Escrava Flora,

Primeira negra do metodismo brasileiro

 

 

Alforriada por Martha Watts, trabalhou no Colégio Piracicabano

 

Odilon Massolar Chaves

 



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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia

 


Flora Maria Blumer de Toledo é considerada “a primeira mulher afro-brasileira a ser admitida via pública profissão de fé em uma igreja protestante no Brasil”.

 


Índice 

 

·      Introdução

·      Os escravos em Porto Feliz

·      Os escravos e a vida em Piracicaba

·      Flora na Igreja Metodista

·      Homenagens à Flora

·      Tributo à Flora



Introdução 

 

“Escrava Flora, primeira negra do metodismo brasileiro” é um livro que relata a trajetória de Flora Maria Blumer Toledo”, em Porto Feliz e Piracicaba. 

Importante ressaltar que o missionário metodista Justin Spaulding (1802-1865) chegou ao Brasil em 1835. Ele organizou uma Escola Dominical, no Rio de Janeiro, que chegou a ter 40 pessoas. Havia uma reunião de oração semanal e uma Escola Dominical. “Mais de 40 crianças se mostraram interessadas”.[1] 

E há a primeira referência do acolhimento da Igreja Metodista aos negros. Spaulding disse: “Temos duas classes de pretos, uma fala inglês, a outra português. Atualmente parecem muito interessados e ansiosos por aprender”.[2] 

Mas não há referências que foram recebidos como membros da Igreja. 

Já Flora Maria foi recebida como membro e seu nome foi registrado no livro de rol da Igreja Metodista, em Piracicaba. 

Flora foi uma mulher sem foto[3], que viveu 60 anos, mas apenas 12 como mulher livre, graças à metodista Martha Watts que a comprou e a alforriou logo em seguida. 

Uma mulher que era carinhosamente chamada de “Tia Flora”, que se tornou nome de “Café Flora” na Universidade Metodista de Piracicaba e de um filme chamado “Esquecendo Flora”. 

Ela teve oportunidade de aprender inglês e viajar com os missionários para os EUA. 

Sua morte trouxe comoção aos alunos e professores da Universidade onde trabalhava como cozinheira.  

O Autor

 


Os escravos em Porto Feliz 

 

Flora Maria Blumer de Toledo nasceu em Porto Feliz, SP, distante em linha reta de Piracicaba 55,94 km. A distância em condução é de 75 km.[4] 

Os negros eram quase 30% em 1803 e mais de 45% em 1843 

Porto Feliz, SP “recebeu os primeiros escravos na época de 1730, abrigou também vários centros de resistência. O cemitério dos escravos ficava onde hoje está a Escola Estadual Moraes Barros, na Rua Alferes José Caetano, 600.”[5] 

A população escrava em Porto Feliz cresceu ao longo dos anos pela necessidade de mão de obra especialmente para o plantio e colheita de café e cana-de-açúcar. 

Também cresceu ao longo da primeira metade do século XIX com a chegada de africanos no porto do Rio de Janeiro.

Em Porto Feliz, “os negros eram quase 30% em 1803 e mais de 45% em 1843”. [6] 

Além dos escravos, “havia também uma colônia de alemães e suíços que trabalhavam no café”.[7] 

E foi nessa colônia que Martha Watts conheceu Flora Maria Blumer Toledo pertencente à família Blumer, alemães luteranos. 

“Desde a madrugada, ao toque do sino, até o anoitecer, com a enxada na mão, iam executando, quase sem descanso, sob o chicote do feitor, os mais árduos trabalhos” 

Nem todo mundo em Porto Feliz era feliz.

A vida dos escravos nunca foi fácil. O trabalho era exaustivo.

 “(...) desde a madrugada, ao toque do sino, até o anoitecer, com a enxada na mão, iam executando, quase sem descanso, sob o chicote do feitor, os mais árduos trabalhos – vida essa que somente o espírito obtuso e submisso do africano podia suportar sem revolta. E, no entanto, bastava terem bom trato e um senhor humano e justo para que vivessem satisfeitos. O descontentamento e as queixas apareceram com os crioulos, seus filhos, quando começaram a civilizar- se. Mas, apesar do trabalho forçado que não lhe esgotava a robustez excepcional, o africano, amigo da música e da dança, tinha seus dias de regozijo. O batuque era o transporte para sua alma simples”.[8] 

Alguns escravos pagaram por sua liberdade. Em Porto Feliz a maior parte das alforrias foram gratuitas, apesar de um valioso trabalhador podia ser oneroso para o senhor do engenho. 

“Em 22 de novembro de 1872, em Porto Feliz, província de São Paulo, o escravo de nome Salvador impetrou uma ação de liberdade contra o seu senhor” 

Em Porto Feliz, o vigário Francisco Gonçalves Barroso ajudou alguns escravos a terem a sua liberdade. 

“Em 22 de novembro de 1872, em Porto Feliz, província de São Paulo, o escravo de nome Salvador impetrou uma ação de liberdade contra o seu senhor, Lucio Fidencio de Moraes. Para este propósito contou com a ajuda do vigário baiano Francisco Gonçalves Barroso.’ Segundo Francisco Barroso, ‘tendo conseguido com trabalho seu e doações que lhe fizerão, formar um peculio; [Salvador] quer na forma da lei de 28 de setembro de 1871, [redimir-se] do cativeiro, indenizando á seu senhor o preço do seo resgate”.[9]

Tendo obtido êxito, outros escravos também entraram na justiça e contaram com o apoio do vigário. Foi o caso da escrava Josefa que entrou com uma ação de liberdade contra o seu senhor João de Arruda Penteado. Josefa, “tendo por doações que lhe forão feitos conseguido formar] um peculio”, pretendia livrar-se do cativeiro de acordo com o Artº4 §2 da lei de 28 de setembro de 1871. O “a rogo” fora também feito pelo padre Francisco Gonçalves Barroso.”[10] 

Em 1873, os escravos Domingos e Antônio, entraram também com uma ação de liberdade tendo o apoio do vigário. 

Em 25 de novembro de 1881, Flora Maria Blumer Toledo, após ser comprada, conseguiu também sua alforria com Martha Watts.


Os escravos e a vida em Piracicaba 

 

“Piracicaba é a terceira cidade em número de escravos do Estado de São Paulo, segundo o

historiador. Foram 5.339 até o ano de 1887”[11]  

Qual era a situação do país e Piracicaba quando a Flora Maria Blumer de Toledo nasceu, foi liberta e foi trabalhar com Martha Watts? 

Era uma sociedade aristocrática e escravista, que usava muito a mão de obra do escravo 

O Brasil era governado pelo Imperador D.Pedro II, mas havia sinais de mudanças no cenário político e econômico. “Alguns acontecimentos contribuíram para o seu desenvolvimento, como o Cientificismo, o Abolicionismo, o Positivismo, a crise da Monarquia e substituição da mão de obra escrava pela assalariada.[12]

No final do século XIX, o Brasil era majoritariamente agrícola e passava para uma nação mais industrializada. Era uma sociedade aristocrática e escravista, que usava muito a mão de obra do escravo, mas que dava lugar ao capitalismo industrial.  

Qual era a situação social, econômica, religiosa e política da cidade de Piracicaba? 

“Grande disparate social com milhares de escravos sendo comercializados e trabalhando especialmente na lavoura” 

O país e, consequentemente a cidade de Piracicaba vivia num ambiente de desenvolvimento e progresso, mas também de grande disparate social com milhares de escravos sendo comercializados e trabalhando especialmente na lavoura. 

Um ambiente ainda de domínio católico, que diminuiu grandemente a partir de 1889 com a Proclamação da República. 

A criação de Piracicaba 

Piracicaba foi fundada em 1765 para que servisse de ponto de apoio e abastecimento para as tropas que, partindo de Araritaguaba (atual Porto Feliz), seguiriam rumo às minas de Mato Grosso e Goiás, como também abasteceriam as tropas com destino ao Forte de Iguatemi. Em 1774, a povoação de Piracicaba é elevada à Freguesia.[13] 

No decorrer do século XIX, a agricultura desenvolveu-se no município, com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar e do café, mas houve posteriormente decadência com o fim do ciclo do café e a queda constante de preços do açúcar.[14] 

Em 1881, quando aqui se instalou o Colégio, Piracicaba era uma pequena vila, um amontoado de casas simples, ruas de terra onde transitavam carroças e carros de boi iluminadas por lampiões à querosene”.[15] 

População 

Havia intenso comercio de escravos em Piracicaba entre 1870-1880 

 

Piracicaba era uma cidade grande no fim do século XIX. A cidade possuía 2.300 prédios e tinha 19.014 habitantes, dos quais 11.060 eram brasileiros.[16]Havia intenso comercio de escravos em Piracicaba entre 1870-1880. As estatísticas apontam que “foram 293 as escrituras registradas em Piracicaba no período 1870-1880. No total, negociaram-se 871 pessoas a grande maioria delas (866, isto é, 99,4%) objeto de operações de compra e venda, sendo efetuadas ainda duas doações e uma permuta (duas escravas, de 16 e 13 anos de idade, por um rapaz de 25 anos).”[17] 

A missionária Martha Watts encontrou uma Piracicaba que era a terceira cidade em número de escravos do Estado de São Paulo..[18] 

Era comum a venda de escravos. Membros das famílias eram separados pelo comércio de escravos. 

Como exemplo, “em 1º de dezembro de 1877, Dona Anna Joaquina, viúva de Emílio Gomes da Silva, vendeu sua escrava Sebastiana, de 11 anos, por Rs. 700$000”.[19] Entre 1874 e 1886, o total de escravos diminuiu para 3.820 pessoas.[20] 

A religião 

“Eram batizados segundo a fé católica e recebiam nomes portugueses, como João, Joaquim, Maria”. 

No período colonial brasileiro o catolicismo era oficial no Brasil. 

“Assim que chegavam aqui, os escravos perdiam o direito de usar o seu nome africano e de praticar as suas antigas tradições. Eram batizados segundo a fé católica e recebiam nomes portugueses, como João, Joaquim, Maria. Por isso suas origens acabaram sendo apagadas dos registros históricos”.[21] 

Os descendentes dos escravos que nasceram no Brasil eram batizados antes de completar um ano de idade. 

 A Igreja Católica era sustentada pelo governo. O clero era submetido ao Estado. 

“Pelo regime do padroado, o clero era submetido ao Estado e as determinações papais deviam ser aprovadas pelo governo imperial português por meio do beneplácito para serem cumpridas pelo clero. Os padres eram funcionários públicos e recebiam seus proventos do governo. Cada povoação deveria ter sua capela, ermida ou mesmo um rancho, onde pudesse ser entronizada a figura do padroeiro determinado para o local.  Geralmente os pátios escolhidos para a construção da Matriz eram os melhores locais do sítio destacado para a delimitação do rocio e acabaram configurando as praças principais e os centros urbanos da maioria das cidades brasileiras”.[22] 

Piracicaba foi fundada em 1867. Sete anos depois, a pequena comunidade conseguiu levantar o primeiro templo católico. 

No dia 21 de junho de 1774, “foi criada a Paróquia Santo Antônio, desmembrada da Paróquia Nossa Senhora da Candelária de Itu, no território da Diocese de São Paulo, cujo bispo era o franciscano Dom Frei Manuel da Ressurreição”.[23] 

Com a chegada da missionária Martha Watts e dos revds. J.W. Koger e J.L. Kennedy, o metodismo foi a primeira denominação protestante a se estabelecer em Piracicaba, em 1881. Foram “seguidos, ao longo do século XX, pelos demais evangélicos, como batistas e presbiterianos, pentecostais, além dos espíritas (...)”.[24] 

O transporte e desenvolvimento 

“(...) as estradas em Piracicaba apresentavam- se bem conservadas, em contraste com as outras, suas vizinhas. A uma légua de distância passava- se por uma aguada, onde se viam a um lado, na orla do mato, algumas barracas habitadas por homens, mulheres e crianças em miserável estado de pobreza e enfermidade. Desse grupo destacava-se então um homem de feições alteradas. Chegando-se aos viajantes, estendia a mão, pedindo uma esmola pelo amor de Deus. Eram-lhe lançadas algumas moedas de cobre, que ele erguia avidamente. Leprosos, esses infelizes. Tal era o horror que inspirava a terrível moléstia, que eles eram expulsos de todas as habitações.Não havendo asilo para os receber, viviam isolados, no campo, sustentando-se quase que unicamente da caridade pública”.[25] 

A chegada das ferrovias, transporte fluvial e outros melhoramentos, a partir da segunda metade do século XIX, deram um impulso à cultura de exportação. 

Mas Piracicaba passou a viver numa condição de uma cidade morta porque faltou o dinheiro e consequentemente a falta de melhoria de pontes e estradas foram um entrave ao progresso” da cidade. 

No final do século XIX foi que Piracicaba começou a se desenvolver economicamente. Contribuíram para isso a chegada da iluminação pública, máquinas a vapor, a Estrada de Ferro Ituana e a construção da Fábrica de Tecidos Luiz de Queiroz. 

Com os avanços tecnológicos, crescimento do comércio passou a haver uma maior concentração de pessoas na zona urbana, e a cidade foi deixando o seu aspecto rural. 

Mas o “(...) desenvolvimento capitalista gerou um abismo entre pobres e ricos”.[26] 

A educação 

“Esse ensino era destinado aos alunos considerados “atrasados” e também aos escravos, desde que seu senhor os autorizasse”. 

Era muito falho o ensino no século XIX. Como capital do Império, o investimento maior era na cidade do Rio de Janeiro. “Mesmo com a vinda da Família Real para o Brasil, não houve uma mudança significativa no campo educacional, principalmente em São Paulo, pois o investimento maior estava no Rio de Janeiro, especialmente no ensino superior. Em São Paulo, no início do século XIX, as condições de ensino eram bastante precárias, e no interior paulista o sistema educacional era ainda pior”.[27] 

A primeira lei de educação do Brasil surgiu em  15 de outubro de 1827. Ela “determinava a criação de Escolas de Primeiras Letras, a qual deveria ser implantada em cidades, vilas e locais populosos, e adotar o método intitulado ensino mútuo”.[28] 

No ensino para às crianças e adolescentes de 7 e 14 anos, os escravos não tinham direito à educação e nem quem tivesse doença contagiosa ou repugnante e não poderia ter sido expulso de uma escola. “Passada esta faixa etária, ou se o estudante tivesse algum dos impedimentos mencionados, restava-lhe o ensino particular ou ele teria de esperar completar 16 anos, idade em que poderia frequentar o ensino noturno. Esse ensino era destinado aos alunos considerados “atrasados” e também aos escravos, desde que seu senhor os autorizasse”.[29]

Portanto, o ensino era ineficiente no século XIX. Havia falta de preparo, pouca remuneração e pouca dedicação dos professores, ineficácia do método lancasteriano[30] e a ausência de fiscalização por parte das autoridades do ensino”.[31] 

O colégio cresceu com a cidade, a partir de um núcleo de abolicionistas 

Uma homenagem ao Colégio Piracicabano pela Mesa da Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, em 16 de agosto de 2001, revela a importância da educação realizada por iniciativa de Martha Watts|: 

“O colégio cresceu com a cidade, a partir de um núcleo de abolicionistas que, mantendo contato com imigrantes vindos dos Estados Unidos, criaram um internato para mulheres — os homens só começaram a ser aceitos em 1934. Os escravos terminaram libertos, e a República foi proclamada. No século XX, Prudente de Moraes implantou o sistema de educação pública paulista tendo como molde o Colégio Piracicabano”.[32] 

Foi nesse contexto que Flora Maria Blumer de Toledo viveu em Piracicaba. 


Flora na Igreja Metodista 

 

Flora Maria Blumer de Toledo é considerada “a primeira mulher afro-brasileira a ser admitida via pública profissão de fé em uma igreja protestante no Brasil”. 

Martha Watts foi a primeira a alforriar escravos, em Piracicaba.[33] Ela comprou uma escrava e “pediu ao advogado Prudente de Moraes, então futuro Presidente do Brasil para preparar uma carta de alforria, documento este exposto no local”.[34] 

O propósito de Martha Watts com a escrava Flora Maria Blumer de Toledo foi “apenas para, em seguida, dar-lhe a carta de alforria e empregá-la como cozinheira no colégio (REILY, 2003)”.[35] 

Primeira negra recebida como membro da Igreja no metodismo brasileiro no dia 21 de janeiro 1883 

No livro de rol permanente da Igreja Metodista de Piracicaba há o registro da primeira negra recebida como membro da Igreja no metodismo brasileiro no dia 21 de janeiro 1883.[36] 

A escrava era Flora Maria Blumer de Toledo, uma afro-brasileira. Ela foi admitida por pública profissão de fé, conforme registro de número 14.[37] 

“A primeira mulher afro-brasileira a ser admitida via pública profissão de fé em uma igreja protestante no Brasil” 

Flora Maria Blumer de Toledo é considerada “a primeira mulher afro-brasileira a ser admitida via pública profissão de fé em uma igreja protestante no Brasil”.[38]

Como Flora Maria teve contato com Martha Watts?

“Ao criar o Colégio Piracicabano, Miss Martha precisou de uma ‘despenseira’ para dirigir a cozinha da escola. Amiga da família Blumer, alemães luteranos, a missionária conheceu Flora Maria, escrava que Pedro Blumer adquirira em Porto Feliz ao fazendeiro Matias Dias de Toledo, tio da Baronesa de Porto Feliz. Flora Maria levava o nome de seus donos, Flora Maria Blumer de Toledo”.[39]

 A família de Pedro Blumer no ano de 1883 passou a se congregar na igreja Metodista.[40]

Provavelmente, Flora nasceu em Porto Feliz, em 1833, na Fazenda de Matias Toledo permanecendo até os 42 anos como propriedade de Matias.[41] 

Flora foi alforriada ao preço de 400 mil réis, pagos a Maria Isabel Blumer 

“Foi vendida a 19 de abril de 1875 ao cidadão Pedro Blumer, por 750$000, vindo residir em Piracicaba”[42] Flora foi alforriada “ao preço de 400 mil réis, pagos a Maria Isabel Blumer, que tinha procuração de Pedro”.[43] 

Sua alforria data de “25 de novembro de 1881 e assinada pelo procurador de Miss Martha Watts, o Dr. Prudente de Moraes Barros, mais tarde o primeiro Presidente civil do Brasil”.[44] 

Tia Flora como era chamada pelas crianças do Colégio era admirada por elas 

Martha Watts a convidou a trabalhar no Colégio Piracicabano como cozinheira. Ela era remunerada. 

“Flora Maria tornou-se verdadeiro ídolo das missionárias e dos alunos”.[45] 

Ela era chamada de “Tia Flora”. 

 “Tia Flora como era chamada pelas crianças do Colégio era admirada por elas, e em noites frias a mesma reunia as crianças em volta de seu fogão para aquecê-las e dava um doce a cada uma, e quando as meninas se sentiam sozinhas longe de casa era Flora que as confortava e encorajava, tendo amor e respeito das mesmas”.[46] 

Flora Maria se tornou verdadeiro ídolo das missionárias e dos alunos, tendo aprendido inglês. Ela era, no Colégio Piracicabano, a Tia Flora.[47]

Ela “viajava para os Estados Unidos com Martha Watts e William Koger, pioneiro metodista em Piracicaba, mas sempre procurava treinar seus estudos com as professoras e missionárias. 

Martha Watts anunciava a todo Colégio a morte de sua amiga 

Aos sessenta anos foi vítima de hidropsia. Recebeu toda assistência material, moral e espiritual de Martha Watts, mas em julho de 1892, veio a falecer, tendo sido todos os custos funerários custeados pelo colégio”.[48] 

Sua morte causou comoção no colégio 

Sua morte causou comoção no colégio.[49] Após a morte de Flora, “Martha Watts anunciava a todo Colégio a morte de sua amiga e que a mesma não morreu em agonia, mas em paz e consolo espiritual que havia encontrado em Jesus Cristo. Mesmo sem leis trabalhistas o Colégio arcou todo seu enterro”.[50] 

Flora viveu 48 de sua vida escravizada e apenas 12 anos como mulher livre.[51]   


Homenagens à Flora

  

“Café Flora”, para que sua história seja sempre recordada  

Quando foi inaugurado o “Centro Cultural Martha Watts, um de seus ambientes foi batizado com o nome de ‘Café Flora’, para que sua história seja sempre recordada na memória dos alunos e visitantes”.[52] 

“Flora, mulher negra. Alforriada em 1881, com 48 anos de idade, se torna a primeira mulher negra a ser admitida como membro numa Igreja Metodista”. 

O filme “Esquecendo Flora” conta sua história. 

Um documentário “sobre as memórias que não existem sobre Flora Maria Blumer de Toledo”.[53] 

Escrito e dirigido por Beto Oliveira.[54] 

“Produção: Beatriz Ferraz
Direção de Arte: Cristiane Mendes
Figurino: Silvia Marques
Make up: 
Regina Giacomo
Still: Thamires Gonçalves.[55]

PROAC, Governo do Estado e São Paulo.

Algumas afirmações na produção do filme:

“Não estou apenas dando voz à história de Flora, estou me entendo como uma mulher negra neste mundo”.

“A conexão com Flora é ancestral e isso é essencial para a construção da identidade e territorialidade dos diversos povos da diáspora Africana”.[56]

Na divulgação do documentário também está dito: “Flora, mulher negra. Alforriada em 1881, com 48 anos de idade, se torna a primeira mulher negra a ser admitida como membro numa Igreja Metodista. De toda a sua vida, é apenas isso que sabemos”.[57]


Tributo à Flora

 

Flora,

Nome que indica uma variedade

De plantas de um determinado lugar,

Mas Flora Maria Blumer Toledo

Representa muito mais.

Representa uma mulher de verdade

Que agarrou a oportunidade,

Ganhou a liberdade

E o respeito de todos.

 

Flora,

Nome que se tornou famoso

E está estampado num espaço de café,

De uma famosa universidade.

Nome de um filme

Feito em sua homenagem

Para que ela não seja esquecida

Enquanto houver vida.

 

Flora,

Uma mulher negra notável

Que deixou belo legado

Pois foi muito amável

E tinha uma beleza no seu caráter.

Pelas crianças foi muito amada

Pelos professores valorizada

Pelos seus irmãos e irmãs negras

Foi muito admirada.

 

Flora,

Não teve sequer uma foto,

Mas tem um rosto

No nosso imaginário

E que brilha em nossos corações

Que causa emoções

Ao se recordar de sua história

Em tempos tão ruins

 Em que o negro não tinha nenhuma glória.

 

Flora,

Nós todos somos “Flora”,

Pois você representou os escravos

E homens e mulheres de outras nações

Que têm em seus corações

O sonho da liberdade,

Da vida em paz na família,

E um mundo de igualdade.



 



[1] Carta in Duncan A. Reily, História Documental do Protestantismo no Brasil. SP, ASTE.,

1984, p. 81-82

[2] Idem.

[3] A foto da mulher negra na capa é da metodista dos EUA Harriet Tubman, heroína nacional na libertação dos escravos

[4] Alguns colocam 72 km. https://br.distanciacidades.net/ distancia-de-porto-feliz-a-piracicaba

[5] https://www.cartacapital.com.br/blogs/guia-negro/piracicaba-cria-rota-que-conta-historia-da-presenca-negra-na-cidade

[6] http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300678860_ARQUIVO_CensoseClassificacaodeCoremPortoFelizGuedes1.pdf

[8] Idem.

[10] Idem

[11] https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2019/11/20/piracicaba-foi-3a-cidade-com-mais-escravos-no-estado-diz-historiador-idoso-busca-reconhecer-cemiterio.ghtml

[12] https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/artes/realismo-no-brasil

[15] http://colegiometodista.g12.br/piracicabano/sobre-o-colegio/historia

[16] www.repositorio.unesp.br. FÁBIO AUGUSTO PACANO O FORJAR DA MODERNIDADE: PIRACICABA E A BELLE ÉPOQUE CAIPIRA (1889-1930). 

[19] https://www.abphe.org.br/arquivos/2015_jose_flavio_motta_criancas-no-apogeu-do-trafico-interno-de-escravos-piracicaba-provincia-de-sao-paulo-1874_1880.pdf

[21] https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/escravismo-no-brasil-a-resistencia-de-africanos-e-descendentes.htm?cmpid=copiaecola

[22] http://ipplap.com.br/site/wp-content/uploads/2013/03/igrejas-3.pdf

[23] https://diocesedepiracicaba.org.br/capa.asp?p=324

[24] http://ipplap.com.br/site/wp-content/uploads/2013/03/igrejas-3.pdf

[25] https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/depoimentos//triste-relato-da-piracicaba-de-escravos-e-de-incivilidades-2275/

[27] http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao34/materia02/texto02.pdf

[28]https://sites.google.com/site/historiadaeducacaonobr/escolas-de-primeiras-letras

[29] PATROCÍNIO, Ana Luiza do. A educação durante o império. Revista Histórica, São Paulo, n. 10, p. 7, 2003.

[30] O método Lancaster, também conhecido como Ensino Mútuo ou Monitorial, teve como objetivo ensinar um maior número de alunos, usando pouco recurso, em pouco tempo e com qualidade. Foi criado por Joseph Lancasterquaker inglês, influenciado pelo trabalho do pastor anglicano Andrew Bell. Contudo, Lancaster amparou seu método no ensino oral da repetição e memorização, pois acreditava que esta dinâmica inibia a preguiça, a ociosidade, e aumentava o desejo pela quietude. Nesta metodologia não se esperava que os alunos tivessem “originalidade ou elucubração intelectual” na atividade pedagógica, mas disciplinarização mental e física. https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_Lancaster

[31] SAVIANI,2001:130.https://sites.google.com/site/historiadaeducacaonobr/escolas-de-primeiras-letras

[32] https://www.camara.leg.br//internet/plenario/notas/solene/2001/8/HV160801.pdf

[34]https://www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303621-d4377008-i117724791-Martha_Watts_Cultural_Center-Piracicaba_State_of_Sao_Paulo.html

[35] https://educapes.capes.gov.br/bitstreamcapes/584582/2/GERSONLINARESMACARIPROFHISTÓRIAUEM.pdf

[36] http://projetoredomas.com/ preta-flora-na-negra-mesa-do-senhor/

[37] Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Humanidades e Direito programa de Pós-graduação em Ciências da Religião. José Roberto Alves Loiola, “Metodismo de Imigração e afro-brasileiros: Análise de alguns aspectos importantes da relação entre imigrantes metodistas estadunidenses e população afro-brasileira na região de Piracicaba no período de 1867 a 1930”. http://tede.metodista.br/jspuibitstream/tede/581/1/Jose%20Roberto%20Alves%20Loiola.pdf

http://tede.metodista.br/jspuibitstream/tede/581/1/Jose%20Roberto%20Alves%20Loiola.pdf

[38] http://projetoredomas.com/ preta-flora-na-negra-mesa-do-senhor/

[39] https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/ almanaque/a-escrava-flora-alforriada-1837/

[40]http://acervoshistoricos.blogspot.com/2013/11/ao-lugar-supremo-por-veredas-estreitas.html

[41]Idem.

[42] https://www.facebook.com/i igrejametodistadepirassunungaoficial/posts/763259760494007/

[43]https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/almanaque/a-escrava-flora-alforriada-1837/

[44] https://www.facebook.com/i igrejametodistadepirassunungaoficial/posts/763259760494007/

[45] https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/almanaque/a-escrava-flora-alforriada-1837/

[46]http://acervoshistoricos.blogspot.com/22013/11/ao-lugar-supremo-por-veredas-estreitas.html

[47]https://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/almanaque/a-escrava-flora-alforriada-1837/

[48] http://acervoshistoricos.blogspot.com/2014/09/flora-blummer.html

[49] http://rede.metodista.br/jspuibitstream/tede/581/1/Jose%20Roberto%20Alves%20Loiola.pdf

[50]http://acervoshistoricos.blogspot.com/22013/11/ao-lugar-supremo-por-veredas-estreitas.html

[51] https://issuu.com/flora.filme/docs/lookbook_portugues

[52] http://projetoredomas.com/preta-flora-na-negra-mesa-do-senhor/

[53] https://issuu.com/flora.filme/docs/lookbook_portugues

[54] https://filmfreeway.com/ForgettingFlora

[56] https://www.facebook.com/photo/?fbid=146639803594547&set=pb.100057456759423.-2207520000

[57]https://issuu.com/ flora.filme/docs/lookbook_portugues

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