Jesus,

o Mestre dos Talmidim

 

 

Odilon Massolar Chaves

 



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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.



 “Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: Vem e segue-me e eu os farei pescadores de homens. No mesmo instante eles deixaram suas redes e o seguiram”. 

(Mc 1.16-18)


Índice


Introdução 

O discipulado do Mestre Jesus 

O que ensinou Jesus aos discípulos 

Convivência de Jesus com os discípulos 

O ministério libertador de Jesus 

Jesus mostrou a necessidade da conversão 

Jesus seguiu a tradição judaica de fazer discípulos 

As tarefas do talmidim

 


Introdução 

 

O livro “Jesus, o Mestre dos Talmidim”[1] procura retratar como foi o ensino e a convivência de Jesus com os seus discípulos, chamados de talmidim. 

Talmidim é o plural da palavra hebraica talmid, que quer dizer discípulo. Era o termo utilizado, na época, em Israel. 

Vivemos tempos de efervescência das células ou pequenos grupos visando o crescimento da Igreja. 

Há diversas experiencias e visões diferentes sobre os pequenos grupos trazendo em muitos lugares discordâncias e até divisões. Muitos rejeitam e muitos outros colocam as células como a razão de ser da Igreja. 

Vamos à origem. Vamos ver nos Evangelhos como Jesus realizava seu discipulado e ver o que e como podemos aplicar os ensinamentos em nossos dias. 

Que o Espírito Santo ilumine sua mente e abra seu coração para você poder mergulhar na beleza do discipulado de Jesus. 

O Autor

 

 

O discipulado do Mestre Jesus 

 

Jesus seguiu a tradição judaica de fazer discípulos. Cada Rabi tinha seus próprios talmidim[2] (discípulos). 

A palavra talmidim tem origem hebraica e significa discípulos, aprendizes.[3] 

O discipulado de Jesus foi realizado, em grande parte, na estrada empoeirada da Palestina e ele fez uma revolução em seu tempo. Jesus escolheu seus próprios discípulos (talmidim) em vez de serem escolhidos por eles, como era costume. 

“Na Galiléia do tempo de Jesus, os meninos em Israel iniciavam seus estudos da Torah aos 6 anos de idade. Aos 10 anos já tinham a Torah decorada. Terminado esse primeiro estágio na escola primária (Beit Sefer), a maioria dos meninos se dedicava a aprender o ofício da família. Os que se destacavam seguiam estudando na escola secundária (Beit Talmud) e mergulhavam no restante das Escrituras e na tradição oral dos rabinos e suas muitas interpretações e aplicações da Lei de Moisés. Aos 14 e 15 anos, somente os melhores entre os melhores estavam estudando, geralmente aos pés de um rabino famoso e respeitado. Esses pouquíssimos meninos da elite intelectual de Israel eram chamados talmidim (trad. discípulos)”[4].

Nessa fase, o adolescente escolhia um rabino e lhe dizia que queria se tornar um dos seus discípulos (talmidim). A partir daí havia um verdadeiro vestibular num processo de seleção sendo investigada sua vida e seu conhecimento bíblico pelo rabino para ver se o candidato poderia ser alguém com o mesmo potencial dele. O processo era rigoroso e muitos voltavam para casa. 

Quem era aprovado ouvia do rabino a frase: “Vem e segue-me”. O adolescente passava a ser um talmidim, que era algo de grande honra e privilégio. 

O rabino tinha um alvo: fazer os discípulos se tornarem como ele, por isso, deveriam estar sempre juntos [5]. 

Jesus não escolheu nenhum Rabi para aprender e nem foi rejeitado por nenhum deles. 

Nicodemos entendeu perfeitamente isso quando reconheceu que Jesus era um Rabi e disse: “Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (João 3.2). 

Jesus explicou que não seguiu a nenhum Rabi: “O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou” (João 7.16). 

Jesus agiu muito diferente e fez uma revolução no discipulado em seu tempo. Ele quebrou paradigmas. 

Primeiro, Ele mesmo escolheu os seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (João 15.16). 

Segundo, Ele chamou gente simples do povo, que não teve a possibilidade de pertencer a um grupo de discípulos. Ele chamou pescadores como Simão (Pedro), Tiago, João e André para serem seus discípulos. 

Terceiro, Ele disse a frase para Simão e Tiago que todo adolescente gostaria de ouvir: “Vem e segue-me”. Foi assim: “Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: Vem e segue-me e eu os farei pescadores de homens. No mesmo instante eles deixaram suas redes e o seguiram” (Mc 1.16-18). 

Na tradição judaica, no tempo de Jesus, o relacionamento entre o rabi e o talmidim (discípulos) era algo extremamente estreito e forte. 

Os talmidim consideravam seus rabinos como tendo maior autoridade do que seus pais. Os talmidim entendiam que os pais os trouxeram ao mundo, mas os rabinos os levariam aos céus. 

Era um relacionamento como de um servo e mestre e também como de um pai e filho. Algumas escolas rabínicas eram chamadas de “Casas.”[6] Jesus seguiu de perto essa tradição trazendo maior profundidade e especialmente baseando seu discipulado no amor. 

Jesus dizia: “Vem e segue-me”. Era a frase chave para seguir o Mestre e ser um discípulo deixando tudo para trás passando a conviver com Ele em tempo integral.

Os discípulos seguiram os passos de Jesus e conviveram com ele. A palavra grega  ακολουθεω usada aqui significa “sigo, acompanho, torno-me discípulo, conformo-me a exemplo de alguém na vida ou morte.”[7]

Veja outros exemplos:

Mateus 4.20: "deixando logo as redes, seguiram-no."

Matthew 4:22 : "and their father, and followed him."Mateus 4.22: "e o seguiram."
Matthew 4:25 : "And there followed him great multitudes of people from Galilee, and"Matthew 8:19 : "and said unto him, Master, I will follow thee whithersoever thou goest."Matthew 8:22 : "Jesus said unto him, Follow me; and let the "Mateus 8.22: "Jesus disse-lhe: Segue-me".
Matthew 8:23 : "a ship, his disciples followed him,"Matthew 9:9 : "and he saith unto him, Follow me. And he arose, and followed"Mateus 9.9: "e disse-lhe: Segue-me e ele se levantou, e o seguiu".
Matthew 9:9 : " me. And he arose, and followed him."Matthew 9:19 : "And Jesus arose, and followed him, and so did his disciples."Matthew 16:24 : " his cross, and follow me. "Matthew 19:2 : "And great multitudes followed him; and he healed them"Mateus 19.27: "Deixamos tudo e te seguimos; que devemos ter".
 

Os discípulos deveriam seguir Jesus de perto e conviver com ele para aprender e depois fazerem seus próprios discípulos quando estivessem com o discipulado completo.  Foi o que mais Jesus fez durante três anos. Ele viveu o Evangelho diariamente com os discípulos. Ele ensinou e mostrou na prática. 

E deu o exemplo: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13.14). 

Outros foram discípulos, mas não fizeram parte dos doze, como José de Arimatéia (Mt 27.57); Lázaro (Jo 11.3; 11.11;11.36;12.2); os chamados 70 que foram enviados de dois a dois (Lc 10.1) e os dois do caminho de Emaús (Lc 24.13), por isso, não tiveram que seguir a Jesus de tempo integral por todos os lugares.

 


O que ensinou Jesus aos discípulos 

 

Jesus não deu ensino bíblico, pois os discípulos já entravam no discipulado com suficiente conhecimento bíblico sobre o Antigo Testamento. 

Quando Jesus disse aos seus discípulos “ouvistes que foi dito” (Mt 5.21, 27, 31, 33, 38, 43) Ele sabia que seus talmidim (discípulos) conheciam bem as Leis de Moisés e os profetas. 

Quando um discípulo pedia explicação a Jesus era sobre algo novo, como Pedro (Mt 15.15) e outros discípulos (Mt 13.36) pediram explicação sobre uma parábola. 

Algumas vezes, eles pediam algo espiritual: “aumenta-nos a fé” (Lc 17.5). 

Quando Jesus cita Zacarias 13.7 para os discípulos é por livre vontade e para explicar que eles se escandalizariam com a sua morte, como estava escrito: “Todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: ferirei o pastor; e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (Mt 26.31). 

Jesus fez o mesmo no caminho de Emaús com dois discípulos: “E começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). 

O que então ensinou Jesus? 

Jesus ensinava princípios éticos, como no Sermão da Montanha, quando destacou a humildade; os que choram; os mansos; os que têm fome e sede de justiça; os misericordiosos; os limpos de coração; os pacificadores (Mt 5.1-12). 

Jesus procurou levar os talmidim (discípulos) especialmente a prática da verdade, justiça, humildade e misericórdia muito diferente da religiosidade de sem tempo. 

Ele disse os discípulos: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos Céus" (Mt. 5.20). 

Jesus ensinou sobre a prática do amor a Deus e ao próximo. Ensinou sobre a retidão. 

Ele disse aos discípulos: 

·      “Guardai-vos de exercer vossa justiça diante dos homens com o fim de serdes vistos por eles” (Mt 6.1); 

·      “Quando deres esmola, não toques trombeta diante de ti” (Mt 6.2); 

·      “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas” (Mt 6.5); 

·      “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas” (Mt 6.16); 

·      “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra” (Mt 6.19); 

·      “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6.24); 

·      “Não andeis ansiosos pela vossa vida” (Mt 6.25); 

·      “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7); 

·      “Acautelai-vos dos falsos profetas” (Mt 7.15), etc 

O propósito era levar os talmidim (discípulos) a serem perfeitos (Mt 5.48). 

 

 

Convivência de Jesus com os discípulos 

 

Jesus sempre se dirigiu aos seus discípulos (Mt 9.37) e lhes deu instruções (Mt 11.1).  Fez refeição com eles (Mt 26.20) e levou alguns para orarem com Ele (Mt 26.36-37). Ele caminhou com os seus discípulos (Mt 20.17) e enviou alguns com uma determinada tarefa (Mt 21.1), etc. 

Uma das características dos talmidim (discípulos) era fazer perguntas ao seu rabi, o mestre, e os discípulos de Jesus faziam isso: “Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que falas por parábolas?” (Mt 13.10). 

Os discípulos pediam explicações a Jesus: “Explica-nos a parábola do joio do campo” (Mt 13.36). 

Diante de certas situações, Jesus chamava os seus discípulos para lhes dizer algo: “E, chamando os seus discípulos, disse: “Tenho compaixão desta gente...” (Mt 15.32). 

E quando os discípulos cometiam alguma falha, Jesus procurava trazer uma lição sobre questões da vida: “Ora, tendo os discípulos passado para o outro lado, esqueceram-se de levar o pão. E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16.5-6). 

Às vezes, era o próprio Jesus quem fazia perguntas: “Perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” (Mt 16.13). 

Diante de certas questões, os discípulos o chamavam em particular para tirarem as suas dúvidas: “Então, os discípulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular” (Mt 17.19). 

E quando havia alguma pergunta insensata dos discípulos (Mt 18.1), Jesus procurava fazer algo prático ou colocar algo visual para eles entenderem bem. Quando eles perguntaram quem era o maior no Reino dos Céus, Jesus colocou uma criança no meio deles: “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornarem como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18.3). 

Jesus esteve muito próximo e foi amigo dos discípulos: “Tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15.15). 

Jesus mostrou que o discípulo deve ser preparado para ir além do Mestre: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (Jo 14.12). 

Jesus confiou nos discípulos e lhes deu autoridade: "Chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades" (Mt 10.1). 

Aos discípulos que estavam ansiosos, Ele pediu para olharem os lírios e os pássaros (Lc 12.24-27). Com isso, Jesus mostrou que Deus cuida dos seus filhos e filhas com muito amor. 

Foi direto ao problema para corrigir: apareceu aos seus discípulos e pediu que Tiago colocasse o dedo nas feridas e visse suas mãos furadas (Jo 20. 27).            

Utilizou parábolas para quebrar preconceitos, tabus e retirar as pessoas do círculo vicioso levando-as à reflexão (Lc 15.3-4. Lc 16.13).                 

Chamava a pessoa pelo nome: foi assim com Zaqueu (Lc 19.5); Marta (Lc 10.42); Simão (Lc 7.40); Maria (Jo 20.16). Assim, Jesus mostrava ser amigo e ter interesse pela pessoa. 

Falou mansamente: “Não se turbe o vosso coração...” (Jo 14.1). Disse ainda: “Olhai os lírios do campo ...” (Lc 12.27). No seu diálogo com os sofredores, não pronunciou palavras ásperas ou ofensivas, mas doces e esperançosas. 

Apesar de não concordar com o pecado e esperar mudança dos que pecavam, Jesus respeitou às pessoas. Não falou nada para Zaqueu sobre coisas ilícitas (Lc 19) e nem para a mulher que foi apanhada em adultério (João 8). Seu amor e compreensão estavam em primeiro lugar. 

Todas essas atitudes eram ensinamentos para os discípulos que deveriam agir da mesma forma. 

Ser discípulo implicava em renúncia e seguir Jesus literalmente: “Vendo grandes multidões ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem. Então um doutor da Lei se aproximou e disse: Mestre, eu te seguirei aonde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. Outro, que era discípulo, disse a Jesus: Senhor, deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai. Mas Jesus lhe respondeu: Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos” (Mt 8.18-22). 

Quando viu que os discípulos estavam preparados, Jesus lhes deu a seguinte missão: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28.19-20). 

 

O ministério libertador de Jesus 

 

Jesus ministrou para os discípulos (Mc 3.14-15); conviveu com três deles de uma forma mais íntima - Pedro, Tiago e João (Mc 5.37) - e ministrou para multidões (Mc 4.1). 

O discipulado de Jesus foi uma etapa para grandes realizações. Ele mesmo disse que os discípulos fariam coisas maiores. Através do discipulado, eles mudaram de vida e impactaram o mundo sob a unção do Espírito Santo (Atos 1.8). 

A pregação de Jesus 

Com a vinda de Jesus ao mundo, trazendo a Boa Nova do Reino de Deus para o povo oprimido, era necessário anunciar a sua chegada, para que todos soubessem dos novos tempos que começavam. 

Uma das formas utilizadas foi a pregação do Evangelho. João Batista foi quem primeiro anunciou o Reino. Com ele e com Jesus (Mc 1.15), a pregação foi utilizada com o objetivo de levar à conversão: "Arrependei-vos porque o Reino dos céus está perto” (Mt 3.2). 

A Boa Nova foi também anunciada aos pobres (Lc 6.20-21; Mt 11.5), àqueles que esperavam a justiça vinda de Deus e que confiavam nas Suas promessas. O anúncio declarava que o Reino já estava chegando para por fim a todo mal, restabelecendo a justiça, a fraternidade, a paz (Lc 4.18-19).

Jesus saiu por todas as cidades e aldeias anunciando a Boa Nova do Reino dos Céus (Lc 8.1; 4.43-44; Mt 4.17). Ele não anunciava a si mesmo e sim o Reino de Deus. 

Esta missão foi também confiada aos discípulos, pois todos deveriam saber que Deus veio libertar o povo de tudo que o escravizava. Neste sentido, também haveria uma conversão: a mudança de um estado de jugo para um estado onde haveria a justiça, fraternidade e paz. 

Jesus constituiu doze apóstolos para que ficassem com Ele, pregassem e expulsassem demônios (Mc 3.14-15; cf. Mc 16.15). Deveriam ir em missão. 

A missão primeira foi: "Proclamai que o Reino de Deus está próximo" (Mt 10.7). 

A proclamação do Evangelho era necessária para que o povo soubesse que o Reino estava à disposição de todos aqueles que esperavam pelas promessas de Deus e que viviam oprimidos. Jesus utilizava a pregação como elemento fundamental, mas não a enfatizava isolada. A pregação estava integrada de uma outra parte fundamental do Evangelho - a cura: "Indo de aldeia em aldeia, anunciando a Boa Nova e operando curas por toda a parte" (Lc 9.6). 

A pregação estava integrada igualmente com outra parte da Boa Nova: o ensino: "Partiu dali para ensinar e pregar nas cidades" (Mt 11.1). 

Vemos assim que a Boa Nova era transmitida e concretizada de forma integral. Jesus usava a pregação também para denunciar os atos contrários ao Reino de Deus. Era uma denúncia da situação reinante em Israel: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos homens; pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que querem fazê-lo." (Mt 23.13). 

Assim, Jesus utilizou a pregação para a conversão, para anunciar a chegada do Reino e para denunciar as injustiças em Israel. 

O ensino de Jesus 

Em seu ministério Jesus utilizou muito mais o ensino do que a pregação. Vemos isto através de vários fatos e relatos nos sinóticos: 

"Aconteceu que, certo dia, enquanto ensinava o povo no templo, anunciando a Boa Nova..." (Lc 20.1). 

No Sermão da Montanha, Jesus procurou ensinar aos discípulos sobre a realidade do Reino: "Vendo ele as multidões, subiu ao monte. Ao sentar-se, aproximando-se dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os, ensinava" (Mt 5.1-3). 

Mas foi através das parábolas que Jesus ensinou mais sobre a realidade do Reino: "Ouvi, portanto, a parábola do semeador. Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não entende..." (Mt 13.18-19). 

As parábolas do grão de mostarda (Mt 13.31); do fermento (Mt 13.33); do tesouro escondido (Mt 13.44): da rede (Mt 13.47) e outras parábolas falam e ensinam sobre o Reino de Deus. 

O ensino através das parábolas mostra que Jesus estava preocupado e desejoso que as pessoas refletissem e descobrissem por si próprias a realidade do Reino. Jesus não dava nada pronto. Ele lançava uma pista e o povo refletia até chegar à sua conclusão. Assim, o povo guardava mais facilmente os ensinamentos e dava mais valor àquilo que tinha aprendido. 

Os apóstolos, que eram pessoas simples, gente do povo, também participavam do discipulado: "Os apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado” (Mc 6.30), mas não tinham ainda seus grupos de discípulos. 

O fato de Jesus utilizar a linguagem e fatos da vida do povo para ensinar; o fato de Jesus utilizar a própria gente do povo para participar da educação popular, mostra que Jesus não fazia uma educação elitista desvinculada da realidade das pessoas.  

O ensino não era algo à parte. Era parte de um todo do Evangelho. No final do evangelho de Mateus está registrada a preocupação de Jesus com o discipulado daqueles que se tornassem cristãos:"...ensinando-os a guardar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28.20). 

O ensino era para aqueles que não conheciam ainda a realidade do Reino e para aqueles que já haviam crido e precisavam conhecer melhor as implicações de pertencer ao Reino de Deus.

Jesus falava das coisas simples da gente simples. Ele falou de sal e fermento (Mt 5.13; 13.33); figos e uvas (Mt 7.16); semear (Mt 13.16; 13.7); casa varrida (Mt 12.44); lamparina (Mt 25.8), etc já que os fariseus chamavam o povo de maldito por não conhecer a lei (Jo 7.49). 

As palavras de Jesus mexeram com as consciências adormecidas pela ideologia dominante. O ensino de Jesus libertou a consciência oprimida do povo. 

Libertação do povo 

Jesus teve a missão de libertar totalmente o ser humano. Ele definiu a sua missão assim: "Evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação dos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos... " (Lc 4.18). 

Um dos fatores que cooperavam para a opressão do povo eram os demônios. Eles representavam o oposto do Reino de Deus. Eles oprimiam, escravizavam, destruíam as vidas humanas. Antes de Jesus chegar, o reino das trevas, o poder da morte, dominava, em parte, o mundo. Jesus veio anunciar a Boa Nova do Reino, o começo dos novos tempos. 

Sim, o tempo da vitória do bem, do amor, da vida. Somente a pregação e o ensino não seriam suficientes para eliminar os poderes do mal. Era necessário algo concreto, por isso, Jesus disse: "Mas se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então, o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12.28). 

Sim, o Reino não era só promessa. Com Jesus, ele se tornou realidade no mundo. Um Reino que não se vê, mas se percebe. 

Jesus deu também esta missão e autoridade aos apóstolos: 

"E constituiu doze, para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar, e terem autoridade para expulsar os demônios" (Mc 3.14-15). 

Os próprios demônios reconheciam que era chegado o Messias com o seu Reino. Eles, por isso, temiam grandemente: "Ah! que queres conosco, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és, o Santo de Deus " (Lc 4.34). 

Ter poder e autoridade sobre os demônios significava a supremacia do Reino de Deus sobre o reino das trevas. Significava a vitória da vida sobre a morte. A expulsão de demônios não deve ser entendida também como algo à parte e sim dentro do contexto e concretização da Boa Nova do Evangelho. Jesus deixou isto claro, quando convocou os doze apóstolos e os enviou para expulsar demônios, curar doenças e proclamar o Reino de Deus (cf. Lc 9.1-2). 

A expulsão de demônios é sinal concreto da instalação do Reino no mundo. Todos os tipos de demônios que existem hoje no mundo econômico, político, institucional, que trazem as mais diferentes opressões e morte, devem ser eliminados pelo Evangelho que liberta e traz vida.

As tradições que prejudicavam a vida plena não eram importantes para Jesus. 

Assim, Jesus liberou as consciências dos discípulos e permitiu que eles colhessem espigas no sábado proibido (Mc 2.23-26). Ele mesmo curou doentes no sábado (Lc 6. 6-10) sob o olhar acusador dos fariseus. 

A sensibilidade de Jesus 

Jesus teve uma grande preocupação com a sorte do povo. A fome e as doenças eram sinais da manifestação da injustiça e da precariedade do atendimento e da situação do povo. Jesus por isso curou. 

A cura era também um sinal dos novos tempos, do tempo da chegada do Messias ao mundo (cf. Is 53.4-6). Se as doenças traziam problemas às pessoas, não as deixando ter uma vida plena, era necessário que elas fossem extintas: 

"E curou todos os que estavam enfermos, a fim de se cumprir a que foi dito pelo profeta Isaías: levou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças" (Mt 8.16-17). 

Jesus mostrou que a Boa Nova do Reino era algo real, que vencia o poder da morte. Sim, mostrou que devemos, acima de tudo, nos preocupar em solucionar os problemas que afetam ao povo sofredor e oprimido. Jesus disse para os discípulos fazerem o mesmo: 

"Chamou os doze discípulos e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades" (Mt 10.1). 

Com isso, Jesus mostrou à religião e sociedade da época que Deus quer é o bem integral do ser humano e não soluções temporárias e superficiais.

A cura das doenças serve para mostrar que o Evangelho de Jesus teve uma grande preocupação social. Era uma preocupação com a saúde do povo. Este Evangelho que se preocupa com a parte material também alimentou multidões famintas (Mc 6.35-44), mostrando que Jesus era sensível às necessidades do povo. Nas bem-aventuranças, ele disse: "Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis saciados” (Lc 6.21). 

Sim, "aquele que alimentou os cinco mil [...] estava claramente preocupado com os problemas de justiça econômica”.[8] 

Quando João Batista quis saber se Jesus era o Messias, que traria o Reino, Jesus respondeu: 

"Os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados" (Mt 11.5). 

As curas fazem parte de um todo do Evangelho e só assim devem ser entendidas: "Curai enfermos que nela houver e dizei ao povo: o Reino de Deus está próximo de vós" (Lc 10.9). 

Não podemos, pois, falar em evangelização, sem levar em conta os problemas sociais que afligem ao ser humano.  

 

Jesus mostrou a necessidade da conversão 

 

A exigência de conversão foi proclamada por Jesus: "O tempo está realizado e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho " (Mc 1.15). 

Jesus viveu num tempo de grande necessidade de mudança de vida. Ele revelou como era a geração de sua época: “Ó geração incrédula e perversa” (Mt 17.17) e “geração má e adultera” (Mt 16.4). 

O original grego "metanóia" usado nos sinóticos significa meia volta, mudança de rumo, abandono do caminho falso e um caminhar decidido no caminho do Senhor. Significa uma reviravolta interna. O convertido deve mostrar os frutos de justiça, misericórdia e humildade diante de Deus (cf. Lc 3.8). 

O fato de estarem com Jesus, não significava que todos os discípulos já fossem plenamente convertidos. Isto fica claro para nós, quando vemos que alguns discípulos viviam com preocupações que nada tinham a ver com os propósitos e valores do Reino de Deus. Certa vez, eles perguntaram a Jesus: "Quem é o maior no Reino dos Céus?” (Mt 18.1). 

Isto mostra uma preocupação com grandeza, prestígio e poder. 

Em outro texto, os discípulos impediram as crianças de chegarem até Jesus, mostrando que não entendiam ainda perfeitamente a Boa Nova do Reino de Deus (Lc 18.15-16), que dá acesso a todas as pessoas. Jesus, por isso, deu uma grande lição nos discípulos dizendo que eles deveriam se tornar como uma criança, para pertencerem ao Reino (Lc 18.17) e ser o maior no Reino (Mt 18.4). 

Na convocação dos discípulos para seguirem a Jesus, não há nenhuma exigência aparente de conversão, embora, ao deixarem tudo para seguir a Jesus, mostram indícios de conversão (Mc 1.16-18). 

“O verbo seguir, na língua grega akolouthéo, é uma palavra que aparece com o significado de fazer a mesma estrada com alguém, de acompanhar, de ir atrás. O significado de akolouthéo denota a resposta ativa que a pessoa dá ao chamado de Jesus para o seu seguimento. Com isso a pessoa dá uma nova direção à sua existência”.[9] 

A palavra grega akolouthéo[10] empregada aqui significa seguir um mestre e ser seu discípulo. Significa sigo, acompanho, torno-me discípulo, imito etc. 

 Mais à frente, em momentos decisivos, Jesus fala de conversão a Pedro: "Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos” (Lc 22.32). 

Certamente, o Pedro que nega a Jesus; o Tomé que duvida e o Judas que trai ainda estavam no caminho da plena conversão. Jesus, contudo, foi duro com aqueles que ainda não tinham optado pelo Reino e os seus valores: "Se não vos arrepender, perecereis todos do mesmo modo " (Lc 13.3). 

Por outro lado, nas parábolas da ovelha e da dracma perdida, Jesus disse que há grande alegria no céu por um pecador que se arrepende (Lc 15.7;15.10). 

Pode parecer estranho para alguns, mas veremos que a conversão não foi exigida de todos. Houve um remanescente de Israel que permaneceu fiel a Deus, após o exílio. Este remanescente fiel se caracterizava por praticar a justiça, a misericórdia e a humildade (Mq 6.8; cf. Sf 3.12-13). 

Maria foi escolhida exatamente por pertencer a este remanescente fiel (Lc 1.46-48). Sim, "o resto fiel que espera a consolação de Israel' se encarna em Zacarias e Isabel, Simeão e Ana, nos pastores de Belém, e de modo especial em Maria e José."[11] Destes não se poderia exigir a conversão, já que viviam de acordo com a vontade de Deus. 

Aqueles que eram humildade e esperavam a ação libertadora do Messias foram chamados pobres, constituindo também a base para a existência do resto fiel do povo de Deus (Sf 3.12-13; Is 10.21-23). 

No sermão da montanha, Jesus deixa claro que o Reino de Deus já é deste remanescente fiel que tem por característica a humildade (Mt 5.3); a justiça (Mt 5.6); a misericórdia (Mt 5.7) e o coração puro (Mt 5.8). 

Este "resto fiel", chamado também de "pequenino rebanho", era privilegiado de Deus. A eles, Jesus disse: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12.32).  

 


Jesus seguiu a tradição judaica de fazer discípulos 

 

“Muito antes dos dias de nosso Mestre, o discipulado já era uma instituição bem conhecida na cultura judaica. Todos os grandes sábios, e boa parte dos rabinos dentre os P’rushim (fariseus) tinham talmildim (discípulos).[12] 

Jesus também seguiu a forma e tradição judaica de fazer discípulos. 

A palavra talmid, no hebraico, quer dizer aluno. Talmidim é o plural de talmid. Normalmente esta expressão é traduzida de forma convencional como discípulos. O talmid era um aluno de um dos sábios. A tarefa de um talmid era aprender tudo o que o seu mestre tinha para ensinar. [13]

Jesus disse que todo o que for bem instruído será como o seu mestre (Lucas 6.40). 

E Jesus procurou transformar os discípulos para eles serem iguais ao Mestre, como um rabino fazia. 

Ele aproveitava todas as oportunidades. No chamado Sermão do Monte, Jesus, “subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los” (Mt 5.1-2). 

Os discípulos e curiosos sempre procuravam sentar ao redor do Jesus: “e estavam ali assentados fariseus e doutores da lei que tinham vindo de todas as aldeias da Galiléia, e da Judéia, e de Jerusalém” (Lc 5.17). 

“O ministério rabínico de Jesus é também evidenciado pelas escrituras. Por diversas vezes os evangelhos nos mostram as pessoas e discípulos se referindo à Jesus como Rabi (que significa mestre) sem que Jesus os advertisse ou mostrasse não aceitar o título. ( João 1:38; Mateus 26:49; João 4:31; João 1:49; Lucas 3:12), mas a maior afirmação de Jesus de seu título rabínico está em João 13:13 em que Jesus disse: “Vós me chamais Mestre (Rabi) e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.”[14] 

Após a ressurreição de Jesus, Maria Madalena vai ao túmulo e se encontra com Ele e o chama de Raboni que quer dizer Mestre (Jo 20.16). O mestre Nicodemos (Jo 3.10) o chamou de Rabi (Jo 3.2). Os próprios discípulos o chamavam de Mestre (Jo 4.31), bem como Marta (Jo 11.28) etc. 

Mais do que um rabi, Jesus era o Messias (Jo 20.31), o Senhor, o Filho de Deus (Jo 1.49). Mas Ele assumiu a forma rabínica. “Mesmo exteriormente Jesus se parecia como um judeu de sua época e usava vestimentas rabínicas como o tsîtsith como podemos ver em Mateus 9.20 em que a vestimenta religiosa judaica mencionada em Mateus 14.36 foi traduzida como “manto”.[15] 

Mas Jesus só chamou 12 para estarem com ele como discípulos: “Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para efetuarem curas. Também os enviou a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos” (Lc 9.1-2). 

Para falar sobre os enviados (apóstolos), o hebraico utiliza a expressão sheliach ou shluchim, um movimento que existe ainda nos dias atuais.[16] 

Na Antiga Aliança existiam os shluchim, os enviados, apóstolos em grego. Eram representantes da comunidade, distribuíam as cartas, resolviam as questões controversas, recolhiam as oferendas e comunicavam aos fiéis os dias de festa. Dois a dois, iam de cidade em cidade para reforçar os vínculos entre os lares de Israel espalhados por toda a parte.[17] 

Eles deveriam ser de tempo integral. Faziam suas refeições com seus mestres e os seguia por todos os lugares. 

Na tradição judaica, os discípulos deveriam andar tão próximo de seu mestre que o pó levantado pelas sandálias de seu mestre chegaria a lhes cobrir. 

Os discípulos aprendiam tudo de seu mestre e mais do que isso: aprendiam a ser como ele (Lc 6.14). O “lava pés” de Jesus é um exemplo disso: “Ora, se eu sendo o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13.14). 

Jesus teve muitos discípulos, mas escolheu somente 12 para estarem continuamente com Ele, de tempo integral. 

Jesus não os chamou para serem logo mestres e a terem imediatamente os seus próprios discípulos. Foi preciso um longo ensinamento e convivência com eles. 

Jesus os encontrava pelo caminho e os chamava para serem pescadores de homens: “Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pecadores de homens” (Mt 4.18-19). 

Somente 12 porque simboliza as 12 tribos de Israel. Com Jesus foi dado início a formação do novo povo de Deus, o novo Israel de Deus. 

Mais a frente, Tiago irá dizer simbolicamente: “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tg 1.1). 

Jesus não pedia para formar novos grupos ainda porque a mensagem dos apóstolos estaria incompleta. Os seus discípulos precisavam conhecer também sobre o sacrifício de Jesus na cruz; o poder de Deus em Sua ressurreição e experimentar o poder do Espírito Santo no Pentecoste. 

Na verdade, após Sua ressurreição e envio do Espírito Santo, os discípulos passaram a ser Suas testemunhas: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra" (At 1.8). 

O Evangelho de Lucas resume bem a nova função dos seguidores de Jesus: “Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”  (Lc 24.45-49). 

“A última e mais importante tarefa de um talmid (discípulo), quando seu treinamento fosse concluído, era de formar seus próprios discípulos. Ele deveria criar uma geração de novos alunos para transmitir as palavras que seu rabino lhe havia dito...”[18]. 

“A função dele era a de transmitir aos seus talmidim (discípulos) todas as tradições, interpretações, ações e comportamento de seu rabino, sendo para eles um modelo perfeito daquilo que seu rabino havia sido”.[19] 

Quando os discípulos eram completamente treinados, tornavam-se mestres e faziam seus próprios discípulos. 

Somente após a Sua ressurreição, quando os discípulos alcançaram o ensinamento completo, foi que Jesus os enviou para fazerem seus próprios discípulos (Mt 28.18-20). 

Jesus procurou tranquilizar e ajudar os discípulos na recordação de seus ensinamentos. Ele disse: “Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo que vos tenho dito” (Jo 14.26). 

 

As tarefas do talmidim 

 

Com Jesus aprendemos como conviver, preparar e capacitar o talmidim (discípulo). 

Foram três anos de preparação, prática e convivência. Nesse período, Jesus os enviou para realizar curas, expulsar demônios e anunciar a chegada do Reino de Deus, mas somente depois deles estarem completamente preparados é que Jesus os envia para fazerem os seus próprios discípulos. 

Acima de tudo, Jesus nos ensina que discipulado é relacionamento. Jesus chamou doze para permanecerem com ele: "E constituiu doze, para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar, e terem autoridade para expulsar os demônios" (Mc 3.14-15). 

Mas, nesse momento, não os enviou para constituírem discípulos. Só depois de Sua ressurreição (Mt 28.18-20).

Em grande parte, o discipulado de Jesus foi o do “pé na estrada” com a poeira da Palestina a ponto dele dizer que o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Mt 8.20). 

Essa atitude de Jesus nos ensina ainda que somente deve ter seu próprio grupo de discipulado, os que participaram também de um discipulado completo incluindo a cruz, a ressurreição e o Pentecostes. 

E mais, para ser um líder de um pequeno grupo deve haver o chamado do Senhor e a unção do Espírito Santo. 

Jesus não deu ensino bíblico aos discípulos e sim ensinamentos práticos sobre a vivência em amor, humildade, fidelidade, justiça, misericórdia etc. 

Isso deve nos lembrar que o discipulado, fundamentando em Jesus, não deve ser somente de estudo bíblico, mas especialmente de estímulo a viver como sal da terra e luz do mundo, como testemunhas de Jesus. 

Aprendemos ainda que por mais que preparemos adequadamente os discípulos poderá haver um Tomé que dúvida; um Pedro que nega e um Judas que traí. 

Mas também haverá um Tiago que estará disposto a se tornar mártir; um João que será exemplo de discipulado amado; um Pedro que passará pela experiência com o Pentecostes e será testemunha do Senhor e um Paulo, que, embora não tenha feito parte do grupo de discipulado de Jesus, será de grande valor. 

Apesar dos “Demas” e “Alexandres”, que abandonaram Paulo (2Tm 4.10-14), Deus levantará outros que sejam fiéis, amem missões e o discipulado; haverá sempre um novo casal “Priscila e Áquila”, que sejam consagrados; um novo “Barnabé”, cheio do Espírito Santo; e novos jovens evangelistas “Timóteos”. 

Os talmidim tinham quatro tarefas principais: memorizar as palavras do rabino; aprender as tradições e interpretações do rabino; imitar as ações do rabino e formar outros talmidim.[20] 

Com Jesus não foi diferente. Entre as tarefas dos discípulos de Jesus estavam: amar uns aos outros: “Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35). 

Outra tarefa importante dos discípulos de Jesus era dar frutos: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8). 

A mais importante tarefa dos discípulos de Jesus era fazer novos discípulos: “Portanto, ide fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). 

Essas tarefas continuam hoje sendo fundamentais no discipulado. 

O que não é necessário hoje é ter que repetir um grupo de 12. Isso seria mera formalidade. Pode haver grupo de 5, 7, 10, 15 pessoas num pequeno grupo. A Igreja Primitiva decidiu escolher um novo apóstolo para substituir Judas. Mathias foi o escolhido (Atos 1.15-26), mas nunca mais se ouviu falar nele. Quando o apóstolo Tiago foi morto por Herodes (Atos 12.1-2), a Igreja Primitiva não mais escolheu um novo apóstolo para constituir o grupo dos doze. 

O que não pode faltar é a mensagem da cruz, a santidade, a vida de amor e a unção do Espírito. 

O que não pode faltar é a tarefa de fazer discípulos. E para isso precisamos dar prioridade em fazer discípulos. Jesus ministrou às multidões pelo menos 17 vezes de acordo com a Bíblia. However, there are approximately 46 mentions in the Bible where He spent His time in private with His disciples.No entanto, aproximadamente 46 vezes é mencionado na mesma Bíblia Jesus passando o tempo em particular com os seus discípulos.[21]



[1] Esse texto faz parte do livro “O discipulado na visão de Jesus, Paulo e Wesley” publicado pela Editora Chama de autoria de Odilon Massolar Chaves.

[2] talmid Chacham (hebraico: תלמיד חכם, 'sábio estudante; pl. talmidei chachamim, em talmúdica hebraico talmidh hakham e talmidhe - http://www.wordaz.com/talmidim.html.

[3] http://www.mundocristao.com.br/noticiasdet.asp?cod_not=341.

[4] http://edrenekivitz.com/blog/2011/01/talmidim/

[5] www.cgsaomateus.com.br/gcem/boletim-de-gcem/

[6] http://www.torahviva.org/index.php?p=5_90_Seguindo-o-Rabino-Yeshua

[7] TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento Grego. Casa Publicadora Batista, 1959, p.14.

[8] WILLIAMS, C., Igreja: Onde Estás?, SP, Imprensa Metodista, 1968, p. 39.

[10] TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento Grego.Casa Publicadora Batista, 1959, p.14.

[11] DIETRICH, S., O Desígnio de Deus. SP, Edições Loyola, 1972, p. 141.

[12] http://www.torahviva.org/index.php?p=5_90_Seguindo-o-Rabino-Yeshua

[13] Idem.

[14] http://www.jesushoje.com/era-jesus-religioso/

[15] www.jesushoje.com/era-jesus-religioso/

[16] A sheliach ( hebraico :. שליח, pl שליחים / שלוחים, shlichim / shluchim) é um membro do Chabad  ("Chabad" ( hebraico : חב"ד) é uma sigla para Chochmah , Binah , Da'at(חכמה, בינה, דעת): "Sabedoria, Entendimento e Conhecimento)  hassídico movimento que é envia pessoas para promulgar  o Judaísmo e o Hassidismo (um movimento dentro do judaísmo ortodoxo que promove a espiritualidade e existiu praticamente em todas as eras da história judaica) em localidades ao redor do mundo.As of 2010, Chabad Shluchim number about 4,500 worldwide, and can be found in the most remote worldly locales. A partir de 2010, havia cerca de 4.500 shluchim em todo o mundo. Eles podem ser encontrados nos locais mais remotos do mundo. http://en.wikipedia.org/wiki/Shaliach_(Chabad). Eles são os escolhidos, a elite. Children aspire to be shluchim , dreaming of manning a Chabad House in far-off exotic lands where strange languages are spoken.Crianças aspiram ser shluchim” -  http://www.chabad.org/global/about/article_cdo/aid/244373/jewish/The-Emissary.htm

[17] MIEN, Aleksander. Jesus Mestre de Nazaré.Editora Cida Nova, 1998, p.147

[18] http://www.torahviva.org/index.php?p=5_90_Seguindo-o-Rabino-Yeshua

[19] Idem.

[20] http://www.torahviva.org/index.php?p=5_90_Seguindo-o-Rabino-Yeshua.

[21] http://coregroups.org/threestrandmodel.html.

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