O Resgate da Essência do Amor

 

 

Wesley corrigiu a tradução bíblica e praticou o amor ágape na Grã-Bretanha

 

 

 

Odilon Massolar Chaves

 


 

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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor

 

 

“Provavelmente foi então que a palavra latina caridade

 foi colocada no lugar da palavra inglesa amor. 

Foi em uma hora infeliz que essa alteração foi feita;

 os efeitos negativos disso permanecem até hoje. ” 

(Wesley)

 

 

Índice

 

 

Introdução

O amor na Bíblia

Resgatando a essência do amor ágape

Deus, a Fonte do amor

O amor segundo o apóstolo Paulo

O amor segundo o apóstolo João


Introdução 

 

“O resgate da essência do amor” é um livro que mostra a visão e determinação de Wesley, na Inglaterra, para resgatar a essência do amor ágape.

A Bíblia do Rei James (King James) era utilizada desde 1611 pela Igreja Anglicana, na Inglaterra da qual Wesley fazia parte.

Wesley inicialmente usava essa Bíblia, mas como profundo estudioso, ele encontrou erros na tradução da Bíblia. Por exemplo, a Bíblia King James traduzia a palavra ágape (amor) por “caridade” (1Co 13.1-13).

Ele precisou traduzir do grego o Novo Testamento para corrigir esse e outros erros.

Além disso, Wesley demonstrou profunda compaixão pelos oprimidos, pobres, crianças, presos, operários e escravos.

Não teve só sentimento, mas demonstrou profundo amor com atos concretos.

Ele pregou e ensinou como alvo principal do cristão o perfeito amor, a santidade.

As bands foram criadas com o propósito de alcançar o perfeito amor.

“O amor reina como a suprema categoria teológica e ética de João Wesley. Goza de lugar de destaque, diz ele, porque o amor reina supremo no testemunho bíblico. Os admiradores chamam, com razão, Wesley de teólogo do amor por excelência”.[1] 

O Autor

 

O amor na Bíblia

 

 

“Wesley, então, traduziu o Novo Testamento do grego e o publicou em 1755 revisando a Bíblia King James. Ele estudou cuidadosamente o texto grego e fez cerca de 12.000 alterações”.

 

Segundo alguns pesquisadores, a palavra amor aparece na Bíblia em 460 versículos.[2]

Ela aparece diversas vezes no Novo Testamento: “Do grego “agape”, como substantivo aparece 116 vezes, e como verbo “agapao” aparece 142 vezes no Novo Testamento.[3]

Os gregos utilizam as palavras storgé (amor devotado familiar), éros (desejo sexual), phileo (amor entre amigos) e ágape (amor incondicional) para se referir ao amor.[4] Ágape é o termo grego que nos aprofundaremos.

O que é o amor?

 “Wesley normalmente entende o amor como uma ação que promove o bem-estar. O amor é ‘benevolência’, diz ele, ‘terna boa vontade para com todas as almas que Deus fez’. Outras vezes, ele diz que amor é ‘boa vontade’. A pessoa que ama é aquela que abençoa os outros, beneficia os outros, desfruta do benefício mútuo ou vence o mal com o bem. Todos esses são atos de amor, entendidos como promotores de bem-estar”.[5]

Jesus fala dessa essência e profundidade do amor quando diz:  “Amarás (agapao) ao senhor vosso Deus com todo vosso coração e com toda vossa alma e com toda vossa mente. Este é o primeiro e maior de todos os mandamentos. E o segundo é: Amarás (agapao) vosso próximo como a vós mesmos. Toda a lei e os Profetas residem nestes dois mandamentos” (Mateus 22.37-41).

Ele realça a necessidade de amar a Deus com todo nosso ser e amar ao próximo na mesma medida que nos amamos.

Neste texto, Jesus disse que a coisa mais importante que o ser humano pode fazer é amar (agapao) o Senhor nosso Deus com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com toda a nossa mente (Mt 22.37-39). “A palavra grega para ‘amor’ neste verso é o verbo agapao  (...) significa dar-se totalmente a ele, ser totalmente consumido por ele; ou estar totalmente comprometido com isso.” [6]

A palavra ágape significa amor no Novo Testamento. Geralmente é usada como o amor ativo de Deus por seu Filho e seu povo, e o amor ativo que seu povo tem por Deus, um pelo outro e até inimigos. É também utilizada para festa do amor, a refeição comum compartilhada pelos cristãos em conexão com as reuniões da igreja”.[7]

No Sermão da Montanha o termo também é referido desde a primeira sentença.[8] “No Sermão da Montanha Jesus diz: ‘Ouvistes dizer: 'amarás (ágape) teu irmão e odiarás teu inimigo', mas eu vos digo: amai (ágape) vossos inimigos (...)”.[9]

O autor do Evangelho Marcos utilizada a palavra grega ágape quando Jesus nos diz para amar a Deus com todo nosso coração, alma, mente e força (Mc 12.31). O mesmo acontece quando Jesus nos diz para amar o próximo como a nós mesmos (Mc 12.30).

Quando Jesus diz para amarmos com o amor ágape, Ele sabe que poderemos amar assim.

Mas qual a diferença entre ágape e phileo?

“Ágape” se refere a um amor incondicional disposto a se sacrificar ou se sacrificar por alguém sem exigir nada em troca como condição. Ágape é um sentimento profundo que envolve sacrifício.[10]

Por outro lado, phileo “se refere ao amor fraterno e é mais frequentemente exibida em uma amizade próxima. Os melhores amigos exibirão esse amor generoso e afetuoso um pelo outro”.[11]

João Wesley procurou resgatar a ênfase no amor ágape, na Inglaterra, no século XVIII. Ele foi o teólogo e pregador que mais falou sobre o amor, que é a base da perfeição cristã.

Admiradores chamam Wesley de teólogo do amor por excelência.[12]

 

Resgatando a essência do amor ágape

 

“A tradução de Wesley do Novo Testamento foi feita para corrigir milhares de erros que estavam contidos dentro da Versão do Rei James, e ele consultou os textos gregos diretamente para fazer isso”

 

Wesley precisou agir de forma muito forte para resgatar a essência do amor ágape em seu tempo, na Inglaterra. A Bíblia do Rei James (King James) era utilizada desde 1611 pela Igreja Anglicana, na Inglaterra da qual Wesley fazia parte.

Wesley inicialmente usava essa Bíblia, mas como profundo estudioso, ele encontrou erros na tradução da Bíblia. Por exemplo, a Bíblia King James traduzia a palavra ágape (amor) por “caridade” (1Co 13.1-13).

Wesley, então, traduziu o Novo Testamento do grego e o publicou em 1755 revisando a Bíblia King James.[13] Ele estudou cuidadosamente o texto grego e fez cerca de 12.000 alterações.[14] 

Os estudiosos afirmam que a “tradução de Wesley do Novo Testamento foi feita para corrigir milhares de erros que estavam contidos dentro da Versão do Rei James, e ele consultou os textos gregos diretamente para fazer isso. As notas de Wesley são fornecidas abaixo do texto em cada página, e o texto em si é com parágrafos, em vez de versado.[15]


Wesley foi muito crítico sobre a inclusão da palavra caridade na Bíblia em lugar de amor. Para ele foi algo infeliz e negativo. Ele disse que as primeiras Bíblias publicadas na Inglaterra tinham a palavra “amor”. Segundo ele, a palavra amor estava na Bíblia de William Tyndale, na Bíblia publicada na autoridade do Rei Henrique VIII e durante o reinado do Rei Eduardo VI, da Rainha Elizabeth e do Rei James I.[16] 

Ele afirmou: “As primeiras Bíblias que vi em que a palavra foi mudada foram as impressas por Roger Daniel e John Field, impressas para o Parlamento, no ano de 1649. Por isso, parece provável que a alteração tenha sido feita durante a sessão do Longo Parlamento; provavelmente foi então que a palavra latina caridade foi colocada no lugar da palavra inglesa amor. Foi em uma hora infeliz que essa alteração foi feita; os efeitos negativos disso permanecem até hoje; e estes podem ser observados não apenas entre os pobres e analfabetos; - não apenas milhares de homens e mulheres comuns não compreendem mais a palavra caridade do que o grego original; - mas o mesmo erro miserável se difundiu entre os homens de educação e aprendizado. Milhares destes são enganados assim, e imaginam que a caridade tratada neste capítulo se refere principalmente, se não totalmente, às ações exteriores, e significa pouco mais que esmola! Eu ouvi muitos sermões pregados sobre este capítulo, particularmente antes da Universidade de Oxford. E eu nunca ouvi mais do que um, em que o significado disso não foi totalmente deturpado. Mas se a velha e apropriada palavra amor tivesse sido retida, não haveria espaço para deturpação”.[17]

 

 

Deus, a Fonte do amor

 

 

“Para Wesley o que é claro na Bíblia é que Deus é a fonte do amor. Além disso, Deus nos capacita a amar. Para Wesley, o atributo principal de Deus é o amor” 

 

Explicando sobre que tipo de amor o apóstolo Paulo fala em 1 Coríntios 13, Wesley argumenta: “(...) estou completamente convencido de que o que Paulo está aqui falando diretamente é o amor ao próximo (...)”.[18] 

Wesley pergunta e responde: “E de onde esse amor de Deus flui? Apenas da fé que é da operação de Deus”.[19] 

Ele argumenta ainda que quem tem essa fé de que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo pode dizer: ‘A vida que agora vivo, eu vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”.[20] 

João Wesley diz que como consequência, então o amor de Deus é derramado em seu coração.[21]  

Assim, a mudança da tradução da palavra ágape de caridade para amor mudou completamente a compreensão e prática dos primeiros metodistas e de muitos outros cristãos. A ética metodista passou a ser fundamentada no amor ágape, o amor genuíno e bíblico.

 

Mas o que Wesley disse sobre o que é o amor?

Apesar de Wesley não definir claramente o amor, ele “normalmente entende o amor como uma ação que promove o bem-estar. O amor é “benevolência”, diz ele, “terna boa vontade para com todas as almas que Deus criou”. Outras vezes ele diz que amor é “boa vontade”. A pessoa que ama é alguém que abençoa os outros, beneficia os outros, desfruta de benefício mútuo ou vence o mal com o bem. São todos atos de amor, entendidos como promotores de bem-estar”.[22]

Para Wesley o que é claro na Bíblia é que Deus é a fonte do amor. Além disso, Deus nos capacita a amar. Para Wesley, o atributo principal de Deus é o amor.

A ética de Wesley está enraizada no amor ou santidade. O principal compromisso social de Wesley é o amor. O amor é a chave na teologia de Wesley para a ética pessoal e social.[23]

O teólogo anglicano Leon Lam Morris[24] (1914-2006) explica sobre a essência do amor e mostra porque Deus ama aos pecadores: “Por que Deus ama os pecadores? Eu tenho argumentado que Ele os ama porque está em Sua natureza amar, porque Ele é amor. Incessantemente, Ele dá amor espontâneo. Ele não ama por causa do que somos, mas por causa do que Ele é: Ele é amor”.[25]

Dois textos bíblicos apontam para o amor ágape como um amor sacrificial e que se doa. O conhecido texto de João diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

Aos tessalonicenses, Paulo diz: “(...) recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1.3).

Vemos aqui uma entrega, um amor sacrificial, que nega a si mesmo em benefício do próximo.

“O amor ágape é um amor imerecido e que se doa - em vez de ter o desejo de possuir, é um amor que procura dar. O amor ágape busca o bem maior da outra pessoa, mesmo que seja indigno. Em contraste com o amor ágape , existe o amor phileo - que é um amor que é ao mesmo tempo caloroso e merecido; é um tipo de amizade de amor.”[26]

Os apóstolos Paulo e João, são alguns dos que mais escreveram sobre o amor. João era chamado de discípulo amado por Jesus. Paulo costumava chamar alguns companheiros de ministérios também assim:  “Saúdam-vos, Lucas, o médico amado” (Cl 4.14). Ele chama Tíquico de “irmão amado” (Cl 4.7).

Destacamos aqui alguns desses versículos dos apóstolos Paulo e João.

 

O amor segundo o apóstolo Paulo

 

“Paulo exorta os colossenses a situarem o amor acima de tudo”

 

Para o apóstolo Paulo o amor tem a supremacia: “Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor” (1Co 13.13).

Também escreve que o amor é de suma importância: “Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14).

Mas porque o amor deve ocupar um lugar acima de tudo?

Paulo exorta os colossenses a situarem o amor acima de tudo.

Qual o motivo?

“A virtude cristã soberana, sob cuja sombra todas as demais se desenvolvem e crescem, é, sem dúvida, o amor. Por isso, Paulo exorta os colossenses a situar o amor “acima de tudo” (ἐπὶ πᾶσιν δὲ τούτοις. Lit. acima de todas essas coisas). Considerando a dinâmica despojar/revestir presente no contexto imediato (vv 8-12), a expressão com que o apóstolo inicia o v. 14 sugere que a capa ou o sobretudo que deve cobrir todas as demais peças da vestimenta do cristão é o amor. Debaixo dessa virtude todas as demais ficam protegidas e o crente se apresenta completamente trajado, envergando a peça principal do guarda-roupas de Deus”[27].

O amor ágape é o laço ideal que une as juntas, une os membros do corpo. Produz unidade.

A tradução de Colossenses 3.14 pela Nova Tradução Viva  diz: “Acima de tudo, vista-se com amor (ágape), que nos une em perfeita harmonia”. 

“É este amor que Deus derrama em nossos corações (Romanos 5.5) e nos cabe fazer que criem em nossos corações raízes (Efésios 3.17), cada vez mais vigorosas e perfeitas (Efésios 4.15, Colossenses 3.14)”.[28]

Devemos pedir a Deus que nosso amor ágape uns pelos outros aumente (1Ts 3.12).

Realçando ainda o amor, Paulo escreve aos coríntios e diz que o amor ágape está acima dos dons: “Ainda que eu fale as línguas dos seres humanos e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine” (1Co 13.1).

Mas que amor é esse?

O apóstolo Paulo chamou este amor de “um caminho ainda mais excelente” (1 Cor. 12:31, Nova Versão Internacional). O que há por trás dessa descrição do amor? A que tipo de amor Paulo se referia?Os gregos antigos tinham quatro palavras básicas, usadas de várias formas, para definir o amor:  Desses, ágape é o termo usado para descrever o Deus que ‘é amor’ e vamos nos apegar apenas a esse visto que é o ponto abordado”.[29]

 

A respeito desse amor, William Barclay,[30] em seu livro Palavras Chaves do Novo Testamento diz: “Ágape tem a ver com a mente: não é apenas uma emoção que surge espontaneamente no nosso coração; é um princípio pelo qual vivemos deliberadamente. Ágape tem superlativamente a ver com a vontade.”[31] 

O texto que serve bastante para o fundamento sobre o “Batismo de amor” ou derramamento do amor foi escrito por Paulo: “E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5.5).

“A palavra grega para derramado é EKCHO que significa: despejar ou distribuir em abundância”.[32]

Em diversos outras epistolas, Paulo aponta o amor como superior e fundamental para nossas vidas. No chamado “hino ao amor”, ele diz:

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.4-7).

A palavra “paciente” (makrothumia) significa “paciência esticada ao máximo. O amor é paciente ou ‘l7ongânimo’ e lento para irar-se, e não se ofende ante o primeiro insulto. Quem ama tem um ânimo longo. O amor é paciente com as pessoas. Ele tem a capacidade de andar a segunda milha; quando alguém o fere, ele dá a outra face; ele não paga ultraje com ultraje (1Pe 2.23; Ef 4.2); “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7)”.[33]

Além de falar da qualidade amor em 1 Coríntios 13, Paulo fala do verdadeiro amor em Romanos:

“O amor deve ser sincero. Odeiem o que é mau; apeguem-se ao que é bom. Dediquem-se uns aos outros com amor fraternal. Prefiram dar honra aos outros mais do que a vocês” (Rm 12.9-10).

Para Wesley, a “santidade é relacional. Aqui ela explica que amar a Deus e amar o próximo encontram expressão articulada na vida santa – uma vida orientada para o relacionamento dinâmico e amoroso com Deus que, por sua vez, alcança e abraça os outros.”[34]

Paulo destaca ainda que o amor de Deus por nós é real, eterno e foi revelado no envio de Jesus ao mundo: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Rm 5.8).

No seu hino “E pode ser?”, Charles Wesley descreve esse amor de Deus infinito e doador por nós:


Ele deixou o trono de Seu pai acima - 
Tão livre, tão infinita Sua graça 
Esvaziou-se de tudo menos amor, 
E sangrou pela raça indefesa de Adão: 
É misericordioso, imenso e livre 
Pois, o meu Deus, me descobriu! [35]

 

Paulo escreve na Epístola aos Romanos sobre o imenso amor de Deus e a convicção que ele tinha:

“Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38-39).

Paulo sabia que o amor de Deus é infinito e nós podemos conhecer muito mais dele. Ele orava para que as igrejas crescessem em amor:

“Esta é a minha oração: Que o amor de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para discernirem o que é melhor, a fim de serem puros e irrepreensíveis até o dia de Cristo, cheios do fruto da justiça, fruto que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (Fp 1.9-11).

Ele se colocava de joelhos para este propósito: “Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3.17-19).

E orienta aos cristãos para que vivam em amor: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef 5.1-2).

Por fim, em Gálatas ele escreve sobre o que tem valor na vida cristã: “Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6).

 

O amor segundo o apóstolo João

 

“Nas suas epístolas, João orienta sobre o amor. É o principal destaque. Não é sem motivo que Jesus o chama de discípulo amado”

 

O apóstolo João é mais incisivo sobre a necessidade do amor na vida do cristão. Ele utiliza o termo ágape para se referir ao verdadeiro amor. Ele declarou:

 “Aquele que não ama (αγάπη) não conhece a Deus, porque Deus é amor (αγάπη)” (I João 4.8).

Então, Deus não ama simplesmente. Ele é o amor em sua essência. Tudo o que Deus faz flui do Seu amor.[36] 

João utiliza especialmente ágape para falar sobre o amor (João 5.42; João 13.35; João 15.9; João 15.10; João 15.13; João 17.26, etc).

Ele afirma que o amor é necessário para a nossa salvação: “Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1 João 3.14).

Nas suas epístolas, João orienta sobre o amor. É o principal destaque. Não é sem motivo que Jesus o chama de discípulo amado.

João é muito forte nas afirmações: “Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4.7).

O amor procede de Deus porque Ele é a fonte do amor. E, na verdade, só podemos amar verdadeiramente porque Ele nos amou primeiro: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4.19-20).

A obediência é a essência do amor a Deus, segundo João: “Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5.3).

João também destaca a vinda de Jesus ao mundo para salvar os pecadores por amor, um amor sacrificial: “Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 João 4.9-10).

E orienta para a necessidade de permanecermos no amor. Só assim permaneceremos em Deus. Só dessa forma também o amor é em nós aperfeiçoado: “Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele. No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1 João 4.16-18).

O apóstolo João afirma que no amor ágape não há medo (1Jo 4.18).

Qual o motivo?

“O medo não está dentro do amor, antes o verdadeiro amor lança para fora o medo; porque o medo possui dentro de si o castigo ou pena, e o que tem medo não é perfeito em amor’ (...). Depois o texto enfatiza que o verdadeiro AGÁPE retira o medo da situação ou pessoa que está recebendo o AGÁPE. Então quando o AGÁPE age, o medo vai embora, é expulso (...)”.[37]

Na epístola, João ainda destaca a prática do amor pelos outros: “Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros” (1 João 3.11):

“Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1 João 3.14).

O apóstolo João explicou o que é o amor dando o exemplo de Jesus que se doou indo até a cruz para nos salvar: “Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade” (1 João 3.16-18).

1 João 3.1 descreve sobre um grande amor de Deus por nós: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai” (3.1). A palavra grega para grande (potapós) é sempre utilizada em contexto onde o maravilhar-se está presente, de forma que a expressão em si tem um ar de magnitude. Dessa forma, notamos que o amor que Deus tem é imenso”. [38]

João registrou no Evangelho que Jesus orientou aos seus discípulos sobre a importância de permanecermos e praticarmos o amor: "Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço” (João 15.9-10).

Em João 17.24, Jesus fala do amor ágape que permanece ativo e que é eterno: “(...) porque tu me amaste antes da fundação do mundo”.

Por causa deste amor ágape, Deus enviou seu Filho para salvar o mundo (João 3.16; João 3.35). É com este amor ágape que Jesus Cristo nos ama (João 13.1). É com este amor que Deus nos ama e é com ele que devemos amar uns aos outros (João 13.25).[39]

E na sua célebre orientação sobre a prática do amor, Jesus disse aos seus discípulos: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes (agapáte) uns aos outros” (João 13.35). (...) No texto original, vemos que Jesus está falando do amor ágape. É o amor da decisão, que depende da livre escolha, determinação e princípios, e não de sentimentos ou condições. É o amor de Deus”.[40]

Segundo Dr.DW Ekstrand,[41] “Deus criou o ser humano com duas necessidades básicas: necessidade de ser amado e de amar. Nossa necessidade de ‘ser amado’ só pode ser realizada ao percebermos que Deus nos ama incondicionalmente com o amor ágape. Quando Cristo entra em nossas vidas, “o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5: 5). É o próprio Deus que entra em nossos corações naquele momento e ‘Ele é amor” (1Jo 4: 8,16)”.[42]

Estes textos acima descrevem apenas uma parte do que é o grandioso amor de Deus. Estes textos descrevem ainda a profundidade e beleza do amor ágape, que é essencial para nossas vidas.

 

 

 



[1]https://thomasjayoord.com/index.php/blog/archives/john

[3]CHAMPLIN, 2004, p. 139. https://portalebd.org.br/index.php/classes/adultos/41-licao-12-quem-ama-cumpre-plenamente-a-lei-divina-v. Outros afirmam que a palavra [ágape aparece 320 vezes no Novo Testamento. https://www.filhosdeezequiel.com/amor-agape/.

[4] Eros é a palavra grega para amor sensual ou romântico. O termo originou-se do deus mitológico grego do amor, desejo sexual, atração física e amor físico, Eros, cuja contraparte romana era Cupido. Já Storge descreve o amor familiar, o vínculo afetivo que se desenvolve naturalmente entre pais e filhos, e irmãos e irmãs. Uma interessante palavra composta usando storge, "philostorgos", é encontrada em Romanos 12:10, que ordena que os crentes "sejam devotados" uns aos outros com afeto fraterno. https://www.learnreligions.com/types-of-love-in-the-bible-700177. 

[5]https://thomasjayoord.com/index.php/blog/archives/john

[6] Dr. DW Ekstrand. “A essência de amar a Deus” - http://www.thetransformedsoul.com/additional-studies/spiritual-life-studies/the-essence-of-loving-god. Outros autores descrevem agapao como: amar (no sentido social ou moral) {principalmente do coração (sincero, incondicional, devotado) - https://dosenhor.com/?s=agapao. Outros ainda interpretam como considerar com reverência, admirar por algum bem, amar de modo mais elevado. No grego clássico significava saudar afetuosamente -  http://biblia.com.br/perguntas-biblicas/como-entender-as-palavras-gregas-para-amor/

[7] https://www.billmounce.com/greek-dictionary/agape

[12] http://thomasjayoord.com/index.php/blog/archives/john

[16] William Tyndale ( Tyndale , Tindall , Tindill , Tyndall ; c. 1494 - c. 6 de outubro de 1536 ) foi um erudito inglês que se tornou uma figura proeminente na Reforma Protestante no Reino Unido . anos que antecederam a sua execução. Ele é bem conhecido por sua tradução (incompleta) da Bíblia para o inglês . https://en.m.wikipedia.org/wiki/William_Tyndale

[17] http://www.wbbm.org/john-wesley-sermons/serm-091.htm

[18] Idem.

[19] Idem.

[20] Idem.

[21] Idem.

[22] http://thomasjayoord.com/index.php/blog/archives/john

[23] Christian Love: The Key to Wesley's Ethics by Leon O. Hynson.

archives.gcah.org/.../Methodist-History-1975-10-Hynson.pdf?

[24] Nascido em Lithgow, Nova Gales do Sul , Morris foi ordenado ao ministério anglicano em 1938. Ele recebeu seu PhD na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, sobre o assunto que se tornou seu primeiro grande livro, A Pregação Apostólica da Cruz . Ele serviu como diretor de Tyndale House, Cambridge (1960-64); diretor do Ridley College em Melbourne(1964-1979), Austrália (onde eles nomearam uma biblioteca em sua homenagem); e Professor Visitante do Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School  - https://en.m.wikipedia.org/wiki/Leon_Morris

[25] http://artlindsleyministries.org/arguments/argument-from-agape/

[26]http://www.thetransformedsoul.com/additional-studies/spiritual-life-studies/the-essence-of-loving-god

[27] https://pt-br.facebook.com/TodoAqueleQueVierAMimdeFormaAlgumaOLancareiFora/.

[30] William Barclay (5 de dezembro de 1907Wick – 24 de janeiro de 1978Glasgow) foi um escritor, apresentador de rádio e televisão, pastor da Igreja da Escócia e professor de divindade e crítica bíblica na Universidade de Glasgow. Como professor, ele decidiu dedicar sua vida a "tornar disponível o melhor curso bíblico para o leitor médio". O resultado foi a Daily Study Bible, um conjunto de 17 comentários ao Novo Testamento, publicado pela Saint Andrew Press, a editora da Igreja da Escócia. (https://pt.wikipedia.org/wiki/William_Barcley_(te%C3%B3logo)

[33] https://portal.rbc1.com.br/licoes-biblicas/baixar-licao/cod/481. 

[34] https://www.thefoundrypublishing.com/a-theology-of-love-9780834134935.html

[35] https://library.timelesstruths.org/music/And_Can_It_Be/

[36]http://www.cinthiahiett.com/conversations-with-cinthia/2016/8/22/notes-loving-the-unlovable-and-agape-love

[37] www.textospararefletir.blogspot.com/2011/06/no-amor-nao-ha-medo-i-joao-418.html

[40] http://www.thetransformedsoul.com/additional-studies/spiritual-life-studies/the-essence-of-loving-god

[41] Donald W. Ekstrand é professor adjunto de Estudos Cristãos na Universidade Grand Canyon, em Phoenix, e Estudos Religiosos no Distrito Maricopa Community College, no Arizona. Dr. Ekstrand é formado em Finanças, Educação Secundária, Teologia e Divindade, e é graduado pela Universidade Estadual do Arizona (Tempe, AZ), pela Escola de Teologia Talbot (LaMirada, CA) e pelo Seminário Ocidental (Portland, OR). Ele serviu em cargos de pastor, professor e administração executiva por quase 40 anos. Don e sua esposa, Barbara, têm duas filhas adultas e residem em Phoenix, Arizona. http://www.thetransformedsoul.com/about-the-author.


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