A blindagem da vida de Wesley

 

Enfrentou forte oposição, calúnias, violência, perseguições, preconceitos e foi ainda instrumento para mudar a face da Inglaterra

 

Odilon Massolar Chaves

 

 


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Livros publicados na Biblioteca Wesleyana: 65 

Endereço: https://bibliotecawesleyana.blogspot.com 

Tradutor: Google

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Odilon Massolar Chaves é pastor metodista aposentado, doutor em Teologia e História pela Universidade Metodista de São Paulo.

Sua tese tratou sobre o avivamento metodista na Inglaterra no século XVIII e a sua contribuição como paradigma para nossos dias.

Foi editor do jornal oficial metodista e coordenador de Curso de Teologia.

É escritor, poeta e youtuber.

Toda glória seja dada ao Senhor


“Ele foi uma das poucas personalidades que sobreviveu à inimizade e ao preconceito, e recebeu em seus últimos anos todo o respeito de todas as denominações.”[1]

 

 Índice

 

·       Vivendo em um período de revoltas

·       Críticas dos estudantes da Universidade

·       Controvérsias teológicas com George Whitefield

·       Oposição do clero anglicano

·       Batalha teológica contra o antinomianismo

·       Batalhas teológicas com os Moravianos

·       Dificuldades com líderes

·       Conflitos nas sociedades metodistas

·       Críticas de jornais e artigos

·       A blindagem de Wesley

 


Introdução

 

A blindagem da vida de Wesley” é um livro que descreve a forte oposição, calúnias, violência, preconceitos e perseguições ao ministério de João Wesley e aos metodistas, no século XVIII, e mostra como eles conseguiram impactar e transformar a face da Inglaterra.

Por muito menos, muitos desistem ou mudam sua posição religiosa e doutrinária para se adaptarem aos desejos dos críticos.

Wesley, contudo, tinha uma forte convicção de que os metodistas tinham um chamado extraordinário de Deus para reformar a nação, especialmente à Igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre a Terra.

Não era um projeto pessoal. Havia a consciência de que Deus estava “nesse negócio”.

Sua forte educação na infância; o exemplo de sua mãe Susanna Wesley, que suportou e venceu lutas imensas em sua casa; sua forte experiencia espiritual foram também algumas dos alicerces, que colocaram uma blindagem em Wesley para suportar tudo e ser instrumento de Deus.

O Autor


Vivendo em um período de revoltas

 

Em sua caminhada, Wesley enfrentou toda espécie de oposição, incompreensão, crítica e perseguição. Ele viveu em um período difícil para o povo inglês, que explodia em revoltas com a Revolução Industrial.

A Inglaterra se tornava o principal centro econômico do mundo, mas com o povo pagando um alto preço.

 “As classes populares da Inglaterra do século XVIII eram ignorantes, grosseiras e desordenadas. Tinham herdado as agitações políticas do século anterior e havia uma tendência muita elevada aos alvoroços (...) nunca mudava seu ódio intenso aos papistas, de um lado e, de outro, aos dissidentes.”[2]

Segundo o metodista Francis Gerald Ensley, no século XVIII, a conduta moral de uma grande parte era irregular, na Inglaterra:

 “A Bretanha estava nas garras de uma Idade do Gelo, mais conhecida na história como a Idade da Razão. Muitos consideravam morta a organização Eclesiástica e também a vida cristã (...). A moral era baixa, como resultante. Os estadistas proeminentes eram incrédulos e distinguiam-se pela conduta irregular, enquanto as massas pobres eram ignorantes e brutais num grau de difícil descrição.”[3]

Entre os problemas sérios na sociedade inglesa, o historiador metodista Duncan Alexander Reily cita alguns e afirma que havia imoralidade ente os altos oficiais do governo; o jogo havia se tornado quase um passatempo; o alcoolismo era um problema tremendo; a recreação era bárbara em geral; o roubo de todo tipo era comum, etc.[4]

Como consequência de toda uma insatisfação social, a lei era odiada e desprezada. O movimento de resistência à lei tomava a forma de atos individuais e de insurreições esporádicas. O povo inglês era conhecido pela sua turbulência e o povo de Londres pela sua falta de respeito.[5]

Diversos motins surgiram por questões sociais e econômicas:

 “(...) ocasionados pelos preços do pão, pelos pedágios e portagens, impostos de consumo, 'resgates', greves, nova maquinaria, fechamento das terras comunais, recrutamentos e uma série de outras injustiças.”[6]  

Em 12 de fevereiro de 1748, Wesley escreveu em seu Diário: “Depois de pregar em Oskhill, cerca do meio-dia. Fui a Shepton, e encontrei o povo sob uma consternação esquisita. Um motim, eles me disseram, foi subornado, preparado e suficientemente embriagado com o fim de provocar toda espécie de desordens. Comecei a pregar entre 16 e 17 horas; ninguém se mexeu.”[7]

Wesley, contudo, disse que algumas pessoas o seguiram do lugar da pregação até a casa de William Stone, jogando terra, pedras e torrões em abundancia.

Wesley relata ainda motim em 28 de agosto de 1748, em Cross. Logo que ele começou a falar, algumas pessoas começaram a andar para lá e para cá e procuram empurrá-lo da escada onde ele estava.[8]

Wesley enfrentou diversos outros motins, como em 18 de outubro de 1749, em Rockdale. Quando ele entrou na cidade havia uma rua cheia de pessoas que gritava, blasfemava e ameaçava. Ele julgou mais prudente pregar num salão onde entrou e ninguém incomodou.[9]

Em 9 de março de 1760, em Burslen, umas cinco pessoas riram durante a pregação e um jogou um torrão que bateu dum lado da sua cabeça, mas não houve perturbação.[10]

Motins famosos por causa de alimentos foram os registrados na Feira do Ganso em Nottingham, 1764, e ficou conhecido como o "Grande Motim do Queijo", quando queijos inteiros rolaram pelas ruas.

Em Feira do Ganso, em Nottingham houve outro motim provocado pelo alto preço da carne, em 1788. O povo arrancou as portas e venezianas dos açougues, que foram incendiados.[11]

Contudo, Wesley foi sensível às necessidades dos excluídos e questionador da situação social do povo. Em 1759, ele comentou sobre a difícil situação dos presos que estavam em Knowle:

 “Andei a pé até Knowle, boa milha distante de Bristol, para visitar os prisioneiros franceses. Mais de mil e cem, segundo fomos avisados, estavam reunidos num pequeno espaço, sem cousa alguma em que deitar, senão colchões de palha, e sem cobertores; para se cobrirem só tinham alguns trapos, quer de dia quer de noite, portanto, morreram como se fossem ovelhas atacadas de morrinha. Fiquei horrorizado; à tarde preguei sobre Êxodo 23:9 ´Não oprimirás o peregrino; pois vós conheceis o coração do peregrino, visto que fostes peregrinos na terra do Egito.” [12]

Em seu tempo, aumentaram as injustiças sociais e o desemprego. Em seu diário, João Wesley comenta, em 1772, sobre um grande desemprego como nunca se tinha visto antes:

 “Descobrindo que muita gente estava sem emprego, e consequentemente em necessidades, por causa de uma crise no comércio, crise tão grande como nunca houvera igual lembrança do homem (...).”[13]

Mesmo tendo sofrido com os motins, quando foi perseguido por questões religiosas,[14] Wesley elogiou a ação de uma turba por agir sem violência, em James Town:

“(...) estivera em atividade durante todo o dia; mas sua preocupação era apenas com os açambarcadores do mercado, que tinham comprado trigo em toda parte, para matar de fome os pobres e carregar um navio holandês, que estava no cais; mas a turba trouxe-o todo de volta para o mercado e vendeu-o pelos comerciantes ao preço comum. E isso fizeram com toda calma e compostura imagináveis, sem atacar nem ferir ninguém.”[15]

A aceitação das mensagens de Wesley e de seus companheiros, especialmente pela classe mais pobre, se deu porque elas atingiram suas necessidades:

A espiritualidade wesleyana era uma combinação de piedade e misericórdia, que impediu que as Sociedades Unidas fossem fechadas. Wesley fez do mundo a sua paróquia e orientou aos metodistas que fizessem o mesmo.

A espiritualidade wesleyana era uma espiritualidade social.

 

Críticas dos estudantes da Universidade

 

Foi na Universidade, em Oxford, que Wesley começou a experimentar oposição às suas ideias e práticas religiosas.

“(...) em 1731, os estudantes de mais tempo de casa fizeram uma reunião com o fim expresso de deter o progresso do Metodismo. No ano seguinte, a imprensa, que já exercia uma grande influência na Inglaterra, também entrou na luta. O semanário Eogg´s Weekly Journal atacou com violência Wesley e seus amigos, comparando-o com os essênios da Judéia e os pietistas da Suíça, e acusando-os de querer transformar a Universidade em um mosteiro.”[16]

Um dos problemas sérios e de provas para o grupo metodista aconteceu em 1732, com a notícia da morte de William Morgan, cujo boato dizia que sua morte foi devido ao rigoroso ascetismo do estilo de vida metodista.[17]

As controvérsias foram especialmente em relação às doutrinas. Wesley queria que os pregadores e clérigos metodistas pregassem, especialmente, sobre as três doutrinas principais metodistas:

 “(...) as três grandes doutrinas bíblicas - o pecado original, a justificação pela fé, e a consequente santidade.”[18]

Ele definia a santidade ou a perfeição cristã  numa palavra – o amor de Deus derramado no coração pelo Espírito Santo:

 “Nas Minutes, Wesley mais uma vez define a perfeição cristã como ‘amar a Deus de todo o coração, de modo que qualquer mal temperamento é destruído, e todo o pensamento, palavra e ação surgem e são conduzidos para aquele fim pelo puro amor a Deus e ao nosso próximo.”[19]

Em 1764, Wesley fez uma revisão e um sumário do que ele entendia sobre a doutrina da perfeição cristã:

1) Existe a perfeição, pois ela é  constantemente citada nas Escrituras. 2) Ela não vem cedo como a justificação, pois as pessoas justificadas precisam ‘prosseguir para a perfeição’ - Hebreus 6:1. 3) Não é tão tardia quanto a morte, pois S.Paulo nos fala de homens vivos que eram perfeitos – Fil.3:15. 4) Não é absoluta. A perfeição absoluta não pertence ao homem, nem aos anjos, mas somente a Deus. 5) Ela não torna o homem infalível: ninguém é infalível enquanto está no corpo. 6)  É ela sem pecado? Não vale a pena contendermos a respeito de termos. Ela é ’salvação do pecado’. 7) É ‘amor perfeito’ - I Jo 4:18. Este é a essência da mesma. As suas propriedades ou frutos inseparáveis são: alegria constante, oração sem cessar e em tudo darmos graças- I Ts 5:16, etc. 8) Não podemos prová-la. Não pode de maneira nenhuma permanecer como um ponto indivisível, ser incapaz de desenvolvimento, pois uma pessoa aperfeiçoada em amor pode crescer na graça muito mais rapidamente do que o fazia antes. 9) Pode ser perdida. Temos muitos exemplos disto. Mas não tínhamos inteira convicção disso até 5 ou 6 anos atrás. 10) É constantemente precedida e seguida de um trabalho gradual.” [20]

 

Controvérsias teológicas com George Whitefield

 

As batalhas teológicas contra a predestinação foram mais intensas.

Umas das piores dificuldades que Wesley teve em seu ministério foi as controvérsias teológicas com o seu amigo George Whitefield, membro do Clube Santo.

Por causa da defesa de Whitefield da predestinação[21] e sua tendência de depreciar a necessidade de santificação e de edificação na vida cristã, eles se separaram.[22]

Whitefield era o principal líder calvinista e não hesitava em se opor aos Wesley.[23]

Qual era a diferença básica entre o arminianismo de Wesley e a predestinação de Whitefield?

Para Wesley, o livre arbítrio contribuía mais para a glória de Deus do que a predestinação, que ele chamava também de “condenação”.[24]

Ao contrário de Wesley, George Whitefield acreditava na doutrina da perseverança do crente:

 “A disputa teológica de Wesley com Whitefield tinha dois pontos: as doutrinas relacionadas com a predestinação e as questões da justiça imputada. Whitefield aceitava a crença dos calvinistas de que uma pessoa verdadeiramente justificada por Deus perseveraria na fé até o fim – não havia nada parecido com recaída entre os verdadeiros crentes.”[25]

Sobre essa “perseverança dos santos”,[26] Wesley lembra Ezequiel 33.13: “Mais uma vez, assim diz ao Senhor: "Quando direi aos justos, que ele certamente viverá; se ele confiar em sua justiça conquistada, (sim, ou a essa promessa como absoluta e incondicional,) e cometer iniquidade, toda a sua justiça não será lembrada; mas por sua iniquidade que ele cometeu ele deve morrer por isso." [27]

Wesley argumenta ainda: “Mais uma vez: "Eu sou o pão vivo; se qualquer homem comer deste pão, (pela fé,) ele deveviver para sempre." João 6:51. Verdade, se ele continuar a comer isso. e quem pode duvidar disso?

Mais uma vez:"Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu sei então, e eles me seguem. E eu dou a eles a vida eterna; e eles nunca perecerão, nem qualquer deve arrancá-los da minha mão." João 10:27-29

No texto anterior, a condição está apenas implícita; nisso é claramente expressa. São minhas ovelhas que ouvem minha voz, que me seguem em toda a santidade. E "se você fizer essas coisas, vós nunca cairá." Ninguém deve "arrancar você da minha mão ."

Mais uma vez: "Tendo amado o seu próprio que estavam no mundo, ele os amou até o fim." João 13:1 "Tendo amado o seu próprio." (ou seja, os apóstolos, como as seguintes palavras, "que estavam no mundo." "ele os amou até o fim" de sua vida, e manifestou esse amor até o fim.”[28]

Whitefield era o principal líder calvinista entre os reavivalistas evangélicos.[29] Em 1741, eles se separaram. Foi inevitável, pois Wesley era arminiano e  Whitefield, calvinista.[30] Entre as discordâncias com Whitefield estava sobre a possibilidade da eliminação do pecado na vida humana. Whitefield disse:

“Não concordo que a realidade do pecado íntima possa ser destruída nesta  vida.”[31]

Em abril de 1739, Wesley pregou seu sermão Livre Graça e depois o publicou juntamente com o poema “Redenção Universal” de Carlos Wesley:

 “O sermão tratou diretamente de seu ponto básico de diferença com George Whitefield, a doutrina da graça irresistível e todos os corolários da predestinação: redenção limitada, eleição incondicional, condenação (lei ‘horrível’) e perseverança dos santos.[32]

Mas mesmo tendo dificuldades com George Whitefield, eles continuaram amigos. Inclusive, a pedido dele, Wesley pregou no seu ofício fúnebre, em 1770.[33]

 


Oposição do clero anglicano

 

O movimento metodista sofria a acusação de que estava minando e dividindo a Igreja Anglicana.

Nem todos acreditavam que o metodismo fosse obra de Deus, dentre eles, Thomas Herring, arcebispo de York.

Provavelmente Edmund Gibson, bispo de Londres escreveu “Observações sobre a conduta e o comportamento de certa seita conhecida pelo nome de metodista”.[34]

Para ele, os metodistas eram ilegais de acordo com o Ato de Tolerância. Era um tempo onde as rebeliões não eram incomuns.

Um motim derrubou uma sociedade metodista e quase destruiu a casa de John Bennet onde Carlos Wesley estava hospedado.

Em outubro de 1743, Wesley enfrentou violenta oposição levantada pelo vigário de Wednesbury onde Wesley chegou para pregar.[35] Wesley recebeu dois golpes e foi arrastado pelo campo, mas houve uma chuva intensa e a turba foi confrontada por um grupo rival da vila vizinha. Wesley afirmou que ninguém conseguiu derrubá-lo.[36]

Mas as acusações contra os metodistas continuaram a crescer. Wesley escreveu em março de 1744 uma carta ao rei George II chamada “Uma humilde mensagem das Sociedades da Inglaterra e Gales daqueles que em escarnio são chamados metodistas”. Wesley declarou na carta que eles são parte fiel da Igreja da Inglaterra e que detestam e abominam as doutrinas fundamentais da Igreja de Roma e que estavam firmemente unidos à pessoa de Sua Majestade.[37]

Mas a oposição e acusação proporcionou a morte do metodista  William Seward (1702-1740).

Ele era filho de John e Mary, uma família rica. Seward foi bem-sucedido financeiramente trabalhando em imobiliária.

Foi para Londres e, em 1738, após a morte de sua esposa, conheceu Carlos Wesley, em Fetter Lane. Logo se converteu e passou a apoiar financeiramente as causas metodistas.

Seward escreveu, posteriormente, em seu diário: "Não posso elogiar suficientemente a Deus por me trazer da escuridão para sua maravilhosa luz (...) esta é uma fé que nunca senti antes que o Sr. Charles Wesley me explicasse. Não posso deixar de honrá-lo como um instrumento na mão de Deus por me mostrar o verdadeiro caminho da salvação por Jesus Cristo”.

Wesley descreveu Seward, de 36 anos, como uma “alma zelosa que só conhecia o batismo de João’, mas uma semana depois notou que Seward testemunhava a fé e estava presente na conferência dos metodistas de Oxford”. Ele se tornou um cristão muito sério e um ajudante fiel que serviu ao Senhor com uma fervente devoção.

Em 1739, Seward foi à América e apoiou financeiramente Whitefield com a venda de £ 2.000 de ações do Mar do Sul para que ele comprasse terrenos na América, para um orfanato em Savannah. Seward tinha uma boa reputação como um generoso benfeitor dos pobres. Era um cristão sólido e excelente.

Após voltar, em 1740, passou a pregar ao ar livre. Certa vez encontrou multidões hostis às pregações metodistas, em Gales do Sul e, em seguida, no País de Gales, geralmente estimuladas pelo clero anglicano.

Em Monmouth, impediram Howel Harris de pregar e Seward escreveu a Howel Harris: “Melhor suportar isso do que o inferno”.

William Seward foi o primeiro mártir metodista. Estava com o metodista Howell Harris. Os dois pregavam o Evangelho no País de Gales. Visitavam Hay-on-Wye e Seward começou a pregar fora do castelo, mas depois de cantar e orar por alguns minutos, “veio o ministro da paróquia e vários juízes de paz, com muitos outros clérigos, e exigiu o meu silêncio, e provocou o povo”.

Seward foi atingido na parte de trás da cabeça por uma grande pedra lançada a curta distância e isso causou ferimentos graves. Foi levado por seus amigos, mas seu estado se deteriorou. Durante alguns dias ficou entre a vida e a morte vindo a falecer em 22 de outubro de 1740.

A morte de Seward, aos 38 anos, foi um golpe para o metodismo. Mas isso não impediu a continuação da pregação destemida. Os metodistas determinados continuaram a pregar o Evangelho para o povo na Grã-Bretanha.

Ele foi citado como "um cristão excepcionalmente sério e um ajudante muito fiel" que "serviu ao Senhor com uma devoção flamejante".

Esta e muitas outras agressões não intimidaram os irmãos Wesley que confiavam na providencia de Deus. Carlos Wesley disse: "Fiquei extremamente chocado com a notícia da morte de Seward; mas ele foi tirado do mal; resgatado das mãos de homens maus".

Seward foi um amigo e um suporte de João e de Carlos Wesley, de George Whitefield e de Howel Harris.

João Wesley disse: “A surpreendente notícia da morte do pobre Sr. Seward foi confirmada. Certamente Deus vai manter sua própria causa! Justo és Senhor!”[38]

  


Batalha teológica contra o antinomianismo

 

Uma das batalhas teológicas travadas por Wesley foi contra o antinomianismo, que a Conferência de 1744 definiu assim:

“P. Que é antinomianismo?

R. A doutrina que torna a lei inútil em presença da fé.” [39]

Wesley precisou fazer um vigoroso protesto junto à Conferência pela tendência de alguns metodistas para o calvinismo antinominiano. Suas três questões foram:

 “Dissemos, em 1774: ´Temo-nos inclinado demasiadamente para o calvinismo.  Em quê?

1.Com relação à fidelidade do homem. Nosso Senhor mesmo ensinou-nos a usar essa expressão. Nunca devíamos envergonhar-nos dela. Devíamos proclamar firmemente, estribados em sua autoridade, que, se o homem não for fiel nas riquezas injustas, Deus lhe não dará as riquezas verdadeiras.

2. Em relação a trabalhar pela vida. Isto também nosso Senhor nos recomendou expressamente. Trabalhai – literalmente operai – pela comida que permanece para a vida eterna. E, de fato, todo crente, até que suba  à glória, trabalha para a vida e pela vida.

3. Temos recebido como máxima que ó homem nada deve fazer para a justificação. Nada pode ser mais falso. Quem quer que deseje  achar graça diante de Deus, ´cesse de fazer o mal e aprenda a fazer o bem´., Quem  quer que se arrependa, fará ´obras dignas de arrependimento´. E se isto não se faz para achar graça, para que, então, se faz?” [40]

Para Wesley, a quietude defendida pelos morávios era um antinomianismo e um sério problema para à   vida cristã, como era a doutrina da predestinação e sua crença decorrente, a da perseverança dos santos (uma vez salvo, sempre salvo).”[41]

 

Batalhas teológicas com os Moravianos

 

Wesley teve também batalhas teológicas com os Moravianos, especialmente em relação ao quietismo.

Um moraviano, Philip Henry Molther, ensinava que, para alcançar a verdadeira religião deveriam ser abandonados “todos os meios de graça e todas as obras de piedade e, em vez disso, deviam permanecer ‘quietos’ diante do Senhor”. [42]

Ele havia convencido muitas pessoas da Sociedade de Fetter Lane que elas não possuíam a verdadeira religião.[43]

Elas deveriam abandonar todos os meios de graça e as obras de piedade e permanecer quietos diante do Senhor.

Era contrária a tudo que Wesley cria e praticava. Cancelava toda as obras de piedade e de misericórdia.

Para Wesley, tal antilegalismo ou antinomianismo era um sério desafio à vida cristã, como era a doutrina da predestinação e sua crença decorrente, a da perseverança dos santos (uma vez salvo, sempre salvo).”[44]

Wesley também percebeu que o conceito morávio de Band não se adaptava bem às necessidades da classe trabalhadora inglesa.[45]

Wesley travou essa batalha com os amigos alemães, amigos de Oxford e membros de sua família.

 

Dificuldades com líderes

 

Por diversas vezes, Wesley procurou resolver conflitos nas sociedades metodistas, mas as mais graves foram com os próprios líderes e até amigos. Foi assim com Thomas Maxfield[46] e George Bell.

 “Em janeiro de 1763, George Bell estava proclamando que o fim do mundo chegaria no mês seguinte, dia 28 de fevereiro.”[47]

As tentativas de mudar Bell foram em vão. Maxfield afirmava que o cristão perfeito estava sem pecado e, uma vez perfeito, permanecia nesse estado quase angelical.[48] Ambos deixaram o metodismo.

Wesley teve sérias dificuldades, pois alguns dos seus líderes e amigos tendiam para o calvinismo, como George Whitefield e a condessa Lady Huntingdom. A condessa havia banido Wesley de seus púlpitos.

Wesley foi atacado também por um clérigo Walter Shirley, que durante algum tempo foi aliado de Wesley. Houve um confronto e Walter Shirley reconheceu depois que havia se enganado com os escritos de Wesley.[49]

Foi preciso a Conferência Anual de 1770 confirmar o metodismo arminiano,[50] com o apoio de Fletcher.[51]

“Em 1769, a controvérsia sobre a predestinação renovou-se com intensidade. Na ´Conferência´ de 1770 Wesley tomou forte posição arminiana e foi defendido por seu devotado discípulo, o suíço John William Fletcher  (...). O resultado da controvérsia foi confirmar o caráter arminiano do metodismo wesleyano.”[52]

Talvez, por isso, Wesley publicou, em 1771, o sermão  “O Senhor nossa Justiça”. O objetivo foi prevenir mal-entendido sobre a salvação pela fé. Contudo, ele repudiava as contendas sobre religião:

“Como são odiosas e como são numerosas as contendas levantadas acerca da religião! E não somente entre os filhos deste século, entre os que não conhecem o que seja a verdadeira religião, mas entre os filhos de Deus (...). Quantas almas débeis se escandalizam por essa causa! Quantos estropiados se desviaram do caminho! Quantos pecador esse afervoraram no desprezo de toda a religião e na aversão àqueles que professam!”.[53]

      

  

Conflitos nas sociedades metodistas

 

Por diversas vezes, Wesley procurou resolver conflitos nas sociedades metodistas, mas as mais graves foram com os próprios líderes e até amigos. Foi assim com Thomas Maxfield[54] e George Bell.

“Em janeiro de 1763, George Bell estava proclamando que o fim do mundo chegaria no mês seguinte, dia 28 de fevereiro.”[55]

As tentativas de mudar Bell foram em vão. Maxfield afirmava que o cristão perfeito estava sem pecado e, uma vez perfeito, permanecia nesse estado quase angelical.[56] Ambos deixaram o metodismo.

Na Sociedade Fettrer Lane houve conflito e uma divisão inevitável. A questão da quietude que veio da influência morávia crescia. Carlos Wesley chegou a falar de “espetáculo mudo” já que não falavam nada nos cultos.[57]

Wesley tentou convence-los, mas chegaram ao ponto de não deixar mais Wesley pregar  na sociedade.

Wesley, então os “entregou a Deus” e pediu que os que concordassem com ele o acompanhassem e 18 ou 19 o acompanharam. E Fetter Lane deixou de ser uma sociedade metodista.

Contudo, “esses separatistas da Fetter Lane foram logo absolvidos pela Sociedade Unida, que já estava maior que o grupo da Fetter Lane”.[58]

Em 1739, em Weaver’s Hall, Wesley enfrentou os “profetas franceses”, que desviavam membros das sociedades:

“(...) eu me esforcei para pôr a descoberto os seus erros, e exortei o povo que seguisse a santidade e evitasse tais profetas, como se evita o fogo, e todos que não falam de ‘acordo com a lei e o testemunho.”[59]

Muitos outros conflitos e desvios teológicos aconteceram nas sociedades e Wesley precisou estar presente para advertir, orientar e restaurar a ordem e a paz.


Críticas de jornais e artigos

 

 Vários artigos procuravam atingir a sua moral. Um deles, referindo-se a Wesley, tinha por titulo "A serpente e a raposa". Até caricaturas sobre  Wesley  foram publicadas mostrando, inclusive,  obscenidades, etc.[60]

O fato dos metodistas limitarem suas reuniões apenas a membros que tivessem tickets de classes,[61] levou a diversas interpretações e críticas, entre elas:

 “(...) críticas apontadas em Fanatical Conversion (Conversão Fanática) a respeito da festa do amor metodista, como uma orgia onde as ´virgens são depravadas em fantasias religiosas.”[62]

Houve várias publicações anônimas contra Wesley, dentre elas, “O Jesuíta descoberto”; “A Igreja de Roma descoberta no disfarce de um protestante, em 1773”, etc. 

Wesley foi acusado de plágio escandaloso pelo calvinista Augusto Toplady que atacou a Revista Arminiana.

John Fletcher foi um dos líderes metodistas que mais defenderam Wesley. Ele escreveu “Defesa do trabalho do Rev. Sr. Wesley”.

Wesley também sempre refutou as acusações com outros livros, como “Algumas observações sobre a liberdade”, em 1776.

William Hawes, um jovem médico mostrava Wesley como charlatão.[63]

A “Revista Evangélica” calvinista relacionava Wesley a uma serpente: “A serpente e a raposa”.

Muitas caricaturas de Wesley e dos metodistas eram, muitas vezes, obscenas.

 

A blindagem de Wesley

 

O metodismo impactou e mudou a face da Inglaterra mesmo diante de toda oposição, perseguição e crítica.

O que levou Wesley e os primeiros metodistas a suportarem tanta oposição, crítica, perseguição e ofensa?

Wesley era blindado pela sua forte estrutura espiritual, mental e emocional. Seu coração era aquecido.

Sua excelente educação familiar formou seu forte caráter.

O exemplo de sua mãe Susanna Wesley enfrentando dois incêndios na casa pastoral,  administrando o lar enquanto seu marido Samuel estava preso e cuidando de 19 crianças, certamente, foram fundamentais na vida de vida.

Sua experiencia espiritual em 24 de maio de 1738 o ajudou a buscar em Deus a força e sustento nas dificuldades.

A força espiritual de um viver santo lhe deram forças e blindagem para enfrentar todas as adversidades.

A convicção de que Deus havia chamado o povo metodista para reformar a nação, particularmente, à Igreja e para espalhar a santidade bíblica por toda a Terra o dava a consciência de que o metodismo havia sido levantado por Deus.

Sua forte convicção bíblica e teológica foram alicerces firmes contra as adversidades.

Wesley tinha a consciência de que Deus estava com ele.[64] Não era um projeto pessoal, mas de Deus.

No período de controvérsias, o "pai do metodismo" se dedicou ao empreendimento editorial. Escreveu muito. Na década de 1750, ele escreveu uma média de seis obras por ano. Depois de 1765, ele aumentou a produção.[65]

Em 1745, Wesley já desejava viajar menos e escrever mais, mas a Conferência não achou aconselhável por ora.[66]

”Entre as obras importantes durante esse período estavam o sumário de sua doutrina mais distinta, A Plain Account of Christian Perfection (Um simples relato da perfeição cristã, 1766), e mais dois sermões, em 1767, The Witness of th Spirit, II ( O testemunho do Espírito, II) e The Repentance of Believers  (O arrependimento dos crentes), ambos com uma revisão significativa de seus sermões anteriores sobre esses assuntos”.[67]

Apesar de toda sua formação e liderança, Wesley era simples e preferia a simplicidade do povo.  Em 1781, ele foi a um concerto onde passou momentos agradáveis, mas se sentiu fora do seu ambiente:

“Passei uma hora agradável assistindo ao concerto do meu sobrinho. Mas senti-me fora do meu ambiente, estando no meio de Lords e Senhoras. Gosto de música simples e de gente simples.[68]

E depois de muitas lutas e oposição, especialmente o clero anglicano passou a reconhecer seu ministério e viver santo. As portas oficias da Igreja Anglicana  foram novamente abertas para Wesley.

Um exemplo disso foi o convite à mesa do bispo de Londonderry, juntamente com o bispo de Londres. O bispo recusou ocupar o lugar de honra. “Senhor, Wesley’, disse-lhe, “eu queria achar-me aos seus pés no outro mundo”.[69]

Os motins contra Wesley e os metodistas foram, muitas vezes, incentivados por párocos. Contudo, em 1789, quando João Wesley voltou a Talmouth, depois de quarenta anos, aonde chegou a ser preso por um motim imenso, agora todos olhavam para ele com amor e bondade.[70]

Wesley faleceu no dia 2 de março de 1791, aos 88 anos. Uma de suas últimas declarações foi: “O melhor de tudo é que Deus está conosco.”[71]

No seu túmulo está colocada a seguinte frase que revela seu caráter e credibilidade:

 “Ele foi uma das poucas personalidades que sobreviveu à inimizade e ao preconceito, e recebeu em seus últimos anos todo o respeito de todas as denominações.”[72]

 


[1] HEITZENHATER, Richard P., Wesley e o Povo Chamado Metodista, Editeo-Pastoral Bennett, 1996, p.312. 

[2] LELIÈVRE, Mateo. João Wesley - Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p.12.

[3] ENSLEY, Francis Gerald. João Wesley, o Evangelista. São Paulo, Junta Geral de Educação cristã, 1960, p.10.

[4] REILY, Duncan Alexander. Metodismo brasileiro e wesleyano. São Paulo: Imprensa Metodista, 1981, p.148-53.

[6]  Ibidem, p.64-5.

[7] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. São Paulo: Imprensa Metodista, 1965, p. 56.

[8] Idem, p.58

[9] Idem, p.,59.

[10] Idem, p.60.

[11] THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglêsa. 1 v. Paz e Terra, 1987, p.64-5.

[12] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.108-9.

[13] Ibidem, p.110.

[15] THOMPSON, Edward P, 1 v. Ibidem, p.67.

[16] Ibidem, p.46.

[17] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.46.

[18] Ibidem., p.204.

[19] Ibidem., p.205.

[20] BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da Teologia de João Wesley. JGEC. São Paulo: Imprensa Metodista, 1960, p.212.

[21] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem., p.107.

[22] Ibidem, p.214.

[23] Idem, p.120.

[24] Eis um resumo do que Wesley pensava sobre a predestinação: Se existe a eleição, toda a pregação seria vã; ela tende a destruir diretamente a santidade; tende a destruir o nosso zelo pelas boas obras; subverte toda a revelação cristã; faz a revelação contradizer-se; é uma doutrina cheia de blasfêmia, pois coloca Jesus como um hipócrita, um enganador do povo, etc (BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert E. Coletânea da teologia de João Wesley. Ibidem, p. 53-4)

[25] HEITZENHATER, Richard P.Ibidem, p.107.

[26] Doutrina que afirma que “Uma vez salvo, sempre salvo”.

[27] www.imarc.cc/esecurity/perseverance.html

[28] Idem.

[29] Segundo D.M.Lloyd-Jones, Os temas das pregações de Whitefield eram: O pecado original, A regeneração, o Espírito Santo, a justificação pela fé, etc. (JONES, D. M. Lloyd. Os puritanos. Ibidem, p.130-1).

[30] HEITZENHATER, Richard P.Ibidem, p.120-1.

[31] Ibidem, p.120.

[32] Ibidem

[33] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p. 241.

[34] Idem, p.131.

[35] Idem, p.132-133.

[36] Idem, p.133

[37] Idem, p.135. 

[39] WESLEY. João. Sermões de Wesley. v.2, ibidem, p.174.

[40] Ibidem, p.174-5.

[41] Idem., p.106.

[42] HEITZENHATER, Richard  P., Ibidem, p.154.

[43] Idem, p.106.

[44] Idem., p.106.

[45] Idem, p.108.

[46] Maxfield foi o primeiro pregador leigo do metodismo, em abril de 1739, após ter tido uma violenta experiência em Bristol com a pregação de Wesley (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.115).

[47] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.209-0.

[48] Ibidem.

[49] Idem, p.246.

[50] WALKER, Welliston, Ibidem, p. 212.

[51] João Guilherme de La Flechére ou João Fletcher nasceu em Nyon, Suíça, em 12 de setembro de 1729. Descendia de uma família francesa e estudou na Universidade de Genebra. Por questões de consciência não se tornou pastor da Igreja Reformada, por causa do credo calvinista. Foi um dos líderes que apoiou Wesley. No Anexo, abordaremos sobre a sua vida e ministério.

[52]WALKER, Welliston,  Ibidem, p.212.

[53] WESLEY, João. Sermões de Wesley. v.1, ibidem, p.406.

[54] Maxfield foi o primeiro pregador leigo do metodismo. (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.115).

[55] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.209-0.

[56] Ibidem.

[57] Idem, p.111

[58] Idem, p.112.

[59] Ibidem, p.36.

[60] Ibidem, p. 267.

[61] Ibidem. Os metodistas tinham a “secreta’ (senão subversiva) prática de limitar suas reuniões apenas aos membros que tivessem os tickts de classes” (HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.267).

[62] Ibidem.

[63] Idem, p.165.

[64] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.308.

[65] Ibidem, p. 228.

[66] HEITZENHATER, Richard P., ibidem, p.154.

[67] Ibidem, p.228.

[68] WESLEY, João, Ibidem, p.200.

[69] LELIÈVRE, Mateo. João Wesley - Sua vida e obra. São Paulo: Editora Vida, 1997, p.275.

[70] WESLEY, João. Trechos do Diário de João Wesley. Ibidem, p.56-63.

[71] HEITZENHATER, Richard P., Ibidem, p.308.

[72] Ibidem, p.312. 

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