novembro de 1737, depois do seu fracasso sentimental e espiritual, e chegou à Inglaterra no dia 1º de fevereiro de 1738.
Todo esse episódio, junto com a experiência no navio com as tempestades, revelou a Wesley, que ele precisava de uma profunda mudança espiritual. Em diversas ocasiões, ele revelou a fraqueza do seu coração. Ele tinha medo de morrer:
“Altas horas da noite, acordei-me com o rugido do vento, fiquei assustado; tal susto me revelou que eu tinha medo de morrer.”
Ele não tinha a certeza de sua salvação. Quando esteve na América, um dos moravianos lhe perguntou: “Tens o testemunho dentro de ti mesmo? Testemunha o Espírito Santo com o teu espírito de que és filho de Deus?”
João Wesley não soube responder. Quando foi perguntado novamente, se ele conhecia a Jesus Cristo e se tinha a certeza da Salvação, mais uma vez Wesley hesitou.
Wesley vivia em meio aos moravianos onde o radicalismo era explorado. Ele chegou a afirmar que esteve perto de cair em trevas:
“Chego a pensar que estou mais perto daquele mistério de Satanás (...); fiquei tão perto que, provavelmente, teria caído nele, se não fosse a grande mercê de Deus.”
A exigência espiritual de Wesley o levaria a buscar a sua experiência com Deus de uma forma quase obsessiva.
Alguns estudiosos interpretam que Wesley não se considerava um convertido:
“Fui à América para converter índios; porém, oh! quem me converterá?”
Como Wesley tinha se proposto a buscar a santidade, ele era muito exigente consigo mesmo. Cinquenta anos mais tarde, Wesley reconheceria o engano dessa sua afirmação. A influência Morávia o havia levado a entender que antes ele tinha a fé de um servo e não de um filho. O servo buscava a fé, enquanto o filho tinha a segurança da fé. Ambos buscavam a Salvação.
Nesta época, para Wesley, a esperança de salvação estava firmada em sua sinceridade de ter uma vida santa. Desde 1725, ele havia iniciado a busca da perfeição lendo o livro “Regras de Santo Viver e Morrer” do Bispo Taylor.
Wesley publicou, em 1733, Coleção de modelos de oração para todos os dias da semana. Portanto, Wesley era convertido no sentido que hoje consideramos uma conversão. Ele tinha sim, muitas dúvidas antes de 1738. Além disso, sua desastrosa atuação pastoral na América havia aumentado essa dúvida, mas ele não buscava a conversão e sim a santificação. Escrevendo sobre o ano de 1733, Wesley disse:
“No mesmo ano publiquei (primeira vez que tentei publicar qualquer coisa), para uso dos meus alunos, uma ´Coletânea de Formas de Oração´. E nesta obra falei explicitamente em dar ´totalmente o coração e a vida a Deus´. Esta foi, então, como é agora, a minha ideia a respeito da Perfeição (...).”
Diante dos fracassos que experimentou na América, Wesley foi muito crítico consigo mesmo e, então, notou que o seu coração estava corrompido.
Diante desse quadro, Wesley percebeu mais nitidamente o estado do seu coração. Por isso, afirmou que aprendeu na América que o seu coração estava corrompido:
“(...) que eu tenho estado destituído da glória de Deus; que meu coração está completamente corrompido (...).”
Wesley saiu da Geórgia com amargura e desapontamento. Como positivo, passou a ser mais cauteloso. Havia aprendido a conhecer com os moravianos direção paternal de Deus; havia vencido seu medo do mar. Em acréscimo, havia conhecido muitas pessoas que, como ele, buscavam a santidade e desejam servir a Deus.
A consciência de sua situação o levou a procurar ajuda e a se humilhar. Conheceu um moraviano chamado Pedro Bohler que lhe ensinou sobre a fé viva. Wesley disse:
“(...) me surpreendeu mais e mais com a explicação que me deu a respeito dos frutos da fé viva, a santidade e a felicidade que ele afirmou acompanharem tal fé.”
Os moravianos diziam que não existem graus de fé. Ou você tem ou não tem fé. Wesley não tinha a fé que os moravianos tinham, por isso, se julgava um incrédulo. Pedro Bohler lhe ensinou sobre a fé viva.
Wesley estava triste porque seus amigos haviam tido experiências com Deus e ele ainda não. George Whitefield tinha tido uma experiência espiritual, em 1735, e Benjamim Ingham também já havia experimentado uma transformação. Carlos Wesley também tinha sentido uma "palpitação no coração", em 21 de maio de 1738, mas João Wesley ainda não havia tido a sua experiência.
Wesley estava consciente do estado do seu coração. Sabia que precisava
de uma ação de Deus em sua vida. Havia aprendido que a fé viva poderia
restaurar a sua vida. Pela influência dos moravianos, Wesley pensava que não tinha fé e que era incrédulo.
Ele aprendeu que precisa ter uma fé viva.
Diante das crises, Wesley decidiu procurar os moravianos, que o haviam mostrado sobre uma fé superior.
“Uma semana após ter voltado para a Inglaterra, Wesley se encontrou com Peter Bohler, um ministro luterano (ordenado mais tarde por Zinzendorf para o ministério morávio) recentemente chegado da Alemanha e a caminho da América. O contato de Wesley com Bohler, durante os quatro meses seguintes, proporcionaria modelos tanto para a renovação espiritual como para o desenvolvimento organizacional do metodismo.”
Wesley, contudo, continuava preocupado com a falta de segurança da fé, que havia se tornado evidente em sua viagem durante as duas travessias do oceano. A vida de Wesley começou a ter um novo rumo, quando ele foi sem vontade a uma reunião numa sociedade, no dia 24 de maio de 1738. No culto, alguém comentava sobre a mudança que Deus opera pela fé em Jesus.
Wesley assim descreveu a sua experiência, quando disse ter sentido seu coração aquecido:
“(...) senti que eu agora
confiava em Cristo, somente em Cristo, para salvação; e me foi dada à segurança
de que Cristo havia perdoado os meus pecados, sim, os meus, e que eu estava
salvo da lei do pecado e da morte.”
Wesley comemorou a experiência com um testemunho diante dos presentes. Mais tarde, continuou no quarto de Carlos Wesley com um hino. Os ensinos de seus mentores morávios se tornaram uma confissão pública.
Em sua experiência, Wesley sentiu segurança: Ele sentiu que agora
confiava em Cristo. Somente nele para a Salvação. Foi-lhe dada a segurança de
que Cristo havia perdoado os seus pecados. Ele passou a ter a segurança de ter sido salvo da lei do
pecado e da morte.
Consequências da experiência do coração aquecido
Após sua experiência, Wesley foi à Alemanha conhecer mais de perto o estilo de vida dos moravianos.
Ele encontrou e entrevistou diversas pessoas. Prestou bastante atenção na organização morávia e encontrou o que procurava.
Ele disse:
“E aqui eu continuamente me encontrava com o que eu procurava, a saber, provas vivas do poder da fé: pessoas salvas do pecado interior e exterior, pelo amor de Deus derramado em seus corações; e de toda dúvida e temor, pelo testemunho permanente do Espírito Santo que lhes foi dado.”[1]
Anos mais tarde, contudo, Wesley diria que, após 24 de maio de 1738, ele passou da condição de servo para a condição de filho de Deus.
“Sua experiência do coração aquecido ocorrera numa quarta-feira. No domingo seguinte, Wesley pregou por duas vezes sobre um tema novo para ele: ´Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé´ (1Jo 5.4) pela manhã e sobre o Deus ´que justifica o ímpio´ (Rm 4.5) de tarde.”
Wesley passou a viver a fé liberta do medo e da dúvida.
Uma outra forte experiência religiosa ocorreu pouco tempo depois da experiência do coração aquecido e foi registrado pelo próprio Wesley:
“Janeiro 1, 1739. Mr. Hall, Kinchin, Ingham, Whitefield, Hutchins e meu irmão Carlos estavam presentes à nossa festa de amizade em Fetter Lane, com mais sessenta de nossos irmãos. Pelas 3 horas da manhã, enquanto nos mantínhamos em oração, o poder de Deus veio poderosamente sobre nós, de tal modo que muitos clamaram de indizível alegria, e muitos caíram por terra. Logo que recobramos um pouco daquele espanto e do temor que nos sobreveio da presença da Majestade Divina, entoamos em uma só voz: "Louvamos-Te, ó Deus, reconhecemos a Ti como Senhor.”
Edward P.Thompson afirma que George Whitefield e outros pregadores conseguiram impressionar mais do que Wesley. Contudo, Wesley teve seu reconhecimento também:
“Mas foi Wesley o organizador, administrador e ordenador mais enérgico e hábil. Conseguiu combinar nas proporções exatas de democracia e disciplina, doutrina e emotividade (...).”
Wesley era dinâmico e pregou mais de 40 mil sermões. Ele visitou o País de Gales 24 vezes; a Irlanda, 21 vezes e a Escócia, 20 vezes.
“As viagens de Wesley eram incessantes. Em 1764, entre 19 de maio a 4 de agosto, período de 77 dias, ele viajou de Bristol a Inverness na Escócia, e voltou pregando em 122 cidades, realizando 300 cultos, além das reuniões das sociedades unidas.”
Wesley cresceu junto com o movimento metodista. No final de 1738, ele passou a entender a função do Espírito Santo como central, tanto como fonte de autoconhecimento (evidência interna, testemunho do Espírito) e também como fonte dos frutos (evidência externa – frutos do Espírito).
Em diversas ocasiões, ele descreveu o mover do Espírito com expressões como estas: "Deus manifestou o Seu poder"; "Enquanto nos mantínhamos em oração, o poder de Deus veio poderosamente sobre nós"; "Deus derramou abundantemente Seu Espírito sobre nós.” Para ele, isso era o real avivamento.
O avivamento metodista trazia na sua mensagem a justificação, santificação e, consequentemente, obras de misericórdia. Em seu sermão Cristianismo bíblico, Wesley afirma:
“O amor de Deus foi também derramado em seu coração pelo Espírito Santo que lhe foi dado (...). E o amor filial de Deus foi-se aumentando continuamente, pelo testemunho que ele possuía em si mesmo (...). Os que assim amam a Deus, não podem deixar de também amar a seus irmãos, ‘não em palavras somente, mas em obras e em verdade”.
Wesley restaurou a doutrina da perfeição cristã e levou a igreja a ver a necessidade do Espírito Santo na vida do cristão e na vida da Igreja.
Ele abriu espaço para a pregação e liderança leiga e para o ministério das mulheres no ensino e na Palavra.
Dispensação Extraordinária da Providência de Deus
Na caminhada do progresso do metodismo, Wesley se viu diante de fatos novos, que ele teve que superar. Uma dessas novidades foi a pregação ao ar livre, à qual inicialmente fora contra.
Em fevereiro de 1739, George Whitefield, começou a pregar ao ar livre em Bristol e atraiu imensas multidões.
Ele “pediu a seu amigo, John Wesley, que continuasse seu trabalho em Bristol. A princípio, Wesley relutou em pregar ao ar livre porque a Igreja desaprovava tal comportamento, mas depois se convenceu de seu valor ao ver o impacto que Whitefield estava causando”.[2]
Na segunda-feira, 2 de abril, Wesley foi a uma olaria na área de St. Philips e pregou para uma multidão de cerca de três mil pessoas: “Às quatro da tarde me submeti a ser mais vil e proclamei nas estradas as boas novas da salvação”, disse Wesley.
Outra atividade e missão nova para Wesley foi passar a visitar os presos e condenados na Prisão do Castelo. Tudo começou com o Clube Santo.
Wesley percebeu que as crianças pobres precisavam de um melhor atendimento e uma organização permanente. No fim de junho de 1731, Wesley contratou a senhora Plat para tomar conta das crianças.
Quando o movimento evangelístico trouxe novos desafios pastorais, Wesley soube tomar novas decisões:
“A crescente necessidade de estrutura e organização, à medida que o movimento crescia em tamanho e complexidade, é refletida no sumário de uma reunião realizada no final de junho de 1732, e registrada no diário de Wesley: ´separei homens e tarefas.”
Os bands foram importantes no processo de formação da organização metodista. Eram grupos pequenos de cinco a dez pessoas que se reuniam para edificação e apoio espiritual.
“Suas principais atividades eram a confissão e a oração; o alvo deles era o crescimento espiritual. Os bands eram homogêneos, de acordo com o modelo morávio; havia band de mulheres, de homens e mesmo de rapazes (...).”
Wesley procurou justificar e explicar a ênfase na Perfeição Cristã, bem como a abertura à autorização para a pregação das mulheres como uma concessão e delegação de Deus ao metodismo, no século XVIII, a partir de 1738.
“Em 1738, quando Deus começou a sua grande obra na Inglaterra, comecei a pregar às mesmas horas, verão ou inverno, e não faltaram os ouvintes.”
Ele chamou a esse momento de “Dispensação Extraordinária da Providência de Deus.”
O líder do metodismo chegou a essa conclusão, especialmente, quando percebeu que algumas mulheres poderiam pregar no metodismo. Deus estava permitindo fazer uma exceção às regras tradicionais existentes na Inglaterra.
Começando com Susana Wesley e continuando com pregadoras como Mary Bosanquet, Sarah Crosby, Sarah Ryan e outras, o metodismo pode ter sido o primeiro movimento religioso a abrir espaço para o ministério das mulheres.
“Se Susannah acendeu o pavio do reavivamento, John Wesley abanou a chama até transformá-la num verdadeiro incêndio. Sua praticidade característica teve papel importante nos reavivamentos, inclusive a modificação de seus pontos de vista sobre a participação feminina.”
Segundo Stanley J.Grenz, inicialmente, Wesley deu autorização para as mulheres somente “exortar” e não “pregar”.
Contudo, elas passaram da exortação para a pregação.
Dentro do movimento das Escolas Dominicais, a metodista Ana Ball se destacou:
“A senhorita Ana Ball, de High Wycombe, é considerada a fundadora da primeira Escola Dominical Metodista, no sentido exato do termo. Organizada no ano de 1769, a sua Escola Dominical funcionou por muitos anos.”
“João Wesley teve a consciência de estar envolvido em algo extraordinário que o próprio Deus fazia no mundo.”
O próprio resgate da doutrina da perfeição cristã, segundo Reily, fazia parte da responsabilidade dada por Deus ao metodismo, no século XVIII:
“A perfeição cristã, cria Wesley, era o depositum que Deus havia entregue aos metodistas como sua responsabilidade especial.”
A própria expansão do metodismo, além da Inglaterra, deve ser vista dentro desse entendimento de Wesley. Em 1746, ele definiu sua visão da seguinte forma:
“(...) ´um chamado suficiente da Providência´ para novos lugares, tais como Dublin ou Edinburgo: `1: Um convite de...um homem sério temente a Deus, que tem uma casa para nos receber. 2. A probabilidade de fazermos o melhor indo mais adiante, do que ficando mais tempo onde estamos.”
A participação leiga e todo o trabalho metodista eram visto como uma dispensação extraordinária da providência de Deus.
Wesley disse: “É claro para mim que toda a obra de Deus chamada Metodismo é uma dispensação extraordinária de Sua providência. Portanto, não me pergunto se várias coisas ocorrem nele que não se enquadram nas regras normais de disciplina.” [3]
O metodismo participou na formação da classe operária inglesa. O historiador marxista inglês Edward Palmer Thompson, no seu livro “A formação da classe operária inglesa”, afirmou que “a hierarquia estritamente organizada da igreja metodista, diz Thompson, ensinou aos trabalhadores uma coisa ou duas sobre a organização de grupos de pessoas, que eles utilizaram muito bem no movimento trabalhista posterior”.
E Wesley acreditava ter sido o metodismo levantado por Deus para mudar a situação vigente, ou seja, para: “(...) reformar a nação (...) e espalhar a santidade bíblica sobre a terra.”
Foi essa visão e propósito que Wesley teve em seu ministério: reformar a nação, particularmente a Igreja e espalhar a santidade bíblica por toda a terra.
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