Você nasceu para ser feliz em Deus

 

Um ensinamento de Wesley

 

Odilon Massolar Chaves

 

 

 

 

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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor



“Há um Espírito ainda esperando para renovar seu coração no amor de Deus e assim levá-lo à felicidade eterna”.

(João Wesley) 

 

 

Índice

 

Introdução

O derramamento do amor

Que discípulos estamos formando

A felicidade em Deus

Resgatar a ênfase no perfeito amor  

 

 

 

Introdução

 

É possível ser um cristão que frequenta à Igreja que procura ser fiel e ainda assim mesmo não ser feliz.

Há muitos cristãos que não têm Cristo reinando em seus corações, por isso, há tantos outros ídolos em seus corações. São cristãos que não são aperfeiçoados em amor.

O evangelista Andrew Murray (1828-1917)[1] perguntou: Por que é que encontramos cristãos que são santos e duros? 

Ele prossegue respondendo: “Porque eles nada sabem, do Espirito de amor. Somente o Espírito Santo pode produzir amor”.[2] 

É preciso, portanto, buscar no Espírito Santo o derramamento do amor. 

Só o Espírito pode derramar o amor de Deus em nosso coração. Este texto bíblico tem sido muito esquecido - "O amor de Deus é derramado em nossos corações” (Rm 5 5).[3] 

Como disse Wesley: “Há um Espírito ainda esperando para renovar seu coração no amor de Deus e assim levá-lo à felicidade eterna”. 

Este livro procura resgatar esse ensinamento bíblico segundo a orientação de Wesley. 

O Autor   

 

O derramamento do amor

 

“Chegar à santidade e felicidade”

 

Só há uma maneira do cristão tomar posse plenamente da promessa de Jesus de vida em abundância e ser verdadeiramente feliz (João 10.10): pelo derramamento do amor em nosso coração pelo Espírito Santo (Rm 5.5) e, consequentemente, chegar à santidade e felicidade.

Somente dessa forma poderemos ser curados de nossa baixa autoestima, abandono, abusos na infância e maus tratos etc. O derramamento do amor de Deus nos cura, santifica e cria o ambiente apropriado para Jesus reinar em nossos corações.

Pregando sobre o Reino de Deus, Wesley disse: “Chama-se o Reino de Deus porque é o fruto imediato do reinado de Deus na alma. Logo que Ele com o seu poder estabelece o seu trono no nosso coração, ficamos instantaneamente cheios da ‘justiça, paz e alegria no Espírito Santo’. Chama-se o Reino do Céu porque é, até certo ponto, o céu aberto na alma”.[4]

Wesley orienta que é necessário Cristo reinar em nosso coração para o céu ser aberto na alma enquanto o amor de Deus é derramado no coração: “A vida eterna começa quando agrada ao Pai revelar seu Filho em nossos corações; quando primeiro conhecemos Cristo ... então é que o céu é aberto na alma, que o estado celestial apropriado começa, enquanto o amor de Deus, como nos amando, é derramado no coração, produzindo instantaneamente amor a toda a humanidade.”[5]

Importante lembrar que dentro dos significados de “vida”, em João 10.10, pode ser alguém possuidor de vitalidade, uma vida ativa e vigorosa, dedicada a Deus, abençoada, na porção mesmo neste mundo daqueles que depositam sua confiança em Cristo (...)”.[6]

E para “abundância” dentro dos significados estão: excedendo abundantemente, supremamente, muito mais que todos, mais claramente, além da medida, extraordinária.[7]

Essa é a vida que Jesus veio nos dar!

Paulo sabia dessa vida em abundância e orou pelos efésios para que eles fossem fortalecidos com poder pelo Espírito no homem interior; “para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3.16-19). 

Quando estivermos alicerçados e fundamentados em amor, conheceremos profundamente a totalidade do amor de Deus e poderemos dizer como Paulo: "Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim." (Gálatas 2.20).

A grande questão em nossos dias é que a maioria dos cristãos não tem essa visão e propósito de ter o derramamento do amor em seus corações. E, como disse Andrew Murray, são “santos e duros”.

Isso explica porque temos tantos membros que se desviam da vida cristã buscando prazeres fora do Reino de Deus e tantos outros que permanecem na Igreja, mas vivem uma vida de derrota ou fraqueza espiritual.

Desconhecem essa maravilhosa possibilidade de recebermos o batismo do amor, ter Cristo reinando em nosso coração e assim alcançarmos a vida abundante que Jesus prometeu (João 10.10).

Há muitos cristãos que não têm Cristo reinando em seus corações, por isso, há tantos outros ídolos em seus corações. São cristãos que não são aperfeiçoados em amor.

Andrew Murray perguntou: Por que é que encontramos cristãos que são santos e duros? 

Ele prossegue respondendo: “Porque eles nada sabem, do Espirito de amor. Somente o Espírito Santo pode produzir amor”.[8] 

Segundo ele, “muitos de nós tentamos, às vezes, amar. Nós tentamos nos forçar amar, e eu não digo que isso é errado; é melhor que nada. Mas o fim disso é sempre muito triste. "Eu falho continuamente", esse deve confessar. E qual é o motivo?” [9] 

Andrew responde: “A razão é simplesmente esta: porque eles nunca aprenderam a acreditar e aceitar a verdade que o Santo Espírito pode derramar o amor de Deus em seu coração. Esse texto abençoado; frequentemente foi limitado! - "O amor de Deus é derramado em nossos corações" (Rom. 5: 5).[10] 

Para Agostinho,  “se o amor de Deus é derramado em nossos corações pela recepção do Espírito Santo, assim também é seu deleite, já que não pode haver amor sem deleite”, sem prazer.[11] 

Martinho Lutero em sua poesia “Perfeita alegria” conta sua experiência de vida longe de Deus e descreve como o perfeito amor trouxe alegria para ele:


Eu quantas vezes meu coração entreguei

E por não pensar sempre sofri e chorei

Até que encontrei o perfeito amor

Que eliminou toda dor

Tristeza esqueci, o meu caminho achei

Perfeita alegria encontrei.[12] 


E Carlos Wesley no hino “Ó Amor Divino, rico” também descreve num verso a alegria do amor de Deus:

 

Ó Amor Divino, rico,
        Alegria traz do céu;
     Faz de nós moradas simples,
        Com mercê que é fiel.
     Cristo, pura compaixão és;
        Infinito, puro amor;

     
Salvação és, nos visita,
        Em nós entra com fulgor
.[13]

 

Jesus disse que é o Caminho, a Verdade e a Vida (João 14.6). Muitos estão na Igreja e conhecem o caminho e a verdade. Aprenderam na Escola Dominical, nos cultos e discipulado ou tiveram uma experiência de conversão com Jesus, mas não conhecem a verdadeira vida em abundância.

São crentes, muitas vezes, infelizes, carnais e que procuram nos prazeres do mundo um pouco de alegria.

Mas não devemos esquecer que há muitas exceções, como diz Wesley. “Há milhares de corações sinceros e crentes em todas as denominações cristãs, nas quais o pecado inato ainda existe, mas não com o consentimento da vontade. Eles estão cansados ​​- muito cansados ​​do tirano que os governa, ou das lutas incessantes pelas quais, com a graça acrescida e assistencial de Deus, eles são capazes de mantê-lo sob o controle. Eles anseiam por libertação. Eles estão famintos por plena salvação, e regozijam-se em ouvir a mensagem da Inteira Santificação através do batismo com o Espírito Santo e fogo”.[14] 

Wesley disse que é possível haver na igreja pessoas de boas intenções, mas sem amor a Deus e ao próximo: “Homens bem intencionados limitam toda sua religião ao hábito de acompanhar as orações da Igreja, receber os elementos da Ceia do Senhor, ouvir sermões, ler manuais de piedade, negligenciando ao mesmo tempo, o fim de tudo isso, que é – o amor de Deus e do próximo.”[15]

Falta o derramar do amor nos corações para quebrar as barreiras, proporcionar a cura das feridas do passado, para alcançarmos o perfeito amor e ter o reinado de Cristo em nosso coração.

Podemos e é preciso ir muito mais além.

Como disse Dr.David McEwan,[16] Diretor e professor da Faculdade Teológica Nazarena da Austrália: “John Wesley consistentemente ancorou a vida cristã no amor de Deus derramado em nossos corações pelo Santo Espírito, desde as aberturas iniciais da graça preveniente até a experiência do amor puro e da nova possibilidade de uma profundidade sem fim e riqueza para o nosso vínculo com Deus e com o próximo”. [17] 

Nos últimos tempos, uma boa parte de nossas igrejas está com ênfase forte no louvor, Encontro com Deus e o discipulado através das células. São ênfases com bons propósitos e que têm proporcionado o crescimento da Igreja.

Mas para onde temos realmente encaminhado os membros da Igreja?

 

Que discípulos estamos formando

 

“Podemos até estar encaminhando também os membros para serem eternas crianças em Cristo”

 

Podemos estar fazendo um ministério sério, mas fora dos propósitos bíblicos. Podemos até estar encaminhando também os membros para serem eternas crianças em Cristo.

Juan Carlos Ortiz escreveu em “A eterna infância do crente” que Deus disse claramente para ele:  “Aumentar rol de membros não é crescer. Vocês tinham 200 membros infantis e sem amor, depois 300, 500 e agora 600. Todos sem amor. Isso não é crescimento, mas adição. O que você tem, Juan, não é uma Igreja; é um orfanato. Ninguém lá tem pai; são todos órfãos e você é o diretor do Orfanato. E a cada dia chegam novas crianças. Aos domingos você enche uma garrafa de leite e diz: agora abram a boca. E você pensa que está alimentando o seu povo. (...)”.[18]

Importante lembrar do grande propósito dos ministérios da Igreja, conforme Paulo ensinou:

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.  Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Efésios 4.11-16).

Paulo tinha a consciência de que era esse o propósito e a razão da Igreja existir e para isso se esforçava arduamente e lutava pelo poder de Deus: “A Ele, portanto, proclamamos, aconselhando e ensinando a cada pessoa, com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.  E para cumprir esse propósito, eu me esforço arduamente, lutando conforme o seu poder que opera eficazmente em mim” (Cl 1.28-29).

Aqui está o grande propósito da Igreja: “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a perfeita varonilidade, à medida da estatura completa de Cristo”.

O propósito é alcançar o caráter de Cristo!

Isto é, alcançar a santidade, a perfeição cristã e o perfeito amor!

Importante lembrar que a santificação plena, segundo Wesley, é “o grande depósito que Deus colocou com o povo chamado metodista; e para propagar isso, ele parecia ter nos levantado”.[19]

 

A perfeição cristã, santidade ou inteira santificação estava sendo negligenciada pelas Igrejas na Inglaterra, no século XVIII, por isso Wesley disse que essa doutrina havia sido colocada por Deus com o povo chamado metodista para propagá-la”.[20]  

Esse é um grande privilégio e responsabilidade que temos!

Paulo procurou ser um exemplo para os convertidos, como um bom mestre fazia na cultura judaica e no princípio do cristianismo, quando os talmidim (discípulos) imitavam os rabis. 

“O papel do exemplo e da imitação na comunidade de aprendizagem dos discípulos é frequentemente sublinhada no Novo Testamento. Numerosas declarações do apóstolo Paulo de forma concisa indica a estratégia de ser e fazer discípulos."[21] 

Em uma de suas primeiras cartas aos seus discípulos, Paulo lembra que os tessalonicenses foram feitos seus imitadores e do Senhor: 

“Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós. E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo. De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia” (1Ts 1.5-7). 

Em Corinto, Paulo exorta os crentes a imitá-lo: “ (...) para que sejais meus imitadores” (1Co 4.16). E diz mais: “Por esta causa vos mandei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda a parte ensino em cada igreja” (1Co 4.17). 

Paulo ainda reafirma à Igreja em Corinto: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1). 

Aos filipenses, ele mostra a necessidade do discípulo imitar o seu mestre destacando a prática da santidade: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (Fp 4.8-9). 

Como mestres e discipuladores podemos pedir aos discípulos que também sigam nosso exemplo? 

O propósito da liderança saudável deve ser também de proporcionar aos membros da Igreja ensinamentos e experiências com o derramamento do amor de Deus para Jesus reinar em nossos corações e assim vivermos o perfeito amor que nos traz a vida em abundância. 

Vamos recordar que Paulo orou para os efésios serem fortalecidos pelo Espírito Santo no homem interior para que Cristo reinasse nos corações. E fundados e alicerçados em amor pudessem perfeitamente “compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3.16-19).

Compreender e conhecer todo esse amor de Cristo nos leva a vida em abundância que Jesus prometeu.

 

A felicidade em Deus

 

“Você é feito para ser feliz em Deus”

 

Certa vez em Dublin, Wesley perguntou a uma multidão de metodistas irlandeses: “Para que fim criou Deus o homem?”.

Uma resposta simples, Wesley insistia, deveria ser “inculcada em toda criatura humana: 'Você é feito para ser feliz em Deus'.

Wesley ofereceu conselhos aos pais. Mesmo quando a criança começa a falar ou a correr sozinha, um bom pai segue atrás, dizendo muitas vezes ao dia: “Ele te criou; e ele te fez para ser feliz nele; e nada mais pode te fazer feliz.

‘Qual é a felicidade para a qual os humanos foram feitos?’ 

Wesley insistiu que apenas “como há um só Deus, há uma religião e uma só felicidade”. Essa felicidade humana e religião verdadeira é o amor de Deus e o amor ao próximo. É, “em duas palavras, gratidão e benevolência; gratidão ao nosso Criador e benfeitor supremo, e benevolência para com os nossos semelhantes.

 ”A benevolência ativa em relação aos outros que nasceu da nossa gratidão a Deus é para os cristãos a fonte da vida moral e da felicidade humana. A felicidade é impossível sem esse amor grato a Deus e amor ativo e benevolente para com os outros”.[22]

É simples assim:  “a felicidade é impossível sem esse amor grato a Deus e amor ativo e benevolente para com os outros”.

Wesley ensina no “Sermão do Monte” que Jesus veio nos mostrar o caminho para a vida feliz aqui e na eternidade através da prática das Bem-aventuranças. Falando de Jesus, ele diz:

“Ele agora se dirige a nós com sua voz mansa e delicada - "Bem-aventurados" ou felizes "são os pobres de espírito". Felizes são os enlutados; o manso; aqueles que têm fome da justiça; o misericordioso; os puros de coração: felizes no final e no caminho; feliz nesta vida e na vida eterna! Como se tivesse dito: "Quem é aquele que deseja viver, e deseja ver bons dias? Eis que eu vos mostro o que a vossa alma deseja! Vê o caminho que há muito procura em vão; o caminho da amabilidade; o caminho para acalmar, paz alegre, para céu abaixo e céu acima!".[23]

No seu “Comentário Bíblico de Mateus 5”, Wesley fala do doce convite de Jesus para a verdadeira santidade e felicidade, Mateus 5:3-12(...).”[24]

Por fim, Wesley comenta sobre Mateus 5.48 relacionando as bem-aventuranças com a perfeição cristã: “Sede, pois, perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito. Portanto sereis perfeitos; como o seu Pai que está no céu é perfeito - Assim o original corre, referindo-se a toda a santidade que é descrita nos versos precedentes, que nosso Senhor no início do capítulo recomenda como felicidade, e no final dela como perfeição.”[25]

Importante lembrar que no original grego, bem-aventurado significa “abençoado (recebendo o favor de Deus), afortunado, bom (em uma posição de favor), feliz (sentimentos associados a receber o favor de Deus).[26] 

“A palavra ‘abençoado’ ou ‘feliz’ ocorre nove vezes neste primeiro grande sermão de Jesus (cf. Mt 5, 1-12). É como um refrão nos lembrando do chamado do Senhor para avançar junto com ele em uma estrada que, apesar de todos os seus muitos desafios, leva à verdadeira felicidade”.[27]

Wesley acreditava que o caminho para obter a felicidade é buscando a santidade.[28]

Para ele, a “santidade e a felicidade reunidas uma à outra, são às vezes chamadas nos escritos inspirados de ‘o Reino de Deus”.[29]

A felicidade está em conexão com a santidade. Wesley afirmou que “quanto mais santos somos sobre a terra, mais felizes devemos ser; (vendo que existe uma conexão inseparável entre santidade e felicidade).”[30]

Para Wesley, a “verdadeira religião, ou um coração justo para com Deus e o homem, implica felicidade e santidade”.[31]

Wesley ensinava “que todo cristão é feliz; e aquele que não é feliz não é cristão. Se, como foi observado acima, a religião é a felicidade, todos que a têm devem ser felizes. Isto aparece da própria natureza da coisa: pois se a religião e a felicidade são de fato a mesma, é impossível que qualquer homem possa possuir o primeiro, sem possuir o segundo também. Ele não pode ter religião sem ter felicidade; vendo que eles são totalmente inseparáveis”.[32] 

Mas ele fazia exceção: “(...) eu permito uma exceção aqui em favor daqueles que estão sob violenta tentação; sim, e daqueles que estão sob distúrbios nervosos profundos, que são, de fato, uma espécie de insanidade”.[33] 

No seu livro “Explicação clara da perfeição cristã”, Wesley afirma que podemos ter um amor perfeito mesmo sofrendo com tribulações: “(...) a mente pode estar profundamente abatida e aflita, perplexa e oprimida por pesares ao ponto de sentir-se angustiada, enquanto o coração se apega a Deus por meio do amor perfeito e a vontade está completamente submetida a Ele. Não foi assim com o próprio Filho de Deus?”[34] 

Mas ele insistia que quem não é feliz não é cristão. Também Wesley ensinava que o amor puro pode nos levar a cometer equívocos, pois o amor nascido de Deus não pensa mal e tudo crê. Esta própria disposição livre de desconfiança, pronta a crer e esperar o melhor de todos os homens, pode levar-nos a “pensar que alguns são melhores do que na verdade são.[35] 

Contudo, o amor ágape, vindo de Deus, é essencial para sermos felizes. Nada o substitui. 

No seu sermão “Sobre o amor”, Wesley diz: “E, em primeiro lugar, sem amor, nada pode nos beneficiar para tornar nossa vida feliz. Por felicidade, quero dizer, não um leve prazer, que talvez comece e termine na mesma hora (...).”[36] Para Wesley, tal estado de bem-estar é uma satisfação duradoura. 

Wesley deixa claro que “sem amor, nada pode nos beneficiar a ponto de tornar nossas vidas felizes”.[37] 

Ele diz mais: “Quanto mais você se afasta do amor, maior é a dor. Você está carente de longanimidade? Então, na medida em que você fica aquém, você fica aquém da felicidade. Quanto mais os temperamentos opostos - raiva, impetuosidade, vingança - prevalecerem, mais infeliz você é. A tempestade não pode ser apagada ou a paz jamais retornará à sua alma, a menos que a mansidão, a gentileza, a paciência ou, em uma palavra, o amor, se apossem dela”.[38] 

 

Resgatar a ênfase no perfeito amor


"Precisamos resgatar a ênfase no perfeito amor, pois vivemos numa cultura de “levar vantagem”, numa geração do individualismo e com um grande déficit de amor"

 

Da mesma forma que Wesley restaurou a doutrina da santidade na Inglaterra, no século XVIII, tendo como base o amor ágape a Deus e ao próximo, somos chamados hoje a restaurar essa doutrina.

Precisamos resgatar a ênfase no perfeito amor, pois vivemos numa cultura de “levar vantagem”, numa geração do individualismo e com um grande déficit de amor. Por isso, vemos o crescimento da violência; desunião na família; ênfase na teologia da prosperidade e não do amor de abnegação. Falta comunhão nas igrejas e há aumento de muitas doenças emocionais. Além disso, também temos outros motivos para resgatar a ênfase na santidade e perfeito amor:

Primeiro, porque é um ensinamento bíblico, conforme Mateus 5.48; João 17.17; Romanos 5.5; 2 Coríntios 7.1; Hebreus 12.14, etc. A Igreja precisa voltar à sua origem bíblica.

Segundo, por ser nossa vocação. Wesley chamava a perfeição cristã de “o grande depósito” que Deus deu ao povo metodista.[39]

Terceiro, por causa da falta de santidade e de amor em muitas pessoas, famílias, igrejas e no mundo atual.

Em quarto lugar, por obediência a Jesus que disse para sermos perfeitos e amarmos uns aos outros (Mt 5.48; Jo 13.35).

O derramamento do amor de Deus em nossos corações pelo Espírito Santo é uma possibilidade real para todos aqueles que querem e o buscam de todo o coração.

João Wesley escreveu em um dos seus hinos sobre a base do vitorioso movimento metodista:

 

É amor! É amor! Tu morreste por mim! 
Eu ouço Teu sussurro no meu coração; 
A manhã quebra, as sombras fogem 
Amor universal puro Tu és; 
Para mim, para todas as Tuas misericórdias se movem: 
Tua natureza e Teu nome é Amor
.[40]

 

Concluindo, Wesley deixa uma palavra de esperança e também de estímulo: “Há um Espírito ainda esperando para renovar seu coração no amor de Deus e assim levá-lo à felicidade eterna”.[41]

 



[1]  https://pt.wikipedia.org/ wiki/Andrew_Murray_(pastor). Seu ministério foi caracterizado por “profunda e ardente espiritualidade e por ação social”. Nasceu na África do Sul e era da Igreja Reformada.  “Sua teologia era conservadora e se opunha francamente ao liberalismo. Em seus livros, enfatizou a consagração integral e absoluta a Deus, a oração e a santidade” (Wikipedia).

[2] http://faculty.gordon.edu/hu/bi/ted_hildebrandt/SpiritualFormation/Texts/Murray_AbsoluteSurrender.pdf

[3] Idem.

[4] BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia de João Wesley. JGEC. São Paulo: Imprensa Metodista, 1960, p.221.

[6] https://www.gospel-john.com/chapter-10/

[7] Idem.

[8] http://faculty.gordon.edu/hu/bi/ted_hildebrandt/SpiritualFormation/Texts/Murray_AbsoluteSurrender.pdf

[9] Idem.

[10] Idem.

[11] http://www.readingaugustine.com/?p=310

[15] WESLEY, João. Sermões de Wesley. São Paulo, Imprensa Metodista, 1954, p.18

[16] Decano Acadêmico e Diretor de Pesquisa, Professor Associado de Teologia e Teologia Pastoral, Faculdade Teológica Nazarena (Brisbane, Austrália); Diretor do Centro Australasiano de Pesquisa Wesleyana. O Dr. McEwan tem pastoreado igrejas nazarenas na Escócia, Inglaterra e Austrália antes de se tornar Decano Acadêmico e Professor de Teologia na Faculdade Teológica Nazarena, em Brisbane, em 1997. Em 2008 ele se tornou o Diretor do Centro Australasiano de Pesquisa Wesleyana. Além do ensino de pós-graduação da NTC-Manchester em várias ocasiões, ele lecionou em várias faculdades teológicas na Austrália e em outras faculdades de Nazareno nos EUA e na região Ásia-Pacífico. http://www.mwrc.ac.uk/david-mcewan 

[20]http://www.dbts.edu/2016/10/17/e3-workshop-teaser-why-did-wesley-think-god-raised-up-the-methodists/; https://vitalpiety.com/2013/05/27/christian-perfection-the-reason-for-methodism/

[21] http://www.dwillard.org/articles/artview.asp?artID=134

[22]https://www.cambridge.org/core/books/the-cambridge-companion-to-john-wesley/happiness-holiness-and-the-moral-life-in-john-wesley/37B8C1045DCE72DCAD3C648FEFB2CC19

[23]http://wesley.nnu.edu/john-wesley/the-sermons-of-john-wesley-1872-edition/sermon-21-upon-our-lords-sermon-on-the-mount-discourse-one/

[24] https://www.christianity.com/bible/commentary.php?com=wes&b=40&c=5

[25] Idem.

[26] https://www.billmounce.com/greek-dictionary/makarios

[27]http://www.laityfamilylife.va/content/laityfamilylife/en/giovani/magistero/-beati-i-puri-di-cuore--perche-vedranno-dio---mt-5--8-.html

[28] https://www.minnesotaumc.org/files/content/worship+message.pdf

[29] BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia de João Wesley. JGEC. São Paulo: Imprensa Metodista, 1960, p.221.

[30]http://wesley.nnu.edu/john-wesley/the-sermons-of-john-wesley-1872-edition/sermon-59-gods-love-to-fallen-man/

[31] https://www.biblesnet.com/john-wesley-sermon-on-the-mount-1john5v20.pdf

[32] Idem.

[33] Idem.

[34] WESLEY, João. Explicação clara da perfeição cristã, op.cit, p.61.

[35] Idem., p.57.

[36]http://wesley.nnu.edu/john-wesley/the-sermons-of-john-wesley-1872-edition/sermon-139-on-love/

[37] https://eurekaimpact.wordpress.com/2010/08/05/the-timely-ominous-message-of-john-wesley-is-more-relevant-today-than-at-any-time-in-the-past-that-only-love-can-heal-our-human-woundedness-and-our-broken-world/

[38] Idem.

[39] http://www.middletome.com/microsoftwordthelegacyofjohnwesley2.pdf

[40]https://churchsociety.org/issues_new/history/wesleychas/iss_history_wesleychas_Colquhoun-intro.asp

[41] https://eurekaimpact.wordpress.com/2010/08/05/the-timely-ominous-message-of-john-wesley-is-more-relevant-today-than-at-any-time-in-the-past-that-only-love-can-heal-our-human-woundedness-and-our-broken-world

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