O cuidado com a Saúde Pastoral

 

 

Odilon Massolar Chaves 

 

 

 


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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor

 

 


Índice 

 

Introdução 

O poder de Deus e a limitação humana 

As necessidades e providências de Paulo 

Cultivando emoções sadias 

Dicas para a saúde dos pastores e pastoras 

Curando os corações dos pastores e pastoras  

 


Introdução 

 

“O cuidado com a Saúde Pastoral” é um livro que trata da necessidade do pastor e da pastora se cuidarem física, emocional e espiritualmente.

Abordamos dois personagens que passaram por situações de necessidades que precisavam de apoio. Um foi Elias, que foi preciso a intervenção de Deus. O outro foi o apóstolo Paulo, que pediu ajuda para preencher suas necessidades emergenciais.

O livro ainda aborda a necessidade de cura interior e algumas dicas para o pastor e a pastora e cuidarem.

O livro foi preparado inicialmente para uma palestra para os pastores e pastoras dos Distritos de Duque de Caxias e de Xerém da Igreja Metodista abordando sobre a saúde pastoral.

Vivemos tempos difíceis onde as cobranças, desafios e necessidades são muito maiores dos tempos bíblicos. A necessidade de se cuidar é muito maior.

Que o Espírito Santo te ilumine na leitura desse livro. 

O Autor  

 


O poder de Deus e a limitação humana

 

 

Texto base: 1 Reis 19.1-8  

Os pastores e pastoras vivem entre as possibilidades imensas do poder de Deus e as nossas limitações humanas.

Às vezes, estamos num Monte da Transfiguração vendo o poder de Deus. Outras vezes, somos levados para um deserto para sermos tentados.

Com a história do profeta Elias aprendemos sobre as virtudes e as limitações do ser humano.

As virtudes

A sua fidelidade, coragem e ousadia: “Então Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra” (1 Reis 17.1). 

A sua dependência e obediência a Deus:  “Retira-te daqui, e vai para o oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão. E há de ser que beberás do ribeiro; e eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem” (1 Reis 17.3-4). 

A sua abnegação: “Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente. Então ele se levantou, e foi a Sarepta” (1 Reis 17.9-10). 

A sua fé poderosa: “Porque assim diz o Senhor Deus de Israel: A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará até ao dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra” (1 Reis 17.14). 

As limitações

1. Ministrar sozinho traz esgotamento emocional e físico: “Então disse Elias: “Só eu fiquei por profeta do Senhor” (1 Reis 18.22). 

Existe uma síndrome muito comum nos dias atuais que tem atingido muitos profissionais e pastores. É a síndrome de burnout. Ela ocorre como “consequência do acúmulo excessivo de estresse em trabalhadores que têm uma profissão muito competitiva ou com muita responsabilidade”.[1]

Sintomas dessa síndrome: Sentir-se cansado e sem energia quase sempre; ter dor de cabeça frequente; alterações no apetite; dificuldade para pegar no sono; ter sentimentos constantes de fracasso e insegurança; sentir-se derrotado e sem esperança; vontade de se isolar dos outros, etc.[2] 

2. Elias, na crise, decidiu se isolar e desejou morrer  

Jezabel ameaçou Elias de morte e ele fugiu em vez de procurar apoio e Deus: “O que vendo ele, se levantou e, para escapar com vida, se foi, e chegando a Berseba, que é de Judá, deixou ali o seu servo. Ele, porém, foi ao deserto,

caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte” (1 Reis 19.3-4).

Sozinhos vamos ter apenas os pensamentos negativos dirigindo nossa vida.

Aprendemos na história de Elias

1. Devemos buscar os que são do Senhor que estão em crises

“E deitou-se, e dormiu debaixo do zimbro; e eis que então um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te, come. E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se. E o anjo do Senhor tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te será muito longo o caminho” (1 Reis 19.5-7).

Uma palavra de ânimo, um cole d’água, um abraço, uma oração inicia o processo de cura.

2. Em uma geração, não somos os únicos que estão santificados.

Elias disse: “Só eu fiquei” (1 Reis 19.14). Mas o Senhor lhe disse: “Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou” (1 Reis 19.18).

Precisamos estar juntos como Corpo de Cristo. Sozinhos adoecemos.

3. Chega o tempo em que é hora de parar ou diminuir as nossas tarefas

“E o Senhor lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco; e, chegando lá, unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel; e também a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar” (1 Reis 19.15-16).

Não somos super-homens ou mulheres maravilhas. A Bíblia diz que há tempo para tudo. Precisamos cuidar da saúde. Jesus, muitas vezes, deixava a multidão de lado e ia para um lugar sozinho. Precisamos viver na simplicidade, curtindo a natureza e a bela vida que Deus nos deu. 

4. O Senhor tira Elias do olho do furacão e o honra  

Do jeito que Elias estava, Deus sabia que ele não poderia estar no olho do furacão enfrentando Jezabel e todos os seus demônios. Olho do furacão significa estar no centro de um problema, de uma situação muito ruim, ser vítima principal de um distúrbio.

Elias já tinha cumprido o seu ministério desarticulando todo o mal em Israel. No final, o Senhor o honrou e o elevou: “E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho” (2Reis 2.11).

Vivemos entre as possibilidades do poder de Deus e a fragilidade humana.

 


As necessidades e providências de Paulo

 

Este texto que Paulo escreveu para Timóteo revela diversas necessidades urgentes do apóstolo: 

Procura vir ter comigo depressa, Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.Também enviei Tíquico a Éfeso.
Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras.Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras” (
2 Timóteo 4.9-15). 

Essas necessidades são, em grande parte, também nossas necessidades nos dias atuais. Somos humanos e, portanto, limitados. 

Conhecemos o poder de Deus, mas somos humanos como Jesus, que pediu água à mulher samaritana porque tinha sede. 

Destacamos nesse texto de Paulo a Timóteo algumas necessidades: 

- A necessidade de ter uma pessoa querida ao lado

Paulo disse: “Procura vir ter comigo depressa, porque Demas me desamparou”.

A expressão “depressa” revela a urgência do seu pedido. Paulo estava preso e não tinha mais alguém para compartilhar, trocar ideias, orar um pelo outro, abraçar, chorar e sorrir juntos, etc.

Não nascemos para ficar só.

Ainda havia a dor por causa da decepção com o abandono por Demas.

Ainda acrescentou: “Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério”.

Paulo tinha um ministério compartilhado, ora com Timóteo, Silas (Silvano), Barnabé etc. Eles estiveram juntos nas vitórias e nas lutas. Um apoiava o outro.

Veja que Barnabé e Saulo foram chamados para uma viagem missionária (Atos 13.14).

Necessidade de cuidado físico

O apóstolo disse para Timóteo: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo”.

O inverno estava próximo. O pedido foi para que Timóteo chegasse antes do inverno começar. Era um inverno rigoroso e Paulo precisava se aquecer.

A capa era tremendamente necessária. Poderia custar sua vida. Ainda mais dentro de um cárcere onde as paredes não resolviam o problema do frio.

Precisar cuidar de nosso corpo. Precisamos cuidar de nossa saúde seja física ou emocional.

O cuidado com a mente

Paulo pode a Timóteo para trazer também “(...) os livros, principalmente os pergaminhos”.

Paulo precisava muito mais, especialmente por ele estar na prisão sem muita ocupação. Dizem que “mente vazia é oficina do diabo”.

Ler edifica, molda nossos pensamentos e aumenta nosso conhecimento sobre o mundo.

Ler nos traz segurança.

Ler é importante para nós hoje. Uma importância está aqui: “(...) desenvolvemos e apuramos também o nosso senso crítico. Isso quer dizer que passamos a analisar de forma mais racional e inteligente os fatos que acontecem ao nosso redor, sem nos deixar levar pela opinião alheia, evitando, assim, nos tornarmos pessoas alienadas, que não conseguem formular opiniões, conceitos e dar sugestões por conta própria”.[3]

A leitura nos ajuda a conhecer novos vocabulários, lugares, pessoas, cidades e nos mantêm atualizados com as novas descobertas e situações do mundo.

É uma ferramenta fundamental para os pastores e pastoras.

Quando prejudicado, perdoar e ir em frente

Paulo afirma e alerta a Timóteo: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras”.

O apóstolo aqui alerta ao jovem discípulo. É necessário tomar cuidado, mas ele deixa com o Senhor acertar as contas Alexandre.

Não podemos guardar ressentimentos ou perseguir a quem nos faz mal. Só irá prejudicar nossa vida. Paulo revela que não está com ódio. Ele está indo em frente.

Faz parte de nosso ministério passar por situações assim.

Tomar cuidado é fundamental, mas devemos perdoar e ir em frente.

O Senhor supre as nossas necessidades, mas há situações que nós é que precisamos resolver, pois cabe somente a nós.  


Cultivando emoções sadias

 

Texto Base: Gn 25.27-34

Na busca pela saúde pastoral, é necessário eliminar o que foi plantado por situações negativas nos relacionamentos pastorais.

Lidamos com pessoas de todo tipo, por isso também podemos ser atingidos.

Afinal, há também muitas pessoas doentes e algumas com doenças psicológicas graves na Igreja. Em nosso meio podemos também ter até psicopatas.

Acontece!

Na Igreja existe também o trigo e o joio. Por isso, podemos também ser atingidos.

Mas não podemos carregar esses males dentro de nós.

Também alguns pastores e pastoras trazem marcas negativas dos antepassados ou de situações ocorridas, especialmente, na infância. Certamente, alguns precisam de cura interior.

Retire as sementes de joio plantadas dentro de você

Muitos pastores e pastoras estão contaminados pelos sentimentos de raiva, ressentimento, amargura, decepção, frustração, etc.

São sementes de joio plantadas dentro de você.

“O ressentimento vai tirando o potencial criativo, a alegria, a possibilidade de crescer na comunhão com o Senhor.

Com amargura, ninguém avança emocionalmente na vida. Pessoas marcadas pela amargura patinam na vida. Tornam-se fantasmas de si mesmas, prisioneiras de seus afetos, e não conseguem avançar. O ódio é mau conselheiro, todos aqueles que resolvem prestar atenção à sua amargura, padecem dores terríveis na vida.

“Ódio é você tomar um copo de veneno pensando que o outro vai morrer”.

Gente que não perdoa vive prisioneira de uma outra força, a vingança”.[4]

Lembre-se: “De tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração porque dele procedem todas as fontes da vida” (Pv 4.23).

Davi escreveu: “Por causa da minha falta de juízo, tenho feridas que cheiram mal e apodrecem. Estou muito abatido e encurvado e choro o dia todo. Estou muito doente, queimando de febre. Sinto-me profundamente abatido e desanimado; o meu coração está aflito, e eu fico gemendo de dor” (Salmo 38.5-8).

O que Davi escreve é que “o processo de deterioração de qualquer órgão tem uma relação direta com as emoções e sentimentos que estamos experimentando”.[5]

É preciso aprender a lidar com os sentimentos negativos para termos vida em abundância.

A Bíblia nos dá várias orientações dentre elas, estão:

É possível eliminar o ressentimento e a amargura pelo perdão

“Livrem-se de toda amargura (…) perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo” (Efésios 4.31-32).

O que você escolhe?

“(...) o ressentimento é o resultado do que outras pessoas fazem contra mim. Eu sinto culpa pelo que faço contra as pessoas, mas eu fico ressentido por causa do que elas fazem contra mim (...) o modo como tratamos o ressentimento determina se cresceremos ou encolheremos. Eu posso escolher se a situação vai me devastar ou se vai me dar uma nova direção; se me ajudará a prosseguir ou a retroceder; refinar ou estagnar”.[6]

Toda vez que recordamos do fato que nos feriu, ficamos ressentidos e somos magoados e amargurados novamente.

O livro de Jó diz: “Ficar desgostoso e amargurado é loucura, é falta de juízo que leva à morte” (Jó 5.2, NTLH).

É necessário eliminar a culpa para termos uma vida saudável

“Culpa’ é o termo que usamos para os sentimentos negativos que repetidamente sentimos quando cometemos um erro que consideramos grave, ou quando fazemos algo que gostaríamos de não fazer ou de não ter que fazer”.[7]

Alguém disse que “Nada pode destruir a alma mais rapidamente do que a culpa”.[8] É um mecanismo de autodestruição.

Davi disse: “As minhas culpas me afogam; são como um fardo pesado e insuportável. Estou encurvado e muitíssimo abatido; o dia todo saio vagueando e pranteando” (Salmo 38.4 e 6).

Não adianta fingir que nada aconteceu e nem racionalizar dizendo que todo mundo faz a mesma coisa. Se errarmos, temos que pedir perdão a Deus através de Jesus e a paz de Deus inundará nossos corações.

A culpa nos faz ter baixa alta estima e nos torna depressivos. A vida fica negativa.

É necessário eliminar a raiva e a ira para possuir a terra

A raiva é um mecanismo usado para tentar se auto preservar, mas ela acaba destruindo. A pessoa agride porque se sente ameaçada.

Muitos explodem e perdem coisas preciosas por causa da explosão de raiva. Só que precisamos agir com mansidão e ter uma atitude equilibrada.

Muitas pessoas têm agido com violência chegando a matar por se sentirem agredidas ou rejeitadas. Muito comum é reagir ao Bullying, que significa “valentão!”. “O Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia (...)”.[9]

Dizem que a frustração, medo, dúvida e a culpa produzem a raiva. Dizem ainda que “quem se libertar destas quatro emoções negativas dominará o mundo”.[10]

É preciso conhecer os motivos da raiva e procurar dominá-la. É preciso perdoar e colocar a raiva na cruz de Cristo.

O Espírito Santo é o melhor remédio para a cura. Ele traz domínio próprio, mansidão, paz, alegria, amor etc.

Para refletir: Seus sentimentos são saudáveis ou negativos?  

 


Dicas para a saúde dos pastores e pastoras

 

O trabalho pastoral pode ser comparado a uma linha tênue.

“O adjetivo tênue tem a sua origem no latim tenuis e indica uma coisa pouco espessa, fina, delgada, frágil ou com pouca consistência. Assim, a expressão linha tênue remete para uma diferença sutil entre duas coisas diferentes. Ex: Existe uma linha tênue entre o amor e a obsessão.”[11]

Em inglês, a expressão linha tênue é traduzida como "fine line".

Paul McCartney escreveu a música Fine Line onde ele afirma que há uma linha tênue entre a imprudência e a coragem, abordando as escolhas da vida e como por vezes caminhos ligeiramente distintos podem levar a lugares completamente diferentes.[12]

O ministério pastoral pode sim ser visto como alguém que foi trabalhar no paraíso, mas separa apenas por uma linha tênue, pois ao mesmo tempo ele pode passar para um inferno por causa das armadilhas para quem não está curado emocionalmente e, em especial, tem brechas em sua vida sentimental com carências efetivas.

Um pastor disse: “Pesquisando sobre isso no Google, encontrei uma notícia no site JM Notícias falando que 54% dos Pastores Sofrem de Exaustão Mental e Emocional.

E isso é a mais pura verdade! Ser pastor é um trabalho árduo. É pensar 24 horas por dia na igreja e nas ovelhas. É levantar de madrugada para socorrer alguém. É se preocupar mais com o bem-estar do outro do que com o nosso próprio.

Nessa mesma notícia foi relatado um outro estudo que obteve a seguinte conclusão: A Atividade Pastoral Expõe a um Risco de Depressão e Ansiedade muito maior do que outras atividades profissionais.[13]

Nos últimos tempos temos vistos muitos pastores e pastoras se suicidando especialmente por causa da depressão.

Uma estatística da Igreja Presbiteriana do Brasil demonstra que nos últimos 10 anos, 325 pastores foram despojados do ministério e a maioria por envolvimento sexual, e apenas 189 foram jubilados.[14]

Quero dar algumas dicas.

São dicas para ajudar na saúde pastoral. Essas dicas são frutos de experiencias pessoais ao longo do meu ministério pastoral.

São dicas simples, mas que poderão ajudar na superação do estresse do trabalho pastoral:

Curta o seu dia de folga

Um pastor disse: “O diabo não tira um dia de folga. Ele não tira férias, e eu também não”.

Na verdade, o diabo quer que o pastor ou a pastora não tire dia de folga. Assim ele ficará estressado, terá um enfarto e não pregará mais a Palavra.

Curta seu dia de folga, veja um bom filme, saia com a família, almoce fora etc.

Um pastor norte-americano disse: “Em nossas viagens de família, visitamos com frequência velhos estádios históricos em que times ou jogadores famosos já jogaram. É uma excelente forma de gastar o tempo com meus meninos”.[15]

Procure ter um lazer constante.

Curtir ou praticar esporte, curtir a praia, pesca, bons filmes, viajar, etc.

Jogos no computador são outras dicas.

Mas fazer caminhada é fundamental especialmente em meio à natureza e é também um prazeroso lazer.

Procure ter uma companhia com quem você possa compartilhar suas alegrias ou dificuldades.

Lembre-se de que não é bom que o homem (e a mulher) esteja só.

Cultive o bom humor.  

Não é ser piadista, mas curtir a vida em seus mínimos detalhes.

O bom humor traz saúde emocional e física.

É muito bom rir até daquilo que não deu certo. Melhor do que amaldiçoar e ficar recordando com raiva.

Faça exame de saúde periodicamente.

Vai ajudar você a se cuidar melhor em algum ponto.

Não deixe de ter um plano de saúde.

Invista nessa área para você e sua família.

Curta algo que tire seu foco dos problemas da igreja local

Amamos a Igreja, mas não é bom se fixar só no trabalho.

Lembre-se da importância de estar junto da família.

Meu hobby sempre foi escrever livros. Minha mente fica concentrada durante muito tempo e eu mergulho nos textos e histórias.

Cuide de suas finanças pensando no presente e futuro.

Não viva só para o momento.

Lembro que meu pai que foi pastor metodista durante mais de quarenta anos precisou da ajuda dos filhos e filhas para comprar um apartamento. Ela havia se aposentado, mas as finanças não davam o suficiente para ter uma casa própria.

Depois, ele conseguiu construir uma casa em Nova Friburgo. Ele me disse que tinha um sócio que o ajudava. Quando perguntei quem era, ele respondeu apontando para o alto.

Deus o honrou!

Não viva fora do seu orçamento pessoal.

Pensando no aspecto do valor estabelecido para viver e o que a igreja efetivamente irá te pagar como salário, estabeleça um orçamento. Não dá pra viver fora do orçamento pessoal. Não há como trabalhar sem um orçamento claro na vida pessoal de qualquer um e o pastor não é diferente (...).

Não faça dívidas além do que você pode efetivamente pagar.

Dívidas são um problema real. Não ficar com o orçamento pode provocar uma crise financeira, que afetará não só sua vida pessoal, mas sua família e também o seu ministério na igreja. É um efeito cascata.[16]

Invista na sua aposentadoria. Eu comecei a pagar meu INSS no primeiro ano da Faculdade de Teologia.

Tenha um mentor ou mentora 

Quero me deter um pouco mais aqui pensando na saúde pastoral.

O mentor ou mentora é um guia, conselheiro, uma pessoa que tem experiência no campo de trabalho da pessoa que está sendo ajudada.

O líder cristão precisa do apoio de um mentor ou mentora experiente e capaz que o ame e o auxilie a levar ou a superar a sua carga.

“É melhor ter uma companhia do que andar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a se levantar. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se”. Eclesiastes 4. 9 – 10. (NVI).

“A adoção de um conselheiro ministerial reproduz a relação de confiança a existir na família entre pai, mãe e filhos. Quem se deixa aconselhar revela humildade e confiança na autoridade que lhe é superior ou revela maturidade. É capacitado para ser também um conselheiro eficaz. Somente uma pessoa ensinável será bom ensinador. 

A adoção sistemática da mentoria dá estabilidade à liderança e a afasta de decisões insensatas”.[17]

A mentoria de João Wesley 

Além de um evangelista, apóstolo, organizador, Wesley foi ainda um mentor, que estimulava os que estavam ao seu redor e, por isso, foram encorajados a buscar a santidade.

Não foi sem motivo que os pregadores metodistas eram destemidos, abnegados e cheios de amor.

Constantemente, Wesley se comunicava com seus pregadores e líderes de células pelas cartas e respondia às suas dúvidas.

As viagens evangelísticas com um ou outro pregador eram oportunidades do mentor Wesley aconselhar, acolher e ajudar.

Wesley sabia da importância do discipulado pelo contato pessoal para o crescimento.

Wesley foi o mentor do Clube Santo. 

Responsabilidade mútua

As Classes e Bands no metodismo tinham o propósito de cuidar uns dos outros. O líder precisa visitar aos componentes durante a semana.

A classe foi o ponto principal metodista de despertamento dos candidatos que ainda não tinham experimentado a justificação pela fé e a vida nova, mas que desejavam tal experiência.[18] Visava a salvação e santificação.

As reuniões semanais para compartilhar a confissão e os exames periódicos dos membros da classe formaram a base do conceito de responsabilidade mútua.[19]

 


Curando os corações dos pastores e pastoras

 

 

Muitos líderes cristãos estão precisando de Cura Interior, pois trazem marcas negativas em sua vida que prejudicam seu ministério pastoral, seu relacionamento com sua família, membros da Igreja e com sua saúde emocional e física.

A ministração de Cura Interior é um meio de auxiliar na retirada de travas ou fechar as brechas que existem em nosso interior para que tenhamos saúde emocional, desenvolvimento espiritual, aperfeiçoamento nos relacionamentos e condições de ter uma vida sadia e vitoriosa. 

O objetivo final da Cura Interior 

Na ministração de Cura Interior, “o objetivo final não é simplesmente aliviar a dor do passado ou algum nível de sanidade mental e emocional, mas o crescimento à semelhança de Cristo e uma obra de amadurecimento na santificação e verdadeira santidade” (David A. Seamands).

Cura interior é um meio para restaurar o caráter à imagem de Deus em nós.

Todos precisam ser restaurados. Podemos ser batizados pelo Espírito; sermos ministros, pastores/as e bispos, mesmo assim precisamos ser restaurados à imagem de Deus.

1- Precisamos recuperar a imagem de Deus

No Jardim do Éden havia felicidade. Havia comunhão um com o outro e com Deus. A paz e o amor reinavam.

Fomos criados à imagem e semelhança de Deus com capacidades de amar, decidir, evoluir, com senso moral, etc (Gn 1.26-27; 2.7).

O pecado destruiu essa imagem em nós. Hoje odiamos, temos libertinagem, perdemos nosso senso moral e evoluímos para a destruição do ser humano.

De diferentes maneiras herdamos problemas emocionais. Nós herdamos doenças de nossos primeiros pais (Gn 3.8-13), entre elas: desobediência (Gn 3.6), medo (Gn 3.10), transferência de culpa (Gn 3.12-13) etc.

Todos precisam ser purificados, restaurados através de Jesus (Rm 5.1; At 3.19-21).

Nós podemos herdar virtudes, mas também maus costumes, males psicológicos e trevas de nossos pais, da mesma forma que eles herdaram: “... nossos pais herdaram só mentiras e vaidades...” (Jr 16.19).

E ainda durante a nossa existência os traumas, rejeições, tribulações marcam, negativamente, nossa vida.

2 – O Senhor quer nos curar

Uma grande notícia que o Senhor nos dá: “(...) me disponho a mudar a sorte do meu povo e a sarar a Israel” (Os 7.1). Mas o Senhor só pode atuar em corações humildes, quebrantados (Is 6.1).

Por isso, abra seu coração para Jesus entrar (Ap 3.20). Procure compartilhar em grupo. Faça uma força para participar e também ouvir. Isso ajudará a superar suas dificuldades e saber lidar com os problemas emocionais.

Jesus veio para nos libertar e restaurar (Lc 4.16-19).

O Espírito Santo veio para moldar nosso caráter à semelhança de Jesus (Gl 5.22).

3- Início da cura

A cura começa quando você descobre a enfermidade e tem o desejo de eliminá-la. O Espírito Santo tem a função de nos convencer e revelar nosso pecado e nossos defeitos.

Não pense que você é o único que tem defeitos. A Bíblia diz que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3.23).

Muitas doenças emocionais têm origem no pecado. Outras surgem por causa das lutas diárias, como traumas, estresse etc. Não queira continuar com a sua enfermidade e não tenha pena delas.

Jesus quer que você seja livre e abençoado.

4.  Vencendo a luta

A cura depende muito de você. Persevere, mesmo que você não veja e nem sinta nada nas primeiras ministrações. A carne (natureza má) vai se levantar contra a tentativa de cura, ou seja, de sua eliminação.

O inimigo perderá seu lugar e tentará convencer a você de que nada se resolverá. Mas o Espírito do Senhor vai fortalecê-lo (Cl 4.2; 1Ts 5.15-22).

5- Cura progressiva

Lembre-se de que a cura das emoções doentias é progressiva. Muitas enfermidades estão entrelaçadas. A cura de uma enfermidade poderá acarretar a cura de outras doenças. Algumas enfermidades só saem com a dor.

O Senhor corta o que está doente ou estragado, para preservar a parte sã. Mas depois virá o bálsamo. Você irá crescendo em maturidade, fé, alegria, ânimo. Talvez, você tenha ainda um caminho a percorrer para alcançar esse estágio, mas você poderá alcançar (Ef 4.11-16).

6- Desmascare as enfermidades

Há doenças emocionais que estão ocultas por nós mesmos, como autodefesa, ou pelo inimigo. Por isso, só com a ação do Espírito poderemos descobrir as enfermidades e as suas causas (At 10.9-16,28; Sl 139).

7- Crucifique a carne

Se há enfermidades que nem gostamos de pronunciar, há outras agradáveis à carne, pois nos trazem prazeres e vantagens. Rompa com o desejo insensato. Negue-se a si mesmo e tome a sua cruz (Lc 9.23). Isto é, procure negar a vontade própria que não esteja de acordo com a vontade do Senhor.

A alma precisa receber o fogo purificador do Senhor para queimar todas as impurezas. Precisamos da circuncisão do coração (Cl 2.11-15). Crucifique as doenças agradáveis que o estão levando à morte.

8- Cura completa: restauração da imagem de Deus

A cura completa só acontecerá quando alcançarmos a medida da estatura de Jesus: mesma humildade, mansidão, amor, fé, etc (Ef 4.11-16). Nós fomos criados para sermos conforme à imagem de Jesus (Rm 8.29).

Paulo disse: “(…) e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Colossenses 3.10).

O Senhor constitui líderes para realizarem esse crescimento espiritual (Ef 4.13).

Algumas doenças poderão ser curadas em pouco tempo, mas a cura completa só acontecerá quando alcançarmos essa perfeição cristã.

9 – Os limites de uma pessoa restaurada à imagem de Deus

Uma pessoa pode alcançar a maturidade espiritual e ter o caráter de Jesus.

A imagem de Deus é restaurada em sua vida.

Contudo, ela tem limites. Pode sofrer tentação, cometer erros e ter sofrimento, afinal, ela é um ser humano que sente alegria e tristeza também, pois vive ainda neste mundo. Ela nunca será divina como o Cristo ressurreto.

Uma pessoa santificada será liberta do domínio do pecado e terá uma vida de amor a Deus e ao próximo.

10 – Amor, principal marca do caráter de Cristo em nós

 

Seremos curados e restaurados à imagem de Deus quando alcançarmos a santidade, o caráter de Cristo.

A Bíblia mostra diversos servos e servas do Senhor que tiveram marcas do caráter de Cristo: Paulo, Timóteo, Barnabé, Dorcas, Epafrodito, Estevão, etc.

O apóstolo João era chamado de discípulo amado e foi aperfeiçoado em amor (1Jo 4.17-18). Wesley disse que o apóstolo João é um exemplo de podermos alcançar o caráter de Cristo.

Podemos, sim, ser libertos do pecado para alcançarmos a perfeição, a plenitude da imagem de Jesus (Rm 8.29).

Como Mestre (Rabi), Jesus tinha o propósito de levar seus discípulos a seguirem seus passos, agir como Ele, ter o Seu caráter. Ter a imagem de Deus restaurada.

A principal marca do caráter de Cristo em nós é o amor: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13.35).

Muitos de nós, e aqui incluo os pastores e pastoras, precisam de um batismo de amor, conforme Romanos 5.5.

O amor cura nossas carências e trata do nosso caráter. O amor vai nos tornar um real discípulo de Jesus e poderemos amar uns aos outros.

Seremos líderes bem melhores. Bem mais felizes e realizados.

O amor faz toda a diferença no ministério pastoral. Muitos são chamados de “pastor ou pastora do amor”.

 



[1] https://www.tuasaude.com/sindrome-de-burnout/

[2] Idem.

[4] Valdeci Santos, Secretário Nacional de Apoio Pastoral - https://www.ipb.org.br/informativo/a-saude-do-pastor-4223 

[6] http://ismaelitanasc.blogspot.com.br/2011/03/como-jesus-lidava-com-as-emocoes.html

[7] http://www.escolapsicologia.com/como-lidar-com-o-sentimento-de-culpa/

[8] http://ismaelitanasc.blogspot.com.br/2011/03/como-jesus-lidava-com-as-emocoes.html

[9] https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=bulling

[10] http://www.divinaciencia.com/course/s/c/10-como-controlar-a-raiva

[12] Idem.

[18] http://hermeneutic.org/2009/05/wesley-and-lay-ministry.html

[19] http://www.andrewthompson.com/

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