Susanna Wesley

 

Uma mulher além do seu tempo

 

 

Odilon Massolar Chaves

 



Copyright © 2024, Odilon Massolar Chaves 

Todos os direitos reservados ao autor. 

É proibida a reprodução total ou parcial do livro, 

Art. 184 do Código Penal e Lei 9610 de 19 de fevereiro de 1998. 

Livros publicados na Biblioteca Wesleyana: 68 

Endereço: https://bibliotecawesleyana.blogspot.com 

Tradutor: Google

-----------------

Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor

 


“Quando havia me esquecido de Deus, descobri que Ele não havia se esquecido de mim. Mesmo então, Ele, pelo seu Espírito, aplicou os méritos da salvação à sua alma, dizendo-me que Cristo havia morrido por mim”.

 (Susanna Wesley)

 



Índice

 

·      Introdução

·      A primeira professora

·      Gerenciando a casa

·      Uma mãe virtuosa

·      A sua vida espiritual

·      A sua origem puritana

·      A sua firme posição política

·      Seus métodos de ensino



Introdução

 

 

“Susanna Wesley, uma mulher além do seu tempo” é um livro que relata a sua vitoriosa história.

Ainda hoje em muitos países seus ensinos e práticas com os seus filhos e filhas são exaltados e ensinados.

Seus ensinamentos e vida disciplinada foram passados para João e Carlos Wesley, que foram os grandes líderes do metodismo, na Inglaterra, no século XVIII.

Uma forte personalidade, inclusive com uma posição diferente do seu esposo Samuel, mas com a doçura e paciência de uma mãe amorosa.

Soube gerenciar sua casa nas muitas ausências de seu esposo, inclusive quando esteve preso.

Era assim Susanna Wesley.

 O Autor

 


A primeira professora

 

Ela começava a ensinar o alfabeto aos filhos no dia do aniversário de cinco anos 

Susanna Wesley (1669-1742) era a 25ª filha do Dr. Samuel Annesley e Mary White.

Ela gostava de Teologia. Dominava bem francês, latim e o grego. Em 1688, com 19 anos, casou-se com Samuel Wesley, que tinha 26 anos, e tiveram 19 filhos.

Samuel e Susanna “eram descendentes de não-conformistas, seus avós estavam entre os clérigos expulsos em 1662. O pai, Samuel Wesley (1662-1735), preferira o ministério da Igreja estabelecida e fora, desde 1696 até a morte, pároco da igreja campesina de Epworth. Homem de sincera tendência religiosa, no entanto era pouco prático. Escreveu a Vida de Cristo em verso e um comentário ao livro de Jó. A mãe, Suzana Annesley, era mulher de notável fortaleza de caráter, sendo, como seu marido, anglicana devota. Os filhos tinham muito dos pais, mais talvez da força materna. Num lar de dezenove filhos, dos quais oito morreram na infância, a regra era do trabalho duro e de estrita economia.”[1]

“Certa vez, quando seu marido lhe perguntou exasperado: ‘Por que você se assenta aí ensinando a mesma lição pela 20ª vez a essa criança medíocre?’, ela respondeu calmamente: ‘Se tivesse me satisfeito em mencionar esse assunto somente 19 vezes, todo o esforço teria sido em vão. Foi a 20ª vez que coroou todo o trabalho”.[2]

Ela começava a ensinar o alfabeto aos filhos no dia do aniversário de cinco anos.

Ela se preocupava com a felicidade de seus filhos. Mantinha um horário rigoroso em seu lar, era disciplinada e metódica. Ela sempre recompensava a obediência.[3]

Susanna passou a realizar culto nos domingos à tarde para a família. Muitos vieram participar, chegando a haver cerca de 200 pessoas.

Além de cartas, Susanna Wesley escreveu meditações e comentários bíblicos para seu próprio uso.

Durante sua vida, ela deu conselhos a João Wesley.

Em uma carta, Susanna enfatizou que “o propósito principal da pregação era consertar a vida das pessoas e não encher suas cabeças com teologia ou doutrina”.[4] 


Gerenciando a casa 

 

“As frequentes ausências de seu marido no negócio da igreja deixaram a gerência da casa em suas mãos”  

Susanna Wesley foi a precursora das mulheres pregadoras do metodismo e foi quem inspirou João Wesley para a abertura da pregação às mulheres e apoiou a pregação ao ar livre para os leigos. “Ela praticava o que pregava a seus filhos”.[5]

Apesar de toda responsabilidade em casa, Susanna reservava duas horas por dia para ter comunhão com Deus e tempo em Sua Palavra, e ela aderiu a essa agenda fielmente.

Seus pais Dr. Samuel Annesley e Mary White eram dissidentes da Igreja Anglicana. Aos 13 anos, Susanna deixou a Igreja de seu pai e foi para a Igreja Anglicana.

“As frequentes ausências de seu marido no negócio da igreja deixaram a gerência da casa em suas mãos. Através dela, ela permaneceu uma cristã firme que ensinava não somente através das Escrituras, mas através de seu próprio exemplo de confiança diária em Deus. Uma vez ela escreveu: ‘Precisamos conhecer Deus por experiência, a menos que o coração perceba e o conheça como sendo o bem supremo, a sua única felicidade, a menos que a alma sinta e reconheça que não pode ter repouso, paz, alegria, Amar e ser amado por Ele”.[6]

Samuel nunca “foi um homem prático, não conseguia viver dentro do orçamento de sua família e, se não fosse pela gerência de sua mulher, com frequência não teriam tido alimento.”[7]

Mesmo quando Samuel Wesley esteve preso, a oração e o estudo da Palavra eram prioridades em sua vida.

Em carta escrita a seu esposo, em 6 de fevereiro de 1711, Susanna comenta sobre sua função e responsabilidade:

“Como sou mulher, assim também sou dona de numerosa família; e ainda que a maior responsabilidade, pelas almas deste lar, cai sobre você, contudo, na sua ausência não deixo de considerar cada alma que você deixa aqui sob meu cuidado, como um talento entregue a mim, pelo grande Senhor de todas as famílias, tanto no céu como na terra; e se eu for infiel a Deus ou a você, pela negligência de melhorar estes talentos, como posso eu responder a Ele, quando Ele exigir contas da minha mordomia?”[8]

A falta de dinheiro dificultava a vida de Susanna. Quando Samuel voltou da prisão, Susanna o recebeu com toda alegria.

Sua casa foi queimada também duas vezes. Em uma delas, quase João Wesley morreu. Ela passou a dar maior atenção ao seu filho João, pois entendeu que Deus tinha algo especial para o menino.

Após o segundo incêndio, A Igreja decidiu construir uma casa de tijolos vermelhos onde nem o vento e nem o fogo poderiam destruir. Susanna foi obrigada a colocar seus filhos e filhas em casas diferentes por logo período até a casa ser construída.

Passava uma hora por dia com cada uma das crianças na semana. Ela começava a ensinar o alfabeto aos filhos no dia do aniversário de cinco anos.

A falta de diversos ensinamentos espirituais na Igreja levou Susanna a reunir seus filhos e filhas na tarde de domingo para cultos.

“Eles cantavam um salmo e então Susanna lia um sermão do arquivo do sermão de seu marido ou do pai seguido de outro salmo. A população local começou a perguntar se eles poderiam participar. Em um ponto, havia mais de duzentas pessoas que iriam assistir ao serviço da tarde de domingo de Susanna, enquanto o serviço da manhã de domingo diminuiu para quase nada”.[9]

Susanna escreveu várias peças que seriam fundamentais na educação dos seus filhos. Ela disse: (...) “Insisto na conquista da vontade dos filhos, pois este é o único fundamento forte e racional de uma educação religiosa, quando isso é feito, então uma criança é capaz de ser governada pela razão e pela piedade”.[10]

Em 1735, ficou viúva e foi morar com uma filha. Em 1740, Wesley a levou para a Fundição, em Londres, onde ela viveu ao redor dos metodistas, que eram pessoas amorosas.

A “Fundição”, uma antiga fundição de canhões, foi a primeira propriedade dos metodistas em Londres.

“Era a sede do movimento metodista, localizada num subúrbio de Londres; foi comprada do governo por John; próximo fica o cemitério onde foram sepultados Susanna Wesley”[11] e outros. 

 


Uma mãe virtuosa

 

 

“Sofreu a dor da perda. Nove de seus filhos morreram ainda bebes”  

Susanna Wesley foi exemplar mesmo sendo mãe de dezenove filhos e filhas. Passou por lutas iguais às da família de hoje. Na verdade, muito mais.

Seu marido Samuel foi preso por causa de dívida e ela teve que manter sozinha sua casa por um período. Naquele tempo, enquanto não pagasse a dívida, a pessoa permanecia presa.

Sofreu a dor da perda. Nove de seus filhos morreram ainda bebes. “Seus gêmeos morreram, assim como sua primeira filha, Susanna. Entre 1697 e 1701, cinco de seus bebês morreram (...). Alguns de seus filhos tiveram varíola”.[12]

E ela foi mãe exemplar a ponto de haver diversos livros sobre sua educação e cuidado com seus filhos e filhas. Mas ela era uma mulher determinada e com uma visão a frente de seu tempo.

Seus filhos e filhas quando aprendiam a ler, ela ensinava primeiramente os primeiros versículos da Bíblia. Reservava cada dia para um dos seus filhos e filhas para conversar e saber de suas dificuldades e desenvolvimento.

Foi muito metódica. Dois de seus filhos revolucionaram a vida espiritual na Inglaterra, no século XVIII. Eles se chamavam João e Carlos Wesley.

João Wesley foi grande organizador, administrador. Pregava de forma maravilhosa e foi extremamente dedicado na busca da santidade. Restaurou as doutrinas do Espírito Santo e da Perfeição Cristã que estavam esquecidas em sua época. Carlos Wesley foi pregador e compôs cerca de nove mil hinos, que o povo metodista cantava com entusiasmo.

Susanna foi pregadora da Palavra em uma época em que as mulheres não pregavam. Seu lar foi transformado em local de culto. Com a prisão de seu esposo, ela abriu as portas de sua casa e ministrava a Palavra para cerca de 200 pessoas.

Susanna foi conselheira de Wesley. Depois da morte de seu marido Samuel, em 1735, ela foi morar com uma filha e, depois, com João Wesley na chamada Fundição, que era o “Quartel General” do metodismo.

Em diversas ocasiões, orientou seus filhos e filhas por carta e pessoalmente. Quando um leigo do grupo chamado metodista começou a pregar nas ruas, Wesley pensou em impedir, mas sua mãe o aconselhou primeiro a ouvi-lo.

Não era costume pregar nas ruas. Wesley foi ouvi-lo e aprovou a nova estratégia. Ele mesmo constantemente pregou nas ruas. Quando foi impedido de pregar nos templos anglicanos, Wesley disse: “O mundo é a minha paróquia”.

Veja algumas práticas de Susanna com seus filhos e filhas:

- Seus filhos eram ensinados sobre a importância da confissão. Quando eles faziam algo errado e confessavam, ela não os punia, mas louvava suas atitudes.

- Quando era necessário disciplinar, ela era gentil e moderada.

- O respeito pelos outros era uma obrigação.

- Nenhuma das crianças podia invadir a privacidade de um irmão ou irmã por mais insignificante que fosse.[13]

A mestre em Psicologia Janete Suárez escreveu um artigo onde ela comenta sobre a educação para crianças e faz uso de dicas de Susanna Wesley:

“Não permita que as crianças comam entre as refeições e estejam na cama após às 20h.

As crianças devem tomar seu remédio sem reclamar e nada deve ser dado se pedem chorando. Apenas educadamente.

As crianças devem aprender a orar tão logo comecem a falar. Elas também devem ficar em silêncio durante o culto familiar.

Para evitar mentiras, não deve ser punido nenhum erro confessado e do qual logo os filhos se arrependam. A obstinação dos filhos deve ser dominada e trabalhada com Deus para salvar sua alma.

Não permita que um ato pecaminoso da criança passe impune.

Não puna os filhos duas vezes por uma única ofensa.

O bom comportamento dos filhos deve ser sempre elogiado e recompensado e toda tentativa de agradar, mesmo que pequena, também deve ser elogiada.

As crianças devem preservar o direito de propriedade, mesmo em caso de menor importância.

Os filhos devem ser ensinados a temer a vara e cumprir com rigor todas as promessas feitas.

Não exija que uma filha trabalhe antes que aprenda a ler bem”.[14]

Susanna teve os mesmos problemas da família atual ou muito mais. Mas foi uma vencedora e hoje é vista como uma mãe modelo, uma mãe virtuosa.

 


A sua vida espiritual

 

 

“Aprendi mais sobre o cristianismo com minha mãe do que com todos os teólogos da Inglaterra”. 

João Wesley disse algo impactante sobre sua mãe Susanna Wesley: “Aprendi mais sobre o cristianismo com minha mãe do que com todos os teólogos da Inglaterra”.[15]

Afinal, como era a vida espiritual de sua mãe?

Susanna ensinou as Escrituras aos seus filhos e filhas. Teve uma supervisão metódica, paciente. Ela tinha uma boa formação teológica, espiritual e moral.

Sua casa era uma “Igreja doméstica”. E foi nesta Igreja que ela lançou as primeiras sementes do metodismo e a manteve viva por meio de seu cuidado vigilante.[16]

Ela separava duas horas por dia para o momento devocional.[17] Ela ensinava as crianças que quando estivesse com um avental na casa não deveria ser importunada, pois estava em oração. Ela aprendeu com seu pai a ler a Bíblia constantemente.

Ela fazia tudo isso e cuidada de todas as crianças. E ainda tinha a horta para cuidar e as vacas para ordenhar. Ela não tinha isso como um peso.

Susanna havia prometido ao Senhor na sua juventude que cada hora que tivesse para entretenimento ela daria uma hora para oração e leitura da Bíblia.

Ela ministrou aulas para seus filhos e filhas durante seis horas por dia durante vinte anos.[18]

Criou seus filhos e filhas, muitas vezes, sozinha. Seu marido não era bom administrador. Gastava mais do que devia.

Apesar da rigidez em sua casa e disciplina, era comum ouvir risos e brincadeiras durante o dia na casa. Disciplina e alegria devem caminhar juntas.

Além das outras dificuldades na criação das crianças, uma filha ficou deformada para sempre por descuido da empregada. Um dos seus filhos só aprendeu a falar aos seis anos de idade.

Susanna tinha muitos motivos para orar constantemente. Muitas vezes, ela ficou doente. Uma de suas filhas teve um bebe fora do casamento e o rapaz nunca assumiu a paternidade, o que deixou Susanna muito triste.[19]

Mas foi com oração, firmeza, disciplina e muito amor que Susanna criou seus filhos e filhas.

As regras da casa eram diversas, dentre elas estão:

-Todos deveriam ficar em silencio durante a adoração familiar;

- Não dava nada para os filhos e filhas, se pedissem chorando;

- Nunca permitia que um pecado ficasse impune;

Orações com a família eram realizadas todas as manhãs.

“Susanna Wesley foi a mãe do metodismo no sentido moral e religioso. Sua coragem, sua submissão à autoridade, a firmeza, a independência e o controle de sua mente, o fervor de seus sentimentos devocionais e a direção prática dada a seus filhos brotaram e se repetiram muito visivelmente no caráter e na conduta de seu filho John”.[20]

 


A sua origem puritana 

 

Dentro da tradição puritana, Vida Santa, enfatizou a centralidade do conceito de Igreja como a família de Deus, a congregação reunida, modelando sua vida no padrão de Jesus Cristo para seu comportamento moral”       

adjetivo "puritano" pode designar tanto o membro de um grupo de calvinistas rigoristas como aquele que é rígido nos costumes (pessoa austera, rígida e moralista).[21]

Apesar dos pais de João e Carlos Wesley terem aderido à Igreja e ao partido político oficial, Wesley teve toda uma herança Puritana, pois os seus antepassados  foram “não-conformistas”.

O padrão de vida de Susanna veio de sua herança puritana. Os pais de Susanna Wesley eram puritanos.

Dentro da tradição puritana, Vida Santa, enfatizou a centralidade do conceito de Igreja como a família de Deus, a congregação reunida, modelando sua vida no padrão de Jesus Cristo para seu comportamento moral”.[22]

Os líderes Puritanos ou não-conformistas visitavam a casa de Annesley e Susanna conheceu alguns líderes puritanos.

“Susanna modelou a família Epworth em modelos adaptados de Thomas à Kempis, Richard Baxter, Richard Lucas e outros”.[23]

Samuel e Susanna Wesley tiveram uma herança não-conformista. O pai de Samuel tinha sido destituído de sua paróquia pelo bispo de Bristol no século dezessete.

As práticas cristãs eram parte essencial da vida familiar de Susanna.

Desde a idade de cinco ou seis anos, Annesley começou a ler a Bíblia diariamente.

Em sua casa, o culto era realizado duas vezes por dia. Era uma vida disciplinada com momentos especiais para leitura da Bíblia, meditação, autoexame e oração.

Mesma quando adulta, Susanna manteve uma vida disciplinar e com sua própria família.

Susanna aprendeu com os puritanos que a própria família é uma pequena igreja.

Em carta a Wesley, em 23 de fevereiro de 1725, Susanna deixa claro a sua orientação Puritana e Pietista aos filhos e filhas:

“(...) A transformação operada em sua  alma me tem dado muito o que pensar (...). Peço-lhe encarecidamente que faça um exame rigoroso de sua consciência a fim de saber se tem uma esperança bem fundamentada da salvação e descobrir se possui a fé e o arrependimento que são, conforme você bem sabe, as condições indispensáveis para entrarmos em uma aliança com Deus.”[24]

Os avós de Wesley[25]  participaram da Igreja dissidente, mas seus pais se filiaram à Igreja Anglicana.

Samuel e Susanna Wesley inculcaram em João Wesley ideias da Harmonia Apostólica[26] do bispo Bull, que tinha grande aceitação na Inglaterra:

“A teologia de Bull generalizou-se, pois no seio da Igreja Oficial e para termos noção da mesma, daremos, a seguir, breve apanhado: Jesus Cristo, por Sua obra expiatória, é o Salvador dos homens, mas cada qual tem a sua parte a fazer, procurando ativamente reformar a própria vida. Se cada um agir desse modo, tornar-se-á capaz de receber méritos da expiação. Fé e obra são identificadas numa só finalidade. A justificação é pela fé e pelas obras. São dois aspectos de uma só realidade. Nem Paulo se opõe a Tiago e nem Tiago a Paulo. No conceito do bispo Bull, a fé inclui todas as obras da piedade cristã. A fé não se limita só a aceitar como válidos os ensinos do Evangelho: envolve, também,  desejo de ser bom e de fazer o bem. Noutras palavras: a fé passa a ser ato do próprio homem” (...). A justificação exige, igualmente, a copartipação do homem. Deus considera ao transgressor como justo, livre da pena, desde que este assim queira”.[27]


A sua firme posição política 

 

“Susanna, cujas simpatias sempre se voltaram para os Stuarts, suplantados por Guilherme e sua rainha em 1688, era uma jacobita confirmada”  

Susanna tinha uma posição política bem definida. Era da oposição e uma “jacobita inveterada, considerava o Príncipe de Orange um usurpador.[28]

“O termo jacobitismo refere-se a um movimento político ocorrido nos séculos XVII e XVIII que visava uma restauração monárquica da Casa Stuart nos reinos de Inglaterra e Escócia. A nomenclatura é uma derivação de “Iocubus”, versão latina do nome do rei James II, deposto pela Revolução Gloriosa em 1688”.[29]

O rei James Stuart fugiu para a França na esperança de voltar ao poder na Inglaterra ocupado pelo Príncipe Guilherme de Orange. Seus partidários passaram a ser chamados de “jabobitas”.

Wesley foi fiel ao Rei.  Na tentativa de restauração da dinastia Stuart,[30] houve um episódio envolvendo  os irmãos Wesley. Rumores indicavam uma ligação deles com o pretendente à coroa, o Príncipe Charles, o Belo, que estava na França.  Eram suspeitos de serem Jacobitas, partidários de Stuart. E isso significava ser perseguido e agredido violentamente por parte do povo.[31]

O fato de Susanna Wesley ser uma jacobita provavelmente levaram às pessoas a considerarem Wesley também como partidário dos Stuarts: “Susanna, cujas simpatias sempre se voltaram para os Stuarts, suplantados por Guilherme e sua rainha em 1688, era uma jacobita confirmada. Para ela, o príncipe de Orange era um usurpador da coroa.” [32]

Isso trouxe dificuldades no seu relacionamento com seu marido Samuel Wesley. Eles se separaram por um bom tempo. “A separação se deu a que Susanna se negou a dizer ‘Amem’ quando Samuel orava por seu rei: Guilherme de Orange.”[33]

“Mais tarde, em seu escritório, Samuel repreendeu-a severamente, porém, ela sustentou sua posição.

- Se for esse o caso – clamou ele – devemos separar-nos. Se tivermos dois reis, precisaremos ter duas camas!”[34]

E Samuel saiu em seu cavalo prometendo não mais voltar, se ela não mudasse sua opinião. E Susanna não mudou.

“Samuel partiu para Londres como fiscal da Convocação por um ano. Ele voltou em 1702, quando a Rainha Anne, a quem ambos reconheciam como a soberana legítima, subiu ao trono”.[35]

Carlos Wesley foi acusado de orar para que o Senhor trouxesse de volta o Príncipe banido. Ele foi inocentado pela justiça e aproveitou para demonstrar sua lealdade à coroa. [36]

“Wesley achou melhor escrever ao rei, em nome dos metodistas, uma mensagem de lealdade (...).”[37]

Quando o príncipe Charles invadiu a Escócia, em 1745, Wesley foi para Newcastle para ficar junto ao seu povo.

“(...) Em contato com o prefeito e afirmou seu leal apoio, declarando com clareza: 'Eu exorto todos os que me ouvem a fazerem o mesmo, e em suas diversas situações a se manifestarem como súditos leais que, enquanto temerem a Deus, não poderão honrar senão ao rei.”[38]

Susanna Wesley era bem consciente de sua posição política, a favor da volta à Coroa aos Stuarts, mesmo sabendo dos riscos que corria.  

 


Seus métodos de ensino 

 

“Susanna marcou profundamente a vida de seus filhos. Ela tinha consciência de sua responsabilidade” 

Susanna Wesley é citada por alguns historiadores como a "mãe do Metodismo",[39] pois através dos seus métodos disciplinou os seus filhos e filhas e sua atuação junto à Wesley foi determinante em sua vida espiritual.

Susanna marcou profundamente a vida de seus filhos. Ela tinha consciência de sua responsabilidade. Muitas vezes, teve que tomar decisão sozinha pela ausência de seu esposo, Samuel Wesley.

Wesley um dia solicitou a sua mãe que lhe escrevesse sobre as principais regras que ela usou na educação familiar. Susanna lhe respondeu, em 24 de julho de 1732, dizendo que ele poderia dispor das regras, se as julgasse proveitosas.[40]

Dentre as diversas regras utilizadas por Susanna Wesley com os filhos e filhas, estão:

“As crianças tinham de conformar-se a certo método de viver, em certas coisas compreensíveis, desde o nascimento; tais como, vestir, despir, mudança de fralda, etc.”[41]

“Quando chegavam à idade de um ano (e algumas antes dito), eram ensinadas a temer a vara, e a chorar brandamente.”[42]

“Uma vez crescidas e mais fortes, eram limitadas a três refeições do dia.”[43]

“Às dezoito horas, logo que terminasse o culto doméstico, jantavam; às dezenove horas a empregada dava banho nelas; e, começando com a mais nova, ela mudava a roupa delas e preparava todas para a cama às vinte horas.”[44]

“As crianças do nosso lar, logo que podiam falar, era ensinado o ´Pai Nosso´, que tinham de repetir na hora de deitar e levantar.”[45]

“Muito cedo na sua vida, meus filhos aprenderam distinguir entre o domingo e os outros dias da  semana.”[46]

“Logo aprenderam que não seriam atendidas se gritassem por alguma coisa, e tinham que falar com delicadeza quando pediam alguma coisa.”[47]

“Não se ensinava a ler antes dos cinco anos de idade, mas a Kezzy, por exceção se tentou mais cedo.”[48]

A educação era rígida.

“Sair do lugar, ou sair da sala não lhes era permitido, sem boa razão; correr no jardim ou na rua, sem permissão, era considerado falta grave.”[49]

Até os quatro anos de idade, Wesley conviveu apenas com umas quatro ou cinco irmãs, pois somente depois nasceria Carlos Wesley.[50]

Quando era pequeno, aos cinco anos de idade, Wesley foi salvo de um incêndio, em 9 de fevereiro de 1709, e ficou conhecido como "tição tirado do fogo.”[51] 

A infância de Wesley teve momentos difíceis. Dentre eles:

“Mais de uma vez, a pobreza instalou-se tal qual uma hóspede importuna naquele lar. Seu pai morreu endividado, a despeito dos prodígios econômicos realizados por sua digna esposa. A morte visitou aquela família com frequência, deixando lembranças dolorosas. A casa pastoral foi atingida duas vezes por um incêndio criminoso”.[52]

Quando tinha nove anos de idade, Wesley teve varíola. Ele suportou os sofrimentos com paciência, o que levou sua mãe a escrever ao marido, que estava em Londres, e dizer: “João tem aguentado sua enfermidade como um homem e um verdadeiro cristão, sem proferir uma única queixa.”[53]

Samuel e Susanna Wesley enviaram seus filhos para receberem uma educação mais formal em escolas excelentes. Samuel e Carlos foram para Westminster e João Wesley para Charterhouse.

Com dificuldades e dedicação, Wesley conseguiu terminar seus estudos e se formar. “Em março de 1726, John Wesley recebeu altas honrarias na Universidade de Oxford, sendo eleito professor da Faculdade Lincoln.”[54]

João Wesley esteve ao lado de sua mãe no final de sua vida.

“Enquanto pregava em Bristol num domingo de julho de 1742, John foi avisado que sua mãe estava enferma e retornou às pressas. Na sexta-feira seguinte, ela despertou do sono para clamar: Meu querido Salvador, tu estás vindo socorrer-me nos meus últimos momentos de vida?’ Mais tarde naquele dia, enquanto seus filhos estavam ao redor de seu leito, ela disse: ‘Filhos, tão logo eu tenha sido transferida, cantem um salmo de louvor a Deus”.[55]

Susanna faleceu em 23 de julho de 1742.[56] 



 



[1]https://pt.scribd.com/document/416974780/08-Historia-II-Walker-O-Reavivamento-Evangelico-Na-Gra-Bretanha#

[2] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[3] Idem.

[4] https://www.ultimato.com.br/conteudo/a-devocao-de-susanna-wesley

[5] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[6]https://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1701-1800/susanna-wesley-christian-mother-11630240.html

[7] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[8] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. São Paulo: Imprensa Metodista, 1965, p.222.

[9] https://en.wikipedia.org/wiki/Susanna_Wesley

[10] https://pt.scribd.com/document/110645339/Criacao-de-Filhos- A#

[11]http://www.hinologia.org/os-wesleys-e-o-canto-congregacional-rolando-de-nassau/

[12] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[13] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[14]https://guiame.com.br/gospel/familia/mae-do-pregador-john-wesley-deixou-dicas-de-como-educar-criancas-luz-do-evangelho.html

[15] Um pouco de história. Uma mãe de oração. https://amensagem.org/historia-um-pouco-de-historia-uma-mae-de-oracao-susanna-wesley/

[16] Idem.

[17] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[18] https://revistaimpacto.com.br/susanna-wesley/

[19]https://amensagem.org/historia-um-pouco-de-historia-uma-mae-de-oracao-susanna-wesley/

[20] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

[21] https://pt.wikipedia.org/wiki/Puritanismo

[22]https://www.guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/herois-da-fe-susanna-wesley-criando-filhos-para-servir-deus.html

[23]Idem.

[24] LILIÈVRE, Mateo. João Wesley – Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p.33.

[25] Ibidem, p.63.

[26] Ibidem., p.61-2.

[27] Ibidem., p.62.

[28]Pastor Carlos Vargas Valdez. Los Descubrimientos de Suzana Wesley. https://www.devocionalescristianos.org/2006/06/los-descubrimientos-de-susana-wesley-biblia.html

[29] https://www.infoescola.com/historia/jacobitismo/

[30] Segundo Heitzenhater, “a restauração da monarquia sob Charles II (convidado a voltar para o trono pelo próprio Parlamento) significava o restabelecimento também da Igreja. A monarquia dos Stuart, considerando-se autorizada por ‘direito divino’, seguiu o ritual tradicional de auto autorização através de uma série de atos do Parlamento (..) (HEITZENHATER, Richard P., Wesley e o Povo Chamado Metodista, Editeo-Pastoral Bennett, 1996.p.13). Charles I havia sido executado “diante de uma multidão ávida por vingança, Charles foi ao encontro da morte com tal graça e dignidade que, dez anos depois, após uma década sem monarquia e sem uma Igreja estabelecida, mesmo as forças revolucionárias que formavam o Parlamento reconheceram que a Inglaterra estaria melhor com a antiga forma de governo do que nas condições precárias, tanto políticas, como religiosas, que Oliver Cromwell havia tentado dirigir (..) (Ibidem, p.13). “A execução de Charles I, em 1649, chamada, nos livros de orações posteriores de ‘o Martírio do abençoado Rei Charles o Primeiro’, cuja dignidade e conduta real naquela ocasião ajudou, mais tarde, a reforçar a perspectiva de direito divino dos defensores dos Stuart” (Ïbidem, p.14).

[31] JOY, James Richard. O Despertamento Religioso de João Wesley. Setor de Publicações da Pastoral Bennett,  Instituto Metodista Bennett, 1996, p.95.

[33]Pastor Carlos Vargas Valdez. Op.cit.

[34] WILLIAMSON, Glen. Susanna. Miami, EUA: Editora Vida, 1988, p.144.

[35]https://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1701-1800/susanna-wesley-christian-mother-11630240.html

[36] HEITZENHATER, Richard P. Wesley e o povo chamado Metodista. São Bernardo do Campo-Rio de Janeiro: Editeo-Pastoral Bennett, 1986, p.151.

[37] Ibidem.

[38] Ibidem, p.161.

[39] REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano, Ibidem, p.49.

[40] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley, Ibidem, p.225.

[41] Ibidem.

[42] Ibidem, p.226.

[43] Ibidem.

[44] Ibidem, p.227.

[45] Ibidem, p.229.

[46] Ibidem.

[47] Ibidem.          

[48] Ibidem, p.230.

[49] Ibidem, p.231.

[50] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.26.

[51] LILIÈVRE, Mateo. João Wesley – Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p.28.

[52] Ibidem, p.27.

[53] Ibidem, p.29.

[54] WILLIAMSON, Glen. Susanna. Miami, EUA: Editora Vida, 1988, p.182.

[55] https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/susanna-wesley/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog